Nas últimas vezes que vocês me ouviram falar sobre o mundo dos vampiros eu sempre falei de muitas circunstâncias ruins que ocorrem conosco. Quero deixar claro que não sou do tipo de criatura que é sempre negativa com relação ao modo que o mundo é visto. Quem me conhece um pouco sabe que sempre tento ver o lado positivo das coisas. Em fim, no geral os vampiros não gostam de ser atormentados por pedidos de transformação, então nossa primeira reação é falar mal para não levantar intenções ou vontades.
Sobretudo hoje quero falar de outros assuntos e do que ando fazendo no momento. Quem acompanha o blog sabe que tenho um crime para ser resolvido: a morte do meu querido irmão Zé. Passou-se algum tempo desde que encontrei Oliver o ajudante do Zé que me esclareceu parte dos fatos, no qual concluí que o meu irmão na verdade foi morto em uma emboscada e que seus poderes foram absorvidos ao que parece em um ritual vampiresco, feito por uma vampira e uma bruxa até então desconhecidas por mim.
Acontece que desde então eu não fiquei parado e mexi meus pauzinhos afim de achar mais informações sobre as malditas. Acontece que caçar um vampiro, não é algo simples, além da burocracia que envolve a situação é um ser com os mesmos poderes, que pensa parecido e que pode possuir muito aliados.
Quando algo desse tipo ocorre é imprescindível recorrer aos “regrados”, os criadores das normas ou simplesmente os chatos que dizem como os vampiros devem se civilizar com os outros e entre si. Apesar do meu clã não ser digamos “seguidor” das leis tradicionais, é de extrema importância falar com o máximo de aliados possível antes de tomar qualquer atitude com relação a um ser da mesma raça. Perceberam uma diferença importante entre nossa sociedade e a humana? Enquanto os humanos se matam as vezes sem o menor sentido, nós nos preocupamos sempre com os semelhantes…
Começo a entrar aqui em uma parte extremamente delicada de nossa sociedade e me perdoem pelos poucos detalhes que darei a seguir, afinal querendo ou não é por causa disso e de outras burocracias que estamos não-vivos até hoje.
O primeiro passo que dei então foi entrar em contato com o “superior” mais próximo a mim. Esse procedimento é necessário pois somente alguns poucos vampiros tem acesso aos regrados. Como meu tio está dormindo o mais próximo a mim é o chefe do supremo conselho do país no qual estou no momento, que dentre outras peculiaridades é extremamente ligado a tradição e só fala castelhano ou francês.
Pois bem lá fui eu atrás do cara no local que me foi indicado, uma casa de pães em pleno centro da cidade.
– Por gentileza eu gostaria de falar com o gerente, é um assunto de família…
A atendente me leva até uma sala e quando menos espero surge uma bela moça, usando um terninho preto que me pergunta com ar meio arrogante em castelhano:
– Senhor o movimento está grande hoje pode ser breve por gentileza!
Mantenho o bom senso, percebo que ela tem algo especial, talvez seja uma carniçal e lhe digo:
-Então minha querida, meu nome é Antônio, sou do Brasil e preciso falar com o …
O rosto dela permanece sem expressões e me responde:
– O senhor marcou hora? O … pediu para não ser incomodado com assuntos da família esse mês!
– Vejo que você não me conhece então por favor chame o seu chefe, antes que! (mudando o tom de voz)
E ela me responde de novo:
– Antes que o que garoto…
Nessas horas não é fácil ter a aparência de 25 anos. Levanto-me da cadeira, sinto meu sangue esquentar, minhas veias se realçam e minhas presas começam a aflorar.
– Escuta aqui sua ghouleh de merda, chama logo a porra do teu chefe que eu tenho assuntos importantes para resolver!
Antes que eu perca a cabeça ouço passos e a maçaneta de uma das portas do escritório se abrir. Surge então um ruivo de 2 metros de altura, trajando um terno preto e óculos escuros que me fala:
– Deixe ela ai e venha comigo!
Ele me leva por um corredor que dá em um elevador. Antes de entrarmos ele me da uma venda e diz para colocar. Apesar de estar enfurecido e nervoso, coloco a venda sem pestanejar e aguardo, pensando que provavelmente iriam me levar para os superiores.
Sinto a temperatura cair muito ao sairmos do elevador, andamos uns 20 passos até uma sala com o cara segurando meu braço com força e ao pararmos ele abre uma porta me empurra de leve para dentro e me diz para aguardar. Fico ali em pé aparentemente no escuro por uns 2 ou 3 minutos até que sinto um forte perfume de incenso de canela e uma voz feminina me fala sussurrando ao ouvido.
– Estressadinho senhor Antônio?
Sinto um leve arrepio e tiro a venda, ao abrir os olhos vejo uma vampira de cabelos loiros, muito bem maquiada usando um vestido longo, preto com rendas e um decote em v que denunciava o seu belo colo. A Beth que me perdoe, mas é difícil não reparar em algumas beldades que se encontra por ai.
A senhorita, que foi até bem simpática, se apresenta me fala que a chefe no momento é ela e que espera que eu tenha bons motivos para estar lhe incomodando. Contei-lhe então os ocorridos, expliquei que minha família é exclusa, mas que devido a situação eu precisava falar com os “poderosos”. Ela hesitou a princípio, mas meus olhos azuis sempre me ajudam com alguns detalhes.
Depois de 40 min sai da padaria com pelo menos um telefone e um nome, mas frustrado por que teria de ir a outra cidade para continuar as investigações. Pelo menos a cidade é aqui no Brasil.