Tag: Lobisomem

  • Vampiros e Lobisomens…

    Vampiros e Lobisomens…

    Confesso que ao me deparar pela primeira vez com um Wairwulff transformado eu me senti apavorado. Obviamente um ser com quase 2,5m de altura, forte, com feições animalescas e com cara de mal, não se vê a todo instante, não é mesmo?

    Dietrish surgiu num momento extremamente especial de minha vida. Logo após minha transformação Georg precisou cuidar de seus muitos negócios e me deixou aos cuidados deste seu amigo. Hoje pensando bem eu me arrependo por não ter aproveitado mais tudo o que aquele velho metamorfo podia ter me ensinado. Ao menos eu tenho plenas convicções de que ele deu o seu máximo e foi o melhor professor que eu podia ter tido.

    Sim, minhas eufóricas leitoras meu primeiro professor foi um lobisomem! Sei que no início de minhas postagens aqui no blog/site eu tive um período de revolta com relação aos peludos, mas tudo tem uma explicação. Quando voltei de meu sono, os pensamentos ainda estavam confusos. Imagine um sono de quase 50 anos, tive rever muitas cousas nos meus pensamentos nesse tempo todo.

    Enfim, este post é mais um daqueles artigos explicativos e com detalhes sobre este tipo de ser. Tais quais os vampiros, os lobisomens também possuem um origem que se perdeu no tempo e com a evolução. Ferdinand, onde surgiram os vampiros? Perguntam-me sempre os novatos e eu respondo: Caro mancebo tal quais os humanos nós também não termos certeza sobre a origem da vida ou da não vida. Há quem diga que forma os Deuses, há a ideia alienígena e há a ideia evolucionária. Existem muitas lendas relacionadas a história da origem da vida e isso, como vocês sabem, está em muitos livros encontrados ao redor do globo inteiro.

    Peludo, Wairwulff, Werewolf ou ainda Lobisomem são em sua essência humanos que possuem o dom da metamorfose ou transformação em humanoides. Antes de tudo eu preciso deixar algo claro sobre estes seres, as lendas atuais sempre comentam do homem-lobo, mas na verdade isso é apenas um grupo ou clã destes indivíduos.

    Dietrich Dimitri Hollstoff, por exemplo, depois de transformado virava uma espécie de pantera negra humanoide. Apesar de aterrorizante para os desavisados que o vissem de supetão, era um ser muito bonito. Por falar em aterrorizante, eu já comentei por aqui em outras ocasiões sobre a dieta dos peludos… Carne. É neste aspecto que os lobisomens deixam de ser “peludinhos fofinho” (sim, eu já ouvi esta expressão) e transformam-se em bestas pavorosas, afinal a carne predileta de sua dieta é a humana.

    A lenda mais interessante que já ouvi falar sobre os Wairwulff nos conta que eles foram criados para defender a mãe terra ou Gaia dos humanos, que tanto exploram e destroem as riquezas naturais do planeta. Porém, a Deusa não contava que a dieta de seus “queridinhos” seria modificada ao longo da evolução e o lado negro dos lupinos surgiu quando o primeiro experimentou carne humana fresca… Dizem que eles se viciaram a ponto de quase entrarem em extinção por conta disto.

    Outro ponto que acho interessante sobre os peludos é o fato de que eles possuem no geral uma ligação maior com os outros mundos, planos paralelos ou como queiram chamar. Quando escrevi a saga do Totem desaparecido, tentei transmitir um pouco desse mundo para vocês e é preciso deixar claro que somente alguns deles possuem esta ligação ou poder. Muitos outros são como nós e aprenderam a manipular os elementais ou o próprio corpo ao longo da evolução.

    Vampiros e Lobisomens são inimigos Ferdinand? Sim e não caro mancebo… É uma história longa e que teve inicio em outra lenda. Uma história que inclusive mistura os dois seres dando origem a uma linhagem especial, os chamados “sanguinis puri” ou  sangue puro. No qual Georg, Franz e eu somos representantes, por isso podemos nos metamorfosear similarmente aos Wairwulffs…

  • O totem desaparecido – Final

    O totem desaparecido – Final

    Eu havia sido recarregado, sentia-me forte como se tivesse me alimentado de sangue fresco e ao reabrir os olhos vejo-me deitado em uma cama, no que parecia ser uma das casas do tal plano no qual estávamos. Ao meu lado um velho índio, que dentre outro detalhes utilizava um colar igual ao de Apoema.

    – Enfim acordou meu filho, precisei realinhar teus chakra, está bem agora?

    – Sim sim obrigado, já estou acostumado a esses apagões, quase tudo na minha vida gira em torno disso e desde que virei o que sou. Onde estamos, onde estão os outros?

    – Nos aguardam do lado de fora, Carlos está ansioso para ir buscar o Totem!

    Então sem mais delongas saímos do lugar e para minha surpresa ao abrir a porta sou agraciado com uma das mulheres mais lindas que já vi. Cabelos amendoados e muito lisos, olhos escuros como a maioria das minhas noites e com o rosto pintado com tinta azul, ao melhor estilo Pocahontas em dia de guerra. Confesso que poderia preencher uma página com todos os seus atributos… No entanto, quando me viu ela apenas sorriu e disse com todo o carinho possível: – Porra até que enfim Edward, você estava esperando o que, a Bella vir te dar um beijinho??? Anda te mexe, todos nós queremos voltar logo para casa. – Porém, eu estava tão bobo diante a beleza da garota que simplesmente ignorei a piadinha e somente sorri feito um idiota… Eu devia estar babando na verdade…

    Todos estavam sentados próximos a uma grande árvore no jardim, cujo cume não pude ver em função da forte neblina que ainda assolava o lugar. – Então nosso Wampir acordou! Como estou sentindo tuas energias renovadas, vou reforçar nosso plano de ação. A ideia é simples meus irmãos e nos separaremos em dois grupos. O maior vai atrás da outra matilha e o menor irá atrás do totem. Ferdinand, Apoema e Charlotte e eu iremos ao santuário.  Stuart irá liderar o outro grupo que conterá o máximo possível àqueles bastardos. Lembrem-se tudo o que acontece por aqui afeta os seus corpos no plano terrestre, que a Deusa Dhan os proteja e que nosso reencontro seja próximo.

    Caminhamos por muito tempo em meio à densa floresta e longe da urbanização. Por alguns momentos eu me sentia muito bem naquele plano, pois era como se eu estivesse voltado no tempo, numa época antes de virar o que sou. Bem na verdade eu estava empolgado “secando” a bela indiazinha que rebolava a cada passada a minha frente… Contudo, isso não durou muito e meus pensamentos foram interrompidos por Carlos:

    – Pois bem meu amigo, preciso te deixar a par do que está acontecendo. Aqueles dois Wairwulf, que foram assassinados eram os protetores do Totem de Giniw, que dentre vários atributos é uma espécie de gerador que torna possível a nossa entrada em planos como este. Como é possível entrar aqui e sair onde se quiser imagine as possibilidades de tal artefato. Apoema é o espírito que vive dentro do Totem e ao perceber que eu queria apenas protegê-lo, veio para o nosso lado contra a outra tribo. Neste momento estamos indo na direção do santuário, que nada mais é do uma cópia do totem neste plano, onde Apoema fará a transferência de propriedade dos antigos protetores para alguém que ele julgue merecedor. Caso ninguém seja capaz de tal mérito todas as almas presentes aqui serão expulsas e o totem será “desligado” por cem anos.

    Isso explicava por que alguns Wairwulf rondavam a casa, por que o Totem havia sumido e por que tantos poderes ocultos estão envolvidos em tudo que está relacionado a tal relíquia.  Diante tal história só me restava acompanhá-los e desejar que mais nada desse errado.

    Minutos mais tarde chegamos ao tal santuário, uma bela construção de pedras escuras envolta de arbustos e pequenas árvores. Confesso que estivesse passando por ali não repararia na pequena formação rochosa, com pouco mais de 2m de altura e com uma bela águia entalhada no topo. Apoema foi o primeiro a chegar ao local e antes de iniciar o ritual nos disse: – Preciso juntar toda a energia que eu conseguir, é possível que isso faça todo o lugar se estremecer, portanto fiquem próximos a mim. Caso os outros cheguem, apenas aguardem minha manifestação.

    Enquanto o espírito se concentrava nós apenas aguardamos em silêncio, quando sem mais nem menos tudo ao nosso redor parecia sacudir, tal qual como em um interminável terremoto. Pedras rolavam, árvores caiam, um forte vento quase nos levantava do chão, até que após alguns instantes veio a calmaria. Porém como nada é fácil, Carlos avistou alguém da outra tribo e correu para seu encontro. Charlotte, o seguiu antes que eu pudesse dizer algo e para minha surpresa lá estava eu novamente em minha forma bestial.

    Ao contrário das outras vezes, nesta eu pude controlar minha forma como se estivesse sem ela e certamente foi a primeira vez que percebi todos os benefícios da transformação. Força, visão, destreza, olfato… Todos ampliados de uma maneira nunca antes sentida por mim. Olho para o lado e Apoema havia sumido, então não me restava mais nada além de ir para a briga.

    Iniciava-se ali uma série de lutas, onde os ferimentos literalmente doeram na alma. Garradas, mordidas, chutes… Todos arrancavam partes do que pareciam ser nossos fluidos e que se dissipavam no ar quando arrancados. Foi assim até que outro terremoto e desta vez mais forte, fez todos caírem ao chão, a camada de neblina que parecia permanente finalmente se dissipou e agora podíamos nos ver uns aos outros. Lá estava Carlos, Charlotte, o irmão mala e quase todos os outros entre amigos e inimigos.

    Naquele instante paramos obrigatoriamente de brigar, era como se o lugar nos forçasse a parar todas as lutas e pedisse atenção. Quando finalmente surge uma espécie de luz vinda de onde Apoema estava, a formação luminosa flutuou até mais ou menos o meio do campo de batalha e aos poucos nos mostrou a forma de uma bela águia. Em questão de instantes, ela começou a mudar de um tom amarelado para um tom vermelho, quando sem qualquer tipo de aviso simplesmente explodiu… Silêncio… Escuridão…

    Não sei quanto tempo se passou desde a explosão luminosa, mas ao reabrir meus olhos percebo que estou novamente abaixo da terra e ainda sob efeito de minha magia de união com esse elemento. Percebo que ainda é noite então desfaço o poder e revejo a floresta do plano terrestre. Próximo a mim vejo Carlos e também os corpos de Charlotte, Stuart e de todos os demais a exceção daqueles pertencentes à tribo rival.

    Dirijo-me a Carlos, ouço seu coração que ainda bate e lhe dou alguns tapas na cara. Entre resmungos o velho Wairwulf reluta como uma criança birrenta, mas finalmente abre os olhos. Ele se senta, espreguiça-se e depois de um tempo me fala: – Eu imaginava que seriamos expulsos daquele plano, só não sabia que Charlotte seria escolhida a nova protetora do Totem, venha, vamos acordá-la!

    Duas noites depois ligo para meu ex-cunhado e recomendo o arquivamento do inquérito, em seguida arrumo algumas malas e viajo para o Chile. Afinal, depois de tudo que enfrentei junto de Carlos, eu precisava participar do Ritual de agradecimento a Apoema e oferecido pela linda Charlotte.

  • O totem desaparecido – Parte 3

    O totem desaparecido – Parte 3

    15h 32m era o horário que marcava meu smartphone, no momento em que olhei para sua tela e segundos depois de ouvir o barulho irritante e estridente do interfone. – Mas que diabos, eu já pedi para o porteiro não me incomodar durante o dia. – Pensei comigo. – Depois com a menor vontade de todas fui até a cozinha, peguei o interfone e balbuciei: – Oi, diga!

    – Doutor, o doutor Carlos está por aqui, ele pode subir? – Disse-me o porteiro do prédio, que inclusive me pareceu completamente assustado. Apesar disso, liberei entrada e fui correndo para o quarto para ao menos vestir uma cueca. Sim, eu durmo sem nada. Minutos depois, duas longas batidas à porta e a sensação de sua presença sobrenatural acusaram a chegada de meu velho amigo.

    Buenas noches cabrón! – Disse-me o homem grande, de olhos escuros profundos, barba rala, voz grave e roupas simples. Suas vestimentas eram as mesmas de sempre uma camisa xadrez verde e preta, com botas de couro cru por baixo das surradas calças jeans. Ele trazia consigo apenas uma mochila de lona grande, uma maleta quadrada forrada por fora com couro batido marrom e algo com quase 1,5m embrulhado em um bonito tecido vermelho. Tão logo ele entrou já foi me dando um abraço apertado seguido por um fraterno beijo no rosto. Sei que isso vai parecer estranho, principalmente para os brasileiros e ainda mais vindo de um brutamontes feito ele, mas tais procedimentos tem origem em sua cultura, no qual sempre admiro e respeito muito.

    Carlos atualmente é o Xamã/líder de sua tribo e apesar de já estar com quase 100 anos, possui a bela vitalidade Wairwulf (nome que damos aos lobisomens), que lhe garante uma aparência de no máximo 40 e poucos. Então, passados os papos iniciais sobre a viagem e toda aquela conversa fiada entre amigos, eu lhe contei sobre o tal caso do Totem e lhe mostrei todas as evidências que havia conseguido. Inclusive sobre a tal garota, que parecia não ter sido afetada pelas balas de prata de minha pistola “.50”.

    O velho Wairwulf me contou sobre algumas experiências que estavam sendo desenvolvidas nos últimos anos e sobre um soro que diminuía a influencia de tal elemento em seus organismos. Ele não tinha muitos detalhes, mas a garota era a prova de que esse projeto havia saído do papel. Com relação ao Totem ele me apresentou outra história interessante. O casal que havia sido assassinado possuíam certa influência e eram uma espécie de guardiões da peça roubada, que dentre várias importâncias religiosas, também é visto como símbolo representativo de uma determinada tribo sul-americana.

    Em função de tais fatos planejamos uma nova incursão a tal cena do crime. Obviamente, aguardamos a noite e só fomos para o lugar depois de alguns preparativos, eu inclusive optei por levar junto comigo o novo IWI CTAR-21, que ganhei de presente de um amigo do Oriente médio. Carlos pegou alguns itens da caixa de couro e os embalou numa mochila menor e em seguida fez questão de se gabar de seu mais novo “brinquedinho”. Oculto sob o manto vermelho havia uma bela cimitarra com várias escrituras rúnicas entalhadas na lâmina. Arma que ele havia encomendado a pouco tempo de nosso, mas que já havia se tornado o seu “xodó” e certamente não era apenas um pedaço de metal forjado.

    Escondemos tudo entre algumas toalhas ou casacos e fomos para garagem. Lá peguei minha BM e fomos para a tal casa. Embalados na maior parte do tempo por uma banda nova que achei por essas noites na internet, chamada Piel de Serpiente e sua empolgante Muérdeme.

    Novamente em meio aos buracos e poças de lama da estrada de terra e algumas horas depois, finalmente estávamos nós diante ao monumento arquitetônico. Ainda dentro do carro não senti muita confiança na expressão de Carlos, que naquele instante parecia colado a sua cimitarra. Tendo em vista a situação acenei com a cabeça e disse um breve: – Vamos? Naquele instante minhas palavras pareciam ter surtido algum efeito no Wairwulf que franziu a testa e desceu muito rápido do carro, batendo a porta e me deixando ali sem saber o que estava acontecendo.

    Nos instantes seguintes eu sai rapidamente do carro e com minha audição aguçada apenas assisti ao que pareciam ser muitos galhos e até mesmo troncos, sendo dizimados por muitas e muitas espadadas. Confesso que de início pensei em ir atrás, depois ponderei e fiz uma rápida vistoria em volta do lugar, que parecia não ter recebido nenhuma visita depois de mim. Não sei dizer quanto tempo levou para Carlos voltar, mas algum tempo depois senti sua energia se aproximando novamente de mim.

    Eram passadas pesadas e longas. Porém, antes de pensar qualquer coisa lá estava novamente a minha frente aquela majestosa forma lobo humanoide com quase 3m de altura, que tal qual eu sempre digo, fariam um humano normal se arrepiar só de olhar.

    Sua respiração estava ofegante e pedaços de suas roupas rasgadas, ainda estavam presas em sua bela pelagem marrom escura. Em uma das mãos ele trazia a cimitarra, agora banhada de sangue e noutra uma cabeça humana. Percebi que seus olhos estavam fixos em mim e sem pronunciar nada apenas lambeu um pouco do sangue da cabeça decapitada, jogando-a em seguida aos meus pés.

    Pobre garota, nem deve ter visto o endiabrado se aproximando… Coisas de Wairwulf…

  • O totem desaparecido – Parte 2

    O totem desaparecido – Parte 2

    “Pela estrada a fora eu vou bem sozinha…”

    Poucas horas depois eu estava em uma das florestas próximas a cidade. Aquele ar fresco, úmido e puro poderia excitar meus pulmões caso eu ainda respirasse, mas diferente disso apenas molhou um pouco a minha jaqueta. – Será que o delegado havia me passado as coordenadas certas do lugar? – Pensei comigo. Porém, não tardou e logo em seguida já pude ver aquela escultura em forma de casa.

    Ao longo do caminho muitos animais tentavam se esquivar da luz do farol ou se sentiam incomodados pelo tradicional e robusto ronco do motor de minha Harley. Foi assim entre eles e as pequenas poças de lama, que finalmente me deparei com o majestoso ao portão de entrada. Lacrado com uma grande corrente enferrujada e horrorosamente decorado com várias fitas listradas pretas e amarelas da pericia da policia.

    Através das grades portão vi o restante da casa, que estava vazia e muito escura, mas meus sentidos afirmavam com pouca precisão que havia alguma movimentação sobrenatural pelo lugar. Sabe aquela sensação de há alguém te observando? Pois bem… Mesmo assim achei um lugar longe da entrada para minha moto e tratei de escalar o muro em busca de ao menos uma visão ampliada do local.

    Novamente não havia nada que chamasse a atenção de minha visão aguçada, porém em função de uma melhor proteção, resolvi ocultar a moto e fazer contato com algum mamífero ao meu redor. Por sorte não demorou até que avistei um pequeno Callitrichinae em meio às folhas de uma Ficus clusiifolia. Aliás, ele quase fugiu ao me ver, mas consegui ser mais rápido. Com o macio e pequenino animalzinho em minhas mãos eu me concentrei por alguns instantes, ate que finalmente nos sincronizamos.

    O poder de telepatia com animais, ainda mais com os menores e menos inteligentes, é sempre difícil de usar, mas entre as memórias do curioso sagui havia a imagem de algumas pessoas que haviam passado a pouco pelo tal lugar. Infelizmente ele não foi muito “amigo” e correu tão logo pode. – Tudo bem isso já me basta. – Era o que havia em minha cabeça, quando saltei os muros do lugar e por azar aterrissei próximo a uma poça de lama que respingou sobre minhas já castigadas botas.

    O jardim estava abandonado, porém ainda muito bonito. Não havia câmera, sensores ou qualquer outro tipo de rastreador pelo lugar, no entanto tudo estava muito bem fechado com o portão. Obviamente virar névoa seria a melhor opção de entrada, se não fosse minha intuição me levar até uma janela entreaberta e que insistia em bater contra uma das paredes do lugar.

    Peguei impulso e na primeira vez não cheguei nem perto do batente, no entanto sou brasileiro e ao insistir de segunda. Com um pouco mais de força quase atravesso a janela, caindo dentro do que parecia ser um quarto de hospedes no segundo pavimento. Logo de inicio muita sujeira, penas e pequenos ganhos provavelmente trazidos pelo vento ou pequenos animais. Nesse instante eu já não sentia mais ninguém me observando e com mais curiosidade que o normal investiguei todos os cantos da casa.

    Estava tudo revirado, muitas marcas de calçados, muita poeira e se não fossem as marcas de sangue entre a suíte e os corredores, eu diria que o lugar era apenas abandonado. Muitas peças de decoração que me pareceram caras e até mesmo um bonito televisor de ultima geração ainda decoravam muitos dos ambientes. Roupas novas e limpas em um dos armários, detalhes que no geral denotavam um ambiente muito bem cuidado e harmonioso, apesar de tudo. Foi ao observar estes detalhes que encontrei uma foto onde o casal posava em sua sala de estar ao lado do tal Totem.

    Porém abruptamente toda a calmaria deu lugar a uma intensa movimentação de vários tipos de animais, que inclusive me fez tapar os ouvidos, cousa que dificilmente preciso fazer. Na sequencia, uma inquietante angustia tomava conta de mim, quando ouço barulho de vidros estilhaçando e sou agredido de supetão pelas costas por algum tipo de objeto pesado. Por sorte ele não me machucou, parecia algum tipo de pedra ou mineral, no qual não dei atenção, pois preferi me movimentar em direção à origem do arremesso.

    Aproveitei o espaço aberto na janela e com as pistolas em punho atirei contra um vulto que se mexia próximo ao ofurô do quintal. Depois disso, foram muitos os saltos e largas passadas seguidas de mais tiros até que finalmente a figura misteriosa cai ao chão. Reviro o corpo que havia se esvaído de bruços e para o meu azar era apenas uma garota, que provavelmente estava brincando pelo lugar…

    Confesso que de inicio tive pena, porém com ela em meus braços bastaram alguns segundo para que sua constituição a regenerasse e com uma espécie de manobras quase ninja e inesperadas, ela se desvencilhou de mim. Muito rapidamente a figura sobrenatural parou em cima do muro de mais de 5 metros, mas antes de fugir me disse em claro e bom tom: – A ordem dos “fulanos de tal” não quer sanguessugas envolvidos nisso. – Em seguida, antes que eu pudesse ao menos lhe retrucar, ela sumiu sem deixar rastros.

    Volto para a moto, pego uma mochila e junto o máximo de evidências que me são cabíveis naquele instante. Ainda por lá junto alguns ingredientes e faço uma espécie de lacre em uma das paredes com o intuito de que mais ninguém entre ali até meu retorno. Horas depois e já em casa, entro em contato com Carlos, que de prontidão me atende. Ele ouve atentamente sobre tudo e sem pestanejar promete vir até mim no próximo avião…

  • O totem desaparecido – Parte 1

    O totem desaparecido – Parte 1

    Naquela noite eu ouvia um som novo de uma banda chamada Texas Hippie Coalition, uma pegada pesada com vocal grave, daqueles que te fazem balançar as pernas e cabeça ao ouvir. Quando recebo uma sms do delegado, cuja interrupção abrupta na música, me despertou de imediato uma sensação de ansiedade pelo que estava por vir.

    “Tenho um novo caso pra ti, pago como sempre em moeda fresca.” – Dizia a simples frase que de súbito fez as papilas gustativas de minha língua se excitar. – “Estou longe, mas posso chegar rápido caso o pagamento esteja fresco mesmo RS” – Obviamente eu não podia deixar de fazer uma piadinha. –“Relaxa, vou te mandar as instruções, só precisava saber se queria um novo passatempo. Abs”

    Então, o som havia retornado, porém novamente fora interrompido pelo bip de “nova mensagem”. Alguns segundo para os arquivos serem baixados e lá estava eu diante mais um daqueles casos em a que a policia tinha dificuldades para atuar. Ainda mais a brasileira… Furto seguido de duplo homicídio, com posterior evasão sem vestígios de arrombamento ou quaisquer sinais de outra presença além das vítimas.

    Apesar de furtos com homicídios serem algo quase comum no Brasil, havia algo de estranho naquela ocorrência. De acordo com meu ex-cunhado, a cena estava muito limpa, algo que indicada uma ação profissional. Porém, o que lhe fez vir até mim foi o item afanado. De acordo com parentes do casal assassinado, dois homens gays e colecionadores de obras de arte, um totem antigo não estava na sala de estar.

    Quando o papo envolve totens há sempre o envolvimento de lobisomens, fato que de imediato me fez ligar para Carlos. Todavia, como o “peludo latino” está sempre em meio aos seus afazeres de tribo, consegui apensas lhe deixar uma mensagem na caixa postal. Também contatei Sebastian, que sempre se empolga neste tipo de ocorrência, porém ele ainda estava ocupado em suas ultimas aquisições amorosas. Apesar de ele ser minha cria e eu poder requisitar a sua presença quando necessitar, eu preferi deixá-lo fora desta vez. Afinal, não é sempre que um Nerd se permite desfrutar dos prazeres da carne.

    Naquela noite não fiz nada demais além de algumas pesquisas e contatos no submundo, mas não encontrei nada sobre eventuais rituais, movimentações lupinas ou qualquer outra cousa que merecesse maior atenção. Foi nesta noite, aliás, que Julie resolveu dar o ar da graça depois de algumas semanas oculta em suas próprias trevas. Disse ela que estava com saudades, mas me ver pessoalmente, que é muito melhor, ela não o fez ¬¬

    A lua já estava minguando quando Carlos finalmente retornou minha ligação. – “Como lo puedo ayudar?” – Lá estava a voz seca, grave e pouco gentil do peludo, tal qual sempre me é difícil de decifrar em função dos inexpressivos sentimentos, mas que depois de algumas piadas sempre emite uns moderados HÁ-HÁ-HÁ de assustar desavisados mais sensíveis.
    Contudo, tendo em vista suas atuais ocupações ele não poderia me encontrar de imediato, mas combinamos que caso minhas investigações iniciais produzissem algum resultado significativo, ele poderia “comparecer personalmente”.

    Contatos feitos e naquela mesma noite eu preparei minhas pistolas com balas de prata, juntei algumas outras surpresinhas “antilobisomem”, abasteci uma de minhas motos e fui investigar o local mais obviu: a cena do crime…

  • Demônios e um sequestro – 3 de 3

    Demônios e um sequestro – 3 de 3

    Depois de ser “liberada da possessão” a camareira precisou receber os cuidados dos poderes mentais de Franz, que na sequencia saiu junto de H2 para fazer alguns preparativos para nossa busca. Fiquei com Julie no quarto, na expectativa de que ela acordasse de seu transe e me fornecesse mais dicas sobre o que poderíamos fazer.

    Não tardou e cerca de uns 20 min mais tarde ela reabria seus lindos olhos e antes que eu lhe dissesse qualquer cousa ela me fala: “Detesto estes momentos, ficar desacordada e sem o controle da situação, não faz meu tipo…” Certamente aquelas palavras lembraram-me de muitos momentos íntimos que tivemos, e para minha sorte ou não, ela aproveitou a situação e me puxou pelo colarinho da camisa. Na sequência me tascou um beijo daqueles que só uma possuída pelas artes das trevas se atreve a dar.

    Os “amassos” duraram mais alguns instantes, até que infelizmente reassumi o controle sobre meu demônio e coloquei uma breve pausa naquele momento profano. A linda boca carnuda de Julie mantinha constantemente um sorrisinho sacana e aquilo me deixou incomodado. Eu precisava saber mais das Wampir de meu clã e aquela pervertida não prestava nenhuma atenção no que eu falava… Tentei argumentar e pedir algumas informações, porém ao fim de uns 5 mim aquelas mãos geladas abriram o zíper de minha calça. Fora a típica situação onde os sentimentos do passado excitam o lado humano macho, que por sua vez precisa esquecer-se da matilha e agir como o alfa diante uma bela fêmea.

    Ao fim de mais ou menos uma hora, Franz e H2 retornaram e ai então finalmente pude se desvencilhar de cima daquele corpo macio e agora quente. Vestimos-nos e depois na sala, ao invés de uma, eram três me olhando com o famoso sorrisinho sacana. Confesso que nunca fui um líder nato, porém nesse tipo de situação eu prefiro manter as rédeas: …ram, ram, ram… Pigarreei e falei na sequência:

    – Bom, senhores… Sabemos o local onde Eleonor e Stephanie estão, agora o que vocês dois conseguiram para a ação de amanhã? Neste momento eu olho com a cara mais fechada que podia para h2, que percebe rapidamente a situação e responde com sua voz grave e alta de sempre.

    – Contei a Franz de um filme que eu vi, que imediatamente fez Franz se lembrar do que os senhores fizeram no Texas em meio aquela tribo indígena…

    Nesse momento Franz interrompe sua cria e nos fala:

    – Resumindo é aquela situação para se chegar atirando meu irmão. Talvez Julie possa nos dar cobertura com seus dons e tu, eu ou ambos na forma bestial, o que achas?

    Enquanto as lembranças daquele ataque de índios possuidos, vinham a minha mente. Julie se pronunciou. Fazendo enfim o que eu tanto queria, que era ouvir os pontos fracos daqueles malditos. Suas descrições foram precisas com relação a quais de nosso poderes os afetariam mais e ao fim de mais algum tempo, havíamos traçado o que eu julguei ser naquele amanhecer: o plano ideal.

    Descansamos durante todo aquele dia, Julie sozinha no quarto e nós três na sala. Franz, não pregou os olhos, pois ao final de nossa conversa sentiu algo diferente, tal qual uma espécie de premonição. Apesar disso, todos descansaram a sua maneira e partimos assim que tudo foi resolvido no loft.

     

    O início da noite surgia, e com ele a vontade de sair da garagem. O forte ronco do motor da Dodge 2500 ecoava por todo o lugar, H2 estava ao volante e a cada acelerada mais brava que ele dava, ficava mais nítida a intensa ansiedade de todos. Meu relógio de bolso que sempre está correto, informou 17h e 37m e isso foi suficiente para o tão esperado cantar de pneus. Confirmando assim nossa partida a toda velocidade para a maldita fazenda onde Eleonor e sua cria estavam presas.

    H2 havia recheado a caçamba da caminhonete com alguns de seus “brinquedinhos prediletos”. Uma Bazuca M9A1, algumas granadas estilhaçantes, fuzis e um pouco de munição, sendo estas últimas chamadas por ele de “batizadas”. Inclusive este tipo de colocação me faz lembrar uma das lendas que rondam H2, no qual alguns dizem que ele já foi padre…

    A escuridão completa e o silencio mórbido do interior só eram rompidos por nossa 2500. Muita poeira, muitos buracos e todo aquele mato a beira da estrada de chão batido, foram os primeiros a estimular nossa sede por uma boa briga. Foi a típica situação em que o coração, se estivesse vivo, saltaria ao peito em frenéticas e ritmadas batidas.

    E a adrenalina aumentou ainda mais, quando começamos a sentir ao longe a energia sobrenatural emanada, por todos aqueles que deveriam estar presentes em tal antro infernal. Neste momento pedimos a H2 que parasse a caminhonete e nos preparamos. Julie e eu fomos pelo mato no intuito de fazer algo surpresa, enquanto h2 e Franz iriam começar a festa pela porteira da frente.

    Tomei Julie em meus braços e com minha velocidade junto da força chegamos rapidamente até uma clareira, onde fizemos uma breve leitura do lugar. A área útil era muito grande e lá estavam apenas duas casas de madeira, um galpão com maquinário agrícola e alguns poucos homens armados e de vigília. Procurei pelas energias de Eleonor ou Sthephanie, no entanto, somente Eleonor vinha aos meus pensamentos e estava muito fraca.

    Comentei com Julie de me transformar em névoa para localizar mais facilmente as Wampir de meu clã. Porém ela foi incisiva me apontando: – Eleonor está no porão daquela casa! Foi quando no mesmo instante lhe dei um voto de confiança, passando nas sequência as coordenadas para Franz.

    Cerca de 3 minutos depois iniciava uma grande movimentação no lugar. A luz havia sido cortada provavelmente por h2 e alguns seguranças engatilhavam suas armas, ao mesmo tempo em que alguns outros indivíduos saíam das casas no intuito de entender o que estava acontecendo. Além disso, e para minha surpresa, entre eles estava Stephanie… A linda mulher que havia conquistado meu morto coração no início deste ano… Seus cabelos que viviam soltos agora estavam amarrados estilo rabo de cavalo, seu olhar era muito concentrado, sendo a maior mudança a sua energia, que agora era mais fraca e diferente.

    Mostrei para Julie quem era Stephanie e sua expressão ao vê-la não foi das melhores. Tanto que depois de uma breve analise ela se virou pra mim e tentou dizer algo, mas foi interrompida abruptamente pelo barulho de nossa caminhonete.

    Toda ação ou briga um pouco mais intensa, sempre geram novas sensações e esse resgate não fugiu a regra. Haja vista, que foi um daqueles do tipo que irá perambular por nossas cabeças por muito tempo…

    Ao longe era possível ver os grandes faróis da caminhonete, que vinha a toda para cima dos seguranças e em direção há uma das casas. Em cima da caçamba estava Franz no que nós chamamos de forma bestial, aquela mesma em que ficamos parecidos com um lobisomem. Ele estava com a bazuca no ombro e isso por si só já fez alguns presentes borrarem suas calças. Ainda se não bastasse uma besta empunhando um arsenal, H2 também havia feito um de seus procedimentos padrão antes de qualquer briga. Ele aumentou o som do rádio da caminhonete ao máximo e em meio às explosões provocadas por Franz era possível ouvir a agitada Highway to hell do ACDC.

    Os métodos de briga de Franz, H2 e até mesmo os meus podem ser vistos por muitos como joviais ou até impensados, no entanto, sempre deram muito certo. O ataque surpresa inesperadamente pela porta de entrada, havia pego de surpresa quase todos os nossos inimigos. Tanto que logo depois que H2 jogou a caminhonete contra uma das casas surgiu em mim o momento ideal para que Julie e eu agíssemos.

    A pequena e endiabrada Wampir iniciou um de seus rituais enquanto eu também adquiria minha forma bestial. Não tardou e uma nuvem cinza quase preta tomou conta da frente da casa onde teoricamente estava Eleonor. O ritual a meu ver era parecido com o que ela havia feito anteriormente no loft, porém agora todos que estavam próximos simplesmente perdiam a consciência.

    Já em forma bestial resolvo ir em direção à nuvem/casa, porém Julie me segura e amarra uma espécie de cordão feito de plantas em meu pulso direto. Nesta forma nos ficamos muito arredios, porém me contive o máximo que pude e ainda consegui ouvir algumas palavras da bela morena: “Vá e salve tua irmã, isso te protegerá do meu ritual”. Aquelas palavras me soaram tal qual um incentivo e certamente quem tivesse me vendo, perceberia uma besta com ódio nos olhos e muita sede de sangue.

    Deste momento em diante, quando meu demônio assume parte de minhas ações eu só consigo me recordar de poucas cousas. Porém antes de entrar na nuvem e depois na casa eu me lembro de desmembrar alguns amaldiçoados e também o que mais me marcou, ver Stephanie atacando H2. Nestes momentos dificeis as escolhas precisam ser feitas em frações de segundos, o que inevitavelmente me levou para dentro da casa, unicamente com o objetivo de salvar Eleonor.

    Dentro do lugar a nuvem de Julie havia feito um belo estrago, várias pessoas estavam pelo chão, porém antes que eu pudesse me dirigir para o porão sou surpreendido por um tiro de pistola, provavelmente .40 e que atingiu meu ombro direito. O forte impacto do projétil desloca minha atenção a quem o disparou e lá estava uma mulher seminua. Como eu estava praticamente ignorando a dor e antes que ela disparasse novamente, eu utilizei toda minha velocidade para lhe imobilizar agarrando-a pelo pescoço. Ela até tentou pronunciar alguma coisa, mas minha força foi tanta que lhe quebrei o pescoço em poucos segundos.

    De acordo com Julie a maior fraqueza de um seguidor das trevas é o longo tempo que precisam para conjurar seus rituais, neste caso atacá-los de surpresa é sempre a melhor alternativa. Então depois de uma breve verificada nos cômodos do lugar, eu fui para onde julguei que seria o porão da casa. No escuro total foi possível ver Eleonor sugando o sangue de um pobre coitado, no entanto, quando me viu ela parou e me disse: “Fê?” e depois deu uma risadinha perguntando via telepatia a mesma cousa.

    Quando estamos nesta transformação não conseguimos pronunciar qualquer palavra que seja, então telepatia ou leitura mental é uma boa forma de ao menos compreender o que se passa pela cabeça do Wampir. Cultura vampiresca a parte, ela percebeu que era eu e tratamos de sair logo daquele lugar maldito.

    Estranhamente Eleonor não havia sido afetada pelo ritual de Julie, e saímos tranquilamente por onde eu havia entrado. Todavia, ao rever a situação do lado de fora fomos pegos de surpresa por algo que mexeu muito comigo. Lá estava H2 ao chão sendo socorrido por Julie, que lhe doava um pouco de seu próprio sangue, enquanto Franz ainda na forma bestial segurava Stephanie pelo pescoço. Foram pouco segundo em que eu desfazia minha transformação e vagarosamente ia na direção deles.

    Sabe quando tu queres gritar, mas como num sonho as palavras não saem? Foi assim que presenciamos Franz utilizar suas garras para adentrar o peito de Stephanie, arrancando-lhe na sequência, sem qualquer dó ou piedade, seu desfalecido coração…

    Nem eu ou Eleonor sabíamos o que estava acontecendo, mas Eleonor que estava em sua forma normal e ainda mais vendo sua cria sendo sacrificada, tratou de correr o mais rápido que fosse ao seu socorro. Naquele instante eles estavam prestes a iniciar uma briga apocalíptica, quando Julie percebeu a situação e falou em claro e bom tom: “Parem, sua alma já estava perdida…”

    Naquele momento, Franz simplesmente largou o corpo desfalecido da jovem Wampir ao chão e tratou de voltar seu próprio corpo ao estado normal. Eu sabia que o momento estava complicado e mesmo nu tratei de procurar um transporte. Entre corpos queimados ou mutilados eu encontrei um Fiat do tipo Wekeend, no qual fiz uma ligação direta e voltei até eles. Todos entraram rapidamente e tratamos de ir embora do lugar o mais rápido que fosse possível. Julie nos disse que o efeito de sua “nuvem” duraria mais alguns minutos e isso foi o tempo que precisávamos para sair da zona de contato.

    Horas depois chegamos a um lugar seguro, no qual H2 havia previamente preparado para passarmos o dia que viria pela frente. Ficamos por ali até o inicio da outra noite, quando nos reestabelecemos e voltamos finalmente para um lugar seguro. Nesta outra noite Eleonor estava muito chateada, havia sido sequestrada, torturada, perdera uma cria e eu que até então estava com ela, agora estava com Julie.

    Como se ainda não bastasse tudo isso, tivemos de escutar também em meio a nossa conversa, mais uma daquelas frases célebres de Franz: “Já que tudo foi resolvido, inclusive com nossa querida maninha, fato que deixará papai muito feliz. Podemos ir relaxar por hora em algum dos nossos puteiros, em meio aqueles belos e deliciosos sacos de sangue quente o que acham?”.

    H2 e eu rimos, Julie ignorou, já Eleonor simplesmente fechou a cara e foi para um dos quartos. O mais engraçado é que Franz realmente falava sério, partindo minutos depois com seu pupilo em busca de diversão. Fiquei mais um tempo com Julie, que também nos deixou, mas que antes de sair me incentivou a ir cuidar de Eleonor.

    Assim terminava mais uma de nossas histórias, onde mais uma vez havíamos escapado por pouco de nossos inimigos. Noites depois Eleonor decidiu ir para junto de Georg, levando consigo a filhinha de Stephanie e na expectativa de ficar talvez por algum tempo aprendendo algo novo junto de nosso mestre. Já eu estou aqui fazendo o de sempre, tirando minhas fotos, administrando nossas empresas e tentando produzir novas histórias, numa espécie de recomeço junto Julie.

  • Em busca da vampira assassina. Parte 2 de 2

    Em busca da vampira assassina. Parte 2 de 2

    Carlos começou a fazer o que sabe de melhor e nos levou mata a dentro atrás dos dois. Mesmo para nós que não somos rastreadores ficava evidente o cheiro do sangue perdido pela vadia. Os diabolistas tem um cheiro muito particular, fétido, que lembra carne podre e ácido. Tem como cheiro ser ácido? Ok…

    A cada passo que dávamos ficava mais evidente na cara de todos a vontade em terminar tudo logo para cada um poder voltar as suas rotinas. Apesar de termos nos recuperado parcialmente era agora o melhor momento para acabar de vez com a maldita sanguessuga diabolista. De nós cinco apenas Hector, Carlos e eu podíamos realmente cair no pau. H2 ainda estava sofrendo os problemas da transformação e Franz havia gasto muita energia, ou seja, na hora eu pensava somente em encontrar rápido a maldita e antes que ela viesse com outra surpresa.

    Carlos, manda todos se moverem em silêncio, mas nenhum de nos conseguiu fazer isso, afinal estávamos em meio a mata na escuridão total. Mesmo com a visão aguçada que possuímos os galho, folhas secas e arbustos formavam a sintonia perfeita para nos denunciar.

    Shiiiii insistiu ele… Mas antes que consiga terminar de falar uma granada de fumaça explode ao seu lado e o impacto o derruba. O forte barulho atordoou nossos sentidos e o susto nos dispersou. Olhei perdido para os lados e segui o que parecia ser o brilho da espada de Hector. No entanto antes que pudesse me aproximar do pirata sou atacado pelo maldito peludo, que em forma de humanoide agarra minha perna e me joga contra uma árvore.

    Sinto o estalar de algumas costelas e ao tentar me segurar em algo para pegar equilíbrio levo um chute na altura do ombro. Nos engalfinhamos então pelo chão, enquanto tentava começar minha transformação, mas não consegui haja vista que é algo que precisa de certa concentração. Nessas horas em meio a socos e agarrões é difícil concentrar e somente a sobrevivência fala mais alto.

    Consigo me levantar e enquanto tento aplicar um aperto em seu pescoço no infeliz ele me surpreende com um golpe de capoeira e me joga novamente contra outra árvore. Desta vez senti alguns ossos do braço esquerdo se quebrarem. Enquanto ele vinha para cima de mim, o que provavelmente resultaria em um belo estrago, vejo Carlos segura-lo e Hector aplicar um golpe certeiro com a espada de prata em seu coração. A besta peluda engoliu um uivo seco, seus olhos ficaram imóveis e ao levar as patas a espada ele se contorceu e ficou de joelhos. O velho pirata o empurrou para trás com o pé e usando sua rapidez deferiu um golpe que separou a cabeça do corpo. A rapidez do golpe foi tanta que certamente olhos humanos veriam apenas o pirata parado na frente da besta e sua cabeça caindo ao lado.

    Enquanto Carlos e Hector me ajudavam a se levantar somos surpreendidos por uma espécie de névoa escura. A névoa retardou nossos movimentos e reduziu a praticamente zero nossa visão. Mesmo utilizando a nossa velocidade e força superiores era difícil dar passos simples e por fim percebemos que estávamos presos no maldito poder de Tenébras.

    Depois de alguns poucos minutos sinto minha energia e força diminuírem, mas antes que eu vá ao chão alguma coisa forte me puxa para cima. Confesso que senti meu corpo flutuar como se a gravidade não existisse mais como em algo surreal. Na sequencia minha visão começa a melhorar e vejo ao meu lado Carlos me carregando junto de Hector para cima de uma árvore. Impressionado com a agilidade e força de um lobisomem? Tu nem imagina do que eles são capazes…

    Ele nos soltou em cima de um grande galho, onde ao longe era possível ver a fonte da névoa: a vampira bruxa com uma tênue aura alaranjada recobrindo o seu corpo.

    Antes que pudéssemos tentar falar algo Carlos foi em direção da luz e entre saltos chegou perto de um galho que ficava logo acima da feiticeira. Ele a fitou por alguns instantes, pois percebeu que abaixo de si vinha correndo Franz e H2 em direção da bruxa.

    Os dois vampiros deferiram vários golpes, mas não conseguiram desfazer o círculo mágico, que repentinamente se expandiu e os arremessou para muito longe em meio a mata.

    Enquanto achávamos que tudo ia dar errado, consigo descer da árvore com a ajuda de Hector e rumamos em direção a bruxa que já não conseguia mais manter a escura e espessa névoa.

    Ao chegar perto da vadia ví algo que nunca havia visto em todos os meus muitos anos como vampiro. Não vou conseguir transmitir em palavras tudo que ví, mas vou tentar… Carlos saltou da árvore de onde estava em forma de lobo humanoide, isso quer dizer que ele parecia uma besta de quase três metros de altura ou seja o máximo de poder que um lobisomem poderia ter, achava eu…

    Na verdade acho que a própria encarnação do lado mais nefasto de Gaia estava a nossa frente. Certamente o simples fato de olhar para Carlos faria um humano normal entrar em colapso e o que parecia grandioso aumentaria ainda mais com os atos posteriores da fera.

    Carlos precisou de poucas passadas para ficar frente a frente com a mulher e por algum tempo se encararam. A primeira a se manifestar foi a vadia que mudou cor da aura de energia que a envolvia para uma cor vermelho carmim e se preparou para receber algum tipo de golpe. O peludo em sua vez já estava a conjurar algo até que quando sua longa calda peluda que balançava muito ficou repentinamente parada. Ele abriu então os braços, dobrou um pouco os joelhos e como um relâmpago deferiu uma centena de garradas que perfuraram várias partes da  bruxa.

    Em poucos segundos  o corpo da mulher amaldiçoada foi ao chão e entre contrações e espasmos foi possível sentir o que lhe restava de não vida se esvaindo junto do seu sangue podre, até que restassem apenas um corpo seco.

    Carlos ainda de costas para nós e muito ofegante se ajoelhou em frente aos restos da diabolista agarrando sua cabeça com as duas patas. Ele resmungou mais alguma palavras em uma língua completamente desconhecida para mim e assoprou a face desfigurada do corpo. Com o ato o que ainda restara se desmanchou em cinzas até que não existisse mais nada em frente ao lobo.

    Nos aproximamos, ele estava mais calmo e já era possível ver seu rosto humano novamente. Antes que ele se levantasse diante de mim vejo algumas lágrimas esvaíram-se de seus olhos profundos. Solto então meu braço esquerdo que já estava um pouco melhor e apoio minha mão direita em seu ombro o encarando de frente.

    O peludo limpa o rosto e me fala pausadamente algumas frases que me deram mais confiança para continuar minha jornada:

    – Sonho todos os dias com o fim dessa guerra inútil… Gaia deu hoje mais um voto de confiança para o seu plano contra as trevas… Aproveite pois acabamos de pagar a minha dívida contigo e a alma do seu amigo está livre novamente!

    Voltamos todos para casa e já estamos recuperados, mas ainda fico no meu canto pensando nas palavras de Carlos. Voltei a pesquisar nossas origens e confesso que os últimos acontecimentos deixaram-me na dúvida quanto ao meu lado bestial. Será que meu lado agressivo é realmente demoníaco como insisto em idealizar sempre?

     

  • Antes do 1° ataque a vampira assassina

    Antes do 1° ataque a vampira assassina

    Isto aconteceu a alguns dias, antes de ganharmos a primeira batalha ontem…

    Eis que se iniciou uma nova batalha. De um lado duas vampiras com todo o seu exército de seguidores e do outro eu. Claro que não estou sozinho e nas linhas abaixo vocês poderão ver na prática como os contatos são necessários para a sobrevivência.

    Depois que o Zé se foi, precisei juntar forças do além para me controlar e não sair por ai fazendo besteira. Afinal, sempre que nos tiram algo a primeira ideia que surge é sair por ai querendo fazer justiça com as próprias mãos. Todavia, quando o assunto envolve vampiros as regras são bem diferentes.

    Um vampiro que mata vampiros, é tido como um párea de nossa sociedade e a punição para tal ato é a morte. Essa punição geralmente é lançada pelos Regrados e divulgada de imediato aos quatro cantos do universo. Por se tratar de uma das maiores punições ela demora um pouco para ser decretada. Neste caso como minha família está envolvida foi um pouco mais fácil conseguir o aval.

    Depois de ter ido a alguns lugares, de ter conversado com informantes dos mais diversos lugares eu resolvi juntar uma equipe de especialistas para dar fim nesta ameaça. Ter trabalhado com os mais experientes em Berlin me permitiu ter uma visão mais apurada dos fatos e principalmente de quem poderia ser útil nesta caçada. Caçadas de vampiros são sempre difíceis então nada melhor que gente de fora da instituição para fazer o serviço.

    O primeiro a ser chamado foi um cara que já saiu algumas vezes comigo e que só não é mais próximo em função do seu sangue. Já discutimos algumas vezes sobre nossa situação no mundo, mas quase sempre temos um impasse. Carlos é um peludo e como todos da sua espécie é um tanto quanto seco, direto e um pouco mais nervoso que a maioria. A história com esse peludo é longa e será contada em seu tempo, mas o conheci a pouco mais de 70 anos enquanto estive no Chile em uma das minhas fases exploratórias e na época nos livramos de alguns inimigos em comum.

    Além do Lobo rastreador, me ajuda nessa operação o vampiro pirata Hector. Amigo de longa data, aventureiro nato, cujo algumas de nossas histórias juntos já foram contadas por aqui.

    Obviamente Franz meu irmão de longa data está comigo nessa e para surpresa de todos trouxe consigo o H2, lembram-se dele? Isso também é uma longa história, mas vale aqui aquele ditado: ”Se não pode vence-los é melhor juntar-se a eles”.

    Hoje já estamos voltando para o Brasil e durante o dia contarei mais detalhes dessa última empreitada. Já disse que eu escrevo para me acalmar? Bom nesse momento isso é extremamente importante haja vista que a vadia esteve em minhas mãos, mas conseguiu fugir novamente.

    Pelo menos temos um novo membro no clã… H2 foi transformado!

     

  • Efeitos da lua maior

    Efeitos da lua maior

    Parque Vila Velha – PR, 23h57 – A central de polícia recebeu um chamado diferente:
    – Gente, pelo amor de Deus ajuda… Meu colega levou uma mordida na perna de um dos nossos cachorros. Ele estava muito arisco e atacou, mandem uma ambulância, rápido…

    No mesmo instante alguns vampiros captaram a frequência, um chamado de alerta geral foi emitido e em poucos instantes os caçadores rumaram para o local. Todos estavam atentos, pois sabíamos que algo iria acontecer e então não foi difícil ter alguém pronto para agir.

    As 00h12 uma perseguição de carro se inicia na rodovia do café próxima a entrada do parque. No carro da frente dois vampiros que se direcionavam ao parque são perseguidor por um famoso caçador de recompensas chamado simplesmente de “H2”. H2 é famoso pela morte de vários peludos e vampiros e quase sempre possui informações privilegiadas por seus homens infiltrados nas várias sociedades secretas.

    Várias marcas de pneus pintam as longas retas da tranquila rodovia. Bem que os vampiros tentaram, mas são poucos os que conseguiram continuar vivos depois de um encontro com o maligno H2. Uma guinada para a direita, uma ultrapassagem e BOOM! O carro em que eles estão capota duas vezes e cai dentro de um lago. H2 então para o seu carro próximo da colisão, confere a gravidade dos problemas dos dois mortos-vivos e continua sua viagem. Ele sabe que o acidente não vai detê-los por muito tempo, mas qualquer vantagem nesse momento é vital para os seus planos.

    H2 continua a viagem com sua caminhonete preta e em poucos minutos chega à sede do parque. Os portões estavam abertos, ninguém guardava a guarita e bastou seguir em frente para ver ao longe a sede iluminada pelas luzes vermelhas da ambulância que socorria o pobre guarda. Ele estaciona próximo a uma capoeira, camufla o veículo e começa sua busca a pé. Neste momento o jogo havia virado e H2 estava sendo perseguido ao longe pelos dois vampiros.

    A chuva que caia escondia a maior lua dos olhos humanos, mesmo com sua extrema proximidade a luz não era suficiente e o ambiente estava escuro. No entanto H2 parecia não ter problemas, pois utiliza tecnologia de ponta que lhe permite ver ao longe como se estivesse de dia através de óculos especiais desenvolvidos pela CIA. Há quem diga que ele faça parte de um grupo especial bancado por várias ONG’s espalhadas pelo mundo, mas isso são apenas boatos e há quem diga inclusive que ele já foi um padre.

    Iniciava-se ali uma perseguição que com certeza iria causar problemas a uma das três partes envolvidas. Os vampiros pensaram inicialmente em acabar com a festa de H2 logo de início, mas resolveram deixá-lo atrair para si o peludo novato. Dessa forma eles poderiam conseguir dois troféus de uma só vez.

    Algumas horas se passaram e lá estava o peludo se contorcendo em uma moita enquanto ocorria sua primeira transformação em humano. Cabe aqui um detalhe importante sobre os lobisomens. O vírus que ativa o lado bestial desses seres pode ficar oculto nos genes dos animais e dos humanos e mesmo com o passar de várias gerações ele permanece adormecido esperando o momento certo para “avacalhar” com a vida de seu portador. Felizmente nos últimos séculos muitos foram caçados e mortos e é extremamente raro encontrá-los acordando fora de suas “matilhas”.

    H2 foi o primeiro a avistá-lo e preparou sua pistola tranquilizante. Mirou e disparou acertando certeiramente a barriga do pobre coitado que nos instantes seguintes adormeceu. Os vampiros iniciaram então seu ataque, um ao alto sobre as formações rochosas e o outro pela frente. H2 percebendo os seus inimigos esquivou-se para trás de uma árvore e escapou por pouco do primeiro golpe, mas não foi rápido o suficiente para se livrar do vampiro que se aproximava pelo alto e que caiu sobre ele. Com o impacto o óculos do caçador caiu ao chão junto de seu chapéu, deixando a mostra parte da suástica que ele possui tatuada na cabeça.

    Dois vampiros certamente acabariam facilmente com um humano, mas H2 não o era e quando eles menos esperam o forte caçador joga um deles contra uma árvore e perfura o peito do outro com uma faca que ele mantinha na cintura. O vampiro agonizou de dor, caiu ao chão e ficou se contorcendo, pois seu coração fora atingido.  H2 foi em direção do outro que ainda se levantava e com uma velocidade anormal cortou a garganta do outro sanguessuga que ainda se levantava.

    Com os seus inimigos incapacitados foi fácil pegar o peludo, um jovem pastor alemão de 1 ano e seguir viagem, obviamente indo em direção ao seu pagamento. Depois de algumas horas um dos vampiros conseguiu se recuperar, levou o seu parceiro para uma caverna e ficaram até hoje no começo da noite quando retornaram para a sua cidade e espalharam a história na rede. Obviamente alguns instantes mais tarde ela chegou até mim e aqui estou eu fazendo o meu papel de dedo duro… Afinal isso tem de servir de lição aos babacas novatos que querem bancar os heróis e nem ao menos conhecem um pouco a história de seus inimigos!

    Muitas ocorrências de ataques foram vistas na noite de ontem, mas nada publico ou que comprometesse o andamento normal da vida de todos.

  • Foi a vez da caça! Parte 2

    Foi a vez da caça! Parte 2

    Por que ele está me olhando?
    Por que ainda não virou a besta no qual eles sempre se transformam?
    Ele tem cheiro de peludo, mas não parece um?

    Tantos porquês em tão poucos segundos… Se não fosse minha velocidade avantajada acredito que eu seria uma presa fácil por ficar tanto tempo pensando antes de agir de verdade.

    Em meio a tantos questionamentos a sobrevivência sempre fala mais alto. Então saquei as duas pistolas e rolei para cômodo a frente, enquanto via a criatura correr escada a cima em direção ao segundo andar. O bom é que ele correu na velocidade normal de um humano e isso me deixou um pouco mais tranqüilo.

    O cheiro de lupino sempre incomoda e alguns vampiros mais sensíveis até ficam atordoados, mas esse não é o meu caso. O meu ódio por eles é tão grande que meu demônio até se sente excitado com o maldito odor satânico exalado por suas glândulas.

    Subi então as escadas e para o meu azar lá estava a fera encarnada, com seu lado canino bestial aflorado. Agora o olhar dele era diferente, o fedor de carne podre misturado com o suor havia aumentado e parecia que aguardava minha iniciativa. Nos poucos segundos conseqüentes minhas pistolas automáticas fuzilaram o corpo do infeliz.

    Acontece que para minha surpresa as balas atravessaram o seu corpo e redecoraram a parede as suas costas. Nesse momento outros porquês vieram a minha mente e antes que eu pudesse emitir alguma outra ação eu sinto a dor e o calor de um tiro de escopeta em minha perda direita. Isso me faz cair vendo ao longe e por trás da ilusão o maldito cara do sofá.

    Nessas horas costumo dizer que o meu demônio assume e é ele que guia a nossa salvação. Os meus caninos afloraram e como um animal feroz que fora cutucado saltei em uma das paredes agarrando o reboco como se fosse um pedaço espuma. Enquanto ele atirava novamente e errava eu saltei para o chão e de lá saltei em sua direção. Com o peso do meu corpo lhe derrubei e tentei morde-lo mas não consegui, pois ele segurou minha boca com a arma. Rolamos então para perto de uma cama e lá eu consegui segura-lo… Maldito magista, achou que iria me enganar com a ilusão daquele peludo? E lhe dei um tapa corretivo com as costas da mão…
    Ele cuspiu sangue em mim e antes que pronunciasse algo a sede me consumiu e lhe dei a morte final como presente, pois merecia ao menos um pouco de sofrimento por tudo que havia aprontado.

    Tantos barulhos chamaram atenção da vizinhança e não tive outra escolha senão a de por fogo no local para eliminar tanta sujeira. Por causa do tiro que havia levado eu me aproximei meio manco de uma das janelas que dava para frente da casa e percebi três ou quatro indivíduos. Sendo que um deles já estava com o telefone no ouvido, falando provavelmente com a policia.

    Essa era minha hora de ir ou os problemas aumentariam. Pulei então para o quintal e pelos fundos das casas cheguei até o terreno que havia deixado a moto. Lá eu rasguei minha camiseta e com ela estanquei um pouco o sangue da perna para logo em seguida voltar para o meu lar doce lar.

    Obviamente a festinha me gerou alguns problemas. A Beth limpou e cuidou do ferimento, mas a minha regeneração fez o trabalho que precisava para que em um dia eu voltasse ao normal. Mesmo assim ela ficou brava e passou os próximos dois dias na casa de uma amiga.

    Alem disso, meu cunhado me ligou puto um dia desses:
    – Cara não sei o que houve lá, mas eu to me fudendo. Os caras tão querendo investigar o sangue que foi achado fora da casa. A mana me disse que tu foi ferido, porra veio que que eu faço?
    – Relaxa se forem analisar o sangue Irão ver que é o sangue daquele babaca… Eu fiz besteira, sei que não devia ter usado as pistolas, mas o cara não era um humano normal e uma outra hora te falo o que houve…
    – Véio vou resolver esses teus pepino depois te mando a conta, pelo menos a mulher e o guri se livraram daquele traste.

    E ele desligou na minha cara, nada como um pouco de amor familiar para se resolver as questões mais cabeludas.

    O que eu aprendi? Bom, vou ficar um tempo usando as bolsas de sangue, pelo menos até a poeira baixar e vou em busca de armas mais silenciosas pois ultimamente estou levando muito azar, quem sabe praticar um pouco de esgrima ou até mesmo voltar a estudar o Kenjutsu…

  • Foi a vez da caça! Parte 1

    Foi a vez da caça! Parte 1

    Sempre, mas sempre que acordo com o som do despertador diferente eu penso com meus botões: “Puta merda já ta na hora de novo…“. Sério gente, sempre que eu me alimento eu preciso ajustar o alarme para que toque novamente depois de uns 15 dias. As vezes eu consigo agüentar mais tempo, mas quase sempre no dia que este “pentelho“ me avisa eu preciso me agilizar e procurar alguma forma de me alimentar.

    Nesta mesma noite, ao acordar com bendito som, eu já avisei a patroa que iria sair em busca de comida. No entanto por azar não achei nada e para me precaver avisei meu cunhado, o mesmo que lhes falei anteriormente que trabalha como detetive e sabe da minha situação. Ele foi meio direto como sempre e me disse que no momento não tinha nenhuma Idea mas que me ligaria assim que soubesse de alguma alma condenada.

    Nesta noite voltei para casa preocupado e meio puto, sentei no sofá e resolvi ver um pouco de TV enquanto a Beth ainda dormia. Nessas noite ela me evita um pouco, pois sabe que fico mais arredio e que não estou disposto a muito papo. Sinceramente acho que ela deve ir para o céu, pois não é nada fácil me agüentar. Sem sono fiquei ali na poltrona pensando em algum lugar que eu pudesse ir. Uma regra que todo vampiro tem de ter em mente é o fato de não repetir os mesmo lugares no qual arranja vitimas. Isso é uma boa explicação para nossas freqüente mobilidade, alem da proteção. Antigamente era mais fácil ter um rebanho, hoje com as câmeras, os celulares qualquer ato que sai da rotina pode estar na hora seguinte no Youtube ou o que é pior, nos canais de notícias. Quando os vampiros mais velhos acordarem vão enfrentar mais um grande problema.

    Consumir sangue morto? Ir a um hemocentro? Ir atrás de algum dependente? Quem manda ser tão exigente seu Galego, se tu fostes um vampiros sem escrúpulos poderia atacar qualquer um… Nessas horas os pensamentos humanos se confundem com os pensamentos do nosso companheiro bestial e se o alimento não vier de alguma forma, as pessoas próximas podem sofrer as conseqüências… Não posso ficar perto da Beth… Naquele dia tentei dormir e em meio aos sonhos e pensamentos diabólicos consegui descansar um pouco. A noite quando sai do quarto avisei a Beth que sairia e só voltaria quando estivesse tranqüilo. Detesto quando alguém e em espacial ela me olha com expressão de pena nos olhos, mas tentei manter a tranqüilidade. Meus lábio secos e gelados tocaram de leve a sua boca carnuda, encaixei um abraço e me despedi lhe apertando forte como ela sempre gosta.

    Pistolas carregadas e devidamente guardadas nos coldres das costas. Camiseta vermelha, jaqueta própria para motociclismo com alguns bolsos que armazenam algumas balas de prata e o celular a prova d’água. Sob a calça jeans próximo aos pés guardei minha carteira com os documentos falsos que sempre me abrem as devidas portas e fui para a batalha. Duas vezes por mês eu preciso usar esse kit. Com o tempo nos acostumamos, mas é sempre difícil lidar com a morte final a sua espreita.
    Quando estava na garagem o celular vibra e atendo dizendo:
    – Fala doutor…
    – Galego, tem uma mulher que está vindo aqui pela quarta vez só esse mês, ela abriu queixa do marido que vem lhe violentando e que inclusive já tentou abusar do próprio filho de 4 anos…
    – Deixa comigo!

    Se existe uma coisa que deploro é alguém abusar de pessoas indefesas, abusar de uma criança? Espancar uma mulher quase lhe cegando? Senti de leve a saliva umidificando minhas presas e sem pensar muito fui para a casa deles.

    Bairro de classe média e novo, próximo das 23 horas, quase nenhuma pessoa fora das casas que eram um pouco afastadas umas das outras. Escolhi uma esquina próxima de um terreno baldio para deixar a moto. Tomei cuidado para ver se não tinha ninguém em volta e desliguei a moto, que desta noite era uma das minha prediletas a nova e silenciosa Zero S.

    Verifiquei a redondeza novamente, localizei a casa e em um dos cantos do terreno me agachei para começar a transformação. As transformações vampirescas iniciam quando nos concentramos e pensamos por alguns segundo no que queremos virar. Nesta vez foi a névoa, meu corpo começou a esmaecer, uma tênue fumaça surgiu ao meu redor e alguns instantes depois minha visão do mundo era outra. Agora eu não via mais o mundo como os humanos vêem, é algo difícil de descrever em poucas palavras, mas é como se eu sentisse a vibração e a energia emitida por tudo em um imenso mar escuro, com os detalhes como cantos e silhuetas em uma espécie de branco prateado. O mais legal desse estado é que o ar parece liquido e se move em câmera lenta. Já o som que também pode ser visto, faz ondas que se chocam com nossa visão provocando sensações que vão muito alem da audição, podendo inclusive ser degustado. Outro aspecto importante é que nesse estado as emoções podem ser visualizadas, mas o ponto negativo é que nosso demônio fica muito mais evidente e se algum ser especial estiver por perto poderá nos ver mais facilmente.

    Não precisei procurar muito para ver onde estava a casa do cidadão, bastou seguir o rastro podre que emanava de uma grande área a alguns metros. Ele estava sozinho em casa e foi então que entrei e me acomodei em um cômodo ao lado do seu.

    A televisão estava ligada e o som alto mostrava um jogo de futebol. Concentrei–me e voltei a forma material. Sorrateiramente abri a porta e lá estava ele me olhando como se estivesse me esperando… Maldito peludo…

  • A verdade sobre os vampiros

    A verdade sobre os vampiros

    Hoje por aqui cai uma chuva torrencial e isso tem sido bom, pois os dias estão menos quentes. Por mais que eu já esteja acostumado com o clima tropical, por vezes sinto muita falta do ar gélido das montanhas alemãs. Esse ar de lá por vezes era esquentado pelo efeito Föhn, que surgia do nada, mas mesmo assim era mais tranquilo que esse calor daqui.

    Pois bem, deixando a questão anacrônica de lado hoje eu vou falar de algo que sempre gera muita controvérsia por aqui, a transformação vampírica. Por mais que eu já tenha me expressado e contado fatos desse ritual, ainda recebo muitos comentários ou até mesmo e-mails perguntando sobre isso.
    Já fiz outros posts sobre a transformação de um vampiro:

    Como (não) se transformar em vampiro?

    Perguntas e respostas #3

    Todavia, acho que não fui muito claro, pois as perguntas sempre se repetem e hoje decidi escrever algo que abranja maiores detalhes.

    Como começou a história dos vampiros?
    Não se sabe quem foi o primeiro, o porquê ou quem criou a transformação, apesar disso sabe-se que é algo que se confunde intimamente com a história humana. Os vampiros que têm acesso as mais antigas escrituras contam que nossa história remonta mais de 8 mil anos. Atualmente existem muitas ceitas e cada uma acredita em histórias diferentes: Punição divina, alienígenas, doença ou um pouco de cada uma das anteriores.

    Como é a transformação?
    Antes de tudo é preciso ficar claro que a transformação é baseada em um avançado ritual. Primeiro o ancião do clan deve conhecer o candidato e certificar-se de que ele é digno de fazer parte da família e isso pode levar um bom tempo. Depois o vampiro que for fazer a transformação deve estar a vários dias sem se alimentar para que na hora que for iniciar o processo esteja mais perto do seu demônio. Na verdade quem procede com o ritual é o próprio companheiro interno do vampiro sendo este apenas um portador. Além disso, é somente em uma época do ano determinada astrologicamente que tudo pode ser feito. Tendo tudo isso, o ritual em si é bem parecido com o que muitos já viram em filmes, livros e afins, sugasse o sangue do candidato, devolve-se um pouco do próprio e mais algumas firulas com velas e ervas são necessárias para que tudo seja concluído.

    Nossa Galego tudo isso?
    Então caro mancebo, se fosse simples teríamos mais vampiros que humanos e a vida na terra já teria terminado. Não sei se tu já ouviste falar na teoria dos ciclos ou das cadeias tróficas? Bom, caso não tenha ouvido falar é melhor aprender sobre isso e muitas outras coisas antes de vir com pedidos sem sentido para transformação.

    De que um vampiro se alimenta?
    Os vampiros de verdade alimentam-se apenas de sangue, o humano é o que nos nutre mais, no entanto o festim também pode ser feito com animais se for preciso. Criaturas que se alimentam de carne ou energia não são vampiros.

    Onde vivem os vampiros?
    Em qualquer lugar comum aos humanos, muitos de nós vivemos em meio à sociedade de forma disfarçada. Todavia, ainda existem muitos que moram isolados em pequenas sociedades ou nos subterrâneos das grandes cidades.

    Como é o corpo do sanguessuga?
    Nosso corpo é um pouco mais pálido, que a maioria dos humanos, caso contrário seria impossível o disfarce. Nossos órgãos internos são atrofiados, inclusive as partes sexuais. No entanto com o tempo e a prática aprende-se a trabalhar o sangue que fica armazenado no sistema circulatório e é possível desloca-lo conforme for preciso. Tanto para o sexo, como para a respiração ou até ingerir certos tipos de comida para posterior regurgitação.

    Quanto tempo vive um vampiro?
    Muitos anos a mais que os humanos, no entanto com o tempo o sangue fica mais fraco e a necessidade de alimentação aumenta. Cada vampiro vai ter um momento diferente, pois isso é influencia da genética humana. Outro fator que limita a vida de um vampiro é a sanidade que com o passar dos anos vai deixando o ser louco e mais próximo do seu demônio. Geralmente quando isso ocorre o vampiro resolve hibernar por alguns anos ou décadas, caso acorde e ainda se sinta forte peso em sua consciência quase sempre ele se deixa morrer.

    Coisas que machucam um vampiro:
    Água benta e cruzes machucam se forem ateadas por pessoas com muita fé, algo que por sorte está cada vez mais difícil de encontrar. Além disso, o sol é nosso eterno inimigo e seus raios direta ou indiretamente nos queimam. Outras coisas como água corrente, espelhos e prata nãos nos afetam.

    Quem são os inimigos dos vampiros?
    As bruxas ou seres humanos que possuam conhecimentos em magia. Também não nos damos bem com os malditos peludos (lobisomens) e alguns tipos de seres chamados de Sáwel ou simplesmente “perdidos” e são o que muitos acreditam serem as almas que não se desligaram de seu corpo na terra e tantos outros acham que são anjos ou demônios.

    Este post é atualizado frequentemente…