Categoria: Histórias

Nesta seção você encontra historias, contos e relatos relacionados ao mundo real e sobrenatural. Verifique a indicação de faixa etária no início de cada texto.

  • Minha família de Vampiros

    Minha família de Vampiros

    Naquele clima de família reunida no final de ano, com uma criança correndo pelos quatro cantos do lugar e todos jogados no sofá, depois de uma bela noitada. Percebi que Eleonor me olhava de uma forma diferente. Lembrei-me de imediato das épocas em que namorávamos de uma forma séria e de certa forma senti aquela saudade que às vezes aperta o coração. Inclusive, pensei em me levantar e lhe abraçar de uma forma fraternal, mas ela possuía outros planos.

    Não sei se eu estava tão relaxado a ponto de deixar de lado minhas proteções mentais, mas ela foi incisiva por telepatia:

    “Depois que a pequena dormir, eu queria ficar um pouco contigo, estou com saudades. Convenhamos Fê, mal nos vimos neste ano que passou”.

    Eu sorri e lhe mostrei a língua, depois fiz sinal com a cabeça para subirmos aos quartos. Ela apenas sorriu e disse a todos:

    – Gente a noite foi ótima, fazia muito tempo que eu não ficava tão feliz com vocês por perto, mas está na hora dessa mocinha ir dormir.

    A pequena fez um pouco de manhã, não queria sair do colo do tio Franz, mas Eleonor a pegou no colo e subiu. Franz, como sempre, teve de uma piadinha:

    – Nessa horas meu lado paterno aflora… ops passou, vejam só (risos)

    – Eu até me animo também, mas a Pepe e o Sebastian suprem essas minhas necessidades. Por falar nisso H2 por onde anda?

    – Não sei maninho, o liberei no final do ano para fazer o que quisesse. Sabes que gosto desse tipo de reunião, mas ele preferiu fazer alguma espécie de retiro. Acho que ainda não se esqueceu de seu passado como padre. Enfim e vocês dois como anda o casamento?

    Sebastian olhou para Claudia, deu uma risadinha boba e quase nos afogou com tanto amor:

    – Por alguns anos eu cheguei a pensar em dedicar minha eternidade aos livros ou estudos, mas quando encontrei a Claudia. Descobri que o mais importante é ter alguém especial, no qual possamos compartilhar todos os acontecimentos. O casamento foi apenas uma celebração social para vocês, o que importa é que nossas almas foram feitas uma para a outra…

    Ao terminar a frase eles se beijaram e obviamente os mandamos para o quarto, debaixo de muitas piadas e risos. Pepe nos acompanhou nas risadas e piadas. Tive um momento pai, percebendo sua evolução como vampira e antes que ela decidisse ir dormir fiz uma piadinha:

    – A noite inteira tu não comentou nada sobre internet ou teus jogos e afins. Fico feliz que estejas um pouco longe disso.

    – Ah FÊ tenho evitado esse meu vicio, mas já que você tocou no assunto . Está todo mundo indo dormir, acho que vou dar uma olhada nos e-mails tudo bem?

    – Claro minha filha vai la…

    – Então mano, acho que vou subir também…

    – Ah vá maninho, sei muito bem em quarto vai dormir este dia. Só não te esqueças dos nossos negócios na América Latina, se elas forem para lá vamos ter problemas de novo…

    – Ok ok ok…

    Por vezes “Irmãos mais velhos” são um porre, ainda mais se ele for um vampiro igual ao Franz, que tem olhos e ouvido na nuca.  Até pensei no caso dele estar com um pouco de ciúmes, tendo em vista o seu passado com ela, mas em nossas últimas conversas ele não havia mencionado nada. Apenas discutimos alguns assuntos do clã e no que cada um tem feito para a continuidade dos negócios.

    Sem mais delongas subi par ao quarto de Eleonor e lá estava a pequena numa caminha improvisada ao chão, e sobre a cama estava Eleonor impecavelmente deliciosa, trajando apenas uma calcinha minúscula preta. Contrastando com sua pele branquinha e seus cabelos longos negros e sedosos.

    O que falar deste dia? Mordidas, unhadas, sangue, prazer, tesão, apertões, parede, chão, cama, teto… Tudo o que tu possas imaginar que um casal de vampiros possa fazer entre 4 paredes e claro, mais um pouco.

    Acordei apenas na noite seguinte e percebi de imediato que estava sozinho. A respiração e o coração da pequena não ecoavam pelo quarto e Eleonor também não estava do meu lado. Arrumei-me enquanto tentava se lembrar do que havia rolado com Eleonor e apesar de tudo de bom que tivemos foi consumido por uma tremenda sensação de culpa. Jogada na cara de Eleonor assim que a encontrei na sala.

    – Nossa fazia tempo que eu não dormia tanto tempo, acho que desmaiei na verdade.

    – Fê por que tu não ficas conosco um tempo, quem sabe curte a pequena como se fosse tua filha e eu tua mulherzinha…

    Sem um “oi” ou qualquer introdução, ela me jogou aquilo e fui obrigado a lhe responder a altura:

    – Sabes dos meus comprometimentos com o clã, sabes de todo o peso que carrego nas costas e te odeio por levar tanto tempo pensando nisso. Por que não ficasse conosco quando eu te pedi? Tu simplesmente pegou a pequena veio para cá e te isolou. Somos uma família, lembra? Não Eleonor, eu não devia ter ido para tua cama ontem e não posso, pelo menos agora, me dedicar a esse joguinho de “Papai e mamãe”.

    Nesse momento era possível ver algumas lágrimas em seu rosto, lagrimas estas de sangue e que me comoveram de certa forma, mas não o suficiente para conter o que estava “entalado na minha garganta”.

    – Sabes que isso é uma palhaçada e assim como tu me recomendou uma vez eu te peço agora. Não gostarias de hibernar por uns tempos? Por a alma e os pensamentos em ordem? Pensa nisso e me liga que venho correndo ao teu encontro. Só por favor não cai nesse joguinho humano sentimentalista e hipócrita. Somos superiores a tudo isso.

    Ela chorou ainda mais depois de minhas duras palavras e de certa forma parecia ter captado o recado. Não soltou nenhum “piu” e apenas me abraçou forte antes que de eu partisse. Beijei sua testa , dei um beijo na bochecha da pequena e fui ao encontro de Franz no aeroporto.

     

  • Mais algumas lembranças de Becky –  Final

    Mais algumas lembranças de Becky –  Final

    Algumas horas se passaram, tive tempo de analisar tudo o que havia dentro daquela sala. Pela janela percebi que estava a algumas horas do amanhecer e imaginava alguma maneira de sair daquele lugar. Estava apreensiva pelo que poderia acontecer em seguida. Até que finalmente alguém abria a porta. Mas, de súbito paralisei e meus instintos farejaram algo familiar como se eu já conhecesse quem entrava. Virei-me devagar. Ela me observava como se pudesse ver-me por dentro.

    Durante alguns minutos permanecemos assim, olhando uma para a outra.

    -Sente-se Rebecca… Humm, agora entendo porque fui deixada para trás. É muito mais bonita pessoalmente.

    Olhei-a com desdém. Também era uma vampira tão bonita quanto eu, porém mais velha e mais forte. Era um pouco mais alta, tinha os cabelos longos e loiros, em contraste com sua pele morena- pálida.  Mas, o que queria comigo, afinal?

    – Não sou uma inimiga. Queria apenas vê-la. Logo vai poder sair daqui e seguir seu rumo. Assim, como irei seguir o meu. Mas, antes preciso lhe falar algumas coisas. O mais engraçado, é que tudo o que sobrou da minha vida está fragmentado em você. Todas as minhas lembranças. Toda a vida que eu não vivi. Mas, eu tive sorte ao final… Quando você nasceu, eu já estava transformada, Erner era “amigo” de sua família, e eu também era, sim, conheci seus pais Rebecca. Mas, ele imaginou todo o seu futuro e ficou obcecado por você. Ele era assim, sua possessividade o fazia manipular suas vitimas ao máximo até tê-las totalmente sobre seu domínio. Mas, com você foi diferente, ele te acompanhou desde sempre, teve você nos braços ainda criança, e então, cansou-se e me descartou. De certa forma ele te amou.

    – Eu já sei de tudo isso. Olha, eu não tenho culpa do que possa ter te acontecido.

    -Não, não tem. Por isso precisava olhar nos seus olhos. Eu não o amava como você o amou, mas mesmo assim, não pude fazer o que fez. Eu vim te agradecer. Pois, deu aquele homem o seu destino merecido.

    -Já acabou? Já falou o que precisava?

    – Espero que compreenda e me desculpe pela maneira que lhe trouxe até aqui.

    Dei uma risada nervosa, olhei para aquela que eu conhecia como “Sophie”, e sai daquele lugar o mais rápido que pude. Tudo aquilo era estupidamente desnecessário. Ela veio me agradecer pelo sofrimento que causei a quem mais amei, mesmo com tudo o que havia me feito, e aquilo mesmo que eu não quisesse, me dilacerava e doía.

  • Mais algumas lembranças de Becky – Parte III

    Mais algumas lembranças de Becky – Parte III

    Lembro-me que depois daquele natal, e daquela visita que eu imaginava ter sido um sonho, meu avô faleceu, e em seguida eu me despedia de minha avó que também se foi, talvez por tristeza e saudade. Para mim já não havia mais ninguém, eu não havia recebido mais correspondências daquele homem, não tinha nenhum tipo de endereço, nenhum irmão, nem ao menos um tio, e eu estava me preparando para a faculdade. Então, apesar de tudo, eu fui para aquela minha nova vida, que mal começava e já acabaria. Em minha adolescência não me tornei uma garota triste por conta da solidão. Na verdade, sentia prazer em estar sozinha. Mas, com o tempo isso foi mudando. Sendo uma jovem normal, fiz amigos com facilidade, aproveitei minha vida acadêmica em uma época em que as mulheres ainda estavam conquistando seu próprio espaço e em meados de 1928, um ano em que muita coisa aconteceu, eu já estagiava em um pequeno jornal logo que retornei à Alemanha, até um falso acidente planejado por Erner, interromper tudo isso.

    – Hey garota, acorda!

    Abri os olhos devagar. Algum miserável jogava água em meu rosto, e jurei que quando me soltasse daquelas amarras ele seria o primeiro na carnificina que faria ali. Olhei ao redor. O gerente do banco amarrado em minha frente. Dois homens armados atrás de mim e alguém conversando ao telefone na sala ao lado. Pude ouvir um trecho da conversa:

    “Sim senhorita, nós a pegamos, já pode vir falar com ela.”

    A porta estava sendo aberta. Um rapaz com cara de indiano vinha em minha direção. Não pude deixar de notar que era alto, forte e tinha inúmeras tatuagens pelo corpo, embora estivesse muito bem vestido. Inesperadamente, soltou-me e pediu para que eu ficasse calma. Pedi para que soltasse o gerente do banco também e em seguida, conforme me instruiu o segui com uma vontade forçada até sua sala. Eu não lembrava como havia parado ali, e isso me deixava com mais raiva ainda, mas resolvi esperar antes de tomar qualquer atitude.

    -Preciso que espere aqui senhorita- disse o rapaz indiano enquanto saia da sala.

    -E o que lhe faz imaginar que obedecerei as suas ordens?

    Sem me dar ouvidos, o rapaz olhou para o lado de fora e disse:

    -Porque ela chegou.

  • As desilusões de um vampiro – Parte 2

    As desilusões de um vampiro – Parte 2

    Muitos que vivem, merecem a morte. E alguns que morrem, merecem viver! Você pode dar-lhes vida? A morte pode transformar a não vida em destino e mesmo assim vai haver uma luz para você nos lugares escuros, quando todas as outras luzes se apagarem.

    Ps: Esta história não segue uma cronologia e sim a teoria a ser explicada.

    1614 – Muralhas da Ordem

    Dúvidas me seguem por todos os lados. Devo continuar nesta jornada? Eu vejo mudanças. Mudanças que me assombram e me seguem nos sonhos, nos pensamentos e até o fundo da alma, se é que possuo alguma depois de me tornar uma figura tão sombria.

    Eu tenho consciência de que sou um vampiro, mas nunca imaginei chegar a esse ponto. Que poder é esse que surgiu em mim? Cage tinha razão, ele sabia de alguma forma que eu conseguiria obter tal façanha. Não fui o único, Daniel e Michael também conseguiram.

    Estamos os três surpresos e confusos. Temos em nossas mãos a nossa força e também a nossa ruina.

    Mas paro e penso, de que adianta temer o que já está feito? Tenho que arcar com isso de qualquer forma. Entre as sombras e o fim das noites, até que as estrelas brilhem sobre as nuvens, não deixarei tal poder me tomar. Serei forte e cada dia que treinar, irei evoluir e ampliar o controle e por fim não ser controlado pela vontade crescente de um assassino e serei sim o domador da fera que dentro do meu ser ruge e estremece meus sentidos.

    Quando alcançar tal nível de controle, ficarei satisfeito , lutarei ao lado dos meus companheiros e farei tudo para me tornar mestre. E quem sabe um dia treinar um ser tão destruído como eu, no começo de minha não vida e torna-lo tão forte e sábio quanto eu.

     1950 – Mansão Vermelha

    Como deixar que, machuquem um ser indefeso? Pobre menina, onde a inocência a enganou? Desde que acordei e conheci Pierre, meu monstro interior floresce de ódio e ira, estou cheio de vontades e uma delas é acertar um machado no meio do sorriso forçado desde infeliz.  Cage nada faz, diz que a fortuna de Pierre ajuda a manter a Ordem em “bons panos”. Confesso que tenho vontade de mandar meu alto mestre Cage colocar os “panos” citados em um lugar escuro e profundo de seu corpo.

    Já eu procuro meios de punir Pierre, mas nada posso fazer. Quero arrancar aquela pobre criatura do desespero. Descubro que ela não é a primeira, muitas foram torturadas por aquele sádico. E os altos mestres não impediram. Simplesmente fecharam os olhos e esqueciam da palavra que carregávamos.

    Pierre em sua loucura se achou apaixonado pela humana que ali estava amarrada. Não vi o rosto dela, mas sinto que é inocente,  frágil e está com medo. Pobrezinha.

    Tento recorrer a todos os sábios, procuro achar uma punição e nada. Quando fiquei sem esperanças, recebo ordens para ir até Cage e ao chegar na ‘ sala dos senhores’, vejo que tramavam algo contra Pierre e eu obviamente concordei em ajudar. Todos estavam cansados da atitudes impulsivas e grotescas dele. Tais feitos infantis poderiam colocar todos nós em perigo e nos expor sem necessidade. Vou chama-lo, Cage quer conversar com o sádico e eu quero conhecer a vitima.

    Salão Águia de Sangue

    Lilian, um belo nome para uma dama simplesmente linda. Mesmo machucada, sua beleza me encanta ferozmente. A voz já frágil, demonstrando medo, ela sabia que ele iria machuca-la mais e eu nada podia fazer por hora. Sei que ele vai engana-la falando que vai ceder a imortalidade como uma forma de punição e depois vai deixa-la jogada em um canto para morrer. Só que eu tenho uma carta na manga, assim que ele sair e terminar a “ falsa transformação”, darei meu sangue a ela, sendo assim,  tornando muito mais gratificante criar a arma mais poderosa contra aquele maldito. O famoso Carma iria bater na porta dele daqui algumas décadas.

    Agora ele será expulso e vamos dizer que ele fugiu. Mentira, mas uma mentira necessária por hora.  Mal sabe ele que não vamos deixar ela para morrer, como as outras… Não, não… Eu vou pessoalmente treinar o pior pesadelo da existência dele. Lilian saberá a verdade no tempo certo e ninguém vai ficar no caminho dela. E eu vou estar aqui para aplaudir teu sofrimento Pierre.

    Att: Trevor W.S

  • Mais algumas lembranças de Becky – Parte II

    Mais algumas lembranças de Becky – Parte II

    Há algumas semanas atrás, eu fiz uma pequena viagem.  Fui verificar um problema em uma das minhas contas bancárias que possuo na Inglaterra, pelo que me constava, determinada quantia em dinheiro havia sumido.

    Eu e minha mania de agir por impulso me fizeram esquecer de avisar alguém de que eu estaria lá, e por um instante meu sexto sentido me fez imaginar que havia algo errado. Enviei apenas uma mensagem para Ferdinand avisando que estaria fora por uns três dias, e que qualquer coisa entrava em contato. Marquei um jantar com o gerente do banco, que era meu “amigo”, e me dava uma forcinha para driblar os problemas burocráticos dos bancos em troca de pequenos favores. Segundo ele, uma garota havia convencido um dos atendentes, e se passado por mim para retirar a quantia. Eu já estava sem paciência:

    – Eu nunca retiro qualquer quantia no banco pessoalmente. Sempre que necessário acesso a conta e faço as transferências pela internet. Essa pessoa podia se passar por mim para um dos seus funcionários. Mas ninguém tem autorização a acessar minha conta a não ser com sua presença, e como esse alguém teria os meus dados?

    -Hey, Sra. Erner. Está querendo dizer que eu…

    -Por enquanto não estou querendo dizer nada. Mas, quero questionar seu funcionário pessoalmente amanhã.

    A conversa acabou por ali. Voltei ao hotel, e passei o resto da noite e do outro dia pensando no que aquilo significaria. A questão não era o dinheiro e sim quem estava por trás disso. Por um segundo, gelei ao pensar que… Não, não, isso seria impossível.

    Poucas horas depois, o gerente do banco me ligou e disse que inesperadamente o dinheiro estava novamente em minha conta. Combinamos de nos encontrar e pensei comigo mesma que certamente estavam me fazendo de palhaça. Queriam me atrair para a Inglaterra e eu mordi a isca, imaginando que resolveria apenas um problema corriqueiro. Senti que algo aconteceria. E eu teria que tirar aquela história a limpo. Mas, no momento, não teria como alguém ir me ajudar. Liguei para Ferdinand, expliquei a situação e pedi se ele liberava a Pepe para fazer uma pequena pesquisa para mim. Não demorou muitas horas para ela entrar em contato comigo e me dar um nome …

    “Sophie”.

  • Mais algumas lembranças de Becky- Parte I

    Mais algumas lembranças de Becky- Parte I

    Já que me pediram detalhes, vou contar-lhes mais de minhas lembranças junto a alguns acontecimentos.

    “Eu estava caminhando por uma estrada escura, tudo estava muito estranho e ao mesmo tempo muito real. Eu conseguia até mesmo sentir o cheiro das árvores. Ao longo do caminho avistei um menininho de olhos negros, imaginei o que ele estaria fazendo ali, àquela hora. Aproximei-me e o questionei se estaria perdido. Ele olhou-me nos olhos e logo se transformava em um homem com feições demoníacas, agarrou-me pelo braço. Eu tentei livrar-me dele, mas ele dizia que logo viria me buscar…”

    – Rebeeecaaa, o que pensa que está fazendo? Pensa que não vejo os seus passos nesta casa? Quer voltar para o porão?

    Ele e sua voz mansa e ao mesmo tempo assustadora me faziam paralisar.

    -Minha doce e ingênua menina, além de tudo é tola. Se sair nesse horário o sol lhe fará cinzas.

    -Não sou tão ingênua assim- Falei me aproximando – Nem ao menos tola.

    Meus dedos caminharam por seu peito e subiram até seu queixo, em seguida, roçaram seus lábios fazendo com que suas presas aflorassem. Ele semicerrou os olhos que ardiam como fogo. Olhava-me com ódio e furor por eu conseguir tê-lo em minhas mãos nesses momentos. Com um movimento violento, agarrou-me pela cintura me fazendo sentar em cima da mesa. Suas mãos apertavam meu pescoço enquanto me beijava, sentindo o pouco sangue que havia em minhas veias. Esperei que ele me mordesse, mas suas mãos desceram e com força rasgavam o vestido que eu usava. Era incrível, mas ainda sentia-me arrepiar. Mas, algo além disso me fazia perder o controle, eu queria… Mordê-lo.

    Em um movimento rápido, puxei seus cabelos e sem tempo para pensar senti minhas presas cravarem em seu pescoço. Senti uma dor terrível em minha cabeça enquanto bebia seu sangue. Pude ver algumas das memórias de Erner.

    Foram frações de segundos, até um golpe violento me atingir e me jogar contra a parede.

    -Sua vadia insolente! Jamais uma cria deve atacar o seu mestre como ataca a um humano! Eu devia matar você.

    Limpei minha boca. Se pudesse chorar as lágrimas rolariam. Em seguida apanhei muito. Eu havia feito algo terrível, mas sabia que não era minha culpa e Erner também sabia disso, mas gostava de castigar-me. Porém, aquela foi à única vez que vi as memórias de alguém dessa maneira, e eu soube por meio disso que antes de mim, houve outra vítima nas garras de meu sádico mestre.  Pois depois daquela noite, mantive um nome gravado em minha mente por muitos anos.

  • As desilusões de um Vampiro.

    As desilusões de um Vampiro.

    Esta história foi traduzida através de um diário e será contada em partes. Quem o possui nos permitiu a exibição de tais acontecimentos escritos.

    “Do plano invisível e em todos os tempos, os Espíritos abnegados acompanharam a Humanidade em seus dias de martírio e glorificação, lutando sempre pela paz e pelo bem de todas as criaturas.”

    1608 – Florença – Itália

    Faz um ano que as perdi. Um ano que não vejo o olhar alegre e inocente de minha pequena Giulia e o lindo sorriso de minha amada Genevive. A nossa casa está escura, silenciosa, vazia, assim como meu ser.

    Florença não tem mais o antigo brilho, as festividades já não me agradam, o vinho não tem gosto e o pão não combina mais com o sabor do queijo. O sabor da vida me abandonou assim como minhas adoradas filha e esposa.

    A podridão da cidade me agrada, é suja, doentia, podre, me perco em orgias sem cabimento, saio sem destino por uma cidade que aos meus olhos não tem mais luz. Assim como o declínio dos Medici e os sinais evidentes da decadência do governo de Florença, eu vivia a minha própria decadência.

    Porque o Senhor Deus, todo misericordioso, tiraste o que havia de mais importante em minha vida? Não era hora, não era o momento, minha pequena não havia idade para falecer. Eu não estava preparado para perder o calor do corpo de Genevive, do toque suave de suas delicadas mãos. Qual tua misericórdia Deus? Leva-las assim? De que valeu tal desagrado a mim? Foi importante deixar que essa doença as levasse?

    Não acredito mais em ti! As palavras do testamento não me fazem sentido…

    Onde está o milagre? Onde está a vitória dos oprimidos? Eu não os vejo! Vejo mentiras, vejo um povo iludido, com a teoria da aclamada salvação divina.

    A ironia tem sido minha companheira junto a mágoa. Quero morrer, mas a covardia do suicídio me segue. Não tenho a coragem, e a bebida não proporciona tal acontecimento. Que eu morra, que me matem, que tirem esse sofrimento, pois de mais nada vale viver.

    1610 – Muralhas da Ordem

    Fui transformado na existência do medo, aos meus quarenta e dois anos, me sinto no vigor de uma criança. Agora sou um ser das trevas, algo que Genevive sentia medo, apesar de nunca ter visto algum ser como eu em vida.

    Esse lugar que agora estou é sombrio e aconchegante ao mesmo tempo, rodeado de seres das sombras. Estou apenas seis meses em treinamento, mas meu mestre insiste que eu possua algum dom diferente e devo seguir o treinamento emocional e espiritual mais profundo.

    Essa transformação em vampiro foi puramente por pena, sinto que fui transformado para me libertar das amarras da depressão. Ao andar a noite me deparei com um ser obscuro, estava bêbado e completamente vazio depois de uma festa erótica de um lorde excêntrico. Eis que me veio esse ser da escuridão e me tirou dos laços da humanidade, sem pedir, sem pena, me levou ao outro lado da vida, um lado que antes eu temia e agora adoro mais que o sangue de uma inocente virgem.

    Apenas espero que esse treino espiritual ofereça algo estupendo, duvido muito, mas devo dar a chance, afinal quem sou eu para duvidar de algo?

    Agora vou me deitar e apreciar a escuridão do meu quarto e as lembranças boas que algum dia tive quando humano. As vezes acho que esse acontecimento na minha vida tenha sido algum tipo de maldição divina, e outras vezes penso o contrário, Deus em sua ironia me deu uma segunda chance, essa no qual muito estranha e controversa.

    Att: Trevor W.S

  • Lembranças de ano novo – Becky

    Lembranças de ano novo – Becky

    Como vocês sabem eu estive de “férias” no final do ano e além disso, resolvi dar uma “esticadinha” na minha ausência do site e redes sociais para me dedicar aos livros. No entanto, hoje me sobrou um tempo e estou respondendo os mais 200 e-mails entre outros contatos de vocês.  Um desses contatos foi feito pela Becky, que me mandou uma de suas lembranças de final de ano. Desculpe pelo atraso na publicação, minha querida!

    —###—

    Alguns dias atrás, Ferdinand nos pediu para contarmos alguma história de natal ou fim de ano para que ele pudesse compartilhar aqui no site. Como era de se esperar, eu não iria deixar de participar, então, vou contar-lhes uma lembrança minha também.

    Todos os anos, desde minha infância, eu recebia presentes não só de meus avôs, mas de alguém na qual eu não conhecia e que se dizia um parente distante e amigo. Com o tempo e à medida que fui crescendo, os presentes passaram a mudar, alguns vinham acompanhados de pequenos bilhetes ou cartas. Porém, no natal do ano de, não me lembro mais exatamente à data, mas creio que foi em meados de 1900 e lá vai… Enfim, alguns anos antes de minha transformação em que eu já era mais do que uma adolescente, não recebi presente nenhum. Recebi apenas um bilhete:

    “-Hoje entregarei seu presente pessoalmente, minha doce menina.”

    Aquilo me deixou extremamente empolgada e feliz, pois finalmente eu iria conhecer o tal “amigo secreto”. Passei o dia em frente ao espelho, me arrumando. Esperei ansiosamente por horas e horas, passou-se o dia, passou-se a ceia de natal e nada… E então, eu desisti de esperar aquela visita e sim, fui dormir.

    No meio da noite, senti que alguém passava as mãos sobre meus cabelos. Não, meus queridos, não era o tal Papai Noel, era um homem alto, forte, de lindos olhos negros e cabelos enrolados. E ao invés do saco vermelho de presentes, ele tinha… Bom deixa pra lá!

    Dos meus cabelos, suas mãos deslizaram sobre meu rosto e se perdeu sobre meu corpo jovem. Nos beijamos longamente e passamos algumas horas juntos sem dizermos uma palavra. Foi uma noite louca e muito curta. Quando em certo momento, ouvi que alguém abria a porta e em um salto… acordei…

    -Rebecca, está na hora de levantar menina!

    Era minha vó. Foi um sonho, pensei, inconformada.

    Anos depois, li relatos sobre essa noite nos diários de Sr. Erner.

    Ps.: Feliz Natal e Próspero Ano Novo à Todos, Meus queridinhos ^^

  • Servidão – pt3

    Servidão – pt3

    Após estacionar o carro em uma rua mais ou menos movimentada, Abdullah  se dirigiu a casa de Madame Scylla, junto com o seu corvo, que o seguia de perto, escondido por entre às árvores.

    Parando em frente a um casarão antigo, de caráter histórico, Abdullah bateu na porta com os nós dos dedos, levemente, sem fazer muito barulho.
    —Sim?

    O árabe se endireitou e, antes de entrar no casarão, estendeu o braço, de forma a receber o peso do corvo.
    —Madame Scylla se encontra, eu presumo?—Sussurrou Abdullah para o pequeno homem que atendeu a porta, um dos lacaios de madame.
    —Sim. O senhor deve ser Abdullah, não? Me siga por favor.

    Abdullah foi guiado escadaria acima até um salão de aparência modesta, com um conjunto de sofás de cor creme, onde estavam empilhados vários travesseiros de aparência macia.
    —Madame pediu para que o senhor se sentisse a vontade enquanto a espera.

    —Tudo bem.—Respondeu Abdullah, enquanto jogava algumas almofadas no chão de forma confortável para sentar em cima.
    —Não consigo me acostumar com esses costumes ocidentais…Madame Scylla não vai se incomodar se eu fumar, certo?—Perguntou, mais para puxar conversa enquanto já acendia um cigarro.

    O corvo passou a sobrevoar a saleta, a procura de um bom lugar para vigiar o cômodo inteiro. Abdullah, ao notar o nervosismo do animal, sorriu com o canto da boca:
    —Acalme-se. Não vai demorar. Madame Scylla não tem como costume deixar seus convidados esperando.

    —Certamente que não, meu caro amigo.—Uma voz de mulher veio da Janela, que se encontrava semi-aberta.—Ainda mais com um assunto tão urgente.—Madame Scylla encostou o corpo na cortina, os olhos azuis a analisar Abdullah, que continuou sentado.

    —Como vais, Maria?— sussurrou a mulher em direção ao corvo, que apenas moveu a cabeça para o lado, sem interesse.

    —Peço perdão pela familiaridade com que eu tratei suas almofadas, querida. Mas sabes como é, esses sofás são desconfortáveis demais e limitam meus movimentos.

    Madame Scylla riu baixinho, antes de se sentar em uma das poltronas:
    —Já se foi a época do conforto, não concorda, meu amigo? Eu mesma tenho tido certa dificuldade em encontrar móveis que me agradam…está tudo tão colorido, tão…ridículo.—A grega fez um gesto de desdém com a mão, sem desviar os olhos do árabe, que sorria.—Mais importante, porém: houve uma drástica mudança de planos.

    Abdullah levantou uma das sombrancelhas, intrigado, e relaxou mais o corpo entre as almofadas.
    —Deixe-me adivinhar: Ygor Pietro não quer saber de negociação nenhuma, e ao invés disso, se prepara para um conflito bélico entre os clãs?

    Scylla não demonstrou surpresa nenhuma com a pergunta, e apenas sorriu.
    —Não. Receio que você está um pouco desatualizado, meu querido. Ernst, por favor, não fique parado aí na janela, entre e fique a vontade…eu prometo quê, da minha parte, eu não mordo.

    Ernst se esquivou das cortinas e adentrou a sala, a cabeça baixa, ainda se sentindo fraco. Abdullah endireitou o corpo e fixou o olhar no rapaz, quê estremeceu.

    —Não se preocupe. Ele não irá lhe fazer mal. Por favor, sente-se sim? Ainda não estás totalmente recuperado dos últimos eventos,não é mesmo?

    —Obrigado, Madame Scylla.—sussurrou Ernst, deixando-se jogar na poltrona.

    —Pois então, meu caro,é como eu disse…mudança de planos.
    Solicita, Maria pousou de leve o corpo na beira da poltrona onde Ernst se encontrava, soltando um som amigável.

    —Não sinta pena, Maria.—Disse-lhe Abdullah, os olhos fixos no rapaz.—Ele ainda nos explicou o quê pretende ao vir aqui, voluntariamente, mesmo sabendo quê Madame Scylla queria a sua cabeça em uma bandeja de prata pelo o quê ele fez a Thomas.—Tragou um pouco mais do cigarro, voltando a relaxar o corpo. Soltou a fumaça de forma lenta e deliberada, como era de seu agrado.—Quanto a você, Sr.Ernst…Digamos quê o senhor tem muito a quê nos contar.

  • Boas festas para quem?

    Boas festas para quem?

    No final de 2014, precisamente no dia 23 de dezembro, Saturno saiu do signo de Escorpião e ingressou no signo de sagitário às 14h32m (horário de Brasília). O ciclo que durou cerca de dois anos trouxe diversos obstáculos à vida de muitos, porém o que torna este ciclo relevante ao mundo vampiresco é o fato de que um vampiro antigo pode ter voltado de sua hibernação.

    Por causa deste boato, passei o final de ano preocupado, aliás, essa preocupação foi a conversa principal com todos aqueles que souberam da possibilidade de tal acontecimento. Claro que não seria uma questão de Cristo ou do seu maior antagonista estarem voltado ao plano terreno, mas sempre que um dos antigos acorda todos os olhares se voltam para o Matusalém.

    O vampiro antigo em si não é maior problema. A causa maior das nossas dores de cabeça são sempre  os possíveis caçadores ou megalomaníacos, que se estapearão para obter os segredos, o sangue ou qualquer migalha, que seja deixada pelo caminho do ancião vampiresco.

    Longe de mim querer alarmar minhas queridas leitoras, mesmo por que há 99% de chance que nenhum humano fique sabendo da realidade deste assunto. Além disso, tudo foi esclarecido ainda antes do réveillon, quando recebi de uma fonte e absolutamente confiável, o que realmente aconteceu naquelas noites anteriores ao Natal cristão.

    Um famoso Coven de bruxas italianas se reuniu para comemorar o final de ano e as mudanças astrológicas da época. Comemorar é a palavra mais adequada que achei para representar a orgia e feitiçaria destas reuniões. Não é atoa que remetem a elas as primeiras menções ao termo Bacanal, ou simplesmente festas de Baco, o Deus romano das festas e do vinho.

    Diz a história que alguns vampiros foram convidados por engano para tal confraternização e ao serem barrados na entrada do lugar rolou o maior barraco. Acontece que barraco envolvendo seres sobrenaturais, é literalmente cousa de outro mundo. Obviamente, os vampiros banidos da festa quiseram se vingar e proporcionaram uma pequena vingança as bruxinhas sapecas.

    A dupla composta por um vampiro detentor de poderes mentais e  outro com talento para as ilusões, pensou rápido. Bolaram um plano em menos de 10 minutos e voltaram ao local. Passando-se por bruxas eles entrar facilmente no lugar e começaram a praticar suas maldades e traquinagens.

    – Soube que a festa não vai durar muito tempo, o local foi descoberto. – Fofocou um deles.

    – Uma bruxinha loirinha bonitinha me contou que por causa desta conjunção astral um vampiro antigo vai sair de sua hibernação aqui pertinho. – Sussurrou o outro vampiro.

    E diante estes e outros boatos a festa foi arruinada. Skype para cá, SMS para lá e tantos foram os contatos e whatsapps que a história espalhou-se rapidamente pelo mundo da noite. Medidas foram tomadas por parte dos vampiros, que controlam as regras de nossa sociedade. Lobisomens se reuniram, magos e bruxas temeram e alguns até profetizaram o final dos tempos em nossas redes de informações.

    Influências desse mundo moderno e conectado? Pode ser, mas que o que tiro disso é aquela velha história de que se três ou mais pessoas acreditam em algo, até a maior das mentiras pode virar realidade. Ainda bem que no fim foi tudo uma grande brincadeira de mal gosto e que venha 2015 com ótimas histórias para todos nós!!!

  • Lembranças de ano novo – Lilian

    Lembranças de ano novo – Lilian

    Esta semana meu querido Ferdinand requisitou que eu contasse alguma história minha de fim de ano e eu claro, adorei o pedido. Bom, vamos lá, teve um ano novo que decidimos fazer um inimigo secreto, mas o meu acabou tornando-se amigo secreto ou melhor amigo “colorido”secreto. Nas trocas de presentes, eu tirei o Tkusumi e brinquei com ele dando um kit para fazer sushis, e logo depois descobri que Trevor me tirou e acabou me dando um mapa da fortaleza da Ordem, com um X marcando onde era o quarto dele. Eu tonta, tapada não tinha percebido a cantada evidente, esperei um tempo e fui. Quando cheguei lá o quarto parecia um altar de tanta vela espalhada, a primeira coisa que me veio a cabeça foi “ tem algum culto que eu tenho que participar?”. Enfim, chamei por ele, e segui onde estava à voz, ele estava sentado em uma cadeira de couro, com aquele jeitão másculo de camisa preta e suspensório, lendo um livro. Eu perguntei das velas e a única resposta foi, “ É pra te enxergar melhor na escuridão”.

    Resumindo, eu já era atraída por ele e pelo visto ele por mim, e nunca tinha rolado nada além de abraços, amizade e respeito, até aquele momento… Eu não consegui nem argumentar o quanto aquilo era errado, que eu era uma mera aprendiz, ele era um mestre, só pude sentir o momento esquentando, até que nada mais importava além daquele momento. Porém a noite seguinte vem, ai você acorda e se depara com o teu mestre nú e você também e a maldita consciência volta e você solta um “Pqp”. Depois percebe que vocês cederam a tentação e chutaram o pau da barraca.

    Enfim, não posso reclamar, foi uma ótima virada de ano, e nós por muitas vezes cedemos a tentação, até que estabelecemos um limite e depois de pular algumas vezes os limites mestre/aprendiz, nós estabelecemos regras, que hoje são extremamente fáceis de se lidar, até por que o carinho é mais paternal do que romântico. Ambos tiveram e tem outros tipos de relacionamentos e isso não afeta em nada o que um sente pelo outro e também não rola ciúmes, vai rola sim, mas é raro.

    PS: Eu escrevi esse final de ano, exclusivamente por que recebi alguns e-mails perguntando se eu e o Trevor já tivemos algo mais intimo, bom ai está a resposta. Kisses and Happy New Year To You Guys!!!!

  • Servidão – Entre atos 2 e 3

    Servidão – Entre atos 2 e 3

    Ygor Pietro estava muito irritado. Não bastasse os erros de seu mais novo pupilo, o clã de Madame Scylla se recusava a aceitar um pagamento em espécie pela morte de um dos seus membros, Thomas E. Lloyd. Continuavam as negociações, mas a chance de o conflito, até o momento diplomático, tomar proporções militares era muito grande.

    -Me chamou, Pietro? -Uma voz feminina e calma veio da porta do salão em que o mesmo se encontrava sentado.

    -Sim, Emmanuelle, entre.

    Uma moça alta, perto de seus 30 anos de idade, olhos cinza e cabelos cortados rentes ao pescoço, em estilo militar, se curvou levemente em direção a Ygor Pietro.

    -Vejo que já está se preparando para o caso de as coisas saírem do controle com o teu irmão, não é mesmo Emma? -Comentou Pietro, os olhos fixos nas armas que a moça trazia presas ao quadril.

    -Você sabe como eu sou Ygor, e o que eu penso. Se eles querem guerra, então guerra é o que eles terão. -Respondeu Emmanuelle, a voz calma como sempre.

    -O que pretende fazer com aquele rapaz que nós capturamos?- Pietro começou a procurar pela ficha do rapaz, o âncora Daniel que, ao que parece, não se encontrava em juízo perfeito quando foi encontrado perambulando nas ruas, fugido da clínica.

    Emmanuelle alisou a parte superior de seu uniforme, desinteressada:

    -Klaus vai cuidar dele, senhor. Não tenho tido paciência para  com os humanos ultimamente, e receio que as minhas sessões de interrogação possam sair do controle.

    -Entendo. Mas não achas que o Klaus pode perder o controle bem mais cedo do que você, minha querida?

    Emmanuelle sorriu levemente, enquanto arrumava uma de suas armas no coldre.

    -Desculpe-me, senhor, mas acredito que Klaus já passou da época de perder o controle… eu, pelo contrário…

    -Está com sede, Emma? – Ygor se levantou e estendeu a mão para um cálice de cristal que se encontrava no canto da sala.

    -Um pouco. Não tive tempo de…

    -Muito trabalho, eu presumo? Klaus não tem lhe dado muita folga desde que tu voltou de Paris? Mas o que estás fazendo ainda de pé? Sente-se.

    Emmanuelle se sentou, como ordenado, e sorveu de um só gole o sangue frio do cálice que Ygor havia lhe estendido.

    -Então? Conte-me tudo, minha querida. Gosto de saber o que acontece no clã, principalmente quando eu estive um tempo fora…

    Os dois foram interrompidos por uma batida forte na porta, seguida pela entrada de Klaus, um homem na beira dos seus 35 anos, com um jaleco cheio de sangue, uma das mãos ensopadas com o mesmo líquido.

    -Senhorita Levours, sugiro que da próxima vez que empurrar uma de suas testemunhas para mim, certifique-se de que a mesma não vai me atacar durante as sessões. -Os olhos do homem estavam arregalados, um misto de surpresa e insanidade, os dentes a mostra.-Tu bem sabes que eu não possuo muita paciência para com essas crianças desmioladas de hoje em dia.

    Emmanuelle se levantou e sibilou, irritada:

    -O que tu fizestes seu monstro?! Não podes nem se dar ao trabalho de tirar essa roupa antes de vir falar conosco?

    Klaus fechou a porta de sí, os olhos adotando uma expressão divertida, sarcástica. Encostou-se na mesma, evitando a passagem de Emma, que roçou os dedos em uma de suas pistolas, em alerta.

    -Se bem me recordo, senhorita, eu não lhe dei o direito algum de se dirigir a mim de forma tão desrespeitosa. Aliás, me pergunto até quando essa raiva irascível vai durar, considerando que…

    -Não ouse.  -Sibilou Emmanuelle, o rosto em uma expressão de extremo incômodo.- Mantenha essa maldita boca fechada. Aquilo foi só um erro, não mais do que isso…

    Klaus começou a rir, uma risada baixa, controlada.

    -Um erro? Mas que curioso, eu jurava que na hora tu não pensavas dessa forma, considerando como a senhorita veio atrás de mim, desesperada por auxílio.

    Ygor Pietro, que ainda se encontrava na sala, se sentou novamente, entretido. Nada melhor que uma cena cômica que no final lhe revelasse a verdade a respeito daqueles dois, discutindo a sua frente.

    -Eu não sabia o que fazer homem. Mas ainda assim, penso que foi um enorme erro, e que o mesmo não vai voltar a se repetir. – Respondeu Emma, se aproximando da porta e parando na frente de Klaus. -Agora, se me der licença…

    Klaus estendeu ambas as mãos para cima, num gesto cômico de rendição:

    -Desculpe, mas estou um pouco cansado, e essa porta é tão sólida… Serve-me bem como apoio para as costas. Claro que, eu posso pensar em me afastar daqui se a senhorita se dispuser a falar a verdade.

    Emmanuelle soltou um palavrão baixo, em francês, e puxou a arma do coldre, encostando o cano da mesma na têmpora de Klaus, que apenas levantou a sobrancelha, divertindo-se ainda mais com a situação.

    -Semana da seca, pelo o que vejo?-Comentou ironicamente, ao mesmo tempo em que afastava a arma da própria têmpora, sem muita relutância.  -Há quantos dias tu não te alimentas direito, senhorita Levours?

    -Não é da tua conta, Klaus. Saia da minha frente, ou eu juro que te mato dessa vez.

    -Hm… Se bem me lembro, da última vez, tu me deixou em um estado bem lamentável… Mas que ainda assim foi até o meu quarto ver como eu me encontrava, cuidando de meus ferimentos, não é mesmo, senhorita?

    Antes que Emmanuelle pudesse responder, Klaus saiu da frente da porta, deixando-a passar.

    Alguns segundos de silêncio se estenderam enquanto Klaus retirava as luvas ensanguentadas e o avental, ficando apenas com a camiseta social branca e as calças pretas limpas.

    -Que cria mais complicada essa que tu veio a arranjar, não é mesmo, Klaus?- perguntou Ygor com um quê de divertimento na voz, enquanto o mais alto lhe apertava a mão, como de costume.

    -Nem me fale Ygor… Mas mais importante, como andam as negociações?

    Ygor Pietro suspirou, os olhos se fechando por alguns instantes:

    -Complicadas. O clã de Madame Scylla não quer negociar enquanto o assassino não estiver envolvido nas negociações. Chegou a tal ponto quê eles passaram as discussões para o nível militar, chamando Abdulah para tomar parte do problema.

    Klaus levantou os olhos das luvas que segurava, surpreso:

    -Abdulah? Tu não está falando de Abdulah, membro dos  Demônios do Oriente não é?

    -É dele mesmo que eu estou a falar, Klaus.

    -Mas então são três os clãs envolvidos até agora?-Perguntou o médico, curioso.

    -Precisamente. E eu estava para começar a discutir com Emma a respeito de que soluções tomar caso as negociações passem para o nível Bélico quando tu me aparece e estraga tudo. -Ygor criticou o mais jovem, que apenas sorriu, cansado.

    -Nós dois estamos cansados, a senhorita Levours e eu. Gostaria de passar umas férias na Bavária, com a moça, e tentar por lá mesmo resolver nossos assuntos…

    Ygor sorriu, cúmplice. Sabia bem aonde o alemão queria chegar.

    -Façamos o seguinte… Assim que essas negociações terminarem eu líbero vocês dois para uma viagem. Suponho que visitar a própria capital em missão não ajudou muito a Emma no quesito de férias…

    -Sinto dizer que não, Ygor. Emmanuelle não consegue se concentrar tanto quanto antes ao investigar os capturados, e passou a perder a paciência muito rápido, como tu podes ver agora.

    -Mas tu a provocou, não foi..-Ygor comentou, mais uma afirmação do que uma pergunta.

    -Parcialmente, sim. Mas eu estou apenas me esforçando para que ela me diga a verdade, e pare de mentir a respeito de nosso relacionamento. O problema, temo eu, é que não ando muito paciente tampouco.

    -Quando Ernst acordar, tu poderia vir até aqui me avisar, Klaus? É um favor que lhe peço.

    Klaus se levantou da cadeira, pôs as luvas de volta, e sorriu para o velho amigo, um sorriso honesto, sem brincadeiras ou piadas de mau gosto.

    -Certamente, senhor Pietro.