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  • Milagre de Natal

    Milagre de Natal

    Antes de ler o relato a seguir recomendo a leitura das partes anteriores:

    Parte 1 – Aventuras de final de ano
    Parte 2 – Aventuras, investigações e péssimas escolhas
    Parte 3 – Se você brinca com fogo, você brinca com o inferno
    Parte 4 – Quem tem medo do lobo mau?

    Parte 5 – Milagre de Natal

    Assim que o próprio capeta tomou conta de minha carne eu perdi uma parte do controle. Quase sempre que estou nesse estado eu lembro de flashes o que é ao mesmo tempo bom e perturbador para minha consciência.

    Corri em parte com os quatro membros, dei saltos longos e também com os membros inferiores. Inclusive fui num desses saltos que fui surpreendido por uma maldita rede proveniente de uma armadilha tosca. O pior é que Franz também havia caído em tal armação e diante daquilo, mesmo com a força e as garras, tivemos de esperar a ajuda da Lilian, que não demorou muito e facilmente cortou as cordas das armadilhas com a sua katana – Sorry a queda, não tinha como segurar os dois!

    Não tivemos tempo para mais delongas ou agradecimentos, pois fomos surpreendidos por balas de prata vindos de vários lugares da casa. Iniciava então outro momento inconsciente onde o animal endiabrado foca todos os esforços na destruição daquilo que lhe incomoda.

    As balas de prata machucaram tanto quanto as balas normais e depois de algumas investidas contra as partes de madeira da casa, foi fácil chegar aos sequestradores. Além disso, o cheiro da minha cria estava evidente o que instigou ainda mais minha selvageria.

    – Vamos conversar… – Disse alguém.

    – Conversar é o caralho! Eu vou é degolar vocês seus filhos da puta! – Gritou Lilian.

    – Não era pra ser assim… – Disse outra pessoa.

    Instantes depois eu vi Lilian decapitar um deles com sua espada, Franz despedaçou o outro e restou diante de mim uma mulher. Ela estava em total pânico, congelada e com seus olhos arregalados diante meu demônio aflorado. Se ainda bastasse seu coração parecia explodir com pancada altíssimas no peito e ao me aproximar ela se urinou. Em poucos momentos nesta forma grotesca eu tive tanta sanidade a ponto de desfazer a transformação.

    Franz e Lilian vasculhavam o resto dacasa e depois de alguns minutos voltaram com Sebastian e Cláudia acordados.

    – Acaba logo com essa merda e vamos embora!- Exclamou Franz.

    – Calma, calma calma… – Interrompeu Sebastian, vindo em minha direção. – A vida dela não precisa acabar aqui, tudo isso foi na verdade por causa dela. – Continuou ele.

    – Ela tem algo especial, talvez algum tipo de inocência que acalmou até mesmo meu demônio. – Falei

    – Ah calem a boca, deixa que eu acabo logo com isso. – Gritou Franz novamente.

    Coloquei meu corpo na frente dele e o impedi de continuar a matança. Ele ficou puto e saiu casa afora, provavelmente atrás de suas roupas, seguido por Lilian que apenas me olhou em desaprovação, isso chegaria até o seu mestre sem dúvidas – Perca de tempo Ferdinand, perca de tempo… Do meu tempo, espero que saiba o que está fazendo e não conte comigo ou com a Ordem pra cuidar dessa sem noção ai… – Lilian então se retirou finalmente e eu voltei a minha atenção para Sebastian…

    – Eu deveria te punir Sebastian, mas depois de tantos anos e de tudo o que já passamos os teus erros são pequenos pertos dos meus. Se quiseres podes ficar cuidando dela lá na fazenda, mesmo porque quero saber mais desta história…

    “Limpamos o lugar” e o helicóptero nos levou para um refúgio onde passamos o dia antes de voltar à fazenda.

  • Quem tem medo do lobo mau?

    Quem tem medo do lobo mau?

    Passei o dia entre sonhos loucos, as pernas magrelas da Lilian e barulhos de todo o tipo. Ouvi o padre convocar os fiéis para missa das 7:30. O caminhão de gás tinha uma musiquinha estúpida, diferente dá clássica que se ouve em outros lugares do Brasil. Muitos tratores, caminhões e carros passaram próximos a nós e tantos foram os transeuntes com os assuntos mais diversos.

    Inclusive a audição especial nos permitiu perceber que alguns da cidade já sabiam de nossa estadia. O recepcionista noturno saiu do trabalho de manhã e já foi fofocar numa mercearia da cidade.

    Minutos depois do pôr do sol Pepe me ligou e confirmou que o telefone de Sebastian ainda estava no mesmo local. Então sem mais delongas Franz fez o paranaue mental na caipirinha, nos aprontamos e partimos a pé.

    Obviamente chamamos muita atenção por onde passávamos, apesar disso, muitos acreditaram que éramos “atores da capital”.

    O lugar demarcado no mapa indicava uma pequena propriedade rural. Pertencente há uma família antiga na região, que descende de escravos e italianos. Alguns cachorros ecoaram quando perceberam nossa presença e instantes depois as luzes da casa principal se apagaram.

    Percebi que Franz estava tirando sua roupa…

    • Vamos acabar logo com isso. – disse ele enquanto se transformava em sua forma meio homem meio lobo.

    Tomei o mesmo caminho, deixando as roupas de lado, enquanto invocava e permitia que o mais louco dos demônios tomasse conta de minha carne.

    Lilian virou de costas e acendeu um cigarro dizendo:

    • Enquanto vocês viram os pets fofinhos que são, eu vou fumar aqui e esperar até alguém colocar o focinho no meu pescoço e avisar que é hora de partir…

    Estava tão concentrado que não dei bola para o que ela disse. Franz terminou a transformação antes e saiu correndo… fiz o mesmo.

  • Se você brinca com fogo, você brinca com o inferno

    Se você brinca com fogo, você brinca com o inferno

    “If you’re playing with fire. You’re playing in hell.” Diz a música e na minha cabeça os pensamentos não eram muito diferentes. Porque diabos alguém resolve capturar, sequestrar ou como queira chamar, o que fizeram com minha cria, ainda mais nessa época do ano? Odeio pessoas sem espírito natalino…

    Separei algumas balas de prata, lubrifiquei minhas pistolas e consegui coletes novos. Haja vista que minhas coisas estavam um tanto quanto empoeiradas.

    Lilian passou boa parte daquele final de tarde afiando sua katana e da maneira tradicional com uma pedra. Provavelmente estava indignada afinal os planos dela de final de ano seriam outros –  Que caralha velho, justo agora que eu estava viajando de férias… Sorry o egoísmo, mas porra não sei o que é férias há um bom tempo… Quando pegar esses infelizes eu vou até baixar o nível e descer a chinelada na cara! – Lilian e as tiradas dela, isso me fez até rir um pouco.

    Franz passou boa parte da madrugada e dia em seu quarto. Estava com uma caipira qualquer que trouxe da cidade e até poucos minutos antes de sairmos não sabia se ele iria ajudar, ou não.

    Pepe não poderia ir conosco, pois seria arriscado demais ter minhas duas crias numa única empreitada. Nem no mesmo carro ou avião eu deixo eles viajarem juntos. Seria inapropriado ter de educar outra cria nestes tempos.

    Aluguei um helicóptero e paramos numa cidade próxima do cativeiro. Aterrissamos numa plantação de soja ainda na calada da noite e se não fosse o fato de Franz ter levado a caipira, as coisas teriam fluido melhor.

    • Holly Fuck you redneck slut! Shut the fuck up! – Soltou Lilian depois que a garota reclamou pela terceira vez que estava cansada.
    • Hey eu entendo inglês – Retrucou ela.
    • OHHHH congrats! Do I clap for you or do I just cut your neck off? Again, shut up fucking whore or Franz here will lost you! And I dont care! – 😉

    Nesse instante eu também estava puto e estava prestes a mandar as duas a merda, quando Franz leu meus pensamentos e me falou por telepatia: “Relaxa ela é conhecido na cidade perto da fazenda. Resolvi trazer pra cá pra ela não fazer merda lá perto. Vou dar uma nova memória pra ela também”

    Lilian percebeu como eu estava e apenas soltou em minha direção – Assim como você está sem paciência Ferdinand eu também estou… Melhor segurar a onda… – Sim agora o mais apropriado era isso, depois eu me entenderia com a vampira redneck.

    Andamos por cerca de 2 km e chegamos ao centrinho da cidade.

    Na praça apenas uma viatura com um policial dormindo, nenhum lugar aberto a não ser a igreja, onde alguns fiéis já estavam rezando.

    Fomos o mais rápido que pudemos para o hotel que eu havia reservado previamente e onde passamos aquele dia.

  • Aventuras, investigações e péssimas escolhas

    Aventuras, investigações e péssimas escolhas

    Anos atrás perdi um grande amigo e irmão de existência. Joseph era um cara pacato. Estava sempre disposto a bons papos, tinha gostos peculiares com relação à arte, música e não media esforços para conseguir o que queria. Tanto que, sua última aventura provocou o fim de sua existência neste plano.

    A existência vampiresca nunca foi fácil e quem divulga tal comportamento merecia no mínimo um bom choque de realidade ou talvez um belo choque elétrico…

    Quando se corre atrás dos desejos sempre temos dois caminhos: o normal é o atalho. Muitos livros, filósofos, historiadores e palpiteiros dão dicas de como conseguir as coisas pelo atalho, mas a grande verdade é que tudo depende da sorte do indivíduo.

    Pode ser que numa noite boa fulano consiga o contato de boas, o mapa de boas e até mesmo o baú ao final do arco íris de boas. Todavia, certamente haverá a noite em que o teu contato vai ser um pilantra, o mapa vai te levar pra uma emboscada e o baú vai explodir teus miolos longe dá porra de um arco íris é no meio de uma puta tempestade.

    Arriscar ou não? “Sei lá cara, não tô nas tuas calças e se tu acha que o atalho é bom, vai na fé guerreiro” diria um amigo meu.

    Preciso dizer como estava a sorte do Sebastian na noite em que foi capturado? Pois é ele não teve os miolos espalhados, mas ganhou uma bela estava no peito. Uma estaca que não o matou, mas o prendeu.

    Tiraram aquela merda apenas para que ele pudesse se comunicar conosco na forma de pedido de resgate. Sim, o contato se aproveitou que ele queria um presente precioso para sua esposa e o sequestrou. Simples assim…

    O valor da troca? Algumas centenas de dólares, uma aparição pública de algum vampiro confessando a existência e muitos outros problemas.

    A solução? Rastreamento da ligação, geolocalização e muito stress no final de ano.

  • Aventuras de final de ano

    Aventuras de final de ano

    Muitas aventuras se iniciam num lugar peculiar, onde um determinado grupo de indivíduos interage… no nosso caso estava Lilian, Franz e eu, Ferdinand, na fazenda de meu criador e atual sede de nosso clã. Nas conversas, aquele papo de final de ano que consegue contagiar até mesmo os vampiros mais calejados.

    • Ano que vem vou adotar outra identidade, tentou explicar Franz.
    • Eu já penso em montar um negócio ou pelo menos um grupo de motoqueiros, falou em tom de piada Lilian.
    • Não importa aonde vocês vão ou que nome adotem, o que vocês são tá sempre nos pesadelos… Suspirei.
    • Ah relaxa maninho, vou ser sempre eu te enchendo o saco como um irmão mais velho.

    Nesse tom de brincadeira levamos aquela noite assim como algumas outras até que surge o problema, aliás, outro ponto fundamental de uma aventura.

    • Hey olha aqui, mensagem do Sebastian. Comentei preocupado

    “Herr Ferdinand tô preso em algum lugar do sul do Brasil. Levaram minha esposa. São Hunters. Socorro!!!”

    • Fuck fuck, logo agora que eu achei que ia descansar um pouco, dá essa merda.
    • Calma Lilian, onde que eles estavam maninho?
    • Então, vou pedir pra Pepe tentar rastrear o telefone dele, mas acho que era algum lugar perto da fronteira com o Uruguai. Passeio de férias da Faculdade dela…
    • Esse negócio de se passarem por professores ia ferrar eles alguma hora. Fuck shit…
    • Porra, eu achando que estava tudo de boas. Se foi cagada deles vai ser um bom motivo para ter minha cria por perto novamente.
    • A Pepe tá onde? Perguntou Franz.
    • Chega daqui a pouco, foi comprar os últimos presentes de Natal.
    • Gifts? I love gifts, bit não é hora pra isso.

    Passados alguns minutos entre contatos próximos a eles, especulações e afins, Pepe retornou.

    • Não me digam nada já tô sabendo do Sebá.

    Fiz cara de surpreso e perguntei:

    • Algum poder novo, precentimento…?
    • Não briga comigo, mas eu fiz um espelhamento do teu celular com o meu e recebo uma cópia de mensagens importantes… É um Trojan do bem saca?
    • Ah sei (fixa cara de entendido) podias ter me avisado disso né minha filha… Se não fosse nosso laço de sangue tenha certeza que eu estaria muito puto.
    • Se quiser depois eu tiro chefinho.

    Olhando tal papo, Lilian foi a primeira a se manifestar:

    • Fê depois tu faz o que achar melhor com tua cria, precisamos ver se são Hunters ou alguma piada de mal gosto do Sebastian e dá Claudinha.
    • Se fosse minha cria teria perdido pelo menos um dedo por causa disso. Resmungou Franz.
    • Relaxa aí…
    • Relaxa nada tu é muito mole com eles. Não é atoa que um foi capturado e a outra tá te espionando.

    Depois de soltar os cachorros em mim Franz simplesmente saiu da sala e foi para a varanda. Fiquei puto por sua atitude, mas preferi focar meu tempo daquela noite tentando descobrir mais detalhes sobre o paradeiro da minha cria e sua esposa/cria. (mais…)

  • Reflexões sobre 2016

    Reflexões sobre 2016

    O tempo passa como um condenado para algumas pessoas, certos indivíduos reclamam disso, outros aproveitam seu passar e alguns simplesmente esquecem o andar das horas.

    Vampiros não podem se dar ao luxo de ignorar o passar do tempo. Pois ele marca as horas do dia e principalmente as horas da noite. Momento no qual podemos sair de nossos refúgios e fazer o que for preciso para manter a sobrevivência.

    Essa na verdade é uma explicação didática, passada de vampiro para vampiro e indica a melhor prática, para se lidar com o tempo e é óbvio que há exceções. A regra que mais gosto de quebrar, por exemplo, é a questão das sobrevivência. Na verdade eu sou movido pelo caos e qualquer regra me desperta o desejo de fazer algo fora do comum.

    Não digo aqui de sair ao sol, mesmo porquê dou valor a minha existência, mas sim pela própria questão de existência. Sou adepto do fato de se ir além do habitual, mais um entre tantos, que vê o mundo com os olhos contemporâneos.

    Então Ferdinand, já que tocou no assunto, o que é ser um vampiro nos dias e noites da atualidade?

    Essa pergunta me fazem com certa frequência e é um ponto importante que já mencionei acima. Os vampiros antigos priorizavam muito a sobrevivência e viam isso como fundamental para suas jornadas neste plano. Situação que é vista de uma forma diferente por vampiros com o pensamento igual ao meu. Haja vista, que o mundo atual do século XXI, trouxe muitas facilidades.

    Smartphones, permitem o contato contato com o mundo exterior de forma simples e extremamente rápida. Imagine quantas vezes eu pude ficar protegido no meu refúgio para tratar de negócios. Tantos foram os momentos em que persianas eletrônicas me protegeram do sol, abrindo e fechando no horário programado. Sem falar do transporte rápido por aviões, automóveis ou trens elétricos, que podem nos levar a qualquer lugar em minutos.

    Neste contexto, é possível trabalhar os velhos hábitos e se dedicar a outras rotinas, como a escrita, música, fotografia, cinema… afazeres que até então eram vistos apenas nos figurões, ricos ou privilegiados de nossa sociedade.

    Viva a escova de dentes elétrica. Viva o Uber. Viva o chuveiro elétrico. Viva a comunicação

    Sobretudo, cadê aquele cortejo, aquele bom dia ou noite caloroso entre vizinhos. Cadê a amizade, a lealdade, a justiça… como em todas as outras épocas a elite se distancia cada vez mais da plebe.

  • A Carta: prévia do futuro livro “Erner”

    A Carta: prévia do futuro livro “Erner”

    Alguns meses depois e o conteúdo daquela carta ainda me intrigava. Nada estava explícito, mas, nas entrelinhas daquelas palavras vindas de uma época distante, eu poderia prever o que diziam. Em certas horas do dia, naqueles na qual consigo tirar um tempo para o descanso, algo que me tem sido raro, me vejo sobre as velhas lembranças que de tempos em tempos batem à porta.

    É fato que todo e qualquer vestígio sobre minha verdadeira origem, família e suas histórias, deveriam confortar meu coração de pedra, o coração que não bate e não sente… Será que não o sente? Tais descobertas deveriam sanar angustias vindas da busca pela verdade, e dúvidas como, quem eu era? De onde vim? Como eram aqueles que me deram a vida? Mas, à medida que tudo se tornava mais claro, um horror maior se revelava. À medida que buscava algum sentido, mas perdido tudo se encontrava.

    Percebo que todos esses questionamentos que perturbam minha mente, perturbam a qualquer um que já tenha sentido a necessidade de se conhecer melhor. Toda a confusão de sentimentos também, afinal, por que nos abandonaram ou por que nos tiraram de nossas famílias? É tolice achar que isso são coisas meramente humanas. É tolice achar que somos assim, tão superiores ao ponto de não nos importarmos com absolutamente nada. Mas, ao mesmo tempo, humano algum se deparou com certas situações, como nós, vampiros. O que posso afirmar, é que somos criaturas capazes de suportar muitas perdas, desilusões e tristezas, séculos a fora, porque aprendemos a vestir essa armadura. E ainda estamos aqui, buscando sobreviver a cada noite e buscando superar as adversidades, como se fossemos os mais afortunados da Terra. E no fim, o somos. Ao menos aos olhos meramente humanos…

    São muitos os momentos que me vejo refletindo sobre essas questões, mas aprendi com as surras da “vida” e da sobrevivência que nós vampiros somos como somos, por essa ser a nossa natureza. Transformamos-nos nisso, querendo ou não. Mas, essas palavras na carta, que tudo indica serem as palavras de minha mãe, e que agora transcrevo de uma forma mais clara me trouxeram uma humanidade que muitas vezes tento ignorar.

    ” März,1906…

    A ti escrevo com angústia. A ti escrevo para alertar sobre um mártir prestes a assombrar nossos destinos. Encontro-me de mãos atadas por minha própria injúria e fraqueza. Mas, tenho esperanças de que me sejas possivel salvar nossas almas condenadas pelo demônio. Um demônio tão terrível quanto o próprio Satanás. Digo-lhe, querido, que caí em uma armadilha e quase deixei meu amor verdadeiro por ti, se esvair como vento entre os dedos da mão. Deixei-me seduzir pela ilusão, nas entrelinhas de uma frieza crua e calculista, diante de uma face inexpressiva, como uma distância exaustiva. Um muro. Uma tranca sem chaves. Era como um delírio. Era como hipnose. Mas, finalmente acordei. E acordei pelo ser que carrego em meu ventre, e pelo amor que tenho a ti. Mas, a ti escrevo com angústia. Os olhos marejados de sangue, o corpo açoitado pela dor. Precisamos protegê-la, e livrar-lhe desse destino terrível. Peço-lhe que me perdoe, mesmo sabendo que esse é um pedido incabível, depois de todos os males que causei a vós.  Com grande pesar, Ass. Ely….”

  • Gone – Parte (eu já nem lembro mais)

    Gone – Parte (eu já nem lembro mais)

    Quanto tempo não? Pois é, mas eu Lilian estou aqui vez ou outra pra contar as minhas aventuras, andanças, meus momentos bons e over também para todos vocês. Como demorei muito para escrever preferi resumir o que aconteceu antes e trazer todos para a minha rotina mais atual.

    Onde começo? Bem como sabem na última parte eu estava na Ordem mantida lá dentro como passarinho na gaiola (Odeio isso, odeio, no more!), conheci o então famoso e carismático (#SQN) Jonathan, vampiro antigo, sábio, gato e que eu apelidei de elfo por parecer muito com um personagem do famoso e querido escritor J.R.R Tolkien, quem não sabe procure no google e logo vai ligar os fatos… Fiquei lá por algum tempo como índia na tribo sem acesso ao mundo conectado e sem acesso a muitos de vocês, fato que eu não curto muito também, mas acontece né galera, afinal temos também nossos compromissos e nossos problemas a resolver.

    Não vou ficar de delongas, afinal depois daquela parte não aconteceram coisas muito faraônicas ou bombásticas dentro da Ordem, no máximo uma discussão por que somos de uma teimosia enorme que chega a ser doença ás vezes… –“ Ao ficar na Ordem aprendendo vários novos truques, histórias e como conviver com um ser que saiu de um livro ( Não ele não saiu literalmente de um livro!) eu comecei a ver o quão egoístas e cegos todos nós deste lado da vida podemos ser… Lilian você está louca? Tomou sangue batizado com bost**? Não meus caros nada disso, eu comecei a enxergar e ver o mundo com outros olhos, comecei a ver os vampiros que convivo com outros olhos, comecei a ver os humanos com outros olhos e querem saber por que? Pelos simples fato do que o Jonathan e mais uma pessoa especial me falaram.

    Foi em um dia antes de irmos embora da Ordem e voltarmos para casa, eu, Daniel e Jonatahn, sim ele veio morar comigo, afinal tem coisa mais legal do que conviver com alguém como eu, assim cheia de personalidades e com o humor que varia com a cor da minha roupa? Brincadeiras a parte, ele veio morar aqui sim, para conhecer mais desse mundo novo, das novidades que o cercam, do jeito que ele deveria agir perto de vocês meus queridos, sim entre vocês, legal não? Mas foi neste dia em que eu estava a arrumar as minhas malas e com meu celular em mãos, finalmente, que ele veio abrir meus olhos – Lilian? – dizia o alto e imponente vampiro – Entre ó grande mestre! O que deseja? – claro que isto foi falado em tom de brincadeira da minha parte – O que desejo não posso fazer agora contigo, porém o que vim fazer aqui é te falar algo antes que voltemos para tua tão adorada terra e sua amada casa – lá vem bomba – Sim, por favor sente Jonathan, pode falar, estou toda ouvidos – Sentei então ao lado dele na cama e esperei o que pareceu uma eternidade para ele falar – Lilian, o que u vou te falar não vai ao todo lhe agradar, mas pode lhe ser bem útil – Quando começa com o seu nome inteiro e com “ não vai lhe agradar” já espere coisas negativas – Estou ouvindo… – porra desembucha essa caralha logo, pensei e ele ouviu, fez cara de desaprovação e continuou – Essa caralha que eu tenho pra lhe falar vai salvar a sua vida e a sua sanidade muitas e muitas vezes. Eu sei que a morte do teu amigo afetou o teu mais profundo, afetou a todos que conviviam com ele minha cara, não só você! – Ele falou palavrão graças a mim, que ótimo exemplo futurístico eu sou, enfim… – Pessoas e seres como nós vão e vem e a morte sempre vai ser a nossa maior inimiga Lili, a morte está a espreita mesmo de nós imortais, imagine então daqueles que não possuem o mesmo poder? –

    Eu sei que eu entrei em colapso pela morte do meu adorado lobisomem redneck, mas nenhuma perda é fácil pessoal e vocês sabem disso acho que melhor do que eu até, sendo muito honesta com todos vocês – Por mais fortes e ágeis que podemos ser Lili ainda não nos tornamos impenetráveis, apesar de alguns agirem como se assim o fossem… Mas isto não vem ao caso, o que quero realmente te dizer é que apesar da perda, apesar dos pesares, os que se vão estão provavelmente em um local melhor do que este terreno aqui e sabe por que? Por mais que a vida seja uma dádiva, tudo tem seu preço e acredito no mais fundo do meu ser, não perdemos a nossa alma, não perdemos a nossa essência e não perdemos acima de tudo o nosso caráter, mesmo depois de transformados. O único fator que pode ocasionar mudanças de temperamento e caráter nessa mudança nossa é o ego ferido ou o ego inflado devido a mudança corporal total que sofre um humano ao se transformar em vampiro – ele tem o dom de prender a atenção de qualquer um quando fala daquele jeito, todo educativo, todo positivo, todo sábio – Então digo que são poucos os que são vampiros por completo e sabe o motivo dessa minha teoria? – olha a minha cara de quem sabe – Está bem já que não sabe eu te falo, um vampiro que se prese, um vampiro que se dê o valor merecido não troca o seu caráter, não deixa a sua essência humana morrer por completo, não deixa o ego inflar e assim achar que é maior e melhor que as outras espécies… Não corrompe seres frágeis como humanos para o seu prazer ou por brincadeira… Que poder temos para trata-los assim? Que autoridade nós achamos que temos na vida desses seres? Nenhuma minha cara, eles são a nossa fonte de alimento, são, sempre vão ser e não é por isso que devemos trata-los como algum tipo de “menu”! Temos como nos alimentar de outras formas além da qual muitos estão acostumados, olhe a sua volta, não precisamos machucar o outro para nos alimentar, podemos adquirir através de várias outras formas o nosso alimento… – a pior parte ou melhor, não sei, era que ele tinha razão, não devemos machucar ninguém por luxúria ou ego inflado… Podemos aderir a bolsas de sangue e sermos felizes sem a consciência pesada, podemos matar apenas os que fazem mal ao próximo, no estilo power rangers! =X

    – Eu mesmo já matei muitos, já achei que poderia dominar todos e com o tempo, as coisas que passei, os tombos e as perdas que tive, percebi que as coisas não são bem assim pequena… Você ainda tem muito a apender, eu vou te ajudar na maioria, mas te deixo aqui um conselho, as perdas não tem que nos diminuir, nos afastar do mundo, elas precisam nos fortalecer pelos que foram e acima de tudo, por nós! Sempre lembre-se disso e do fato que podemos viver de outra forma, podemos manter nossa dignidade e podemos sim em nossa sabedoria ajudar o próximo, ajudar quem precisa, mesmo que a história nos diga para fazer o contrário, devemos pular os muros padronizados das sociedades que vivemos e mostrar que o mundo e nós mesmos podemos ser melhor e claro, ainda há amor no nosso coração congelado, afinal esse sentimento não precisa de um órgão batendo no peito para acontecer! – Fiquei no chão com tudo o que ouvi, foi como levar um tapa na cara e acordar para a realidade novamente.

    Jonathan saiu do meu quarto em segundos, eu fiquei ali com uma das minhas camisetas preferidas em mãos e por coincidência do destino a frase vale muito para o momento atual “ Just keep on Rolling under the stars!” pensando que tudo pode dar certo afinal, que tudo pode ser resolver e que as barreiras do sobrenatural não estão ai apenas para meter medo, elas podem ajudar alguns e abrir os olhos de outros.

    – Bora Lili? Só falta você! – era o Daniel me chamando, hora de ir embora… Cheguei no carro que nos esperava para irmos ao aeroporto, lá já vi um Daniel muito feliz e um Jonathan me olhando como se tivesse ganhado um prêmio – Vamos meus amores, maridos, amantes, sei lá como chamar essa nossa situação amorosa… – consegui tirar um sorriso do rosto do tão sério do lord vampiro – Com o tempo talvez  possamos definir isto, mas Daniel cada um na sua vez, nada de tudo ao mesmo tempo! – O Jonathan fez uma piada? Sim ele fez, por isso acredito mais ainda em uma amanhã melhor! RS Brincadeiras a parte, fomos embora para minha casa, confesso que estava louca de saudades do cheiro de terra e dos lagos aqui em volta.

    See you soon guys

    Ainda vamos contar quem matou o querido Steven.

  • Gone – Parte IV

    Gone – Parte IV

    – Direta Lilian! Coloque o braço alto! Vamos você é boa nisso, concentre-se! – Treinos e mais treinos, parecia até que eu iria entrar em algum campeonato de luta subliminar com todo esse treino – Se você falar mais um “ concentre-se” eu juro que vou embora daqui! Porra! – eu tentei mais dez vezes o movimento das espadas duplas e nas dez vezes Jonathan achou que ainda não estava bom o suficiente – Tire a sua mente do mundo lá fora! Esqueça agora o que tem lá! – fácil falar não é, afinal ele ficou tirando uma soneca eterna esses últimos anos – Por que Jonathan? Por que te incomoda tanto que eu pense no que ficou lá fora, na minha realidade? – era isso eu estava de saco cheio da hipocrisia dele, mal havia chego nesse caralho e já estava achando que podia me falar qualquer merda? – Por que isso está te bloqueando, lhe fazendo regredir, ainda não percebeu? A cada passo teu você pensa no movimento e quando está quase atingindo o seu máximo você se distrai com o mundo lá fora! O mundo lá fora e teus amigos não estão nem ai para você minha cara! Onde eles estavam quando você precisou? Onde? Em lugar nenhum Lilian! Acorde por que se você for depender de outro clã você vai morrer jogada em uma vala minha cara! Acorde! – era isso ele queria apanhar!

    Sem pensar eu larguei a minha espada e parti na mão pra cima do Jonathan, consegue imaginar dois vampiros lutando? Foi o que aconteceu, nós dois lutando tudo o que sabíamos até ele me derrubar no chão e um único movimento preciso e elegante e como se aquilo fosse normal ele ficou em cima de mim com um joelho apoiando na minha barriga, a força dele era realmente incrível eu não conseguia mover a perna dele com as minhas mãos – Atingi um pontinho fraco pequena? Que bom, pois é o que eu vou usar para fazer você prestar a atenção devida… –  Esperto, ele conseguiu atingir meu ponto fraco e iria usar contra mim – Sábio você caro elfo! Se você mexer onde não deve eu vou te chamar de elfo pra baixo! – Ele ainda me mantinha no chão com a porra de uma perna só! – AH minha querida, pode me chamar do que quiser, com você assim no chão toda submissa a mim eu deixo até você me xingar para ver se assim você evolui e eu consigo o que eu quero! – Com isso ele removeu a perna e me ajudou a levantar – Por que Jonathan? Entre vários aqui que adorariam a sua atenção! – Ele apenas ficou de costas com todo aquele jeito imponente dele – Por que eu vi você antes mesmo de você virar vampira, antes mesmo de você ser o que é hoje –  Como assim?

    Apenas fui até ele, fiquei frente a frente com o ser mais poderoso e sábio que havia conhecido e como uma adolescente tonta eu apenas soltei um “porque” bem baixinho – Lembre-se que você é como ninguém, a vida congelou você para o desconhecido e você sente como se estivesse lá fora, sozinha… Haverá amor, haverá dor, haverá esperança, haverá medo e através disso tudo você tem que se curar e independente que você levante ou caia eu estarei aqui por você, porque eu te conheço muito antes de você se conhecer. Não se preocupe com esses seres estúpidos, se eles tentam derrubá-la é porque elas estão com medo e inseguros – Depois dessa eu só consegui ficar quieta e absorvendo tudo o que ele havia falado – Eu tenho medo Jonathan de me tornar um monstro! – eu sempre tive apesar de nunca admitir isso, mas eu sempre tive medo de perder a minha essência e deixar o poder subir a cabeça – E quem disse que o monstro que existe dentro de nós é de todo um mal? –  ele tinha razão, nem tudo que não é conhecido pode nos afetar negativamente – O que eu devo fazer então? – eu estava perdida como em muitos anos não estive, ele percebeu minha perda de coragem ao olhar nos meus olhos e então me abraçou, passou seus longos braços por minha cintura e me ergueu até que eu estivesse na mesma altura que ele – Eu estou aqui para te ajudar pequena, não se preocupe – e com isso eu recebi o que parecia um beijo daqueles que a gente fica até desnorteada – WOW! Que ótimo jeito de começar a me ajudar! Assim eu até penso em te obedecer… – Ele me soltou devagar no chão e então me deu a mão – Acho que o mais justo agora seria ir dormir e descansar um pouco para o que está por vir amanhã – dormir sério? Depois desse momento eu iria ficar rolando na minha cama pra esquecer aquele baita beijo em um vampiro místico antigo.

    Quando chegamos no corredor dos quartos logo ao passar por um salão lotado de vampiros boquiabertos com a cena nova que era eu e o Jonathan de mãos dadas com  ele falando como se aquilo fosse normal e eu olhando em volta e esperando alguma vampira sem noção voar no meu pescoço, por mais que elas soubessem que não era sábio tentar pular para cima de mim, isso significaria morte na certa, eu não tenho paciência pra vadia maluca, sorry life!

    Mas voltando ao corredor dos quartos, quando eu achei que eu iria ser deixada no meu quarto do jeito que os rapazes faziam antigamente, me senti ser puxada para outra direção e para de frente com o quarto dele, como se fosse a coisa mais natural desse mundo, afinal são tantos anos de parceria #SQN – Jonathan eu não sei que costumes você aprendeu na Terra- Média, mas o rapaz que deixa a moça na porta e não o contrário! – Só pra constar né, vai saber o que ele aprendeu na formação da terra – A minha cara eu não estou te trazendo aqui para você me deixar na porta com um beijo na testa… Entre vamos, temos muito o que conversar – Sei, muita conversa pra por em dia né – Uhum tá, achei que íamos dormir, dia cheio amanhã, lembra? – ele apenas sorriu e me colocou lá dentro como se eu fosse uma bonequinha – Conversar, dormir chame do que quiser pequena – foi ai que eu peguei a maldade de vez, ele piscou pra mim e bom o resto eu deixo pra imaginação de vocês ou conto na próxima parte, quem sabe, ainda temos um caminho a percorrer até o fim dessa minha etapa de não vida! See you soon.

  • Numa noite qualquer…

    Numa noite qualquer…

    Numa noite qualquer, daquelas que o tédio se sobressai, resolvi dar uma de minhas voltas sobre a luz da lua, e para não parecer poético demais, sobre a luz dos postes também… Era madrugada, e enquanto grande parte dos humanos se encontrava em sonos pesados lá estava eu, caçando confusão e bons pescocinhos para morder.

    A verdade é que me encontrava em uma daquelas fases “revolts” onde o desejo de arrancar a cabeça de alguém se torna mais forte. E sim, me sinto muuuuuito mais legal assim. Lorenzo que era um pouco devagar para me acompanhar, sabiamente preferiu ficar em casa. Naquela noite, não sai apenas para uma caminhada noturna. Eu queria fazer o mal. “-Mas Becky, você é uma vampira tão querida e gentil com todos, não acredito que faça maldades por ai.” Pois é, assim como muitos não acreditam em vampiros e nós estamos aqui! E… Não, meus queridinhos, vampiros não são bonzinhos, não brilham e não se alimentam de bichinhos na floresta. Essa piada já está velha, não está?E nós vampiras, nem de perto somos donzelas em perigo… Nós somos o perigo! (Imaginem minha risada sarcástica, enquanto escrevo isso!)

    Usava o habitual para a noite. Um vestido de veludo preto, botas over-the-knee e uma jaquetinha de couro bordô, a dica de usar vermelho para disfarçar o sangue é super válida! Meus cabelos soltos ao vento faziam movimentos em onda enquanto eu curtia um som da banda Oomph, Yes, my favorite band!. Dirigindo meu conversível novo em alta velocidade pelas amplas avenidas da cidade. Ao mesmo tempo, pensava em algumas questões, como sempre, meus pensamentos não param sequer um instante e viajam em ideias como um turbilhão. Mas, o momento não era propicio para isso e sim, eu deveria procurar me divertir um pouco, depois de tanto tempo cuidando de Lorenzo, de meus negócios e de problemas alheios nas quais eu não deveria me importar realmente.

    Parei o conversível em uma esquina qualquer, próximo a um dos meus lugares favoritos. Era noite de show, alguma banda cover pelo que percebi ao entrar. Havia uma grande quantidade de pessoas, no entanto, não havia sentido a presença de nenhum ser sobrenatural por lá. Enrolei, observando o lugar com uma bebida em mãos, que mal toquei nos lábios.

    – Quem será minha vitima esta noite… – falei baixinho.

    No entanto, acabei me misturando aos humanos que dançavam freneticamente, alguns podres de bêbados tinham o prazer de sentir o ardor de minha mordida discreta, seguida da tradicional “lambida” para cicatrização. Bem alimentada e após me divertir fazendo alguns humanos de marionetes, para treinar meus poderes de manipulação decidi que era hora de voltar. Mas eu não estava satisfeita… Ainda… Tudo estava muito tedioso de certa forma.

    Quando chegava onde havia estacionado meu carro, percebi uma movimentação estranha, uma mulher que provavelmente saia da festa, atravessava a rua caminhando apressada e logo quase correndo. Estava sendo seguida, ou melhor, perseguida por dois caras. Resolvi segui-los sorrateiramente para ver até onde tudo aquilo chegaria, essas situações parecem tão comuns em nosso caminho…  Destino? Acaso? Ou sempre atraímos confusão? Naquele momento eu desejava saber me transformar em névoa, ou mudar de forma, como Ferdinand, mas tinha meu “jeitinho” para não ser vista. Vi nos pensamentos dos caras, imagens obscenas, desejos sórdidos sobre aquela pobre coitada, que por que raios estavam na rua durante a madrugada, sozinha? As mulheres deveriam ter essa liberdade, mas não, elas não têm.  Mas, aquela era a minha chance de fazer o mal que tanto desejava para aquela noite, mesmo que ajudando uma senhorita em apuros.

    Os caras a encurralaram em uma esquina, jogando-a na escuridão de um beco, parecia até uma abordagem típica dos filmes. Fiquei assistindo eles tentando fazê-la ficar quieta, até deixá-los ouvir o barulho de meu salto naquela rua esburacada dos infernos, sabem bem como é andar de salto em um lugar desses, isso é difícil até para mim. Olharam para trás, viram apenas meu vulto desaparecer. Olharam para o lado, e sentiram o vento de minha passada rápida sobre suas costas. A mulher respirava ofegante, pensando em uma forma de escapar e ao mesmo tempo com medo do que estava acontecendo.  Esperei alguns segundos, quando os malditos se voltaram para a garota puxei os dois pela gola de suas camisas afastando-os e jogando-os em um monte de lixo.

    -Vá embora agora garota. A madrugada não é feita para moças indefesas… Vá!- Falei com os olhos cheios de malicia enquanto sem perder tempo, ela corria.

    Voltei-me para os caras ainda tontos, mas que se erguiam do chão:

    -Hey gostosões do bairro! Venham mexer com alguém da laia de vocês! – Falei me divertindo.

    Os caras investiram contra mim nervosos. Estufei o peito “como se ganhasse fôlego” e fui direto para o ataque, enquanto segurava um deles pelo pescoço preso à parede, mordia o outro até o sangue acabar em todo seu corpo. A beira de perder a consciência, aquele a quem segurava em minhas mãos, perdeu bons pedaços de seu corpo nojento, apenas pelo meu prazer de ver o sangue escorrer e, para poder lambê-lo em seguida. Não houve muito barulho, nem bagunça, só uma sujeirinha, na qual dei um jeito depois.  Mas, em certo ponto senti que perdia o controle e vi suas vidas se acabarem em minhas mãos de um jeito doentio. Passei alguns minutos observando meu feito, deixei-os ali, próximos as latas de lixo, virei às costas e voltei para casa sem olhar para trás….

    Numa outra noite qualquer…

    -Hey Becky, viu essa noticia? “Dois homens são brutalmente assassinados no bairro… Policia conclui que ação foi vingança do tráfico…”

    É, digamos que foi… Refleti sobre a palavra “vingança”. De quem? Do que, afinal?

  • Múltiplas personalidades eternas

    Múltiplas personalidades eternas

    O ano eu não lembro, mas certamente foi numa primavera ou outono qualquer entre minhas idas e vindas pelo Rio de Janeiro. Provavelmente entre 1940 ou 1950. Não lembro se já falei por aqui antes, mas odeio essas épocas do ano. Pois o clima tropical do Brasil não nos permite primaveras quentes nem outonos gelados. Fica sempre aquela bosta de clima com várias estações ao longo do dia.

    Meu temperamento nesta época era muito variável. Em certos momentos eu era pura alegria, noutros eu queria destruir a cidade ou até mesmo sair suicidamente à luz do dia. Tanto que por vezes Eleonor promovia festinhas caseiras, onde a verdadeira intensão era me manter por perto.

    Foi numa destas festas que conheci uma garota. Loirinha e burguesinha. A típica cocota da época, filha de comendador e toda fresca. Ela havia sido por uma convidada de Eleonor e no mais clichê dos enredos. Bebeu e acabou nua entre meus lençóis.

    A questão é que naquela noite eu me deparei com algo diferente, eu não queria apenas sexo, eu queria provar sua dor. Talvez meu demônio estivesse aflorado, ou o clima tenha me enchido o saco. E estava a ponto de querer profanar todo aquele belo corpo rosa.

    Antes de tudo eu me alimentei. Suguei todo o sague que ela pudesse me oferecer sem perder sua vida. E todo aquele doce e vivo manjar não me foi suficiente. Foi quando a soltei sobre a cama. Me estiquei ao seu lado e por alguns minutos me vi entre os pensamentos mais macabros. Lembrei de quando fui transformado, das pessoas fantasiadas naquela noite de carnaval e de como o tempo havia passado desde o tempo em que eu corria pela fazenda de meus pais, ao lado dos cavalos e de meu irmão.

    E não fiquei preso apenas aos bons momentos. Minha mente foi literalmente dilacerada pelos momentos ruins e estes me deixaram em choque. Peguei-me atônico e fiquei em posição fetal por longos minutos. Acho até que tremia como se fosse permitido a um vampiro o fulgor de uma febre humana.

    Dormi, desmaiei no mais profundo sono dos mortos. Devo ter ficado naquele estado por muito tempo e o que importa sobre tal situação é o que aconteceu assim que fui acordado. Eleonor me acordou aos gritos. Ela estava diabolicamente brava, preocupada e indignada.

    Acordei indignado com seu desespero. Mal percebi a poça de sangue ao meu lado na cama, tão pouco o corpo da garota ao chão. Tudo indicava que eu havia tido um surto, talvez psicótico. Talvez minha forma bestial surgiu e dizimou a pobre garota…

    Fato é que Eleonor me fez limpar tudo e surgia ali o fim de nosso relacionamento. Passei diversas noites longe de todos. Sai do RJ por umas semanas. Visitei a fazenda, onde Georg dorme e também estive em São Paulo. Lugar onde conheci meu estimado amigo, o Doutor.

    Encontrei o Doutor num encontro de vampiros. Algo promovido pelo vampiro líder da cidade, que insistiu em me apresentar para os demais. Confesso, que não tinha o menor interesse em tal evento. Tão pouco estava com ânimo para conversas ou cerimônias.

    Encontrei-me com eles onde hoje se localiza o Conjunto Nacional na famosa avenida paulista. Parei com um carro de aluguel próximo e fui a pé por duas quadras. O momento era tão desfavorável, que inclusive não percebi um homem bem trajado, com maleta de médico se aproximar.

    Trocamos algumas palavras por educação e prestei mais atenção nele, quando adentramos juntos no lugar do evento, onde dei conta que ele também era um vampiro.

    Tudo nele me impressionou, seu jeito metódico, sua roupa finamente passada e costurada. O bigode e cabelos cortados com precisão. Sem falar do apelido: Doutor.

    Ao final daquela noite ficamos amigos e fui convidado para conhecer seu local de descanso. Fiquei curioso ao saber que ele habitava um hospital psiquiátrico abandonado. Onde dentre outras coisas ele praticava seus experimentos.

    Resumindo, passei alguns meses junto dele. Momentos onde fui seu assistente, confrontei meus medos, nos medos dos outros e aprendi boa parte de sua técnica original. Foi ele que ensinou boa parte das teorias caóticas que ainda hoje influenciam meus pensamentos. Sem falar de muitos atos que cometi em prol de suas teorias.

    Durante aqueles meses eu deixei meu clã de lado, assumi uma “nova vida” e com outro nome. Nem mesmo Sebastian tinha espaço em meus pensamentos. E foi assim até um dia em que capturamos duas crianças. A ideia seria doutrina-las e tudo estava pronto na cabeça do Doutor.

    Travei quando vi ambas despidas em cima de uma mesa. Seus corpos inertes em função do clorofórmio, me deprimiu. A inocência que emanava deles me confrontava e não insistir para que ele parasse. Ele relutou e brigamos.

    Consegui imobilizá-lo. Prendi seu velho corpo na mesma mesa em que as crianças estavam. Libertei-as, como se estivesse fazendo aquilo a mim mesmo. Porém antes de ir embora ele me torturou com sua exacerbada frieza:

    – Não importa o quanto tu fujas, eu sempre vou fazer parte dos teus pensamentos. Eu vou me soltar e não vou atrás de ti, mas se quiser estarei de braços abertos. Fuja Hector, fuja meu eterno aprendiz!

  • Gone – Parte III

    Gone – Parte III

    Sabe qual é a melhor parte dessa loucura toda de me isolarem? É deixar pensarem que eles possuem algum controle sobre mim! A ironia disso tudo é aquela merda de sempre, quando você acha que está “por cima da carne seca” na verdade você está embaixo, pois se eles acharam que eu ficaria infeliz com essa situação toda, meus caros eles se enganaram completamente! Vão ver a disciplina que eu vou levar! Enfim vamos ao que interessa?

    Uma semana havia passado desde o dia em que recebi a noticia sobre meu confinamento tenebroso #SQN!  Eu estou achando isso de certa forma prazeroso, vocês já viram meu professor? Da para perder o tempo de todo um século com ele (Continuo não prestando, nem de longe…) Enfim, enquanto eu sei que meu adorado Daniel está preocupado com tudo eu tento manter a calma, afinal não vão me trancar em uma cela escura sem sangue e sem ver as estrelas, muito pelo contrário, eu estava em meu quarto antigo e tinha permissão para andar a noite nas redondezas da Ordem, tudo sem aparelhos eletrônicos, bem bicho do mato mesmo, quase uma índia albina, só falta eu tocar tambor e fumar cachimbo com ervas duvidosas, ai a merda estava completa. Imaginou a cena?

    Mas isso a gente deixa para depois, o assunto do momento é o meu mais novo mestre, Jonathan o elfo vampírico. Eu sei que parece uma punição pra cima de mim, mas vamos ver o enredo disso tudo? Eu estou presa com nada mais nada menos que o vampiro mais gato que eu vi na vida, ele está me ensinando praticamente tudo o que eu já sei com um quê de novidades, ele possuí  uma conversa agradável, é cortês (até demais), muito sábio, sexy as fuck e ainda melhor, ele sabe muito bem como tratar uma mulher. É para ficar triste com isso? I don’t think so!

    Agora vamos voltar um pouco no tempo, no meu primeiro dia de “treino” com ele, eu estava no tatame esperando Jonathan chegar, quando o vi se aproximando vestido do que parecia um robe preto de couro adornado em dourado, calça preta e botas pretas deixando ele com aquela parecia de Lord sem sombra de dúvidas (Já posso lamber o rosto dele para ver se é de verdade? Igual eu fiz com o Ferdinand? Sim eu tive uma reação assim com o Ferdinand no começo, depois eu tive a oportunidade de testar a teoria e ele é de verdade, não vamos ter ciúmes hein! Somos apenas amigos que se divertem além da conta ás vezes!) 😉

    Com um sorriso discreto ele parecia satisfeito ao me ver ali esperando no horário que havíamos combinado – Vejo que és uma vampira pontual ou apenas estava ansiosa para me ver! – convencido, pensei, mas ele tinha razão e por algum motivo muito estranho eu queria ver ele novamente o mais cedo possível, só não iria admitir com facilidade – Digamos que eu goste de ser pontual – respondi  ficando mais próxima e esperando ouvir mais alguma coisa, mas a única coisa que ouvi foi o que parecia um som de desaprovação seguido do que parecia uma leve risada de “ sim sei!” – O que há de tão engraçado My Lord? – no fundo eu acho que ele consegue ler mentes ou talvez eu esteja neurótica demais a seu respeito – Me deixa curiosa, apenas – curiosa? Com o que? – Se me permite perguntar, My Lord, o que vê de curioso em mim? – perguntei me sentando no banco próximo ao tatame enquanto observava o vampiro desembainhar a espada negra dele com cautela e admiração pelo objeto, como se aquilo fosse uma velha amiga que não via há muitos anos – Minha curiosidade é simples minha jovem… Você desperta muitas curiosidades a teu respeito, mas a que mais me chama atenção é o porque  você luta tanto contra os teus sentimentos? Não acha que isso cedo ou tarde pode lhe fazer mal? Lutar contra os sentimentos e as nossas vontades pode ser a nossa ruína e não a solução! – ele podia ser muitas coisas, mas a sabedoria dele transbordava com cada sílaba que saia dos lábios do agora insinuante vampiro – Eu não me seguro My Lord, muito pelo contrário, eu falo e deixo aberto o que sinto! – aquilo parecia mais um jogo de poder entre nós dois do que uma conversa na realidade – É mesmo? Por que então não me disse o que estava sentindo por completo? Saíram apenas metades no que me disse e eu sei que não era apenas uma questão de ser pontual, não é mesmo Lilian? – ok, agora eu estou realmente assustada com os poderes dele, se ele pode ver o que eu penso mesmo que pequenos detalhes, o que mais esse vampiro seria capaz? – De muitas coisas minha cara… – foi essa a resposta que obtive sobre os meus pensamentos  – Mas como? – foram as únicas palavras que consegui processar naquele momento – Eu sou antigo o suficiente e isso é o único fato que precisa saber neste momento. Agora sem mais delongas, eu quero ver o que sabe e até onde pode ir – me levantei e fui até o centro do tatame, espada em mãos e punho firme – Vamos começar já com o mano a mano My Lord? – disse enquanto girava a espada em minhas mãos – Sim Lilian e não tente pensar muito, bloquei a sua mente, isso vai ser a única maneira de te ajudar a chegar perto de me vencer… – você pode ser o Deus dos vampiros com cabelo perfeito, mas eu continuo sendo muito boa quando se diz em bater no adversário – E se eu vencer  My Lord, o que ganho com isso? – disse mantendo a espada apontada para o vampiro do outro lado do tatame – Bom meu cabelo é assim desde que eu me lembro e se você ganhar ou perder eu sei que o prêmio vai ser agradável o suficiente para os dois… – eu não sabia o que ele estava pensando, mas já que é garantido algo bom, porque me conter, não é mesmo?

    I’ve listened to preachers
    I’ve listened to fools
    I’ve watched all the dropouts
    Who make their own rules
    One person conditioned to rule and control
    The media sells it and you live the role
    Mental wounds still screaming
    Driving me insane
    I’m going off the rails on a crazy train

    See you all soon!