Eleonor faz questão de esconder, junto de suas piores recordações, o ano exato em que tudo aconteceu. Porém, ela não esconde detalhes do lugar, cuja sua vida fora transformada para todo o sempre…
A noite de chuva torrencial havia espantado praticamente todos os clientes habituais, que pontualmente vinham todas as quartas-feiras prestigiar o show da popular señorita Vantré. A casa ficava no que hoje é conhecido por bairro Gótico, e se assemelhava e muito com a popular Moulin Rouge de Paris. Inclusive Eleonor se lembra muito bem do tal Sanches, o dono do lugar. Um velho gordo, de olhos azuis, que sempre usava a mesma cartola marrom e era conhecido em toda a Barcelona por seus métodos não convencionais de obtenção de favores. Ou era o que ele queria ou a sua faca sempre afiadíssima percorria o pescoço de seus antagonistas.
Em meio a este contexto de vida, vivia Eleonor, uma garota que desde cedo aprendera a usar seu charme e sensualidade para conquistar os homens e o que mais tivesse necessidade. Saíra cedo do convívio da família em busca de novas expectativas de vida e como ela sempre diz: “Foi a melhor coisa que fiz depois de experimentar sexo a três”…
Eleonor morava no próprio lugar em que fazia seus shows e o por esse privilégio, deixava no bolso de Sanches boa parte do que lucrava nas apresentações ou nos “programas”, que eventualmente fazia com os poucos ricos que ainda circulavam por aquela região. Por se tratar de alguém com gênio forte, que às vezes passa certo ar de teimosia, Eleonor é alguém difícil de lidar. Sanches que o diria, pois sempre desejou muito a morena de olhos azuis, pele clarinha e sangue caliente cigano.
Nesta fatídica noite em que Eleonor teve sua vida revirada, ela havia descansado pouco. Estava nos “dias vermelhos”, como algumas mulheres definem tal estado do corpo e com isso seus nervos estavam à flor da pele, junto das cólicas. Sanches, ao contrário, estava numa noite boa e até havia permitido que ela descansasse. Porém, como a bela e teimosa morena precisava de mais dinheiro para fazer o pagamento do aluguel daquele mês, hesitou o descanso e resolveu trabalhar assim mesmo.
No exato momento em que a striper conversava com seu cafetão um grupo de amigos se preparava para sair de casa. Alberto iria se casar no final de semana e os amigos resolveram lhe levar para a tal casa onde Eleonor trabalhava. Junto deles, porém o que nem a morena ou os amigos da despedida imaginavam é que Georg e Franz estavam em busca de problemas nesta mesma noite fatídica.
Eleonor geralmente ficava em seu quarto até poucos minutos antes do início dos seus shows. No entanto, naquela noite em função das muitas cólicas, ela se obrigou a beber algumas doses de Rum, pretendendo assim aguentar noite adentro. Ela conversava com uma de suas colegas quando o grupo de Alberto, cerca de cinco jovens adentrou o recinto. Alguns dos rapazes já estavam visivelmente embriagados e praticavam o popular: “sou Fo** e quero todas”. Nesse sentido eles abraçaram e beijaram várias meninas no caminho até a mesa em que decidiram se sentar. Para a sorte de Eleonor e de sua colega, os jovens não as viram e isso lhes garantiu alguns minutos a mais de sossego, antes que pudessem pegar de verdade no batente.
Eleonor estava no backstage quando Georg e Franz chegaram. Como sempre muito discretos, eles apenas procuraram uma mesa, ignoraram o garçom e enquanto nenhuma menina subia ao palco, eles trocaram algumas palavras um com o outro. Ambos estavam com fome e por que não apreciar algumas stripers antes de caçar? Essa sempre foi uma das teorias de Franz, que, aliás, quase sempre nos convence facilmente.
Pontualmente a uma da manhã Eleonor subiu ao palco. Ninguém prestava atenção naquele canto escuro, até que o violeiro começou a tocar algo novo para época e que hoje se assemelharia muito ao popular Flamenco.
Trajando um vestido longo e preto com detalhes de bordados vermelhos, a estonteante morena deixou todos boquiabertos. Inclusive os dois Wampir, que sentiram de longe o perfume dos “dias” da striper. Bastou apenas um olhar e Franz vira naquela morena algo além das castanholas e rebolados. Georg também se sentira muito atraído pela jovem, que nesta época estava no auge dos seus 23 anos.
No entanto, antes mesmo que qualquer um deles pudesse lançar seus poderes na intenção masculina de atrair a fêmea. Todos foram surpreendidos pelos gritos eufóricos dos jovens da despedida de solteiro… “Muy caliente”, “¡Mira que chica tan guapa!”… E os ânimos explodiram ainda mais quando a espanhola resolveu tirar sua roupa.
Os dois seguranças que vigiavam a porta não foram suficientes para conter o grupo de Alberto, que na empolgação o jogaram para cima de Eleonor. Inclusive se não fosse à prontidão da morena, ambos iriam ao chão. Neste mesmo instante Franz, que observava tudo atentamente chegou a se levantar, mas fora contido por Georg.
Iniciava ali o verdadeiro terror que Eleonor já estava acostumada, porém, sempre temia. No fundo ela sempre gostou de ser desejada, no entanto, quando há mais de um homem eufórico em cima de uma mulher, ela não pode fazer muito mais além de apenas aguentar como puder.
Alberto tentou improvisar uma dança com Eleonor, mas no fundo ele apenas desejava aquele corpo quase nu e seu instinto não se conteve e suas mãos percorreram todas as partes da jovem. Eleonor tentava agir como sempre, mas quando o futuro noivo a beijou na boca ela fora surpreendida por um “coice no útero”, que lhe fez morder com um pouco mais de intensidade a boca do mancebo.
Como reação Alberto não se conteve e enquanto Eleonor se contorcia ele desprendeu um tapa com as costas da mão diretamente no belo rosto da morena. Com o impacto inesperado Eleonor caiu por cima do violeiro e por consequência ficou de joelhos ao seu lado, iniciando um breve pranto.
Georg ao perceber os pensamentos de Franz e ao contrário da outra vez não o conteve. Iniciava ali uma briga fora do contexto, algo que certamente renderia uma boa cena de ação em qualquer filme do gênero. Cadeiras, mesas e corpos voam para todos os cantos, até que depois de alguns minutos o que podia ser visto era um cenário com a mais perfeita destruição. Nem mesmo os seguranças ou a faca de Sanches contiveram os dois vampiros possuídos por seus demônios.
Nem mesmo Eleonor fora poupada e estava desmaiada ao chão em função de uma garrafada em sua cabeça. Franz voltava ao seu normal quando a percebeu, ele poderia tê-la deixado desfalecida como já o fizeram em outras situações, mas algo em seus pensamentos era atraído pelos lábios carnudos da striper.
Com o consentimento de Georg ele colocou a morena em seu ombro e em meio à chuva que ainda não cessara, voltaram para o hotel no qual estavam hospedados. O caminho até o lugar fora feito de carruagem alugada, que eles conseguiram a algumas ruas de distância do bordel.
Cerca de trinta minutos depois eles passaram tranquilamente pela recepção do hotel praticamente vazia. Apesar de carregarem o corpo de uma mulher seminua e toda encharcada, o recepcionista fora convencido facilmente pelos poderes mentais de ambos os Wampir. Já no quarto, Franz repousou Eleonor na cama e iniciou uma conversa com Georg. Neste papo eles discutiram as possibilidades sobre Eleonor e ao fim da noite Georg se convenceu de que uma mulher seria muito útil ao seu clã. Uma bela mulher com toda a manha de uma prostituta, certamente faria toda a diferença naquele clã que estava apenas no inicio de sua formação.
A transformação de Eleonor ocorreu depois de alguns meses, no qual ela teve de provar sua lealdade e habilidades aos dois Wampir. Inicialmente ela fora transformada em Ghoul e ao contrário do dia em que os dois senhores da noite entraram em sua vida, a sua transformação ocorreu bem tranquila. Era noite de primavera e como ela romanceia, o perfume das acácias foi o último cheiro que ela sentiu antes de morrer.