Categoria: Histórias

Nesta seção você encontra historias, contos e relatos relacionados ao mundo real e sobrenatural. Verifique a indicação de faixa etária no início de cada texto.

  • Hector Santiago – Origens do clã

    Hector Santiago – Origens do clã

    A partir de hoje começo uma nova saga aqui no Wampir, onde falarei um pouco mais de um dos meus melhores amigos, Hector Santiago. Nestas linhas abaixo farei um breve contexto histórico sobre a história do seu clã e

    A saga do clã Santiago em Santa catariana.

    1832, Vila de São Francisco do sul, muitos acontecimentos desastrosos provocados pelo desaparecido Capitão Mor de Domingos Francisco intercalados com a ascensão inesperada deste pequeno vilarejo e junto com a vontade de dominar o novo mundo, foram as principais motivos que trouxeram Rafael Santiago para o Brasil.

    A sua ascensão teve início logo após a sua chegada, quando Rafael utilizou um de seus ghouls, o desembargador João Pires Pardinho, para melhorar a pequena vila. Em função dos altos investimentos ela prosperou muito e em meados de 1920 possuía um dos melhores portos do sul da América, fazendo com que muitas riquezas passassem por ali.

    Depois de 2 anos, com muitos de seus projetos tendo sucesso, com suas crias já possuindo o conhecimento necessário para se manterem sozinhas e em função das recentes mudanças ocorridas no dia a dia humano , Rafael decidiu entrar em torpor para descansar a mente.

    Além disso, e devido a uma reunião entre as crias de Rafael em 1926 foi decidido por unanimidade que elas também queriam descansar e que ficariam se revezando no trabalho. Sendo a sua cria mais nova, Juan Carlos Montez incumbida de guarda-los, por este período.

    Apesar de ser o mais novo é um vampiro muito poderoso, já foi transformado a mais de 500 anos, portanto tem muitas experiências. Ele se tornou cria de Rafael quando lhe prestava serviços de pirataria, por muitos anos Juan foi capitão dos barcos de Rafael, inclusive foi Juan que o trouxe para o Brasil em uma de suas embarcações.

    Juan possui duas crias, a mais nova é uma bela senhorita chamada Marie Toulouse que está desaparecida e o mais velho é Hector Fernandez Herreira, que atualmente  mudou seu nome para Hector Santiago em homenagem ao velho ancião de seu clã.

    A prosperidade de São Francisco do Sul, continua até hoje e por causa disso e de seu descontentamento com a modernidade acelerada, Juan decidiu entrar em torpor em 1983. De acordo com as regras impostas pelo conselho das crias de Rafael, faltariam menos de 10 anos para Juan descansar fazendo a troca de vigília com um de seus irmãos, mas ele decidiu dar um voto de confiança a Hector, pois este tem se mostrado muito valoroso e digno de confiança.

    Essa ideia de descansar mais cedo vinha tumultuando desde 1975  a mente de Juan, que desde então resolveu preparar Hector para assumir sua posição no clã. No início Hector achou estranha a intensidade de ensinamentos que lhe eram ministrados, mas com o tempo se acostumou e até tomou gosto sobre a cultura dos regrados (vampiros corregedores) e suas tradições de clã.

    Neste contexto, desde 83 Hector tem em mente uma série de objetivos e regras impostas por seu senhor. Dentre eles os principais são: Aumentar o número de vampiros aliados aos propósitos de Rafael, bem como manter a proteção às criptas de descanso e a todo o império que já está estabelecido por seus antecessores no sul da América Latina…

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Final

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Final

    Noutra noite qualquer Franz também apareceu por terras paulistas e lá estávamos nós três juntos, como no inicio de minha vida vampiresca na Alemanha. Está certo que sempre ficávamos os três sozinhos em tantas outras ocasiões, aliás, belas e profanas ocasiões. Porém desta vez havia algo a mais, havia minha busca frenética por um grupo de magos/bruxas e por uma loira sem rosto e que mesmo sem eu conhecer, já estava tirando o meu sono.

    São Paulo é a quarta maior aglomeração urbana do mundo. São quase 30 milhões de pessoas e dentre elas são muitos os estudantes de Magia. Nesse contexto, certamente se tu não tiveres alguns bons contatos seria uma busca daquelas do tipo agulha no palheiro. Porém, como eu sempre fui muito bem assessorado, concentramos as buscas em alguns grupos isolados e que ao todo não passava de mil pessoas.

    E lá se foram outras noites em busca de mais informações até que na metade da madrugada de uma sexta, recebo uma mensagem de Joseph: – Mon ami, encontrei uma pista interessante, nos falamos no hotel Au revoir. Je dois partir...

    Perto das 3h da manhã eu voltei para o lugar e lá estava Joseph sentado no sofá mexendo em seu Nokia N95, junto de Franz que apenas assistia TV. Ao me ver Joseph largou o celular num canto, me cumprimentou estendendo a mão como sempre fazia e contou sobre suas descobertas. Ele havia achado um pesquisador especializado em bruxaria, professor de história da USP e que lhe forneceu mais detalhes sobre as Strega e suas ramificações no Brasil. Ele também soube de uma tal de Pietra, taróloga e conhecida adepta da Stregheria, porém esta não foi localizada para nos fornecer informações.

    Então, baseado em tudo o que havíamos encontrado decidi que deveria ir para a Itália. Cruzar o oceano por causa de sonhos e visões Ferdinand? Sim, minha cara leitora. Eu havia retornado recentemente de uma longa hibernação de 50 anos. Período no qual minha cabeça deveria ter sido curada deste tipo de incomodo e eu realmente queria começar “vida nova”.

    Algum tempo na Itália, algumas noites junto de meu amigo e mago kieran na Inglaterra e muitas das dúvidas, inclusive os feitiços do livro havia sido resolvidos. Meus pesadelos haviam acabado junto da leitura do tal livro e eu decidi retornar ao Brasil.

    Em junho deste mesmo ano a rotina havia retornado as minhas noites, muitos dos negócios do nosso clã estavam novamente em minhas mãos e lá estava eu novamente procurando o que fazer, quando recebo um sms de Franz: “Ocupado hoje? Estou pensando em chamar alguns amigos e fazer aquela nossa tradicional noite de comes e bebes, vens?”.

    Confesso que a monotonia tomava conta de mim e também não estava nenhum pouco empolgado em sair de casa naquela noite. Porém como as festas do Franz são sempre empolgantes e agitadas, resolvi tomar um banho e parti para o tal lugar. Salão de festas de um prédio qualquer e vários humanos dividindo espaço com os vampiros de nosso clã.

    O mais engraçado destas festas é que Joseph e Franz sempre davam uma de “chef” e inventavam pratos exóticos para os convidados. Nesta em específico eles preparavam Sushi e tão logo cheguei já foram pedindo ajuda para enrolar as algas com arroz, salmão e afins…

    Tudo ia bem, eu já estava empolgado com a festa e inclusive havia encontrado uma garota alvo, no qual imaginava ter algum tipo de afair mais tarde. Quando olho para uma das janelas e vejo vindo ao longe uma garota loira de calça jeans e um casaco com capuz cobrindo seu rosto. Isso foi o suficiente para eu parar o que estava fazendo, limpar os olhos, olhar para os lados, me beliscar e piscar várias vezes na intenção de ver se era mesmo realidade.

    Mesmo assim a garota continuava vindo em direção a festa. Procurei alguém mais próximo, que por sorte era Joseph e apontei perguntando: – Estou vendo cousas meu amigo? – E para minha sorte ele me respondeu com um sorriso no olhar: – Acalma-te mona mi, também estou vendo!

    Alguns segundos depois a garota entra, cumprimenta os conhecidos pelo caminho e ao chegar próxima de Franz, tira o capuz deixando seus lindos cabelos loiros à mostra e da um oi do tipo “geral”.  Franz de imediato limpa as mãos com uma toalha, a coloca no ombro e se vira para mim dizendo: “Beth este é o meu irmão Ferdinand, que chegou recentemente da Alemanha”.

    O meu querido e tagarela Franz diz que “…quando eles se olharam os olhos de ambos brilharam, eles se concentraram um no outro e o amor podia ser visto na forma de corações estourando pelo ar…“ Poesias a parte, o papo inicial realmente foi muito bom. Compartilhamos muitas opiniões semelhantes e não tardou, até que surgisse algum tipo de confiança especial, que nos permitimos revelar os segredos sobrenaturais de ambos.

    O resto vocês já sabem e iniciava-se naquela noite nosso relacionamento. Um período no qual ela me ajudou a se readaptar ao mundo atual, ensinou quase tudo o que sei sobre bruxaria moderna e fomos muito felizes.  Apesar de seus poderes, humanidade e de minha condição vampiresca, o nosso relacionamento foi de vento em pompa até os últimos meses de 2011. Quando ela decidiu concentrar sua vida em seus aprendizados bruxólicos e partiu para uma longa jornada sozinha, em alguma parte deste ou dos outros mundos.

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 4

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 4

    Muitos dos mistérios, lendas e até mesmo profanações das civilizações antigas se baseavam na observação do céu e de seus astros e estrelas. Imaginem por exemplo o medo de alguém que vivia há 10000 anos quando ocorria um simples eclipse. Apesar disso, nem sempre esse tipo de situação foi temerosa e por vezes deve ter sido também um grande passatempo para muitos, afinal de contas, não havia celular, tv ou ainda menos a internet das noites atuais.

    Pensando nisso, eu sai do conforto de casa, transformei-me em lobo e fui para o mata próxima da fazenda. Onde durante uma longa corrida, pausada algumas vezes para descansar, cheguei ao alto de um dos montes. Lá de cima e novamente na forma humana e nu, pois eu queria estar mais próximo da terra, eu me deitei sobre uma grande pedra e fiquei por algumas horas apenas meditando.

    O processo de meditação foi incorporado as minhas rotinas de entendimento do mundo, nas idas e vindas pela casa de Kieran em meados de 1900. É poça em que a frase que ele mais dizia era: – Toda prática precisa de concentração, disciplina e esquecimento, tal qual a respiração, lembras?

    Inicialmente a meditação foi fácil, concentrei os pensamentos, deixei o corpo em estado de tranquilidade e imóvel. Porém, toda vez em que eu ia mais fundo nos pensamentos a imagem daquela garota loira, de capuz e sem face vinha aos pensamentos. Por que diabos isso? Seria ela a autora de tal obra nefasta? Seria algum aviso, seria Suellen querendo me chamando de alguma forma?

    Voltei para casa depois de mais alguns minutos em meio aquela confusão mental. – Por que eu tenho de ser assim teimoso, no sentido de por algo na cabeça e tentar resolver? – Era o meu pensamento constante em todo o trajeto de volta.

    Já em casa liguei para Joseph e quando ele retornou de sua “alimentação”, batemos mais um papo sobre os ocorridos. Ser assombrado, ou ter visões não é algo incomum para um Wampir, porém as que estavam ocorrendo comigo já haviam passado dos limites. Fato que nos fez ir atrás de mais pitas sobre o autor e as tais Stregas italianas.

    Sendo a fazenda um local tão isolado eu fiz as malas, juntei as cousas mais importantes e chamei Joseph para umas voltas por São Paulo e Rio de Janeiro. Reservei hoteis e na noite seguinte depois de avisar a todos, partimos em busca de mais informações. Obviamente a internet e até mesmo a deep web já haviam sido consultadas, bem como nossos informantes…

    Tendo como principal informação alguns entusiastas e estudiosos a respeito das bruxas, nós descobrimos facilmente um coven e onde seria sua próxima reunião. Duas noites se passaram desde que chegamos a São Paulo e com um carro alugado fomos ao tal pub na zona sul da cidade.

    Lugar bonito, escuro como todo pub e lá estavam mais ou menos 10 pessoas em uma mesa. Todos de preto, pentagramas no pescoço e alguns de moletom com capuz. Logo de inicio “apenas crianças brincando de bruxa”, foi o que me cochichou Joseph.

    Mesmo assim nos apresentamos: “Oi nos falamos pela internet…bla bla bla” E depois de alguns minutos eles realmente eram apenas crianças brincando de magia. Apesar de um deles ter potencial para bruxaria, inventamos uma desculpa qualquer e saímos à francesa. Ainda nesta noite aproveitamos para dar uma passada num dos negócios do Franz, uma casa de stripers, afinal nem tudo são negócios…

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 3

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 3

    Sonhos com Suellen, dias inteiros de sono profundo… Eu não queria que meus pensamentos adquirissem novamente aquela paranoia, no qual enfrentei antes da hibernação. O que havia em tal livro, que despertavam em mim os pensamentos mais obscuros e ainda me fazia ver uma loira de Capuz parecida com minha amada???

    Liguei para Sebastian e pedi para que ele fizesse algumas pesquisas com relação aos nomes e termos que havia encontrado no material. Falei com Joseph (Zé), que também achou o livro inusitado e resolveu ajudar. Além deles, também tentei contato com Kieran, mas nenhum de seus discípulos me retornou, aliás, é nesse tipo de situação que você percebe a importância dos contatos rs

    Noites depois, acabei deixando o tal livro de lado. Veio o Natal seguido pela virada de ano e algum tempo se passou até que numa noite qualquer e antes do carnaval de 2007, Joseph me surgiu com novidades. – Lembra-se du livre que j’ai pediu informações? Tenho bonnes informations à ce sujet. (Esse sotaque engraçado que ele tinha é uma das cousas que mais sinto falta).

    Nessa mesma noite ele me deu uma pasta de arquivos, nela além de diversos artigos impressos, havia também o que parecia ser o casco de uma árvore marrom escuro  e um saquinho de plástico transparente contendo um material arenoso e amarelado. Depois de olhar o material encontrei uma folha de instruções e lá estava o tal «Ritual de troca de posse do dono do livro»…

    Ansioso que sou eu já queria fazer o tal ritual naquele mesmo instante, porém como precisava de um lugar aberto tive de esperar até a noite seguinte, que por coincidência era sexta-feira de carnaval. Além disso, Joseph estava com tempo e decidiu que iria ajudar no que fosse possível.

    Preparamos os ingredientes : Uma toalha de algodão virgem, um punhal, a tal casca de Freixo, algumas gramas de enxofre ou breu e algumas velas. O local precisa ser próximo de alguma árvore e de preferência que esta fosse ao lado de água corrente. Não vou descrever o procedimento todo, mas depois que o altar foi montado e com as devidas entidades convocadas, eu precisei me cortar e derramar parte de meu sangue sobre a capa do livro.

    Depois disso, misturamos o pó de enxofre ao sangue e embrulhamos tudo com o tecido. Dispersamos as entidades, desfizemos o círculo, limpamos o lugar, nos lavamos no riacho e voltamos para a casa da fazenda. O livro deveria ficar naquele pacote por 3 luas, ou seja, próximo de junho eu poderia abri-lo e ver se tinha dado certo. Este é um bom exemplo do por que de eu nunca ter me envolvido a fundo nas práticas ritualísticas, não tenho paciência para esperar tanto tempo, ainda mais com algo que pode nem dar certo.

    Novamente em casa, Joseph me falou mais sobre o que havia descoberto sobre o livro e em específico sobre a Stregheria italiana e suas Janara Strega di Benevento. Um dos grupos de magia mais antigos e com raízes que remontam o século XIII. Contudo, pouco do que ele  descobriu possuía relevância, afinal este tipo de assunto é sempre repleto de muito  misticismo e lendas. Tanto que ao final da noite, eu já duvidava que o tal ritual de desapropriação do livro pudesse dar certo…

    Histórias, dúvidas e bruxarias a parte e como era carnaval, resolvemos cair na festa. Longe da fazenda, longe dos lugares conhecidos… Franz, Joseph, Eleonor e até mesmo Sebastian estiveram ao meu lado nas comemorações. Sete dias de orgias e todas as safadezas vampirescas que tu podes imaginar, pois dentre vários fatores, fazia tempo que não conseguíamos juntar o clã para uma «festinha»…

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 2

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 2

    Não sei se foi algum feitiço ou talvez por causa do cansaço, mas tão logo eu comecei a ler o tal livro eu simplesmente dormi. Foi um sono bom, daqueles extremamente revigorantes e tudo seria perfeito se não fosse o sonho exótico com a tal garota loira.

    O cenário era algo legitimamente de sonho, um clima Noir à meia luz, o tempo passando em câmera lenta e um lugar fechado que se assemelhava muito com uma balada mais dark. Algumas pessoas andando por todos os lados e a minha frente aquela garota de manto preto, que deixava amostra apenas os seus cabelos quimicamente loiros, mas que mesmo assim lembrou-me nitidamente de Suellen.

    – Fê, Fê… Ferdinand………………..

    Eu devo ter ouvido todos os meus nomes ou apelidos antes de sentir o balanço delicadamente grosso de Franz. Diz ele que ficou por quase dez minutos tentando me acordar, até que se estressou e resolveu me dar um chacoalhões. Afinal, eu havia dormido o dia inteiro sem sequer mudar de posição no sofá.

    – Nos chegamos daquela festinha vimos que tu estavas dormindo e nem quisemos acordar, porém como ainda estavas no mesmo lugar o dia inteiro, achamos que tinha algo errado. – Confessou-me Eleonor.

    O que diabos tinha acontecido ninguém soube me explicar, muito menos sobre o livro, no qual nenhum deles tinha conhecimento. Porém quando o papo foi dar sermão, todos encheram meu saco por eu ter mexido em algo do Barão e ainda mais por que estava lacrado e selado. Mas afinal de contas, como eu iria saber que não era para mexer? –Pensei comigo. Se fosse algo tão importante não estaria em uma simples caixa e junto de outros livros desinteressantes…

    Reclamações a parte, lavei o rosto para tirar a cara de sono, troquei de roupas e resolvi dar uma corrida pela fazenda. Contudo, o livro e as histórias tão bem ilustradas não saiam da minha cabeça e cousa de 20 minutos mais tarde voltei para casa. Tomei um banho quente e longo, vesti algo confortável e fui para o meu quarto. Tratei de me concentrar na leitura e cuidadosamente eu li cada página, fazendo sempre que necessário anotações ou esquemas ilustrados em meu bloco de notas.

    Leitura boa, rica em detalhes, mas novamente adormeci em meio à leitura. Algum tempo depois eu acordo e ao olhar no relógio já eram 15:25. Olhei para o livro que ainda estava em minhas mãos e para minha surpresa eu só havia lido 7 páginas… Naquele instante eu me preocupei, afinal leio pelo menos umas 100 ou 150 por noite quando estou empolgado.

    Como ainda era dia eu sai com cuidado do quarto e tentando não fazer barulho, afinal casas de madeira são extremamente barulhentas e Eleonor tem o sono leve. Não queira ouvi-la saindo de seu quarto enfezada por ter sido acordada! Contudo, sabe quando você se vira e como num reflexo vê algo estranho, tipo uma presença? Pois então, lá estava a garota de manto preto em um dos cantos da sala e estacionada como se fosse uma assombração.

    Levantei a cabeça, liguei a luz e em seguida olhei em volta, mas não havia ninguém… Diabos, devo estar doido. – Pensei comigo e não, isso não tem nada a ver com o filme “O chamado” de 2002.

    Assim que liguei a luz e depois da aparição eu vi alguns barulhos na cozinha e fui para lá pois alguma das empregadas podia estar limpando ou fazendo algo. Dito e feito, naquele dia uma das empregadas faziam um lanche. Quando me viu ela ficou envergonhada, engoliu rapidamente o pedaço de sanduíche que mastigava e me disse:

    – Boa tarde… O senhor precisa de algo?

    – Por favor minha querida, que dia é hoje?

    – Acho que é 16, segunda senhor…

    Agradeci, deixei-a curiosa sobre o que eu queria e voltei para o quarto. “Merda, tem algum feitiço nesse livro, dormi por quase dois dias e estou vendo cousas…”

  • O despertar

    O despertar

    Como faz tempo que não publico nenhum FanArt, segue abaixo uma bela história de transformação que me foi enviada pela Gabriela Cristina.

    O despertar

    Meu corpo me pedia para sair, minha alma clamava desesperadamente por aquilo. Tudo me pedia. A brisa entorpecente da noite soprando em meu rosto, a lua estava cheia, linda e soberana, dominando um céu negro e apinhado de estrelas. Prometi a Ian que não sairia, ele não queria que eu fizesse aquilo, não achava certo, havia me pedido milhões de vezes, pois se eu o fizesse correríamos o risco de nos tornarmos inimigos, então prometi a ele que não sairia, mas algo naquele lugar foi mais forte que eu e me conduziu pra lá. No caminho, senti que estava sendo observada, mas nem liguei o chamado era tão forte que nem tive tempo de sentir medo do que quer que estivesse me acompanhando, ultimamente, depois de ter tomado de vez a minha decisão, meus sentidos estavam mais aguçados, os espíritos não paravam de aparecer tanto em sonhos quanto pessoalmente me pedindo que reconsiderasse pois se eu fizesse realmente o que queria, estaria me desfazendo de um dom dado por Deus e pela natureza e passaria a ter dons obscuros, não poderia mais vê-los e nem ajuda-los. No início fiquei um pouco pensativa sobre isso. Desde pequena eu era atormentada por espíritos, sempre os vi, ouvi, senti, mas por um bom tempo não soube como lidar com eles, por muitas vezes chorava de medo, implorando para que fossem embora, quando eu contava a alguém, a pessoa se afastava de mim ou então dizia que eu estava ficando louca, já fui parar em muitos médicos por causa disso, mas à medida que fui crescendo, comecei a me informar e descobrir algumas formas de controlar as visões. O medo passou um pouco, mas continuei a vê-los. Quando perdi meus pais, as visões pioraram de novo, vi minha mãe uma vez, era o que eu mais queria, mas de tão assustada não consegui se quer abrir a boca para falar com ela, então ela se foi. Depois desse fato, me revoltei, de que adianta ter o dom de ver espíritos, sentir e falar com eles, se não posso trazer ninguém de volta, isso não é justo! Foi refletindo sobre isso que tomei de vez minha decisão, não tinha mais nada a perder, se desse certo, eu seria, pela primeira vez e muito tempo, uma pessoa feliz, se não, eu morreria e tudo acabaria de vez, como acontece com qualquer mortal.

    A floresta estava muito iluminada pela luz da lua, havia muito tempo que eu não ia ali, desde a morte de meu pai, era doloroso de mais se quer pensar, mas agora era diferente, eu sairia dali diferente, e talvez, se tudo desse certo, as lembranças da minha vida mortal não me assombrariam mais. Fui entrando cada vez mais fundo em direção à clareira, a floresta havia mudado um pouco, não estava mais tão fechada, peguei uma das trilhas e segui em direção ao meu objetivo. O ar foi ficando mais denso e pude escutar meus passos, senti um calafrio percorrer minha espinha e sabia que não tinha nada a ver com o vento, parei. Estava ofegante. Meu coração estava tão acelerado que outra pessoa seria capaz de ouvi-lo de longe. Olhei ao meu redor, não havia ninguém. Silêncio absoluto. Comecei a pensar se deveria mesmo continuar ali, se não deveria voltar e ouvir o conselho de todos que me pediram para que eu não fizesse aquilo. Imediatamente uma voz dentro de mim respondeu: “Continue, você não tem nada a perder, está no caminho certo, ignore o medo.” Fui respirando mais calmamente e aos poucos, o coração voltou a bater mais devagar. Recomecei a andar e pouco tempo depois já estava na clareira. Era o lugar mais iluminado, por entre as árvores eu podia ver a lua claramente. Sentei e esperei. Confesso que o silêncio daquele lugar estava me deixando muito assustada, toda coragem que eu havia reunido estava começando a se dissipar, estava tudo muito quieto, nem um barulho, até o vento estava silencioso. Esperei mais um pouco e nada. Comecei a pensar que era melhor tentar voltar pra casa e desistir de tudo, eu só podia estar louca, ir para o meio da floresta, sozinha, a noite. Ele não iria aparecer, disse que saberia quando eu chegasse e que queria ver se eu realmente teria coragem de ir até ali sozinha, se eu realmente queria o que eu havia pedido a ele, poderia até já estar ali, mas por alguma razão eu não conseguia sentir sua presença. Olhei no relógio, já se passava da meia noite, o ar ficava cada vez mais frio e eu, a cada minuto que passava, ficava mais incomodada com aquele silêncio. Decidi ir embora. Quando me levante, senti outro calafrio transcorrer minha espinha, bem mais forte que o primeiro. Um vulto passou por entre as árvores, tão rápido que não pude ver, meu coração acelerou de novo, fiquei apreensiva, sabia que não era um espírito, era algo físico. O vulto se moveu de novo, dessa vez pude ver a sombra de um rosto. Tudo ficou quieto. Não sabia se corria ou se continuava parada, foi então que ouvi uma voz doce e ao mesmo tempo venenosa sussurrar em meu ouvido.

    – Tu és mesmo corajosa, vir aqui a essa hora da noite, sozinha e sem avisar ninguém onde estás!

    – Não te disse que eu viria, aqui estou.

    – Sim, estou vendo, provou que és uma pessoa decidida, de palavra, mas não achas que estás se arriscando de mais ao fazer isso? Eu poderia muito bem não cumprir o que disse…

    – Pensei mesmo que você não viria, já estava indo embora.

    Ele se colocou a minha frente e acariciou meu rosto ao falar com aquela voz doce e suave que ao mesmo tempo soava com um tom de perigo, de ameaça, seus olhos verdes, muito brilhantes penetravam os meus, seu cabelo negro e liso caia sobre seu rosto perfeitamente belo, uma beleza sobrenatural, que me deixava hipnotizada, mas o que me fez perder a fala foram suas palavras.

    – Não me refiro a isso, jamais deixo uma dama me esperado, eu já estava aqui te observando, vendo se terias mesmo coragem de vir até o fim, mas eu poderia muito alimentar-me de ti e deixar seu corpo aqui para que talvez fosses encontrada um dia, não tens medo?

    Mais uma vez passou pela minha cabeça se eu realmente deveria estar ali, por um momento pensei em correr, mas de nada adiantaria ele me alcançaria antes que eu chegasse à metade do caminho, então apenas respirei bem fundo e respondi.

    – Por um momento tive medo do silêncio da floresta, de que alguém que não fosse você aparecesse, mas jamais de você. Sei muito bem o que quero, disse que estaria disposta a te encontrar em qualquer lugar.

    – Será mesmo que sabes o que quer? Posso sentir o medo que emana de ti, minha cara… Mas podes ficar tranquila que não vou só me alimentar de ti, bom, pelo menos não pretendo, a menos que eu mude de ideia. Quero saber se pensou a respeito das cosas que eu te disse? Vais embarcar em um caminho sem volta, e não é tão fácil quanto pensas, podes desistir agora e eu até te deixo voltar viva pra casa…

    – Não. Pensei em tudo que você me disse, já tomei minha decisão, farei o que você mandar, o que for preciso, vou aprender tudo que for necessário para conseguir me adaptar.

    – Pense bem minha cara, estarás abrindo mão da sua mortalidade, da sua alma, da sua humanidade e se um dia se arrependeres, não poderás mais voltar atrás, terás que viver com isso pela eternidade. A minha mortalidade me foi tirada contra minha vontade e eu daria tudo para tê-la de volta, tu tens a sua e estás abrindo mão…

    – Se eu pudesse, faria com que você voltasse a ser mortal, trocaria de lugar com você, te daria minha mortalidade, mas não posso, quero ser transformada tanto quanto você quer ser humano novamente, não tenho mais o que pensar, estou decidida, faça o que tem que ser feito.

    – Está bem, minha cara, farei como quiseres, mas te darei um aviso: jamais transformes ninguém, em hipótese alguma, jamais faça isso, nem mesmo se ficares apaixonada, terá que desistir dele ou vê-lo envelhecer e morrer, mas jamais o transforme, porque eu vou saber, e virei atrás de ti de quem tiveres transformado e os matarei, sem dó, e não penses que podes me enganar, eu sempre saberei onde te encontrar. Estamos combinados?

    Nesta hora, senti realmente o peso daquelas palavras, tive a convicta certeza de que ele dizia a verdade, ele realmente teria coragem de me matar, mas eu sabia que não iria me apaixonar, seria a última coisa que eu faria sabendo que teria uma eternidade pela frente.

    – Sim, estamos combinados, você tem a minha palavra de que não vou transformar ninguém.

    – Então, minha cara, bem vinda a sua tão sonhada vida imortal, aproveite a eternidade…

    Confesso que tive medo novamente, mas apesar disso, nunca iria voltar atrás, estava prestes a começar viver a vida que sempre senti que me pertencia, não veria mais espíritos, e nem precisaria conviver com lembranças que eu não quisesse, teria a eternidade pela frente para fazer o muito que ainda não tinha feito em 26 anos, sem me preocupar com o tempo. Estava nascendo de novo…

    Ele veio em minha direção, segurou minha mão, acariciou meu rosto, sentiu o cheiro do meu sangue, meu coração batia acelerado, pude ver nitidamente a cor de seus olhos mudando, ele ficou atrás de mim, tombou gentilmente minha cabeça para trás, senti seus dedos passando pelo meu pescoço, olhei para a lua, que continuava clareando a floresta, me sentia muito feliz… Senti suas presas penetrarem meu pescoço e uma dor excruciante tomar conta do meu corpo, uma dor como jamais senti em outra ocasião, a pior de todas, senti uma fraqueza imensa tomar conta do meu corpo, minhas pernas cederam e minha visão escureceu…

    Quando acordei, não sabia onde estava. Meus olhos que estavam embaçados, aos poucos foram voltando ao normal, fui me recordando da noite que se passou, me dei conta de que
    es estava em meu quarto, deitada em minha cama, senti uma tristeza enorme ao perceber que tudo não passou de um sonho, tive vontade de morrer, não acreditava que pudesse ter apenas sonhado, parecia tão real…

    Mas quando passei a mão em meu pescoço, senti algo diferente… Minhas mãos estavam diferentes… Meu corpo estava diferente… E quando abri a cortina e o sol tocou na minha pele, foi como fogo queimando papel… Percebi então que não havia sonhado, estava acordando para a eternidade.

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 1

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 1

    “…A caligrafia do Livro deve ser firme, clara e bela. Na fumaça do incenso é difícil ler os conjuros. E enquanto tenta ler as palavras por entre a fumaça, ele desaparecerá, e terás de escrever aquela terrível palavra: Fracasso.”

    ―Aleister Crowley

    Quando fui acordado em 2005 depois de 50 anos hibernando nos braços de Morpheus, eu levei algum tempo para me readaptar. Todo Wampir que já hibernou alguma vez, enfrenta esta fase de uma forma muito pessoal e eu não fui diferente. Por incentivo de Joseph e Sebastian, ambos ratos de biblioteca, eu fiquei até meados de 2008, lendo sobre tudo que me aparecia. Livros, revista, internet, até bulas de remédios ou rótulos de produtos nos supermercados foram meu passatempo até que em fim montei este site em 2008.

    Dizem que esta hibernação pode recuperar a sanidade de um vampiro e foi por isso que tomei tal decisão nas idas e vindas pelo Rio de Janeiro dos anos 50. Alguns chamam esse processo de realinhamento de xacras, outros de cura da alma e eu só tenho a dizer que voltei “novinho em folha” e pronto para mais 100 anos de muitas peripécias…

    Mudando então de assunto, mas nem tanto, foi nesta época de muitas leituras que encontrei um livro especial nas cousas do Barão. Este material cujo nome não posso revelar e que chamarei por aqui de “Livro de bruxarias da Madame Borgia”, me despertou um interesse ímpar. Afinal, entre tudo o que o autor(a) anotou, há também muitas poções e rituais interessantíssimos.

    Na verdade, o livro é apenas a ponta de um iceberg que me levou a outra grande aventura, cujo fim será digamos revelador. Pois bem, deixando o contexto histórico de lado voltemos a uma sexta-feira e que por coincidência era  dia 13 de outubro de 2006. Não sei o que vocês faziam neste dia, mas eu estava em nossa casa da fazenda. Era uma noite quente, úmida e como todo final de ano no Brasil havia aquele clima Natalino onde todos só falavam disso, TV, internet, lojas decoradas, casas decoradas…

    Fazia quase um ano que eu havia voltado de meu sono e mesmo assim esta sempre me foi uma época difícil, pois sempre me recordo muito de minha família mortal. Obviamente chateado e triste decidi ligar o rádio e lá vinha o senhor Eric Clapton com sua famosa Layla.. Para quem não conhece a letra da música começa assim:

    “What will you do when you get lonely
    and nobody´s waiting by your side?
    You’ve been running and hiding much too long
    You know it’s just your foolish pride”

    Eu gosto desta música, gosto também do ritmo e do famosíssimo refrão: “Layla, you’ve got me on my knees… bla bla bla”, mas sabe aquele dia em você presta atenção na letra? Caso não tenhas reparado mancebo, a letra é um belo tapa na cara logo de início, onde o autor deu a entender algo do tipo: “Deixa de ser orgulhoso e faça alguma coisa seu babaca”.

    Para piorar mais ainda minhas ideias não havia mais ninguém comigo naquele dia. Franz havia saído com Eleonor, Sebastian e Joseph estavam em outro cidade/mundo e nenhum dos serviçais Ghouls da fazenda me instigavam a atenção a ponto de eu puxar assunto. Tento em vista isso tudo, eu comecei a vasculhar as coisas antigas em busca de algo que me distraísse.

    Quando um vampiro hiberna é como se ele fosse fazer uma mudança então imagine muitas cousas que eu possuía encaixotadas, fechadas ou entulhadas em uma grande sala de jogos, aquela sala onde você joga tudo a ponto de esquecer que possui e aos moldes dos problemáticos acumuladores.

    Uma caixa com objetos variados, outra com lembranças, outras tantas com coisas inúteis tipo talheres de prata, se bem que a prata na pior das hipóteses pode ser derretida… Enfim, fucei tudo até que finalmente achei mais uma com livros. Porém, estes eram do barão e eu não deveria mexer. Sabe quando você acha algo velho dos seus pais e surge aquela curiosidade?

    Manuscritos sobre biologia, química, algumas cartas… Até que finalmente encontro um pacote muito bem embalado com um tecido bege e lacrado com cera preta. Cujo carimbo não consegui identificar. Naquela de abrir ou não, eu simplesmente deixei de lado o fato de ser um vampiro, o fato de aquilo ser algo do meu mestre e toda aquelas cousas que nos falam sobre educação ou boas maneiras. Minha curiosidade sempre foi minha maior virtude e defeito, não é mesmo?

    Dito e feito, logo que rompi o selo do pacote, senti algo diferente, tal qual uma espécie de calafrio inesperado, daqueles que arrepiam os cabelos da nunca de qualquer um. Embalagem para um lado e em minhas mãos um livro grande de mais ou menos umas 500 páginas e uma bela capa de couro texturizado. Não havia cadeado, mas uma simples fechadura daquelas de empurrar uma bolinha para cima e outra para baixo. Ao abrir, as páginas se estufam dobrando de tamanho e algumas cousas caem de seu interior.

    Dentre as cousas que caíram havia uma pena negra, um pingente aparentemente de prata com formato de pentagrama e algum tipo de pó, que simplesmente misturou-se ao ar. Guardei tudo nos bolsos e fui para a sala, onde passei o resto da noite folheando e folhando até apagar…

    Suellen? Quem é você? Não brinque comigo garota tire logo esse capuz!!!

  • Rio de janeiro sec. XX

    Rio de janeiro sec. XX

    Olá tudo bem? Quem acessa meu site há algum tempo sabe que por vezes eu dou minhas sumidas. Todavia, o que eu realmente faço quando desapareço por algumas noites? A resposta está abaixo em mais um relato de época…

    Já falei diversas vezes por aqui sobre o inicio de século 20, época no qual tive o prazer de viver ao lado de minha querida Eleonor e logo depois de voltamos da Europa. Onde estivemos por quase 50 anos em meio aquelas pessoas geladas, no qual o clima por vezes nem era o que mais incomodava.

    Este início de século me foi uma época muito boa por vários motivos. Precisei reencontrar minha humanidade, tive de me readaptar aos novos modos brasileiros e além disso, ganhei responsabilidades novas. Afazeres que muitas vezes não eram o que um ser eterno gostaria de fazer, ou pensa que gostaria como a tão almejada liberdade de ir e vir. Afinal ninguém é livre, nem mesmo nós.

    Apesar dos pesares, gostei muito desta época por ser o inicio da era moderna. Naqueles anos as pessoas, ao menos aquelas dos ambientes urbanos estavam melhorando seus hábitos relacionados a higiene. Questão que na minha opinião é muito importante, afinal de contas quem gosta de se alimentar de algo sujo? Eu nunca fui fã de pessoas sujas ou maltrapilhas em minhas degustações, salvo as vezes em que é necessário. Aliás, dizem que isso é um dos meus defeitos…

    Nas décadas de 1900 e 1930 no Rio de Janeiro, eu pude acompanhar a grande mudança nos transportes de longas distâncias, como quando em 1927 em que os primeiros aviões comerciais começaram a substituir os tradicionais navios a vapor. Além disso, os famosos “bondinhos” do Rio que existiam desde 1859 começaram a dividir espaço com os carros particulares.

    Todas essas mudanças nos meios de locomoção encurtaram as distâncias e facilitaram muitas cousas, principalmente o transporte de mercadorias. Tendo em vista, este cenário e nossa experiência adquirida anteriormente na Europa no que diz respeito a fabricação de roupas, Eleonor teve a genial ideia de montar uma filial em terras tupiniquins.

    Nestas noites difíceis entre pesadelos e sentimentos ruins nós procuramos por diversos espaços que comportassem nosso negócio. Por se tratar de uma construção complexa que exige diversos componentes naturais e políticos, nós optamos por atuar diretamente com nossos Ghols. Fazendo com que eles fossem os “laranjas” e assim nos protegíamos ao mesmo tempo que agregávamos moral as negociações.

    Então depois de vários investimentos o negócio ia de vento em pompa até que veio a maldita política de 30, onde o governo louco brasileiro sacaneou muitos industriais em favorecimento da economia cafeeira. Foi quando resolvemos vender a fábrica antes de ter prejuízo.

    Depois disso, minhas crises existenciais pioraram de tal forma que eu vivia de pândegas e boêmias. Meu relacionamento com Eleonor rumava para o fim, porém por sorte ela se mantinha firme. Controlando como podia os negócios de nosso clã, função que na verdade era minha.

    Então os anos se passaram e eu resolvi hibernar. Franz se manteve a frente do clã junto de Eleonor, Sebastian e Joseph. Na verdade, diz ela que foi nesta época em que eu e o Barão hibernávamos que o clã realmente se uniu. Como eu digo, pelo menos a minha desgraça teve uma parte boa…

    Depois que retornei ao mundo em 2005, encontrei uma organização nunca antes vista em nosso clã. Parte proporcionada pelas novas formas de gestão via computador e noutro lado por causa de Eleonor e seu jeito mãezona. Depois disso, eu já comentei por aqui sobre o meu retorno a liderança do clã, sobre meu novo afair com Eleonor e acredito que não preciso dizer por que atualmente ela vive isolada, apenas cuidando da filha da falecida Stephanie.

  • Frases do vampiro Ferdinand

    Frases do vampiro Ferdinand

    A minha querida e paciente Mila Bortoluzzi, leu todos os posts e histórias aqui no site e separou algumas frases que ela achou interessante. Como existem cousas que eu nem me lembrava de ter dito, resolvi salvar neste post. Divirtam-se com meus pensamentos!

    “Cara de boa eu tava aqui coçando o saco… Pois é vampiro tb tem saco apesar de alguns acharem que não… E funciona muito bem obrigado!”

    “…o sangue tipo “O” é mais pesado, quando o consumimos nos deixa com a sensação de peso, sabe quando você come uma feijoada, é parecido.”

    “Deprimido? Que tal ler um poema vampirico e piorar…”

    “…Pare e pense comigo, se uma pessoa que viveu 20 ou 30 anos já está infeliz, imagina tendo uma eternidade pela frente…”

    “Eu não sei qual o peso da sua “mochila”, só sei que se você carrega uma maior que a minha é por que você consegue!”

    “Não existe ser consciente que consiga viver sem se apaixonar…”

    ”Quem já amou e por algum motivo perdeu quem ama, sabe que não é necessário a presença, nem o toque para se gostar e sentir falta…”

    ”…cada um tem de ter o seu espaço se não o bicho pega, no nosso caso o vampiro rss…”

    “… mas no fundo o passado e o que fizemos sempre retorna para nos assombrar ou pelo menos confundir.”

    ”Gente nem tudo na vida é 8 ou 80 as vezes algumas regras podem ser modificadas.”

    “Esse negócio de moda, aliás, é algo complicado entre os velhos, eu mesmo tenho um quarto cheio de tranqueiras e relíquias. Deve ser do comportamento humano se agarrar a objetos que lhe são convenientes ou importantes em determinados momentos.”

    “Fiz algo simples, metamorfoseei-me (existe essa palavra?) em um cachorro.”

    “…ver todos a sua volta morrendo com o passar das gerações é para muitos um drama difícil de superar…”

    “…por que o ser humano é o único entre os seres deste mundo que consegue ser tão ruim para com o seu próprio semelhante?”

    “Ok, esse upgrade ou atualização nos custou a vida, o sol e acabou nos trazendo milhares de problemas que muitos de nós apenas deixam rolar…”

    “…sempre que nos tiram algo a primeira ideia que surge é sair por ai querendo fazer justiça com as próprias mãos…”

    “Já disse que eu escrevo para me acalmar?”

  • O totem desaparecido – Final

    O totem desaparecido – Final

    Eu havia sido recarregado, sentia-me forte como se tivesse me alimentado de sangue fresco e ao reabrir os olhos vejo-me deitado em uma cama, no que parecia ser uma das casas do tal plano no qual estávamos. Ao meu lado um velho índio, que dentre outro detalhes utilizava um colar igual ao de Apoema.

    – Enfim acordou meu filho, precisei realinhar teus chakra, está bem agora?

    – Sim sim obrigado, já estou acostumado a esses apagões, quase tudo na minha vida gira em torno disso e desde que virei o que sou. Onde estamos, onde estão os outros?

    – Nos aguardam do lado de fora, Carlos está ansioso para ir buscar o Totem!

    Então sem mais delongas saímos do lugar e para minha surpresa ao abrir a porta sou agraciado com uma das mulheres mais lindas que já vi. Cabelos amendoados e muito lisos, olhos escuros como a maioria das minhas noites e com o rosto pintado com tinta azul, ao melhor estilo Pocahontas em dia de guerra. Confesso que poderia preencher uma página com todos os seus atributos… No entanto, quando me viu ela apenas sorriu e disse com todo o carinho possível: – Porra até que enfim Edward, você estava esperando o que, a Bella vir te dar um beijinho??? Anda te mexe, todos nós queremos voltar logo para casa. – Porém, eu estava tão bobo diante a beleza da garota que simplesmente ignorei a piadinha e somente sorri feito um idiota… Eu devia estar babando na verdade…

    Todos estavam sentados próximos a uma grande árvore no jardim, cujo cume não pude ver em função da forte neblina que ainda assolava o lugar. – Então nosso Wampir acordou! Como estou sentindo tuas energias renovadas, vou reforçar nosso plano de ação. A ideia é simples meus irmãos e nos separaremos em dois grupos. O maior vai atrás da outra matilha e o menor irá atrás do totem. Ferdinand, Apoema e Charlotte e eu iremos ao santuário.  Stuart irá liderar o outro grupo que conterá o máximo possível àqueles bastardos. Lembrem-se tudo o que acontece por aqui afeta os seus corpos no plano terrestre, que a Deusa Dhan os proteja e que nosso reencontro seja próximo.

    Caminhamos por muito tempo em meio à densa floresta e longe da urbanização. Por alguns momentos eu me sentia muito bem naquele plano, pois era como se eu estivesse voltado no tempo, numa época antes de virar o que sou. Bem na verdade eu estava empolgado “secando” a bela indiazinha que rebolava a cada passada a minha frente… Contudo, isso não durou muito e meus pensamentos foram interrompidos por Carlos:

    – Pois bem meu amigo, preciso te deixar a par do que está acontecendo. Aqueles dois Wairwulf, que foram assassinados eram os protetores do Totem de Giniw, que dentre vários atributos é uma espécie de gerador que torna possível a nossa entrada em planos como este. Como é possível entrar aqui e sair onde se quiser imagine as possibilidades de tal artefato. Apoema é o espírito que vive dentro do Totem e ao perceber que eu queria apenas protegê-lo, veio para o nosso lado contra a outra tribo. Neste momento estamos indo na direção do santuário, que nada mais é do uma cópia do totem neste plano, onde Apoema fará a transferência de propriedade dos antigos protetores para alguém que ele julgue merecedor. Caso ninguém seja capaz de tal mérito todas as almas presentes aqui serão expulsas e o totem será “desligado” por cem anos.

    Isso explicava por que alguns Wairwulf rondavam a casa, por que o Totem havia sumido e por que tantos poderes ocultos estão envolvidos em tudo que está relacionado a tal relíquia.  Diante tal história só me restava acompanhá-los e desejar que mais nada desse errado.

    Minutos mais tarde chegamos ao tal santuário, uma bela construção de pedras escuras envolta de arbustos e pequenas árvores. Confesso que estivesse passando por ali não repararia na pequena formação rochosa, com pouco mais de 2m de altura e com uma bela águia entalhada no topo. Apoema foi o primeiro a chegar ao local e antes de iniciar o ritual nos disse: – Preciso juntar toda a energia que eu conseguir, é possível que isso faça todo o lugar se estremecer, portanto fiquem próximos a mim. Caso os outros cheguem, apenas aguardem minha manifestação.

    Enquanto o espírito se concentrava nós apenas aguardamos em silêncio, quando sem mais nem menos tudo ao nosso redor parecia sacudir, tal qual como em um interminável terremoto. Pedras rolavam, árvores caiam, um forte vento quase nos levantava do chão, até que após alguns instantes veio a calmaria. Porém como nada é fácil, Carlos avistou alguém da outra tribo e correu para seu encontro. Charlotte, o seguiu antes que eu pudesse dizer algo e para minha surpresa lá estava eu novamente em minha forma bestial.

    Ao contrário das outras vezes, nesta eu pude controlar minha forma como se estivesse sem ela e certamente foi a primeira vez que percebi todos os benefícios da transformação. Força, visão, destreza, olfato… Todos ampliados de uma maneira nunca antes sentida por mim. Olho para o lado e Apoema havia sumido, então não me restava mais nada além de ir para a briga.

    Iniciava-se ali uma série de lutas, onde os ferimentos literalmente doeram na alma. Garradas, mordidas, chutes… Todos arrancavam partes do que pareciam ser nossos fluidos e que se dissipavam no ar quando arrancados. Foi assim até que outro terremoto e desta vez mais forte, fez todos caírem ao chão, a camada de neblina que parecia permanente finalmente se dissipou e agora podíamos nos ver uns aos outros. Lá estava Carlos, Charlotte, o irmão mala e quase todos os outros entre amigos e inimigos.

    Naquele instante paramos obrigatoriamente de brigar, era como se o lugar nos forçasse a parar todas as lutas e pedisse atenção. Quando finalmente surge uma espécie de luz vinda de onde Apoema estava, a formação luminosa flutuou até mais ou menos o meio do campo de batalha e aos poucos nos mostrou a forma de uma bela águia. Em questão de instantes, ela começou a mudar de um tom amarelado para um tom vermelho, quando sem qualquer tipo de aviso simplesmente explodiu… Silêncio… Escuridão…

    Não sei quanto tempo se passou desde a explosão luminosa, mas ao reabrir meus olhos percebo que estou novamente abaixo da terra e ainda sob efeito de minha magia de união com esse elemento. Percebo que ainda é noite então desfaço o poder e revejo a floresta do plano terrestre. Próximo a mim vejo Carlos e também os corpos de Charlotte, Stuart e de todos os demais a exceção daqueles pertencentes à tribo rival.

    Dirijo-me a Carlos, ouço seu coração que ainda bate e lhe dou alguns tapas na cara. Entre resmungos o velho Wairwulf reluta como uma criança birrenta, mas finalmente abre os olhos. Ele se senta, espreguiça-se e depois de um tempo me fala: – Eu imaginava que seriamos expulsos daquele plano, só não sabia que Charlotte seria escolhida a nova protetora do Totem, venha, vamos acordá-la!

    Duas noites depois ligo para meu ex-cunhado e recomendo o arquivamento do inquérito, em seguida arrumo algumas malas e viajo para o Chile. Afinal, depois de tudo que enfrentei junto de Carlos, eu precisava participar do Ritual de agradecimento a Apoema e oferecido pela linda Charlotte.

  • O totem desaparecido – Parte 6

    O totem desaparecido – Parte 6

    “Bang bang, he shot me down
    Bang bang, I hit the ground
    Bang bang, that awful sound
    Bang bang, my baby shot me down”

    Bang Bang – Nancy Sinatra

    Como em um dos filmes do Tarantino, naquelas intermináveis cenas do famoso olho no olho, estava eu diante uma trupe apavorante de metamorfos sedentos por meu sangue. Não sei se você meu caro mancebo já passou por uma situação similar, mas ao meu ver esse não é o tipo de evento em que se planeja estar e muito menos em que se permite o luxo de uma estratégia.

    Certamente, se tu já leste algum outro texto meu, sabes que tenho certa impaciência e quase sempre costumo agir por impulso. Mesmo diante tantos, tu ainda agiu desta forma Ferdinand? Pois então, o que você faria em meu lugar?

    Acordado repentinamente do que parecia ser um sonho, transformado no que eu chamo de forma demoníaca ou bestial e envolto por duas dezenas de Licans. Naquele instante não me restava alternativa além de arriscar. Então, em poucos segundos vi o primeiro a minha frente recebendo uma “garrada” de minha mão direita. Na sequencia outro ao seu lado recebendo um chute e entre tantos socos percebi enfim, que se tudo continuasse de tal forma, eu acabaria sucumbindo ao fim pela cimitarra afiada de meu ex-amigo…

    Todavia, há sempre aquele respiro final ou a tal luz no fim do túnel e quando estava literamente entrando em paranoia, Carlos se manifestou por telepatia: – Puta que pariu, meu amigo realmente achas que eu te trairia? Não te lembras de que temos um pacto de sangue e nem se eu quisesse poderia ir contra tua existência? Acalma-te!

    Como um estalo e diante de tal telepatia eu voltei à realidade, ao menos a realidade daquele mundo paralelo… A minha frente ainda se fazia presente a horda com os vários peludos, porém percebi que nenhum deles realmente apresentava ameaça. Na verdade todos apenas me observavam e os que tinham poderes mentais, deviam provavelmente estar rindo de minhas estratégias e pensamentos.

    Tudo isso deve ter durado poucos segundos e quando abri a boca para soltar algo, Carlos se manifesta novamente e agora para todos: – Ai está o sangue puro que eu comentei com todos vós… – Ao mesmo tempo ele passou rapidamente por entre seis ou oito que estavam a sua frente e continuou a apresentação. – Como ninguém aqui quer desperdiçar energia é melhor eu contar sobre o que todos nós fazemos aqui, não é mesmo meus irmãos?

    Diante tais palavras outro metamorfo que estava próximo a mim, aquele mesmo com aparência de pantera negra, completou as palavras de Carlos: – Ainda acho que deveríamos capturá-lo e tentar aproveitar ao menos uma parte dessa sua energia suja … – Confesso que ao ouvir tais palavras, certo calor instigou meu demônio interior a ponto de me deixar com muita vontade de dar uma boa surra no infeliz. No entanto, ao mesmo tempo em que eu pensava outro peludo com aparência parecida com a dele, porém comedidamente menor, interrompeu tal infortúnio.

    – Cala essa tua boca “bafo de rato”, estamos aqui para o resgate, deixe tuas opiniões idiotas para as tuas putas… – Para minha surpresa era uma garota, um tanto quanto xucra pensei comigo, mas uma garota e com forte sotaque inglês, muito semelhante ao tal babaca. Contudo, antes que aquilo pudesse virar uma festa de xingamentos, Carlos interrompeu os ânimos com mais algumas palavras. O detalhe é que tudo isto estava acontecendo por telepatia, aliás, toda a comunicação nesse plano e ocorrida até aquele momento havia acontecido desta forma.

    – Acalmem-se irmãos! Ferdinand, estes são Charlotte e Stuart, são irmãos e fazem parte da minha tribo. Chamei-os junto dos demais assim que conheci Apoema. – Apoema? Pensei comigo e tão logo o nome indígena foi pronunciado, percebo em meio a todos um Lican diferente, no qual nem tinha dado muita atenção antes. Ele possuía uma pelagem grisalha, seu tamanho não era muito significante próximo aos demais e a única coisa que o diferenciava, eram algumas penas vermelhas, verdes e azuis presas em um colar feito de couro entrelaçado e preso ao seu pescoço.

    Apoema  se aproxima de mim ignorando todos, inclusive Carlos que continuava falando e coloca sua mão direita sobre meu peito. Uma sensação de conforto, paz e tranquilidade toma conta de mim a ponto de me deixar eufórico. Tal sentimento me faz fechar os olhos e como mágica tudo fica no mais completo silêncio…

    Bang… Bang… Ouço novamente aquele som lindo vindo do meu peito…

  • O totem desaparecido – Parte 5

    O totem desaparecido – Parte 5

    – Anda Ferdinand levanta, não podemos ficar aqui a céu aberto… – Dizia a voz preocupada de Carlos enquanto eu recuperava a consciência. Tudo bem que eu não sou acostumado a tais práticas, só que cabe aqui uma explicação sobre a viagem astral. Uma cousa é tu entrar pela “porta da frente”, outra é fazer o que fizemos e praticamente invadir o ponto de encontro de outro clã.

    Dois chutes nas costelas e três tapas na cara foram suficientes para recobrar minha consciência, a ponto de eu visualizar melhor o lugar. Percebendo que estávamos em um beco, onde uma densa e típica neblina londrina ocultava a maior parte do local e um forte perfume de Jasmim, que promoviam um clima extremamente diferente do cotidiano mundano.

    Carlos, que parecia não ter sofrido com o enjoo da viagem, ia à frente e eu um pouco cambaleante lhe seguia com afinco. Afim de logo chegar a algum lugar possivelmente seguro. Nesses ambientes não há digamos monitoramento, porém estávamos expostos a todo tipo de ocorrência, principalmente aquelas em que o subconsciente adora nos mostrar durante os sonhos.

    Enfim, depois de algum tempo encontramos o que parecia ser uma floresta as margens da cidade e foi ali que paramos para se recompor mentalmente, ao menos essa era a minha intenção. – Ferdinand, mil desculpas, não era minha intenção te trazer para essa faixa do plano espiritual, afinal dentre vários detalhes, tu não está completamente energizado para se manter por aqui… Pelo que pude perceber o local em que estamos é uma réplica de uma cidade antiga e que foi preservado de alguma forma, talvez por forças que eu provavelmente desconheça… Fique aqui até se recompor, que eu preciso saber com exatidão onde estamos. Caso algo te aconteça lembre-se que a morte é apenas o começo… – Depois de tais palavras ele simplesmente sumiu na minha frente.

    Sabe aquele momento em que tu pensas: – Onde diabos eu fui me meter? – Pois é lá estava eu imaginando por que Carlos havia me abandonado em meio aquele lugar inóspito? Por que eu estaria fraco, sendo que já havia viajado de tal forma antes e não tinha enfrentado tal fraqueza? Por que, porquê e porque, todos passaram pela minha mente.

    Entre tanto, já que eu conhecia o Wairwulf de outros carnavais e sei que ele é um tanto preocupado em excesso, eu comecei a confabular comigo mesmo. Ao meu redor a floresta parecia normal, porém ao observar melhor percebi que não havia o som típico dos insetos. A neblina permanecia densa para qualquer lugar que eu mirasse e aquele odor de Jasmim superava todos os outros cheiros, na verdade tudo tinha cheiro de Jasmim e minha respiração parecia ter voltado à época de humano.

    Não havia animais ou pessoas e o conjunto assemelhava-se muito a uma grande maquete em tamanho e proporções exatas a “realidade”.  Tendo em vista tais detalhes, não resisti e tão logo me senti mais forte, voltei à parte urbana. Para ser sincero eu não me sentia mais forte e é provável que eu estivesse apenas mais confiante.

    Deixando as descrições de lado, eu parti em meio ao desconhecido, vaguei por muitos lugares, entrei e sai de diversas casa, armazéns, porões, porém ninguém aparecia aos meus olhos. Nem mesmo as energias que sempre sinto com muita precisão indicavam qualquer ser vivo. Cansado de tentar achar respostas, sentei naquele mesmo chão no qual eu acordara e por lá fiquei por muito tempo. Ao menos eu achava que estava ali por muito tempo, até que finalmente ouço um ruído. Este foi ficando gradativamente mais alto culminando em uma espécie de zumbido estridente, tal uma britadeira se ligada ao lado do ouvido.

    O barulho era tanto, que de inicio me provocou um comedido pânico, tive vontade de sair correndo, esfreguei os olhos várias vezes, bati nos ouvidos. Todavia, ao perceber que conseguia ver nada, resolvi fechar os olhos… Concentrei-me e para minha surpresa o volume do barulhos foi diminuindo, só que nem tudo são flores, ao reabrir os olhos percebo que estou em minha forma bestial e com mais ou menos uns 20 Wairwulf a minha frente me olhando fixamente.

    Todos estavam em suas formas animais/humanoides. Havia um metamorfo felino, um que se parecia muito com um gorila, outros se pareciam com os tradicionais lupinos. Porém, meu mundo caiu quando reconheci Carlos entre eles, que dentre vários detalhes ostentava sua bela cimitarra…