Resultados da pesquisa para: “joseph”

  • Quero me transformar em vampiro – Pt1

    Quero me transformar em vampiro – Pt1

    Às 23 horas de uma noite qualquer, com muita chuva e frio encontrei Penélope sentada à sala da fazenda. Na TV era exibido algum programa Teen qualquer e lá estava minha nova pupila enfia em seu inseparável MacBook Air. Entre tweets e likes resolvi incomodá-la e sentar-me-ei ao seu lado.

    – Posso trocar de canal?

    – Claro Fê a tv é sua e nem estou vendo né…

    Procurei por algum canal de carros e enfim achei um bom programa de restauração (os meus prediletos).  Por alguns pratiquei algo humanamente normal, até que veio o intervalo comercial e Pepe me perguntou.

    – Fê quando que eu serei transformada?

    – Quando for a hora… Por acaso achas que já está preparada, querida?

    – Conversei ontem com o H2 e ele me disse que o Franz o transformou no meio da briga contra aquela vadia que matou o coitado do Joseph. Então eu fiquei pensando por que eu deveria esperar tanto por isso?

    Naquele momento eu ri comigo, lembrei-me da ansiedade de Sebastian antes de sua transformação e de como minha futura cria era parecida com ele.

    – Anda Fê não me enrola vai…

    – Então, assim como o Sebastian eu acredito que tu merecia um tempo para se “despedir” do mundo no qual está acostumada. Eu já te disse que não tive escolha na minha transformação e isso me deixou de certa forma irritado com o passar dos anos.

    – Relaxa, estou contigo há quase dois anos, eu já sonhei com isso várias vezes. Sabe, igual aquelas meninas do teu site, que contam que as vezes sonham contigo. Eu nunca tive os sonhos quentes que elas dizem ter contigo, mas sempre achei que ia ser da hora você aparecer pra mim à noite e me transformar feito àquelas donzelas dos filmes, sabe?

    (risos)

    – Calma, calma, sei da tua ansiedade… Porém já pensou no fato de que depois da transformação tu vai ter de te acostumar com sangue, morte, brigas, mundos paralelos e com todos os demônios que cruzarão os teus caminhos?

    – Fê sabe que perdi meus pais quando criança, sabes que tenho lidado com morte desde muito nova e praticamente aprendi a me virar sozinha desde muitos anos atrás. Desde que você apareceu naquela noite e me transformou na tua Ghoul eu fui obrigada a mudar minha vida.  Já pesquisei em tudo quanto é site, sobre vampiros, sobre morte, sobre vida, enfim. Já te disse que estou ansiando por essa transformação a muito tempo, desde o ano passado pra te ser sincera.

    – Ok filha, entendo. Porém, eu preciso de mais algum tempo para juntar o máximo de energias que eu puder para te transformar. Vamos combinar assim, na próxima lua cheia faremos o ritual. Deixe-me ver aqui… A próxima lua cheia é daqui três dias, o que achas?

    Naquele instante ela praticamente jogou as cousas que estavam em seu colo para o lado e me deu um longo e forte abraço. Que sentimento bom era aquele, que sensação diferente era aquela? Sim, fui pego pelo amor, fui pego talvez pelo melhor dos amores… Aquele amor fraternal, amigo e familiar. Aquele que me lembrou dos papos com minha mãe, dos ensinamentos de meu pai e do companheirismo de meu irmão…

  • A vampira pin-up – pt7 – final

    A vampira pin-up – pt7 – final

    – Seria tudo uma grande brincadeira de meus irmãos? – Fora meu pensamento durante outro dia de insônia. Franz, Joseph, nem mesmo minha cria Sebastian atendiam aos vários telefonemas e todo o jogo parecia se encaixar. Filhos da puta pensei comigo, porque diabos não podia fazer as cousas de uma forma mais tranquila, desde a meda do vampirismo entrar na minha vida era assim, sempre o último a saber…

    Cansado de tentar achar respostas e entupido de perguntas, pensei em exercitar uma das primeiras cousas que Georg havia me ensinado e um dos poderes mais antigos dos vampiros: a meditação junto a terra. Assim sendo, eu contei os minutos e logo que pude desci correndo para algum lugar. O mais próximo do hotel era o famoso Central Park, que na época não era tão movimentado à noite e seria perfeito para meu descanso.

    Várias clareiras escuras, muitos lugares, que certamente serviriam para se abandonar algum corpo, mas isso não passava na minha mente naquela noite. Onde eu queria apenas um canto para sossegar, dormir ou ter algumas ideias. Depois de um tempo deitei-me sobre uma pequena clareira, oculta das trilhas principais por vários arbustos e folhagens. Ao meu redor apenas os insetos e alguns cachorros que provavelmente estavam perdidos e latiam sem parar.

    Neste contexto iniciei meus trabalhos e relaxei. Envolto por Gaia e no mais completo relaxamento, consegui ter minhas primeiras visões do que parecia ser Eleonor, Franz, Sebastian, Joseph e Georg. Todos pareciam felizes e jantavam como numa família humana comum. Até o instante que alguma cousa aconteceu e todos ficaram agitados, corriam de um lado para o outro e o fogo tomou conta do lugar. Acordei e dei de cara com um filhote de cachorro sem coleira, molhado e perdido ao meu lado.

    Antigamente, alguns povos nórdicos acreditavam que ver um animal escuro depois da meditação era sinal de confirmação dos pensamentos, mas o que podia ser absorvido de tal visão? Voltei para o hotel, deixei uma caixinha para o recepcionista me liberar a entrada com o cachorro e dei um trato no animal. Banho, comida… Parecia outro bicho depois de algum tempo.

    Ainda naquela noite recebi uma ligação, inicialmente o recepcionista e depois um homem, cuja frase me tirou do sério novamente: “Passaremos às 21h amanhã, esteja pronto para negociar sua hermosa morena”. Não me ouviu xingando, não escutou e ignorou completamente. Fiquei naquela maldita situação de dependência, que abomino acima de qualquer outra cousa.

    Já era pouco mais de 5 da manhã eu tinha poucos minutos para providenciar algo ainda naquela noite. Revisei o que eu tinha de armamento. Na época eu já tinha o hábito de andar sempre com duas pistolas nos coldres nas costas, no caso duas MAC-50 de origem francesa,, que aliás ainda tenho, mas não tenho saudades pois as minhas ao menos  tinham o hábito de travar e dar fortes “beliscões” em minhas mãos, quando eram usadas para muitos tiros em sequência.

    Já tinha perdido a conta dos dias que eu havia passado “em claro”, não estava com fome e tudo que vinha a minha mente, eram as possibilidades de negociação e poderes que que eventualmente eu poderia utilizar para sair com Eleonor de onde estivéssemos.

    21 em ponto tocou o telefone, era o recepcionista dizendo que estavam me aguardando na entrada do prédio. Arrumei tudo o que pude e deixei um bilhete junto de alguns tocados para a camareira cuidar do cachorro enquanto eu estivesse fora. Desci e dei de cara com dois brutamontes, provavelmente capangas dos gangster que estavam com Eleonor. Não senti nenhuma energia sobrenatural nos dois então apenas os acompanhei para o carro, um belo e polido Lincoln preto.

    Os dois foram no banco da frente e me levaram sem dar nenhum pio até um açougue fora de Manhatan. Entramos pela frente, passamos por diversas portas e enfim me deixaram numa saleta que tinha apenas duas cadeiras e uma mesinha todas de madeira escura. Segundos depois ouço passos de mais de uma pessoa, eram os dois brutamontes seguidos por uma figura gorda, bem vestida com um terno feito sob medida, mas com cara de nojento.

    – Senhor Ferdinand vou direto ao assunto, me chamo Tony Castellanno e tu já deve ter ouvido falar de meu irmão, capiche? – Eu até tinha ouvido falar dos tais Castellanno da região, mas como continuei com meu semblante apático ele apenas continuou. – Enfim, encontramos tua garota aprontando no nosso pedaço e acredito que merecemos um ressarcimento pelo trabalho que ela nos causou, claro, obviamente se o senhor quiser ela viva ou em fatias para a viagem de volta, capiche?

    Neste momento ele ficou calado esperando uma resposta, então eu me mantive controlado olhando para o nada. – Ela está aqui? – Não senhor, mas posso chamar caso tenha interesse em iniciar, Cap… – Eu já estava puto com os tais “capiche” e o interrompi com um soco forte na mesa – Trás ela pra cá agora!

    Nesse momento um dos brutamontes deu um passo em minha direção, mas antes de tentar algo foi barrado com um aceno do balofo. – Senhor Ferdinand, não te exaltes, por favor, somos homens de negócio. Jonnhy vá buscar a dama! – Nesse instante eu me dei conta de que ele era um vampiro, sua energia era fraca, provavelmente por ter sangue sujo, mas isso mudava um pouco os improvisos que eu havia idealizado.

    Durante o tempo que ficamos aguardando ele tentou puxar assunto, se gabou inclusive que era parente de sangue do vampiro chefe da cidade e deu a entender que se eu tentasse algo me daria muito mal. Situação que me deixou ainda mais puto e afim de ver seu sangue podre colorindo as paredes sujas de onde estávamos.

    Senti a energia de Eleonor se aproximando de nós, mas ela estava muito fraca e provavelmente estava imobilizada por algum ritual. Dito e feito trouxeram a pobre coitada para a saleta toda amarrada, inclusive com os olhos vendados. Cena que de imediato mexeu comigo a ponto de não conseguir segurar mais o meu demônio. Era deixa de que ele precisava para aflorar em meu corpo, destruindo o pouco de humanidade que minha alma sempre insiste em manter.

    Escuridão, sangue e pedaços dos corpos dos três por toda sala, apenas Eleonor ainda amordaçada sob a mesinha. Minhas roupas estavam inutilizáveis, meu corpo apresentava várias escoriações, hematomas e eu não pude distinguir o sangue deles do meu. Parecia que tudo, a exceção de Eleonor e a mesa, havia sito colocado num liquidificador…

    Atordoado, sem saber direito o que havia acontecido novamente e tendo de pensar mais rápido que o normal. Peguei Eleonor nos braços e fui para o carro que por sorte ainda estava parado na frente do açougue. O “laranja” que cuidava do lugar provavelmente havia fugido em função do barulho e aliado a mania americana de deixar uma chave reserva no tapa sol, facilitaram nossa fuga.

    De volta a Manhatan, consegui parar num lugar tranquilo próximo ao hotel, desamarrei Eleonor e tentei acordá-la dando um pouco de meu sangue. No início ela não teve reação alguma, porém foi o tempo de meu sangue misturar-se ao seu para despertar. Muitos minutos se passaram até que ela finalmente voltou a si, querendo saber o que havia ocorrido. Resumi rapidamente os ocorridos, dando ênfase ao fato de que meu demônio parecia ter se acalmado mais rapidamente do que nas outras vezes.

    Por sorte havia um casaco no carro o que cobriu ao menos minhas partes íntimas para poder retornar ao quarto do hotel. Desta vez o recepcionista ficou preocupado, tive de inventar que havíamos sido assaltados (bla bla bla), mas ele pareceu ter ficado feliz quando fizemos check-out na noite seguinte e lhe damos uma grande gorjeta.

    Noites depois soube da verdadeira história, de que o plano inicial de Eleonor era me dar um susto, inclusive alguns dos envolvidos no incêndio eram amigos delas e ainda estavam vivos. Tinha o aval de meus irmãos e queriam me mostrar de alguma forma, que eu precisava descansar por uns anos. Aquele papo de que eu sempre falo por aqui de que a hibernação ajuda a trazer tranquilidade aos nossos companheiros demônios. Por fim, os gângsteres haviam sido apenas uns pobre coitados que se meteram com os Wampirs errados.

  • A vampira pin-up – pt5

    A vampira pin-up – pt5

    Um mandamento, um pensamento e uma flor em meio as cinzas do que ainda restava de paciência em minha cabeça. Novamente eu tive mais um dia sem sono, as pálpebras dos meus olhos simplesmente não queriam se tocar… Como Franz parecia não ter dado muita bola para o que havia acontecido liguei para o meu melhor amigo, Joseph. Tentei vários números que eu tinha em minha caderneta e quem disse que ele estava em algum deles?

    Torturado por meu próprios pensamento, fatigado por tudo o que eu já havia feito e ainda estava fazendo. Hoje eu vejo claramente como minha cabeça estava uma merda naquela época, mas te digo mancebo, que não desejo passar por aqueles pensamentos novamente.

    Perto das 20h o telefone do quarto tocou, era da recepção e o garoto me informou que havia uma encomenda, uma caixa embrulhada para mim. Desci o mais rápido que pude, pois certamente era algo do tal ameaçador misterioso. Dei aquela sacudida básica, parecia haver algo grande dentro, mas me contive e voltei para o quarto.

    Não havia bilhetes, apenas um “To: sir. Ferdinand” escrito a mão e com uma letra bonita, provavelmente teriam utilizando uma caneta tinteiro e nanquim, pensei.  Ao cheirar senti ainda um forte odor de enxofre, elemento bastante difundido entre os praticantes de magia ou feitiçaria. Tendo em vista os ocorridos e o fato de eu estar sozinho eu não tive outra escolha se não desembrulhar e abrir o pacote.

    Papel pardo ao chão, sentidos aguçados e lá estava eu com uma caixa de chapéu em mãos recheada de itens. Havia algumas mechas de cabelo, uma calcinha de renda preta, alguns batons, dinheiro e um vidro contendo aparentemente sangue já coagulado. Além disso, havia também um bilhete, onde provavelmente utilizaram a mesma caneta e tinta. Muita raiva, ódio e todos os palavrões possíveis vieram a minha cabeça ao ler o que o infame folhetinho continha:

    “Imagino que tenhas passado o teu dia indagando sobre o outro bilhete? Sim, te conhecendo como conhecemos provavelmente fizeste isso, tua impaciência e  falta de controle sobre os teus  dons, são os teus maiores defeitos Ferdinand… Para que tenhas certeza de que estamos falando muito sério te enviamos o que havia na bolsa da Eleonor, bem como um pouco de seu sangue e alguns fios de seu cabelo. Não aceitaremos nada a menos do que a tua vida em troca por ela. Reflita mais um pouco até nos encontrarmos!”.

    Puto da vida liguei novamente para Joseph, que desta vez me atendeu depois de umas quatro ou cinco tentativas. Ele foi extremamente atencioso, me acalmou, mas também como todo bom amigo me jogou na cara que tudo aquilo era culpa minha e da minha rotina Casanova desregrada. Parece que alguns amigos gostam de nos dar na cara nesses momentos… Apesar disso, ele me deu algumas dicas e procedimentos que poderia fazer. Na visão dele eu deveria procurar o vampiro chefe da cidade, mesmo sob pena de ser punido pela morte de alguns de nós.

    Franceses e suas tagarelices, eu não podia correr o risco de ser punido por algo que na minha cabeça não havia sido culpa minha. Malditas vadias e seus rituais de fertilidade… Como eu poderia saber que meu demônio não gosta desse tipo de estimulação?

  • A vampira pin-up – pt3

    A vampira pin-up – pt3

    Algum tempo depois eu me lembro de estar jogado ao chão e com a cabeça em cima de uma almofada. Quando sinto um empurrão na perna direita. Era Eleonor que estava toda desarrumada, eu por outro lado ainda estava nu e com sangue por todo o corpo. – O que havia acontecido comigo – Pensei confusamente. Então minha bela morena me ajudou a se levantar, empurrou as roupas para meu colo e disse para se arrumar.

    Ao nosso redor todos ainda estavam pelo chão, porém vários estavam machucados, muitos gemiam de dor e até mesmo os vampiros se contorciam. Deu dó de ver uma das humanas com o pescoço quebrado num dos cantos e um dos caras aparentemente sem cabeça noutro. – Eles eram legais, o papo estava bom, puta que pariu, o que houve aqui Eleonor??? – Até mesmo a deliciosa Josephine estava tremendo num dos cantos.

    – El demonio dentro de ti se despertó en medio de la magia, me imagino que para la autodefensa, pero podría haber sido un efecto secundario del ritual … Recuerde que la conversación que tuvimos sobre usted hibernar durante un tiempo?

    O que dizer, o que pensar sobre aquilo? Ainda atordoado, apenas deixei Eleonor cuidar das cousas. Hoje eu teria agido de outra forma, mas é fácil imaginar quando tudo já passou, não é mesmo?

    Eleonor aproveitou que todos estavam fracos ou feridos e utilizou um ritual de sono aprendido com Suellen. Praticamente mandou eu me vestir mais rápido e sair correndo para a parte de cima do lugar antes que entrasse em transe também. Na minha cabeça ainda era dia e aparentemente iria me fuder subindo, mas ao abrir a porta percebi o maior breu. Nunca vou esquecer, eu apertava meu cinto quando sinto um calor imenso vindo do porão. Alguns gritos, resmungos e barulhos de batidas, socos, chutes… Pancadaria solta, mas que não durou mais do que alguns segundos, até que aparentemente o silêncio imperou. Preocupado eu abro a porta e algumas chamas saem ferindo parte do meu braço. O que diabos Eleonor havia feito???

    Desolado, procurei por baldes ou qualquer cousa que pudesse encher d’água. Mas até achar algo, o fogo já havia tomado à parte de cima do lugar e fui obrigado a sair. Corri para fora, naquele momento alguns vizinhos se acumulavam e acabei me escondendo em forma de névoa. Não foi a primeira vez que Eleonor agiu daquela forma, mas a situação de ser acordado do que até então era algo bom e havia se transformado naquilo, me deixou com os nervos a flor da pele.

    Minutos depois eu acompanhava tudo do alto na sacada de um prédio vizinho. Os bombeiros chegaram, começaram a apagar o fogo e alguns corpos começaram a ser retirados em macas de metal. Obviamente não criei expectativas com relação isso, pois quando um vampiro pega fogo ele vira cinzas rapidamente, e estava mais preocupado pensando em comop voltar para o lugar, pois ela poderia ter feito algum feitiço e se escondido.

    Três ou quatro horas depois eu tive de sair da varanda, pois os donos do lugar havia retornado. Neste momento o fogo já havia terminado, os bombeiros começavam a se retirar, deixando o lugar para os policiais. Voltei para o lugar em forma de névoa e para minha infelicidade ao voltar a forma humana, nem sinal da energia de minha hermosa  morena. Todos haviam aparentemente sucumbido a sua morte final…

    Chutei, empurrei, baguncei a bagunça e por fim desolado, cai de joelhos ao chão carbonizado…

  • A vampira pin-up – pt2

    A vampira pin-up – pt2

    Todos sabem das cousas que conto sobre meus irmãos e falar de si próprio é sempre algo difícil, mas para que entendam melhor como eu levo as minhas noites, deixo-lhes uma frase do grande Giacomo Casanova: “Economia em prazer, não é pra mim.”

    Baseando-me nesta ideologia estimulei a conversa entre Eleonor e o tal vampiro, pianista e galã cheio de dedos na esperança de que ele nos apresentasse a beldade pin-up. A conversa foi rápida, mas trocamos muitas dicas e detalhes interessantes, que nos proporcionaram inclusive alguns contatos Wampir relacionados à moda da cidade. Além disso, para minha felicidade ele nos convidou para uma apresentação mais íntima, aonde a maravilhosa Josephine iria se apresentar apenas para um grupo seleto de amigos.

    Na noite seguinte fizemos um pequeno tour, marcamos algumas reuniões e visitamos algumas lojas, onde inclusive tive de carregar as muitas sacolas de minha doce morena consumista. Programas de índio a parte e finalmente nos sobrou tempo para ir a apresentação com os tais amigos selecionados de Josephine.

    Se o Queens of the Stone Age fizesse um som naquela época, certamente estaria rolando Make It Wit Chu quando eu revi a sensacional gringa pin-up. Jeans colado, camisa amarrada entre s seios e lenço na cabeça. Apenas as lentes verdes de seu ray-ban aviator separavam seus lindos olhos dos meus… – Estou apaixonado – Pensei  comigo.

    O tal músico nos avistou logo na chegada e fez as devidas apresentações – Encantado – Disse eu babando e esbanjando toda a elegância europeia que me fosse possível. Porém, para minha surpresa ela ignorou o beijo que tentei lhe dar na mão e  me deu um abraço seguido por beijo carinhoso no rosto, aliás fez o mesmo com Eleonor.

    Conversamos muito rapidamente, aquele básico “Oi tudo bom fiquem a vontade, amigos do fulano são meus amigos…”, seguido por ais apresentação que me frustraram um pouco. Afinal meu ego dizia que seria mais fácil a aproximação com aquela pinup cheia de atitude. Além deles havia mais dois casais de vampiros e três humanos.

    Fizemos amizade fácil e eles adoraram o fato de que naquela época éramos empresários da moda brasileira, ainda mais cariocas. Assim como hoje o conhecimento sobre o Brasil não era tão grande, mas Carmen Miranda e o fato de o Brasil não ter participado com tanto afinco nas duas guerras rendeu boas conversas.  Vários minutos haviam se passado e antes do amanhecer fomos convidados a visitar o espaço vampiresco do lugar. Um porão muito grande, repleto de cômodos aconchegantes e onde a festa continuaria com a apresentação de Josephine numa sala grande, cheia de almofadas e iluminada por várias velas.

    Confesso que havia ficado um pouco chateado pelo fato de não ter recebido tanta atenção por parte da diva, mas a noite continuaria e aparentemente cheia de surpresas. O vampiro se acomodou com um violão e olhando fixamente para Eleonor começou a tocar algo caliente, provavelmente flamenco ou algo do gênero. Depois de alguns instantes surgia Josephine, avassaladoramente sexy num vestidinho carmim curto, que realçava ainda mais suas formas voluptuosas.

    Entre um rebolado e outro ela dançou entre nós de olhos fechados, envolta por vezes no que parecia ser um transe inconsciente e que rapidamente nos contagiou. Lembro-me de um intenso perfume de hibiscos antes dos primeiros humanos sucumbirem à dança, seguidos na sequencia por todos nós.

    Todo estase gerado pela intensidade do mantra, provavelmente misturado há algum feitiço não poderia terminar de outra forma: orgia. O sangue dos humanos, vários corpos nus entrelaçados uns aos outros numa interminável batalha pelo prazer. Bocas, saliva, mãos, gemidos longos e todos aqueles gostosos barulhos emitidos quando a pele de um se esfrega continuamente a pele do outro…

  • A vampira pin-up – pt1

    A vampira pin-up – pt1

    O lugar era pequeno e bem arrumado, pouco mais de 10 mesinhas de madeira escura com 2 cadeiras cada e que dividiam espaço com o balcão de bebidas e um palquinho oculto por cortinas vermelhas. Havia ainda um grande piano preto, onde um músico vampiro tocava algo sombrio, lento, triste e certamente atemporal. Algumas pessoas estavam conversando em pé e o papo não podia ser outro, a apresentação burlesque de madame Josephine e suas adagas.

    A época era algo em torno dos anos 40 e 50, o lugar um cabaret de New York, os personagens Eleonor e eu Ferdinand, em busca de novidades para nossas fábricas de roupas brasileiras. Para quem não sabe New se tornou o novo centro da moda depois da segunda guerra mundial, possuía vários estilistas envolvidos nas produções para Hollywood e para minha mim ainda havia um motivo a mais. Eu queria muito conhecer as legítimas pin-ups norte americanas.

    Tanto a viagem de ida como de volta tivemos muitas paradas, turbulência e incômodos em função de nossa situação vampiresca. O que um humano faria em no máximo um dia nos custou quase três dias e noites para cada trecho. Hoje em dia os voos particulares ou o Google Maps facilitaram muito as cousas…

    Cerca de uns 30 minutos depois que chegamos ao cabaret a musica parou, as pessoas foram ficando em silêncio e quando a ansiedade proposital tomou conta de todos o pianista retornou junto de um guitarrista. Alguns estalos e estampidos, duas ou três dedilhadas e começava um blues leve, uma espécie de som lounge que deu um clima interessante ao total breu que nos envolvia. De repente sinto uma brisa, aquela energia vampiresca tomando conta do lugar e um spot ilumina as cortinas.

    O som nos contagiava, fazia as pernas balançarem involuntariamente e até mesmo as mãos queriam batucar, enquanto algo ganhava forma atrás dos panos. Novamente um apagão, cortinas e lá estava aquela escultura em forma de mulher (vampira). Vestidinho preto com bolinhas brancas e notavelmente curto para a época. Pele branquinha, cabelos longos pretos brilhantes e com penteado de topete pin-up. Aquela boca, vermelha como quem havia passado um belo batom chamativo carmim ou acabado de se alimentar. Tudo isso, alinhado perfeitamente aos brincos esmeralda, que complementavam a maquiagem escura em torno de seus lindos olhos verdes e grandes.

    Sim confesso, babei… Até mesmo Eleonor, que é outra beldade se incomodou ao ver os atributos da belíssima Josephine. – hunf, vestidinho barato! – Comentou ela “se mordendo inteira”. E toda aquela inveja ficou ainda maior quando a beldade pin-up soltou a voz interpretando clássicos como Autumn In New York de Jo Stafford e I’ll Walk Alone da gotosíssima Dinah Shore.

    Depois de mais ou menos uma hora com muitas músicas a vampira voltou para trás das cortinas, as luzes se apagaram e o guitarrista tocou algo mais pesado. Ao mesmo tempo em que o pionista vampiro soltou sua viz, em algo que me lembrou muito as músicas de Elvis, a pin-up cortou as cortinas com suas adagas e iniciou seu famoso burlesque.

    Inicialmente ela dançou um pouco, fez cara bocas e esbanjou aos olhos concentrados de todos aquela deliciosa sensualidade e sexy appeal. Entre uma passada e outra entre as mesas ela ia cortando o vestido. Até que finalmente ficou apenas com de liga, scarpin de salto alto e exibindo a quem quisesse ver, aqueles belos seios fartos.

    Aplausos de pé, flores ao palco e vários assovios. Alguns mais exaltados inclusive gritavam amazing, fabulous, divine enquanto as portas do lugar foram abertas e aparentemente iam-se embora. Meu lado Casanova estava extasiado, eu precisava conhecer aquela deusa e por sorte o pianista nos reconheceu. – É sempre bom ter sangue novo por aqui – Disse ele em tom amigável. Eleonor foi a primeira a se apresentar e obviamente chamou atenção do vampiro com seu jeitinho meigo e inglês com sotaque carregado europeu.

    Vocês se lembram de minhas outras histórias quando eu falei que nestes anos eu estava um tanto rebelde e alheio aos pudores ridículos da sociedade daquela época? Bom, na próxima parte falarei do meu primeiro contato “mais íntimo” com Josephine…

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Final

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Final

    Noutra noite qualquer Franz também apareceu por terras paulistas e lá estávamos nós três juntos, como no inicio de minha vida vampiresca na Alemanha. Está certo que sempre ficávamos os três sozinhos em tantas outras ocasiões, aliás, belas e profanas ocasiões. Porém desta vez havia algo a mais, havia minha busca frenética por um grupo de magos/bruxas e por uma loira sem rosto e que mesmo sem eu conhecer, já estava tirando o meu sono.

    São Paulo é a quarta maior aglomeração urbana do mundo. São quase 30 milhões de pessoas e dentre elas são muitos os estudantes de Magia. Nesse contexto, certamente se tu não tiveres alguns bons contatos seria uma busca daquelas do tipo agulha no palheiro. Porém, como eu sempre fui muito bem assessorado, concentramos as buscas em alguns grupos isolados e que ao todo não passava de mil pessoas.

    E lá se foram outras noites em busca de mais informações até que na metade da madrugada de uma sexta, recebo uma mensagem de Joseph: – Mon ami, encontrei uma pista interessante, nos falamos no hotel Au revoir. Je dois partir...

    Perto das 3h da manhã eu voltei para o lugar e lá estava Joseph sentado no sofá mexendo em seu Nokia N95, junto de Franz que apenas assistia TV. Ao me ver Joseph largou o celular num canto, me cumprimentou estendendo a mão como sempre fazia e contou sobre suas descobertas. Ele havia achado um pesquisador especializado em bruxaria, professor de história da USP e que lhe forneceu mais detalhes sobre as Strega e suas ramificações no Brasil. Ele também soube de uma tal de Pietra, taróloga e conhecida adepta da Stregheria, porém esta não foi localizada para nos fornecer informações.

    Então, baseado em tudo o que havíamos encontrado decidi que deveria ir para a Itália. Cruzar o oceano por causa de sonhos e visões Ferdinand? Sim, minha cara leitora. Eu havia retornado recentemente de uma longa hibernação de 50 anos. Período no qual minha cabeça deveria ter sido curada deste tipo de incomodo e eu realmente queria começar “vida nova”.

    Algum tempo na Itália, algumas noites junto de meu amigo e mago kieran na Inglaterra e muitas das dúvidas, inclusive os feitiços do livro havia sido resolvidos. Meus pesadelos haviam acabado junto da leitura do tal livro e eu decidi retornar ao Brasil.

    Em junho deste mesmo ano a rotina havia retornado as minhas noites, muitos dos negócios do nosso clã estavam novamente em minhas mãos e lá estava eu novamente procurando o que fazer, quando recebo um sms de Franz: “Ocupado hoje? Estou pensando em chamar alguns amigos e fazer aquela nossa tradicional noite de comes e bebes, vens?”.

    Confesso que a monotonia tomava conta de mim e também não estava nenhum pouco empolgado em sair de casa naquela noite. Porém como as festas do Franz são sempre empolgantes e agitadas, resolvi tomar um banho e parti para o tal lugar. Salão de festas de um prédio qualquer e vários humanos dividindo espaço com os vampiros de nosso clã.

    O mais engraçado destas festas é que Joseph e Franz sempre davam uma de “chef” e inventavam pratos exóticos para os convidados. Nesta em específico eles preparavam Sushi e tão logo cheguei já foram pedindo ajuda para enrolar as algas com arroz, salmão e afins…

    Tudo ia bem, eu já estava empolgado com a festa e inclusive havia encontrado uma garota alvo, no qual imaginava ter algum tipo de afair mais tarde. Quando olho para uma das janelas e vejo vindo ao longe uma garota loira de calça jeans e um casaco com capuz cobrindo seu rosto. Isso foi o suficiente para eu parar o que estava fazendo, limpar os olhos, olhar para os lados, me beliscar e piscar várias vezes na intenção de ver se era mesmo realidade.

    Mesmo assim a garota continuava vindo em direção a festa. Procurei alguém mais próximo, que por sorte era Joseph e apontei perguntando: – Estou vendo cousas meu amigo? – E para minha sorte ele me respondeu com um sorriso no olhar: – Acalma-te mona mi, também estou vendo!

    Alguns segundos depois a garota entra, cumprimenta os conhecidos pelo caminho e ao chegar próxima de Franz, tira o capuz deixando seus lindos cabelos loiros à mostra e da um oi do tipo “geral”.  Franz de imediato limpa as mãos com uma toalha, a coloca no ombro e se vira para mim dizendo: “Beth este é o meu irmão Ferdinand, que chegou recentemente da Alemanha”.

    O meu querido e tagarela Franz diz que “…quando eles se olharam os olhos de ambos brilharam, eles se concentraram um no outro e o amor podia ser visto na forma de corações estourando pelo ar…“ Poesias a parte, o papo inicial realmente foi muito bom. Compartilhamos muitas opiniões semelhantes e não tardou, até que surgisse algum tipo de confiança especial, que nos permitimos revelar os segredos sobrenaturais de ambos.

    O resto vocês já sabem e iniciava-se naquela noite nosso relacionamento. Um período no qual ela me ajudou a se readaptar ao mundo atual, ensinou quase tudo o que sei sobre bruxaria moderna e fomos muito felizes.  Apesar de seus poderes, humanidade e de minha condição vampiresca, o nosso relacionamento foi de vento em pompa até os últimos meses de 2011. Quando ela decidiu concentrar sua vida em seus aprendizados bruxólicos e partiu para uma longa jornada sozinha, em alguma parte deste ou dos outros mundos.

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 4

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 4

    Muitos dos mistérios, lendas e até mesmo profanações das civilizações antigas se baseavam na observação do céu e de seus astros e estrelas. Imaginem por exemplo o medo de alguém que vivia há 10000 anos quando ocorria um simples eclipse. Apesar disso, nem sempre esse tipo de situação foi temerosa e por vezes deve ter sido também um grande passatempo para muitos, afinal de contas, não havia celular, tv ou ainda menos a internet das noites atuais.

    Pensando nisso, eu sai do conforto de casa, transformei-me em lobo e fui para o mata próxima da fazenda. Onde durante uma longa corrida, pausada algumas vezes para descansar, cheguei ao alto de um dos montes. Lá de cima e novamente na forma humana e nu, pois eu queria estar mais próximo da terra, eu me deitei sobre uma grande pedra e fiquei por algumas horas apenas meditando.

    O processo de meditação foi incorporado as minhas rotinas de entendimento do mundo, nas idas e vindas pela casa de Kieran em meados de 1900. É poça em que a frase que ele mais dizia era: – Toda prática precisa de concentração, disciplina e esquecimento, tal qual a respiração, lembras?

    Inicialmente a meditação foi fácil, concentrei os pensamentos, deixei o corpo em estado de tranquilidade e imóvel. Porém, toda vez em que eu ia mais fundo nos pensamentos a imagem daquela garota loira, de capuz e sem face vinha aos pensamentos. Por que diabos isso? Seria ela a autora de tal obra nefasta? Seria algum aviso, seria Suellen querendo me chamando de alguma forma?

    Voltei para casa depois de mais alguns minutos em meio aquela confusão mental. – Por que eu tenho de ser assim teimoso, no sentido de por algo na cabeça e tentar resolver? – Era o meu pensamento constante em todo o trajeto de volta.

    Já em casa liguei para Joseph e quando ele retornou de sua “alimentação”, batemos mais um papo sobre os ocorridos. Ser assombrado, ou ter visões não é algo incomum para um Wampir, porém as que estavam ocorrendo comigo já haviam passado dos limites. Fato que nos fez ir atrás de mais pitas sobre o autor e as tais Stregas italianas.

    Sendo a fazenda um local tão isolado eu fiz as malas, juntei as cousas mais importantes e chamei Joseph para umas voltas por São Paulo e Rio de Janeiro. Reservei hoteis e na noite seguinte depois de avisar a todos, partimos em busca de mais informações. Obviamente a internet e até mesmo a deep web já haviam sido consultadas, bem como nossos informantes…

    Tendo como principal informação alguns entusiastas e estudiosos a respeito das bruxas, nós descobrimos facilmente um coven e onde seria sua próxima reunião. Duas noites se passaram desde que chegamos a São Paulo e com um carro alugado fomos ao tal pub na zona sul da cidade.

    Lugar bonito, escuro como todo pub e lá estavam mais ou menos 10 pessoas em uma mesa. Todos de preto, pentagramas no pescoço e alguns de moletom com capuz. Logo de inicio “apenas crianças brincando de bruxa”, foi o que me cochichou Joseph.

    Mesmo assim nos apresentamos: “Oi nos falamos pela internet…bla bla bla” E depois de alguns minutos eles realmente eram apenas crianças brincando de magia. Apesar de um deles ter potencial para bruxaria, inventamos uma desculpa qualquer e saímos à francesa. Ainda nesta noite aproveitamos para dar uma passada num dos negócios do Franz, uma casa de stripers, afinal nem tudo são negócios…

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 3

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 3

    Sonhos com Suellen, dias inteiros de sono profundo… Eu não queria que meus pensamentos adquirissem novamente aquela paranoia, no qual enfrentei antes da hibernação. O que havia em tal livro, que despertavam em mim os pensamentos mais obscuros e ainda me fazia ver uma loira de Capuz parecida com minha amada???

    Liguei para Sebastian e pedi para que ele fizesse algumas pesquisas com relação aos nomes e termos que havia encontrado no material. Falei com Joseph (Zé), que também achou o livro inusitado e resolveu ajudar. Além deles, também tentei contato com Kieran, mas nenhum de seus discípulos me retornou, aliás, é nesse tipo de situação que você percebe a importância dos contatos rs

    Noites depois, acabei deixando o tal livro de lado. Veio o Natal seguido pela virada de ano e algum tempo se passou até que numa noite qualquer e antes do carnaval de 2007, Joseph me surgiu com novidades. – Lembra-se du livre que j’ai pediu informações? Tenho bonnes informations à ce sujet. (Esse sotaque engraçado que ele tinha é uma das cousas que mais sinto falta).

    Nessa mesma noite ele me deu uma pasta de arquivos, nela além de diversos artigos impressos, havia também o que parecia ser o casco de uma árvore marrom escuro  e um saquinho de plástico transparente contendo um material arenoso e amarelado. Depois de olhar o material encontrei uma folha de instruções e lá estava o tal «Ritual de troca de posse do dono do livro»…

    Ansioso que sou eu já queria fazer o tal ritual naquele mesmo instante, porém como precisava de um lugar aberto tive de esperar até a noite seguinte, que por coincidência era sexta-feira de carnaval. Além disso, Joseph estava com tempo e decidiu que iria ajudar no que fosse possível.

    Preparamos os ingredientes : Uma toalha de algodão virgem, um punhal, a tal casca de Freixo, algumas gramas de enxofre ou breu e algumas velas. O local precisa ser próximo de alguma árvore e de preferência que esta fosse ao lado de água corrente. Não vou descrever o procedimento todo, mas depois que o altar foi montado e com as devidas entidades convocadas, eu precisei me cortar e derramar parte de meu sangue sobre a capa do livro.

    Depois disso, misturamos o pó de enxofre ao sangue e embrulhamos tudo com o tecido. Dispersamos as entidades, desfizemos o círculo, limpamos o lugar, nos lavamos no riacho e voltamos para a casa da fazenda. O livro deveria ficar naquele pacote por 3 luas, ou seja, próximo de junho eu poderia abri-lo e ver se tinha dado certo. Este é um bom exemplo do por que de eu nunca ter me envolvido a fundo nas práticas ritualísticas, não tenho paciência para esperar tanto tempo, ainda mais com algo que pode nem dar certo.

    Novamente em casa, Joseph me falou mais sobre o que havia descoberto sobre o livro e em específico sobre a Stregheria italiana e suas Janara Strega di Benevento. Um dos grupos de magia mais antigos e com raízes que remontam o século XIII. Contudo, pouco do que ele  descobriu possuía relevância, afinal este tipo de assunto é sempre repleto de muito  misticismo e lendas. Tanto que ao final da noite, eu já duvidava que o tal ritual de desapropriação do livro pudesse dar certo…

    Histórias, dúvidas e bruxarias a parte e como era carnaval, resolvemos cair na festa. Longe da fazenda, longe dos lugares conhecidos… Franz, Joseph, Eleonor e até mesmo Sebastian estiveram ao meu lado nas comemorações. Sete dias de orgias e todas as safadezas vampirescas que tu podes imaginar, pois dentre vários fatores, fazia tempo que não conseguíamos juntar o clã para uma «festinha»…

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 1

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 1

    “…A caligrafia do Livro deve ser firme, clara e bela. Na fumaça do incenso é difícil ler os conjuros. E enquanto tenta ler as palavras por entre a fumaça, ele desaparecerá, e terás de escrever aquela terrível palavra: Fracasso.”

    ―Aleister Crowley

    Quando fui acordado em 2005 depois de 50 anos hibernando nos braços de Morpheus, eu levei algum tempo para me readaptar. Todo Wampir que já hibernou alguma vez, enfrenta esta fase de uma forma muito pessoal e eu não fui diferente. Por incentivo de Joseph e Sebastian, ambos ratos de biblioteca, eu fiquei até meados de 2008, lendo sobre tudo que me aparecia. Livros, revista, internet, até bulas de remédios ou rótulos de produtos nos supermercados foram meu passatempo até que em fim montei este site em 2008.

    Dizem que esta hibernação pode recuperar a sanidade de um vampiro e foi por isso que tomei tal decisão nas idas e vindas pelo Rio de Janeiro dos anos 50. Alguns chamam esse processo de realinhamento de xacras, outros de cura da alma e eu só tenho a dizer que voltei “novinho em folha” e pronto para mais 100 anos de muitas peripécias…

    Mudando então de assunto, mas nem tanto, foi nesta época de muitas leituras que encontrei um livro especial nas cousas do Barão. Este material cujo nome não posso revelar e que chamarei por aqui de “Livro de bruxarias da Madame Borgia”, me despertou um interesse ímpar. Afinal, entre tudo o que o autor(a) anotou, há também muitas poções e rituais interessantíssimos.

    Na verdade, o livro é apenas a ponta de um iceberg que me levou a outra grande aventura, cujo fim será digamos revelador. Pois bem, deixando o contexto histórico de lado voltemos a uma sexta-feira e que por coincidência era  dia 13 de outubro de 2006. Não sei o que vocês faziam neste dia, mas eu estava em nossa casa da fazenda. Era uma noite quente, úmida e como todo final de ano no Brasil havia aquele clima Natalino onde todos só falavam disso, TV, internet, lojas decoradas, casas decoradas…

    Fazia quase um ano que eu havia voltado de meu sono e mesmo assim esta sempre me foi uma época difícil, pois sempre me recordo muito de minha família mortal. Obviamente chateado e triste decidi ligar o rádio e lá vinha o senhor Eric Clapton com sua famosa Layla.. Para quem não conhece a letra da música começa assim:

    “What will you do when you get lonely
    and nobody´s waiting by your side?
    You’ve been running and hiding much too long
    You know it’s just your foolish pride”

    Eu gosto desta música, gosto também do ritmo e do famosíssimo refrão: “Layla, you’ve got me on my knees… bla bla bla”, mas sabe aquele dia em você presta atenção na letra? Caso não tenhas reparado mancebo, a letra é um belo tapa na cara logo de início, onde o autor deu a entender algo do tipo: “Deixa de ser orgulhoso e faça alguma coisa seu babaca”.

    Para piorar mais ainda minhas ideias não havia mais ninguém comigo naquele dia. Franz havia saído com Eleonor, Sebastian e Joseph estavam em outro cidade/mundo e nenhum dos serviçais Ghouls da fazenda me instigavam a atenção a ponto de eu puxar assunto. Tento em vista isso tudo, eu comecei a vasculhar as coisas antigas em busca de algo que me distraísse.

    Quando um vampiro hiberna é como se ele fosse fazer uma mudança então imagine muitas cousas que eu possuía encaixotadas, fechadas ou entulhadas em uma grande sala de jogos, aquela sala onde você joga tudo a ponto de esquecer que possui e aos moldes dos problemáticos acumuladores.

    Uma caixa com objetos variados, outra com lembranças, outras tantas com coisas inúteis tipo talheres de prata, se bem que a prata na pior das hipóteses pode ser derretida… Enfim, fucei tudo até que finalmente achei mais uma com livros. Porém, estes eram do barão e eu não deveria mexer. Sabe quando você acha algo velho dos seus pais e surge aquela curiosidade?

    Manuscritos sobre biologia, química, algumas cartas… Até que finalmente encontro um pacote muito bem embalado com um tecido bege e lacrado com cera preta. Cujo carimbo não consegui identificar. Naquela de abrir ou não, eu simplesmente deixei de lado o fato de ser um vampiro, o fato de aquilo ser algo do meu mestre e toda aquelas cousas que nos falam sobre educação ou boas maneiras. Minha curiosidade sempre foi minha maior virtude e defeito, não é mesmo?

    Dito e feito, logo que rompi o selo do pacote, senti algo diferente, tal qual uma espécie de calafrio inesperado, daqueles que arrepiam os cabelos da nunca de qualquer um. Embalagem para um lado e em minhas mãos um livro grande de mais ou menos umas 500 páginas e uma bela capa de couro texturizado. Não havia cadeado, mas uma simples fechadura daquelas de empurrar uma bolinha para cima e outra para baixo. Ao abrir, as páginas se estufam dobrando de tamanho e algumas cousas caem de seu interior.

    Dentre as cousas que caíram havia uma pena negra, um pingente aparentemente de prata com formato de pentagrama e algum tipo de pó, que simplesmente misturou-se ao ar. Guardei tudo nos bolsos e fui para a sala, onde passei o resto da noite folheando e folhando até apagar…

    Suellen? Quem é você? Não brinque comigo garota tire logo esse capuz!!!

  • Rio de janeiro sec. XX

    Rio de janeiro sec. XX

    Olá tudo bem? Quem acessa meu site há algum tempo sabe que por vezes eu dou minhas sumidas. Todavia, o que eu realmente faço quando desapareço por algumas noites? A resposta está abaixo em mais um relato de época…

    Já falei diversas vezes por aqui sobre o inicio de século 20, época no qual tive o prazer de viver ao lado de minha querida Eleonor e logo depois de voltamos da Europa. Onde estivemos por quase 50 anos em meio aquelas pessoas geladas, no qual o clima por vezes nem era o que mais incomodava.

    Este início de século me foi uma época muito boa por vários motivos. Precisei reencontrar minha humanidade, tive de me readaptar aos novos modos brasileiros e além disso, ganhei responsabilidades novas. Afazeres que muitas vezes não eram o que um ser eterno gostaria de fazer, ou pensa que gostaria como a tão almejada liberdade de ir e vir. Afinal ninguém é livre, nem mesmo nós.

    Apesar dos pesares, gostei muito desta época por ser o inicio da era moderna. Naqueles anos as pessoas, ao menos aquelas dos ambientes urbanos estavam melhorando seus hábitos relacionados a higiene. Questão que na minha opinião é muito importante, afinal de contas quem gosta de se alimentar de algo sujo? Eu nunca fui fã de pessoas sujas ou maltrapilhas em minhas degustações, salvo as vezes em que é necessário. Aliás, dizem que isso é um dos meus defeitos…

    Nas décadas de 1900 e 1930 no Rio de Janeiro, eu pude acompanhar a grande mudança nos transportes de longas distâncias, como quando em 1927 em que os primeiros aviões comerciais começaram a substituir os tradicionais navios a vapor. Além disso, os famosos “bondinhos” do Rio que existiam desde 1859 começaram a dividir espaço com os carros particulares.

    Todas essas mudanças nos meios de locomoção encurtaram as distâncias e facilitaram muitas cousas, principalmente o transporte de mercadorias. Tendo em vista, este cenário e nossa experiência adquirida anteriormente na Europa no que diz respeito a fabricação de roupas, Eleonor teve a genial ideia de montar uma filial em terras tupiniquins.

    Nestas noites difíceis entre pesadelos e sentimentos ruins nós procuramos por diversos espaços que comportassem nosso negócio. Por se tratar de uma construção complexa que exige diversos componentes naturais e políticos, nós optamos por atuar diretamente com nossos Ghols. Fazendo com que eles fossem os “laranjas” e assim nos protegíamos ao mesmo tempo que agregávamos moral as negociações.

    Então depois de vários investimentos o negócio ia de vento em pompa até que veio a maldita política de 30, onde o governo louco brasileiro sacaneou muitos industriais em favorecimento da economia cafeeira. Foi quando resolvemos vender a fábrica antes de ter prejuízo.

    Depois disso, minhas crises existenciais pioraram de tal forma que eu vivia de pândegas e boêmias. Meu relacionamento com Eleonor rumava para o fim, porém por sorte ela se mantinha firme. Controlando como podia os negócios de nosso clã, função que na verdade era minha.

    Então os anos se passaram e eu resolvi hibernar. Franz se manteve a frente do clã junto de Eleonor, Sebastian e Joseph. Na verdade, diz ela que foi nesta época em que eu e o Barão hibernávamos que o clã realmente se uniu. Como eu digo, pelo menos a minha desgraça teve uma parte boa…

    Depois que retornei ao mundo em 2005, encontrei uma organização nunca antes vista em nosso clã. Parte proporcionada pelas novas formas de gestão via computador e noutro lado por causa de Eleonor e seu jeito mãezona. Depois disso, eu já comentei por aqui sobre o meu retorno a liderança do clã, sobre meu novo afair com Eleonor e acredito que não preciso dizer por que atualmente ela vive isolada, apenas cuidando da filha da falecida Stephanie.

  • Um vampiro invisível?

    Um vampiro invisível?

    A noite estava fria, uma densa névoa insistia em ocultar a maioria dos prédios ao meu redor e lá estava eu num dos meus apartamentos próximo ao centro. Estar próximo ao centro de uma cidade é sempre muito vantajoso com relação à acessibilidade, principalmente aos bares, lojas de todos os tipos, ambientes culturais e tudo mais que possa servir de apoio à vida eterna de um vampiro.

    Todavia, estes mesmos centros suportam também muitas cousas ruins, tais quais: criminalidade, excesso de pessoas, trânsito, polícia e todo tipo de caçadores que um sobrenatural possa imaginar. Os antigos inclusive, nos dizem para nos ausentarmos o máximo possível de tais lugares, porém eu mesmo sou a prova de que o “agito” é totalmente viciante.

    Então, enquanto eu assistia a um bom filme, praticando aquele gostoso ócio, surge-me aquela tradicional presença de algum ser sobrenatural. De início devido à distância do fulano eu não soube definir o que era. Porém, à medida que ficava mais próximo eu soube com exatidão que era um Wampir e a cada segundo a mais que passava algo me dizia que era provavelmente um conhecido.

    Sabe aqueles momentos em que você não espera visitas, não agendou nada e ainda por cima quer curtir uma noite de sossego fazendo o simples “nada”? Calma, isso ainda vai piorar… Já apostos e preparado para o que pudesse surgir, sinto o tal Wampir perto do prédio. Aparentemente é apenas a sensação da presença e nada físico ou audível surge aos meus sentidos aguçados.

    Certamente, algum poder estava sendo utilizado e antes que pudesse ser surpreendido, parti para um dos quartos, onde noites atrás eu havia guardado a “caixa”. Esta nada mais é do que uma caixa de madeira, tratada de forma hermética e onde guardo algumas poções, amuletos e demais utilidades que a vida sobrenatural me obrigou a colecionar.

    Confesso que ser surpreendido nunca é bom, mas rapidamente liguei alguns fatos e lembrei com precisão das aulas que tive com o falecido Joseph (saudades do Zé) sobre invisibilidade. Inclusive, achei um saquinho de tecido onde ele havia escrito algumas palavras e eu outras por cima: “Apenas dois poderes avec une réelle visibilité, estes somente les vieillards dominavam. Juste au cas ou autre sempre tenha consigo algumas feuilles des lespedezioides para a magia…”.

    Daquele instante em diante, minha noite de calmaria virou o mais absoluto caos. Alguns objetos da sala começaram a levitar, outros simplesmente caiam ao chão e até mesmo as cortinas balançavam sem o sopro de qualquer vento. Fatos que me puseram a preparar uma anti-magia. Concentrei-me enquanto mascava as folhas de lespedezioides e com o punhal ritualístico cortei a palma da mão esquerda. Misturei a pasta com o sangue e disse as palavras mágicas… Silêncio… Tudo imóvel e calmo novamente, mas por pouco tempo. Segundos depois sou surpreendido por um novo barulho do lado de fora, daqueles onde algo grande cai e se espatifa ao chão.

    Sendo minha curiosidade algo tão evidente, eu não me contive e fui rapidamente a janela ver o que era. Imagine a minha surpresa ao ver Letícia, a vampira ruiva, imóvel ao chão. Por sorte ela havia caído num gramado escuro e oculto do jardim lateral, o que facilitou o seu “resgate”.

    Uma coisa é a Julie ou a Beth com suas brincadeirinhas, outra é uma novata vindo desrespeitar o meu doce lar. Confesso que a minha vontade naquele instante era de deixá-la no quintal para que o sol levasse a sua alma para o inferno, mas seria complicado explicar tudo para o seu mestre. Então, por via das dúvidas acabei levando-a para o apartamento onde ela dormiu por mais uma noite e dois dias.

    Existem poucas regras em nosso mundo, mas certamente brincar com um vampiro mais velho pode até mesmo ser punido com a morte final. Sinceramente, mesmo depois de ela ter dito que tudo não passava de uma brincadeira, eu ainda tive vontade de perfurar cada uma de suas unhas com várias agulhas. Todavia, pensando na aliança entre nossos clãs, mandei-a de volta ao seu criador. Ao menos por uns tempos não verei a cara da infeliz.

    Obviamente aqui estou eu vendo os classificados de imóveis…