Tag: conversa

  • Uma nova jornada – Parte VI: novas experiências

    Uma nova jornada – Parte VI: novas experiências

    – Becky você irá me matar desse jeito!

    – Só se for de prazer, dear. Novas experiências devem ser sempre bem-vindas…

    Naquele momento, eu não podia evitar o sorriso e o desejo que transpareciam em meu rosto. E, afastando a sede pelo sangue de Lorenzo lembrei-me que após aquela noite, demoraríamos um tempo para ter momentos juntos e íntimos novamente.  Após aquela típica festa de fim de ano, eu já havia passado pelos primeiros processos e soube que meu pequeno treinamento seria semelhante ao de um iniciante para que eu pudesse vivenciar todas as etapas com maior aprofundamento. Antoni me acompanharia, para dar suporte quando necessário. Tive algumas aulas teóricas, conhecendo um pouco da história e métodos do clã. Fiz alguns testes básicos na qual me destaquei e fui avisada de que a partir de então, algumas fases poderiam se tornar mais difíceis, pois testariam meus limites, para aflorar meus poderes e instintos.

    – Vou sentir sua falta – Disse Lorenzo ofegante, interrompendo meus pensamentos. – Você realmente precisa desse… “isolamento”?

    – Parece que sim. – Falei desanimada ao lembrar esse detalhe – Mas, serão só alguns dias, querido.  Estive pensando. Você não sente falta de sua vida, digo antes disso tudo?

    – Às vezes sim, às vezes não. Era uma vida vazia. Estou contente por estar com você… Antoni tem uma aparência atraente, não acha? – Falou mudando repentinamente de assunto.

    – Sua aparência às vezes me deixa encabulada, na realidade. – Por um instante parei – Lorenzo, Antoni lhe atrai?

    – Atrairia se fosse um tempo atrás. E a você? Ele atrai?

    – Aonde quer chegar com isso? Como falei, fico apenas encabulada. Você deve saber o motivo…

    Felizmente, Lorenzo não insistiu no assunto, afinal, isso não era da conta dele. Um tempo depois, a senhorinha de olhos cor de mel ajudou-me a organizar o novo quarto na qual eu ficaria. Este em um local mais afastado dos outros aposentos. E durante nossas conversas ela revelou chamar-se por Lúcia. Havia sido uma serviçal de confiança para Antoni, durante décadas. Mas, com a idade ficou com a saúde debilitada e então, foi transformada. Imaginei que ela deveria ser muito importante para ele, e me sensibilizei com sua história. Durante todo o dia, descansei, li algumas instruções que me haviam sido deixadas, e mais alguns livros. Mais tarde, tomei um longo banho e enquanto me preparava alguém bateu na porta.

    -Posso entrar?

    Era Antoni.

    – Claro, fique a vontade. – Falei enrolando-me em um roupão de seda.

    Sentando- se ao meu lado, parecendo ignorar minhas condições pós-banho, comunicou-me que enquanto eu estivesse em meu treinamento, enviaria alguns professores e Ghouls de confiança para algumas atividades com Lorenzo. Aulas básicas de luta corporal, e até de alguns pequenos feitiços, caso ele mostrasse potencial.

    – Isso é ótimo. O manterá ocupado e menos entediado… Bom, o que faremos a partir de agora? – Aproveitei para perguntar.

    – Primeiro gostaria de lhe levar a um lugar. Vamos? – Falou esperançoso.

    – É… Tudo bem. Irei apenas me vestir, digamos, adequadamente. – Falei duvidosa.

    – Não há necessidade. É aqui perto… – Falou pegando minha mão já me conduzindo, sem me dar tempo para falar algo.

    Toda aquela pressa me deixou receosa. Mas, ainda não havia conhecido o lado “informal” e jovial de Antoni…  Assemelhando-se a um garoto ao me levar por algumas escadas até a parte mais alta do casarão.  Fazendo-me até rir em alguns momentos por tamanha empolgação. Ao chegarmos, ele abriu uma porta que dava acesso a uma grande sacada. Parei por alguns instantes, vislumbrada. Era uma paisagem e tanto. O céu escuro destacava suas estrelas. A lua, imponente, iluminava toda a fazenda. Era possivel ver as montanhas cobertas por gelo e toda a propriedade. Ouvir as vozes das pessoas conversando e os animais ao longe. Ficamos em silêncio por longos minutos, nunca havia sentido tamanha paz desde que… Enfim, fazia muito tempo. Olhei para Antoni que me esperava sair daquele momento de devaneio e vislumbre.

    – Eu costumo vir aqui sempre que tenho algo importante no que pensar ou para qual me preparar. – Disse ele, tranquilo – Sinta a energia que todo esse ambiente é capaz de lhe proporcionar, não é renovador?

    – É sim! – Falei voltando a admirar a vista.

    – Rebecca… Quero que guarde essa sensação com você. Essa energia pode ser muito maior. Mas antes, você precisará passar pelo isolamento, o que não é algo fácil. Já iniciou o jejum? – Perguntou-me.

    -Bom, na verdade estou sem me alimentar de verdade, desde que chegamos. Mas, meu problema não é esse.

    – Então, faz quase uma semana? Qual o problema?

    – Uhum – Falei preocupada – Não é tanto tempo assim, mas não quero chegar ao ponto de perder o controle. Isso é necessário Antoni? Digo, o isolamento?

    -Você não chegará a esse ponto. Mas, o jejum e o isolamento são importantes sim, para o primeiro ritual que participará conosco. Estude as instruções que lhe deixei. E lembre-se, estarei ao seu lado. Fique tranquila. – Falou aproximando-se.

    – Obrigada. Estudarei sim e, acho que ficarei bem. – Falei desviando o olhar.

    Antoni parou por alguns instantes, talvez pensando nas palavras certas. Mas sabiamente, resolveu deixar tudo como estava. Senti a brisa tocar meu rosto e ao guardar aquela sensação comigo, resolvi que era hora de me recolher, afinal não havia tempo a perder. Agradeci a Antoni novamente, e deixando-o voltei ao meu quarto para algo que lá no fundo ainda me apavorava… O isolamento.

  • Uma nova jornada – Parte II: conversa entre amigos

    Uma nova jornada – Parte II: conversa entre amigos

    Aquele som de telefone em espera e eu, cada vez mais ansiosa. Então, finalmente ouço sua voz grave e divertida:

    – Hey Becky, qual é o ar da graça?

    – Oi Fê! Muito ocupado? Está a fim de sair para bater um papo? Ter uma conversa num lugar bacana…

    – Humm como sabes que estou sem planos para hoje à noite? Tá sabes que não nego um “rolê”, ainda mais com essa lua gigante no céu. Te encontro ai antes da meia noite!!

    – Ok, cinderela, até daqui a pouco, então… – Brinquei.

    – Hey! Cinderela não!! Sabes bem que no meu conto de fadas eu tô mais pra “lobo mal”. – Falou fingindo repreensão.

    – Em pele de cordeiro, claro… – Completei.

    E naquele momento, imaginei que meu amigo deveria ter revirado os olhos e caído na gargalhada enquanto desligava o telefone. Avisei Lorenzo que iria sair por algumas horas, troquei de roupa e ao sentir a presença de Ferdinand por perto, peguei minha Gucci e desci calmamente o elevador, até me deparar com aquele loiro de olhos azuis.

    – Pra quem precisava de um lugar tranquilo… Acho que essa aqui é uma das ruas mais calmas da cidade!

    – Já ouviu que é mais fácil se camuflar em uma multidão? Mas, aqui é um lugar tranquilo, sim. Os bares e restaurantes são boêmios, há cafés, pubs e os frequentadores são na maioria pessoas maduras, não vejo arruaças por aqui. Vamos caminhando? Tem um lugar bacana por perto!

    – Vamos, vamos. Tu com essa empolgação de sempre… – Exclamou, esticando o braço e fazendo a frente para irmos.

    Enquanto caminhávamos, jogávamos conversa fora em meio a risadas devido ao Fê e suas piadas sem graça. Chegando a um restaurante típico italiano, sentamos em uma mesa discreta.

    – Em que posso servi-los?- Disse o garçom, se aproximando.

    – Nos traga uma garrafa do seu melhor vinho, querido. – Pedi tentando afastá-lo rapidamente.

    Não bebemos o vinho, claro, mas desse modo nos deixaram ter nossa conversa.

    – Então, brincadeiras a parte, o que tu me contas? – Questionou Ferdinand.

    – Na verdade Fê, eu gostaria da sua opinião. Recebi um convite.

    – Um convite, sei!?

    – De Antoni.

    – Do gêmeo do babaca lá do Erner???

    – Do gêmeo do babaca do Erner… Ele pediu desculpas, falou em redenção e nos convidou para passar ao menos uns tempos com o clã dele.

    – Nos convidou?

    – Eu e Lorenzo.

    – Humm…

    – O que acha disso? Ele não tem obrigação de concertar o passado, e coisas que não fez. Mas…

    – Bom, tu que sabes. Se vai te fazer bem, não vejo mal algum em buscar mais conhecimento. Mas, me diz uma coisa. Essa cabecinha linda tem algum motivo em especial para ir?

    – É… Não. Só curiosidade, vontade de aprimorar meus poderes, eu nunca tive um treinamento eficaz. Aprendi tudo sozinha, vamos ver como me saio por lá…

    – Tá, já sei. Está se sentindo carente e desamparada sem um mestre….

    – Eu carente? Sabes que não. – Falei mostrando a língua e rindo – Não é isso. Na verdade, nem sei o que é ter um mestre, de fato. Mas, a Eleonor me ajudou muito e tenho você agora. Mas, com eles é diferente.

    – Tudo bem, vai. Vai tranquila, só espero que não resolva ficar por lá definitivamente. Sabes que nosso clã precisa de ti. Só tenta me passar, tipo uns boletins informativos de vez em quando, principalmente se encontrar algo de muito estranho. No mais é de boas, te dou essas “férias”… – Falou dando uma piscadela. – Aliás tu ficaste sabendo da última peripécia do Franz?

    Confesso que me senti mais tranquila depois daquela conversa. Mas, percebi que era melhor mudar mesmo de assunto.

    – Do Franz? Não. O que ele fez dessa vez?…. Não!….Sério?…Ele é louco…. – Exclamei enquanto ouvia o Fê falar, já animado e divertindo-se.

    E assim as horas passaram voando, como sempre acontece quando dois amigos geminianos se encontram.

  • Lilian à Reunião – Pt4

    Lilian à Reunião – Pt4

    Eu devo estar tendo algum tipo de alucinação muito doida, ou todo esse quebra cabeça não fazia o menor sentido…. Sabe aquela sensação em que parece que você viveu dentro de uma ilusão por muitos anos? Ou talvez por quase toda tua vida? Eu estava assim, me sentindo completamente sem chão, queria correr dali, mas não era a melhor opção, ainda tinha que resolver toda esta trama, dar fim nisto tudo.

    Eu precisava sentar, pensar, precisava de conselhos, mas de alguém de fora, que entendesse este sentimento de abandono, de tristeza e que mesmo assim continuou caminhando. Peguei meu celular e fui para longe da casa, perto do rio com boa recepção de sinal, procurei na agenda e lá estava ele, o único que poderia ter uma visão melhor de cada detalhe podre desta história, “Alô?”, ” Só escuta, sabe que sou eu Fê…”, “Lili? o que foi magrela, tudo bem? Diz ai…”, ” Cara, você já teve a sensação que sua vida foi virada do avesso, sem ao menos te avisarem?”, ” Claro ne, várias vezes. Tantas que nem me lembro de todas… Mas diz ai em que problemas te meteu?”, ” A minha vida acabou de tomar um rumo confuso e triste, que não sei o que fazer… resolvi te ligar pra ouvir a voz de alguém que não seja do meu clã, que não esteja nesta merda toda.”, ” Lili, cara, desenrola ai! O que aconteceu contigo?”, ” Eu estou bem, fisicamente, mas meu emocional está um lixo… Eu descobri que o cara que eu amei décadas, traiu minha confiança, me usou como uma arma de vingança e agora tô aqui, tentando pôr os pingos nos i’s e o máximo que eu consigo é perambular por estas noites sem muitas soluções…”, “Tá então o Trevor te fudeu em alguma missão?”, ” O que eu consigo dizer por hora é que eu me senti usada e nunca fui apta a perceber isso… Por que ele é tão bom em ser dissimulado, que me iludiu por décadas a fio…”, ” Magrela, eu não sei em que tipo de missão tais, mas o que eu posso te falar é pra tentar não agir com impulso! Sabes bem que na maior parte do tempo tu age impulsivamente, tipo eu, mas desta vez tenta ponderar!”, ” Eu sei, não vou fazer… Eu só preciso ficar sozinha um pouco, abstrair saca?”, ” Sei sim… Olha, tens meu apoio e sabe bem disso, se precisar me liga e desabafa ao invés de sair por ai tacando fogo em tudo que cruzar teu caminho. Vai por mim, aja com sabedoria!”, ” Pode deixar Fê, vou me lembrar disso, muito obrigada pelo conselho…”, ” Precisando me chama, sabes que meu clã pode te dar apoio total caso precise de algo, aliás, quando estiver por perto me liga que marcamos algum “rolê”. Força ai, beijão!”, “Obrigada, beijos!”.

    Apesar de eu ter me aproximado de Ferdinand a pouco tempo, eu sei que sempre posso contar com ele e vice versa, era bom ouvir o que ele tinha para falar, me dava de alguma forma, uma luz no fim do túnel.

    Voltei para a casa do lago e quando me aproximei, vi que haviam quatro motos e a presença de mais cinco vampiros no lugar, contando com o Daniel. Ao entrar pela porta minha reação não foi a das melhores, ali na minha antiga sala, sentavam-se Daniel, Michael, Ana Li, Matsuya e ele, Trevor… Dois dias haviam se passado desde que havia falado com ele, 48 malditas horas e aqui ele estava, minha vontade era de voar no pescoço dele e arrancar um pedaço e deixar uma lembrança, mas ao invés disso me lembrei do conselho do Ferdinand e apenas entrei com aquela famosa cara de poucos amigos, fui na direção de Trevor, ninguém moveu um músculo para impedir minha passagem. Fiquei frente a frente com ele, apenas o olhei por alguns segundos e então criei coragem e falei tudo que eu tinha engasgado no peito ” Sabe eu poderia até chegar a desconfiar do Daniel, mas nunca de você! O pior de tudo é que eu te amei, amei tanto a ponto de ficar cega… Mas parece que esse é um dom que eu tenho, afinal não é o primeiro vampiro a enganar todos meus sentimentos, não é mesmo?”, “Lili amor eu vim aqui…”, ” Eu realmente não quero saber o por que veio aqui! Pedir desculpas agora não vai lhe levar há lugar algum! Agora me transformar com o único intuito de destruir o Pierre para depois usufruir de todo dinheiro que seria seu por direito, afinal vocês eram sócios, enganaram a mim e quase toda a Ordem, não é mesmo Michael? Quando eu digo quase!?”, ” Você sabe que sempre te protegemos!”, ” De quem Trevor? Da sua ganância? Do teu orgulho? Do teu ego que vale mais que o sentimento de todos que estão a sua volta? De quem?” , “Mana, se acalma!”, ” Eu nunca estive tão calma Dani! Pode apostar nisso! Sabe o que vai acontecer Trevor? eu vou acabar o que eu vim fazer aqui! Vou matar teu sócio que você manteve escondido todo este tempo, você vai ter toda esta fortuna! Pode ficar tranquilo!”, “Não é apenas sobre a grana Lili, eu fiz isto por você!”, “Não fez, pode apostar que não, deixou minha mãe as margens de um assassino! Deixou que ele me levasse, para depois sair de herói! É aqui que esse filme acaba e você não vai ser nada além de uma nuvem que passou por mim!” , ” Lili volta aqui!”, ” Você não me dá mais ordens capitão!”

    Segui até minha moto e sai dali, segui em direção ao meu destino, como diz a canção:

    “Come join the murder
    Come fly with black
    We’ll give you freedom
    From the human trap
    Come join the murder
    Soar on my wings
    You’ll touch the hand of God”

    Come join the murder – The white buffalo

  • A hibernação de Eleonor – 1 de 2

    A hibernação de Eleonor – 1 de 2

    Este não é um texto normal daqueles no qual eu gosto de gerar expectativas e apreensões em vocês. Tampouco, um daqueles textos em eu encho de firula ou figuras de linguagem  afim de satisfazer aqueles que procuram algo a mais além dos livros, filmes e seriado humanos. Este é portanto um texto baseado em fatos e situações reais. Ocorreu no final da semana passada, uma data que ficará por um bom tempo em minha mente: 16/07/15, a noite em que minha linda morena decidiu hibernar por pelo menos 50 anos.

    Sendo extremamente honesto, não estou com o menor saco (paciência) para descrever todo o o procedimento aqui. Ainda estou um pouco abalado e padecendo dos efeitos de todo o processo. No entanto, é fundamental eu deixar gravado aqui e nos meus arquivos pessoais o momento exato em que Eleonor decidiu deixar esse mundo de lado por uns anos. Isso vai ser bom para mim e mais ainda para ela quando retornar. Mesmo por que eu preciso ser realista e quem sabe nem mesmo eu esteja aqui daqui 50 anos.

    Pois bem, estávamos sentados no gramado e a beira da cerca branca, aquela no qual ficam os recém-nascidos da fazenda. Nesse ano tivemos sorte e quase todas as fêmeas reproduziram, as vacas, os porcas, as ovelhas e até mesmo as cadelas. Com certeza foram os “pequenos saltitantes” que motivaram uma de nossas conversas, em meio àquela primeira noite de lua nova.

    – A vida se renova sempre e todas as gerações nos trazem aspectos do passado melhorados…

    – Não sei se essa é a teoria certa de Darwin, mas pode ser, minha querida!

    – Ai Fê, minha querida? Que deboche é esse?

    – Ahh ando tô em muitas cousas, inclusive escrevi lá no site sobre isso. Sobre o que está acontecendo contigo e comigo.

    – Eu sei que tu escreve lá frequentemente. É um bom passatempo humano, mas poxa tô aqui e temos tanto para conversar. Consegues focar o assunto aqui por favor?

    – Sabes que sou um pouco dispersivo nas conversas mas vamos lá então. E ai vais hibernar ou não.

    – Ahh para. Sabe que não é uma escolha fácil.

    – Eu sei que não, mas até quando vamos ficar nesse chove e não molha. Sabes que é complicado ter uma vampira Nômade no grupo.

    – Nômade? Hahaha de onde tirou isso? Estou me sentindo uma cigana…

    – Tirei daquele seriado Sons of Anarchy, sabe?

    – Ahn? Tá enfim, eu sei que não da pra ficar nessa Fê, mas relaxa, já tomei minha decisão.

    – E vai me enrolar até quando?

    – Eu quero hibernar!

    No momento em que ela pronunciou a palavra “hibernar”, senti um enorme vazio, meu corpo ficou adormecido e pareci que a mais dura das estacas havia perfurado meu coração duro e morto. Demorei para desenrolar os pensamentos, tanto que ela me “cutucou”.

    – Tá eu sei que não é do teu agrado mas , vai anda diz algo.

    – Olha para te ser bem honesto, não me imagino namorando ou tendo algo contigo de novo. Desbcobri depois da minha hibernação e com os estudo do mundo atual que cada um de nós é um ser completo e que não precisa da outra metade. Cousa bem diferente do eu fui no passado.

    – Para Fê, não me venha com os teus sermões filosóficos.

    – Não quero ir por esse lado, calma. Estou digerindo aqui essa situação. Tu estás comigo desde o inicio vou sentir falta de ti. Também não quero ser egoísta e vou tentar ser o mais objetivo possível…

    Fiz uma pausa, ponderei por mais alguns instantes e Eleonor me esperou.

    – Bom, vou me referir a situação como líder do nosso clã e te digo: ok, tens permissão para hibernar. Acredito que isso vai ser melhor para as tuas ideias e garantirá um ponto fraco a menos para o nosso clã. Inclusive já falei com os outros.

    – Não foi uma decisão fácil, sei que vou perder todas as mudanças atuais do mundo, mas como tu mesmo disse esses dias, o mundo atual está muito parado e estou sem objetivos para o momento.

    – Bom não vamos resumir isso. Volta lá para dentro e da mais uma pensada. Amanhã à noite resolvemos isso. Eu vou dar uma passada na cripta e deixar as cousas semi-prontas por lá. Como fizemos o procedimento com Georg a pouco tempo, vamos aproveitar algumas cousas e vai ser rápido contigo.

    Fiz a trilha que levava a cripta, um lugar de arbustos fechados e mata muito virgem. Fiz o ritual para achar a porta de entrada e cuidadosamente passei por todas as portas, fechaduras “armadilhas”, que levam ao salão principal.

    A nova iluminação funcionou muito bem e tratei de preparar a caixa de concreto que guardaria o corpo de Eleonor. Lubrifiquei algumas engrenagens, tive de usar um pouco da minha força sobrenatural e lá estava o túmulo, caixote ou como queira chamar. Um aparato com estrutura mista de concreto e aço e intensamente limpo. Como se tivesse sido limpo a poucos minutos.

    Tratei de encher com a terra que sobrou do ritual de Georg, por sorte foi o suficiente e fiz mais alguns procedimentos para adiantar o ritual de hibernação. Voltei para a sede da fazenda e não consegui dormir naquele dia. Na minha cabeça ocorreu um misto de ansiedade, com pensamento desconexos e ideias para o futuro. Inclusive liguei para Franz, que prontamente me atendeu e não quis bater muito papo. Não demonstrou muita afeição pela situação, mas também não quis entrar em detalhes. Preferiu uma saída a francesa, dando uma desculpa qualquer.

    Finalmente, depois de algumas horas anoiteceu novamente……..

  • De volta a uma rotina nada normal – Parte VII

    De volta a uma rotina nada normal – Parte VII

    Eu estava concentrada no tilintar do gelo batendo no copo de Whisky. Olhando distraída o movimento do liquido, pensando em Lorenzo, quando Sophie voltou, após precisar atender uma ligação. Até então, a conversa não havia nos levado a nada, mas já conseguia perceber que aquela vampira, mais velha e experiente que eu, queria apenas uma aproximação.

    – Eu gostaria de pedir desculpas pela forma nada cordial, na qual nos conhecemos. – Disse ela, tirando-me de meus pensamentos.

    – Hum. Realmente, sua forma de apresentação foi totalmente estranha e desnecessária. – Falei sem interesse. – Além disso, achei que seguiria seu rumo depois daquilo…

    – Bom… – Alguns minutos depois ela continuou – Vamos começar novamente? Realmente quero conhecê-la. Sou Sophie, muito prazer. – E estendeu-me a mão longa e fria.

    Fitando-a por alguns instantes, concordei embora desconfiada. Tudo bem vamos começar novamente, pensei. Estendi também minha mão, miúda e fria e a cumprimentei:

    – Você já sabe meu nome. – Falei apenas.

    – É, sei muito sobre você para falar a verdade.

    – Quem sabe um dia você me conte, então. – Falei irônica, mas interessada no assunto.

    – Claro, minha querida. Mas vejo que algo está lhe deixando nervosa. É o humano?

    Olhei- a com mais atenção. Merda! Enfim, ela também poderia ler meus pensamentos, óbvio. Revirei os olhos. Mas, senti que poderia conversar com ela a respeito. Talvez ela entendesse, ou tivesse algo útil a dizer. Pois é, logo ela, me daria conselhos relevantes. E após aquela noite, que no fim tornou-se agradável, senti que nos tornávamos amigas e que talvez ela me ajudasse de alguma forma. Sophie era simpática, gentil e tinha uma graciosidade em cada movimento conforme falava e gesticulava.  Em nada me lembrou Sr. Erner em toda nossa longa conversa, mas ao mesmo tempo revelou-se com grande personalidade. Bebemos muitos drinques e ao final, nos despedimos com um abraço, que surtiu um efeito fraternal. Voltei para casa, após uma noite estranhamente tranquila refletindo sobre as últimas palavras de Sophie naquela conversa:

    “- Lembre-se, nós somos vampiros. Não precisamos nos arrepender de nossos atos. Mas se acha que deves ponderar sobre algo, tenha consciência, nem todos somos uma cópia de Sr. Erner. Podemos não ser completamente bons, mas não precisamos ser totalmente maus…”

    Quando cheguei, tudo estava quieto. Sentei por alguns instantes, observando a noite e a cidade. Lembrei dos últimos acontecimentos. Eu gostava de Lorenzo, de sua companhia. Infelizmente, havia me apegado ao humano que em um momento impulsivo resolvi ajudar. Livrar-me dele não era o que eu queria. Após pensar por horas e já não sentindo tanta raiva, ponderei que só havia uma única solução para não colocar Lorenzo e o que eu era em risco, sem ligá-lo definitivamente a mim.

    Torná-lo um Ghoul.

  • Sangue frio – Pt4

    Sangue frio – Pt4

    Sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagem, após o…

    Desisti de ligar para ele naquele momento após umas dez tentativas. Eu estava entediada, e de certo modo também já preocupada com aquela criatura. Naquelas noites, fiquei na casa de Hector em busca de alguns contatos e estudando relatórios. Tínhamos tanto trabalho pela frente que não tive tempo para mais nada. Ele havia decidido visitar alguns locais e já se passavam três noites de sua saída. “Raios, será que morreu ou foi capturado ou isso é próprio de seu feitio?” – Pensei.  Meu celular toca. Ferdinand liga e já vou logo dizendo.

    – Ferdinand, sabe algo sobre Hector?  Não vim para cá para virar uma nerd e só ficar estudando relatórios. Sabes que odeio esperar por algo ou alguém.

    -Hey, boa noite pra você também. Eu não sei de nada não. O que houve?

    – Humm, estou nos nervos com essa demora, não que esteja preocupada com ele, claro. Mas já fazem três noites que aquele vampirata saiu, e até agora nem sinal.

    -Ah!Não se preocupe. Logo ele aparece. Deve estar em alto mar relembrando os velhos tempos, ou encontrou alguma pista importante…

    – Pode ser. Enfim, precisa de algo?

    – Na verdade, só queria notícias sobre as coisas por ai. Mas, vejo que está tudo bem… (risos) Além disso, Lilian e Carlos progrediram em suas buscas, um resultado não muito agradável, devido ao que descobriram. Acho que logo, precisarão do auxílio de vocês. Mas, veremos isso depois.  Também estarei aguardando notícias sobre aquela tarefa que pedi.

    – Sim, espero que Hector esteja trabalhando nisso.

    Falamos sobre mais alguns assuntos e logo desligamos o telefone. Naquele momento pensei em fazer uma caminhada noturna. Mas, estava confortavelmente jogada em cima da cama, cheia de papéis ao redor, com o notebook ligado, aninhada em uma manta e vestindo apenas uma camisola de seda preta.

    Ouço o barulho da porta abrindo. Hector chegou, me procurando foi até o quarto.  Cheirava a rum, ou alguma bebida do tipo.

    -Pela demora acho que encontrou algo.

    – Boa noite para você também Becky. Sim, encontrei. Estava me esperando? – Falou analisando a maneira em que eu estava.

    Revirei os olhos e disse:

    – Na verdade não. Só estava à vontade aqui sozinha e você é a segunda criatura que me diz “boa noite pra você também”. Enfim, o que encontrou?

    Hector se aproximou me deu um beijo inesperado, “o que é isso” pensei, e então disse:

    – Você vai ver logo, vampirinha mal humorada. Se arrume que vamos buscar esse tesouro juntos…

    Eu realmente estava mal humorada. Pelo menos Hector não havia me deixado de fora daquela diversão. Estacionamos o carro a umas duas quadras e seguimos a pé até o endereço. Então, aconteceu algo engraçado. Para entramos no local, achei melhor saber o que poderíamos encontrar pela frente e fiz uma das minhas pequenas viagens astrais, questão de segundos. Quando voltei, Hector estava de frente para mim, com as mãos nos meus ombros, me encarando com aqueles olhos negros bem de perto, fazendo caretas. Pisquei os olhos rapidamente:

    – O que foi? – Perguntei.

    – O que houve com você? Seus olhos brilharam como se estivesse…

    – Podemos entrar por uma janela aberta nos fundos, é pequena, mas, nós dois passamos. O alvo está sozinho em seu quarto igual a um internauta doente.

    Não precisei mais explicar, Hector conhecia essa habilidade, sorriu com seu jeito sarcástico e logo em seguida demonstrou ter compreendido. Entramos pela tal janela. Abordamos um cara magro, esguio e com olhos fundos. Estava sentando em frente ao computador com uma caneca de cerveja, vestia uma calça jeans podre e estava sem camisa. O maldito fedia. Em seu quarto, inúmeras fotos e materiais pornográficos, em seu computador imagens de meninas e contatos da internet. Confiscamos tudo.

    – Boa noite queridinho, está a fim de dar um passeio?

    – Para ele você dá boa noite?

    Disse Hector, soltando uma gargalhada demoníaca de fazer qualquer um arrepiar. Levamos o maldito que ainda no caminho, já entrou em desespero. Coitado nem imaginava o que faríamos com ele…

  • Mais algumas lembranças de Becky –  Final

    Mais algumas lembranças de Becky –  Final

    Algumas horas se passaram, tive tempo de analisar tudo o que havia dentro daquela sala. Pela janela percebi que estava a algumas horas do amanhecer e imaginava alguma maneira de sair daquele lugar. Estava apreensiva pelo que poderia acontecer em seguida. Até que finalmente alguém abria a porta. Mas, de súbito paralisei e meus instintos farejaram algo familiar como se eu já conhecesse quem entrava. Virei-me devagar. Ela me observava como se pudesse ver-me por dentro.

    Durante alguns minutos permanecemos assim, olhando uma para a outra.

    -Sente-se Rebecca… Humm, agora entendo porque fui deixada para trás. É muito mais bonita pessoalmente.

    Olhei-a com desdém. Também era uma vampira tão bonita quanto eu, porém mais velha e mais forte. Era um pouco mais alta, tinha os cabelos longos e loiros, em contraste com sua pele morena- pálida.  Mas, o que queria comigo, afinal?

    – Não sou uma inimiga. Queria apenas vê-la. Logo vai poder sair daqui e seguir seu rumo. Assim, como irei seguir o meu. Mas, antes preciso lhe falar algumas coisas. O mais engraçado, é que tudo o que sobrou da minha vida está fragmentado em você. Todas as minhas lembranças. Toda a vida que eu não vivi. Mas, eu tive sorte ao final… Quando você nasceu, eu já estava transformada, Erner era “amigo” de sua família, e eu também era, sim, conheci seus pais Rebecca. Mas, ele imaginou todo o seu futuro e ficou obcecado por você. Ele era assim, sua possessividade o fazia manipular suas vitimas ao máximo até tê-las totalmente sobre seu domínio. Mas, com você foi diferente, ele te acompanhou desde sempre, teve você nos braços ainda criança, e então, cansou-se e me descartou. De certa forma ele te amou.

    – Eu já sei de tudo isso. Olha, eu não tenho culpa do que possa ter te acontecido.

    -Não, não tem. Por isso precisava olhar nos seus olhos. Eu não o amava como você o amou, mas mesmo assim, não pude fazer o que fez. Eu vim te agradecer. Pois, deu aquele homem o seu destino merecido.

    -Já acabou? Já falou o que precisava?

    – Espero que compreenda e me desculpe pela maneira que lhe trouxe até aqui.

    Dei uma risada nervosa, olhei para aquela que eu conhecia como “Sophie”, e sai daquele lugar o mais rápido que pude. Tudo aquilo era estupidamente desnecessário. Ela veio me agradecer pelo sofrimento que causei a quem mais amei, mesmo com tudo o que havia me feito, e aquilo mesmo que eu não quisesse, me dilacerava e doía.

  • Mais algumas lembranças de Becky – Parte II

    Mais algumas lembranças de Becky – Parte II

    Há algumas semanas atrás, eu fiz uma pequena viagem.  Fui verificar um problema em uma das minhas contas bancárias que possuo na Inglaterra, pelo que me constava, determinada quantia em dinheiro havia sumido.

    Eu e minha mania de agir por impulso me fizeram esquecer de avisar alguém de que eu estaria lá, e por um instante meu sexto sentido me fez imaginar que havia algo errado. Enviei apenas uma mensagem para Ferdinand avisando que estaria fora por uns três dias, e que qualquer coisa entrava em contato. Marquei um jantar com o gerente do banco, que era meu “amigo”, e me dava uma forcinha para driblar os problemas burocráticos dos bancos em troca de pequenos favores. Segundo ele, uma garota havia convencido um dos atendentes, e se passado por mim para retirar a quantia. Eu já estava sem paciência:

    – Eu nunca retiro qualquer quantia no banco pessoalmente. Sempre que necessário acesso a conta e faço as transferências pela internet. Essa pessoa podia se passar por mim para um dos seus funcionários. Mas ninguém tem autorização a acessar minha conta a não ser com sua presença, e como esse alguém teria os meus dados?

    -Hey, Sra. Erner. Está querendo dizer que eu…

    -Por enquanto não estou querendo dizer nada. Mas, quero questionar seu funcionário pessoalmente amanhã.

    A conversa acabou por ali. Voltei ao hotel, e passei o resto da noite e do outro dia pensando no que aquilo significaria. A questão não era o dinheiro e sim quem estava por trás disso. Por um segundo, gelei ao pensar que… Não, não, isso seria impossível.

    Poucas horas depois, o gerente do banco me ligou e disse que inesperadamente o dinheiro estava novamente em minha conta. Combinamos de nos encontrar e pensei comigo mesma que certamente estavam me fazendo de palhaça. Queriam me atrair para a Inglaterra e eu mordi a isca, imaginando que resolveria apenas um problema corriqueiro. Senti que algo aconteceria. E eu teria que tirar aquela história a limpo. Mas, no momento, não teria como alguém ir me ajudar. Liguei para Ferdinand, expliquei a situação e pedi se ele liberava a Pepe para fazer uma pequena pesquisa para mim. Não demorou muitas horas para ela entrar em contato comigo e me dar um nome …

    “Sophie”.

  • Servidão – pt3

    Servidão – pt3

    Após estacionar o carro em uma rua mais ou menos movimentada, Abdullah  se dirigiu a casa de Madame Scylla, junto com o seu corvo, que o seguia de perto, escondido por entre às árvores.

    Parando em frente a um casarão antigo, de caráter histórico, Abdullah bateu na porta com os nós dos dedos, levemente, sem fazer muito barulho.
    —Sim?

    O árabe se endireitou e, antes de entrar no casarão, estendeu o braço, de forma a receber o peso do corvo.
    —Madame Scylla se encontra, eu presumo?—Sussurrou Abdullah para o pequeno homem que atendeu a porta, um dos lacaios de madame.
    —Sim. O senhor deve ser Abdullah, não? Me siga por favor.

    Abdullah foi guiado escadaria acima até um salão de aparência modesta, com um conjunto de sofás de cor creme, onde estavam empilhados vários travesseiros de aparência macia.
    —Madame pediu para que o senhor se sentisse a vontade enquanto a espera.

    —Tudo bem.—Respondeu Abdullah, enquanto jogava algumas almofadas no chão de forma confortável para sentar em cima.
    —Não consigo me acostumar com esses costumes ocidentais…Madame Scylla não vai se incomodar se eu fumar, certo?—Perguntou, mais para puxar conversa enquanto já acendia um cigarro.

    O corvo passou a sobrevoar a saleta, a procura de um bom lugar para vigiar o cômodo inteiro. Abdullah, ao notar o nervosismo do animal, sorriu com o canto da boca:
    —Acalme-se. Não vai demorar. Madame Scylla não tem como costume deixar seus convidados esperando.

    —Certamente que não, meu caro amigo.—Uma voz de mulher veio da Janela, que se encontrava semi-aberta.—Ainda mais com um assunto tão urgente.—Madame Scylla encostou o corpo na cortina, os olhos azuis a analisar Abdullah, que continuou sentado.

    —Como vais, Maria?— sussurrou a mulher em direção ao corvo, que apenas moveu a cabeça para o lado, sem interesse.

    —Peço perdão pela familiaridade com que eu tratei suas almofadas, querida. Mas sabes como é, esses sofás são desconfortáveis demais e limitam meus movimentos.

    Madame Scylla riu baixinho, antes de se sentar em uma das poltronas:
    —Já se foi a época do conforto, não concorda, meu amigo? Eu mesma tenho tido certa dificuldade em encontrar móveis que me agradam…está tudo tão colorido, tão…ridículo.—A grega fez um gesto de desdém com a mão, sem desviar os olhos do árabe, que sorria.—Mais importante, porém: houve uma drástica mudança de planos.

    Abdullah levantou uma das sombrancelhas, intrigado, e relaxou mais o corpo entre as almofadas.
    —Deixe-me adivinhar: Ygor Pietro não quer saber de negociação nenhuma, e ao invés disso, se prepara para um conflito bélico entre os clãs?

    Scylla não demonstrou surpresa nenhuma com a pergunta, e apenas sorriu.
    —Não. Receio que você está um pouco desatualizado, meu querido. Ernst, por favor, não fique parado aí na janela, entre e fique a vontade…eu prometo quê, da minha parte, eu não mordo.

    Ernst se esquivou das cortinas e adentrou a sala, a cabeça baixa, ainda se sentindo fraco. Abdullah endireitou o corpo e fixou o olhar no rapaz, quê estremeceu.

    —Não se preocupe. Ele não irá lhe fazer mal. Por favor, sente-se sim? Ainda não estás totalmente recuperado dos últimos eventos,não é mesmo?

    —Obrigado, Madame Scylla.—sussurrou Ernst, deixando-se jogar na poltrona.

    —Pois então, meu caro,é como eu disse…mudança de planos.
    Solicita, Maria pousou de leve o corpo na beira da poltrona onde Ernst se encontrava, soltando um som amigável.

    —Não sinta pena, Maria.—Disse-lhe Abdullah, os olhos fixos no rapaz.—Ele ainda nos explicou o quê pretende ao vir aqui, voluntariamente, mesmo sabendo quê Madame Scylla queria a sua cabeça em uma bandeja de prata pelo o quê ele fez a Thomas.—Tragou um pouco mais do cigarro, voltando a relaxar o corpo. Soltou a fumaça de forma lenta e deliberada, como era de seu agrado.—Quanto a você, Sr.Ernst…Digamos quê o senhor tem muito a quê nos contar.

  • Servidão – Entre atos 2 e 3

    Servidão – Entre atos 2 e 3

    Ygor Pietro estava muito irritado. Não bastasse os erros de seu mais novo pupilo, o clã de Madame Scylla se recusava a aceitar um pagamento em espécie pela morte de um dos seus membros, Thomas E. Lloyd. Continuavam as negociações, mas a chance de o conflito, até o momento diplomático, tomar proporções militares era muito grande.

    -Me chamou, Pietro? -Uma voz feminina e calma veio da porta do salão em que o mesmo se encontrava sentado.

    -Sim, Emmanuelle, entre.

    Uma moça alta, perto de seus 30 anos de idade, olhos cinza e cabelos cortados rentes ao pescoço, em estilo militar, se curvou levemente em direção a Ygor Pietro.

    -Vejo que já está se preparando para o caso de as coisas saírem do controle com o teu irmão, não é mesmo Emma? -Comentou Pietro, os olhos fixos nas armas que a moça trazia presas ao quadril.

    -Você sabe como eu sou Ygor, e o que eu penso. Se eles querem guerra, então guerra é o que eles terão. -Respondeu Emmanuelle, a voz calma como sempre.

    -O que pretende fazer com aquele rapaz que nós capturamos?- Pietro começou a procurar pela ficha do rapaz, o âncora Daniel que, ao que parece, não se encontrava em juízo perfeito quando foi encontrado perambulando nas ruas, fugido da clínica.

    Emmanuelle alisou a parte superior de seu uniforme, desinteressada:

    -Klaus vai cuidar dele, senhor. Não tenho tido paciência para  com os humanos ultimamente, e receio que as minhas sessões de interrogação possam sair do controle.

    -Entendo. Mas não achas que o Klaus pode perder o controle bem mais cedo do que você, minha querida?

    Emmanuelle sorriu levemente, enquanto arrumava uma de suas armas no coldre.

    -Desculpe-me, senhor, mas acredito que Klaus já passou da época de perder o controle… eu, pelo contrário…

    -Está com sede, Emma? – Ygor se levantou e estendeu a mão para um cálice de cristal que se encontrava no canto da sala.

    -Um pouco. Não tive tempo de…

    -Muito trabalho, eu presumo? Klaus não tem lhe dado muita folga desde que tu voltou de Paris? Mas o que estás fazendo ainda de pé? Sente-se.

    Emmanuelle se sentou, como ordenado, e sorveu de um só gole o sangue frio do cálice que Ygor havia lhe estendido.

    -Então? Conte-me tudo, minha querida. Gosto de saber o que acontece no clã, principalmente quando eu estive um tempo fora…

    Os dois foram interrompidos por uma batida forte na porta, seguida pela entrada de Klaus, um homem na beira dos seus 35 anos, com um jaleco cheio de sangue, uma das mãos ensopadas com o mesmo líquido.

    -Senhorita Levours, sugiro que da próxima vez que empurrar uma de suas testemunhas para mim, certifique-se de que a mesma não vai me atacar durante as sessões. -Os olhos do homem estavam arregalados, um misto de surpresa e insanidade, os dentes a mostra.-Tu bem sabes que eu não possuo muita paciência para com essas crianças desmioladas de hoje em dia.

    Emmanuelle se levantou e sibilou, irritada:

    -O que tu fizestes seu monstro?! Não podes nem se dar ao trabalho de tirar essa roupa antes de vir falar conosco?

    Klaus fechou a porta de sí, os olhos adotando uma expressão divertida, sarcástica. Encostou-se na mesma, evitando a passagem de Emma, que roçou os dedos em uma de suas pistolas, em alerta.

    -Se bem me recordo, senhorita, eu não lhe dei o direito algum de se dirigir a mim de forma tão desrespeitosa. Aliás, me pergunto até quando essa raiva irascível vai durar, considerando que…

    -Não ouse.  -Sibilou Emmanuelle, o rosto em uma expressão de extremo incômodo.- Mantenha essa maldita boca fechada. Aquilo foi só um erro, não mais do que isso…

    Klaus começou a rir, uma risada baixa, controlada.

    -Um erro? Mas que curioso, eu jurava que na hora tu não pensavas dessa forma, considerando como a senhorita veio atrás de mim, desesperada por auxílio.

    Ygor Pietro, que ainda se encontrava na sala, se sentou novamente, entretido. Nada melhor que uma cena cômica que no final lhe revelasse a verdade a respeito daqueles dois, discutindo a sua frente.

    -Eu não sabia o que fazer homem. Mas ainda assim, penso que foi um enorme erro, e que o mesmo não vai voltar a se repetir. – Respondeu Emma, se aproximando da porta e parando na frente de Klaus. -Agora, se me der licença…

    Klaus estendeu ambas as mãos para cima, num gesto cômico de rendição:

    -Desculpe, mas estou um pouco cansado, e essa porta é tão sólida… Serve-me bem como apoio para as costas. Claro que, eu posso pensar em me afastar daqui se a senhorita se dispuser a falar a verdade.

    Emmanuelle soltou um palavrão baixo, em francês, e puxou a arma do coldre, encostando o cano da mesma na têmpora de Klaus, que apenas levantou a sobrancelha, divertindo-se ainda mais com a situação.

    -Semana da seca, pelo o que vejo?-Comentou ironicamente, ao mesmo tempo em que afastava a arma da própria têmpora, sem muita relutância.  -Há quantos dias tu não te alimentas direito, senhorita Levours?

    -Não é da tua conta, Klaus. Saia da minha frente, ou eu juro que te mato dessa vez.

    -Hm… Se bem me lembro, da última vez, tu me deixou em um estado bem lamentável… Mas que ainda assim foi até o meu quarto ver como eu me encontrava, cuidando de meus ferimentos, não é mesmo, senhorita?

    Antes que Emmanuelle pudesse responder, Klaus saiu da frente da porta, deixando-a passar.

    Alguns segundos de silêncio se estenderam enquanto Klaus retirava as luvas ensanguentadas e o avental, ficando apenas com a camiseta social branca e as calças pretas limpas.

    -Que cria mais complicada essa que tu veio a arranjar, não é mesmo, Klaus?- perguntou Ygor com um quê de divertimento na voz, enquanto o mais alto lhe apertava a mão, como de costume.

    -Nem me fale Ygor… Mas mais importante, como andam as negociações?

    Ygor Pietro suspirou, os olhos se fechando por alguns instantes:

    -Complicadas. O clã de Madame Scylla não quer negociar enquanto o assassino não estiver envolvido nas negociações. Chegou a tal ponto quê eles passaram as discussões para o nível militar, chamando Abdulah para tomar parte do problema.

    Klaus levantou os olhos das luvas que segurava, surpreso:

    -Abdulah? Tu não está falando de Abdulah, membro dos  Demônios do Oriente não é?

    -É dele mesmo que eu estou a falar, Klaus.

    -Mas então são três os clãs envolvidos até agora?-Perguntou o médico, curioso.

    -Precisamente. E eu estava para começar a discutir com Emma a respeito de que soluções tomar caso as negociações passem para o nível Bélico quando tu me aparece e estraga tudo. -Ygor criticou o mais jovem, que apenas sorriu, cansado.

    -Nós dois estamos cansados, a senhorita Levours e eu. Gostaria de passar umas férias na Bavária, com a moça, e tentar por lá mesmo resolver nossos assuntos…

    Ygor sorriu, cúmplice. Sabia bem aonde o alemão queria chegar.

    -Façamos o seguinte… Assim que essas negociações terminarem eu líbero vocês dois para uma viagem. Suponho que visitar a própria capital em missão não ajudou muito a Emma no quesito de férias…

    -Sinto dizer que não, Ygor. Emmanuelle não consegue se concentrar tanto quanto antes ao investigar os capturados, e passou a perder a paciência muito rápido, como tu podes ver agora.

    -Mas tu a provocou, não foi..-Ygor comentou, mais uma afirmação do que uma pergunta.

    -Parcialmente, sim. Mas eu estou apenas me esforçando para que ela me diga a verdade, e pare de mentir a respeito de nosso relacionamento. O problema, temo eu, é que não ando muito paciente tampouco.

    -Quando Ernst acordar, tu poderia vir até aqui me avisar, Klaus? É um favor que lhe peço.

    Klaus se levantou da cadeira, pôs as luvas de volta, e sorriu para o velho amigo, um sorriso honesto, sem brincadeiras ou piadas de mau gosto.

    -Certamente, senhor Pietro.

  • Servidão – pt2

    Servidão – pt2

    A alguns quilômetros do cemitério, em uma pequena cidade vizinha, o vampiro de origem egípcia Abdulah se encontrava deitado calmamente em sua cama, fumando um narguilé. Ao seu lado, dormia Maria de Assunção, sua esposa, os cabelos castanhos claros estendidos sobre o travesseiro, uma de suas mãos apoiada no peito de Abdulah, quê a acariciava de tempos em tempos…

    —Abdul… —sussurrou a moça, não mais quê um suspiro. O homem tragou um pouco mais do narguilé e o soltou em baforadas lentas, a fumaça lhe escapando dos lábios em pequenos círculos.

    —Sim? — Respondeu finalmente, os lânguidos olhos cor de mel admirando o corpo da esposa, uma ponta de desejo se formando em seu peito.

    — Por que não estás a dormir?—Maria se aproximou um pouco mais, deitando parte do corpo no peito de Abdulah, onde antes se encontrava sua mão. Tentou Puxar de leve o narguilé do mais velho, quê preguiçosamente puxou o corpo da moça para si, num abraço possessivo.

    —Tu me fez falta, mulher. —Comentou Abdul, um sorriso predador nos lábios.

    —É mesmo? Mas se fostes tu que me mandaste para a Europa, de forma a conciliar teus irmãos… —Maria sorriu, beijando de leve a face do esposo, ao mesmo tempo em que traçava círculos lentos no pescoço do mais velho, solene carícia. —Madame Scylla ligou, eu imagino… ou vai ligar, dependendo da hora.

    —Já ligou querida. Tenho de vê-la o mais rápido possível, ainda esta noite.

    Maria encostou os lábios no pescoço do egípcio, que soltou um leve suspiro, esticando o corpo, dando-lhe mais espaço.

    —Pois eu vou com você.  — Maria sorriu entre os beijos, os dedos se prendendo nos fios negros de Abdulah, que emitiu um som leve, parecido com o ronronar de um gato.

    —Não, não dessa vez. Tu ainda estás cansada da missão que eu vos encarreguei na Europa. Fique e descanse. —Respondeu-lhe o marido, ao mesmo tempo em que a beijava nos lábios, calculando lentamente quanto tempo teria para saborear a esposa, seu desejo contido a algumas semanas…

    —Mestre. Meu lugar é ao seu lado, e aonde tu fores eu irei, lhe servir de escudo… —Queixou-se a moça, interrompendo o beijo. Abdul a abraçou, ao mesmo tempo em que tentava se acalmar e não perder o controle.

    —Tu não és mais minha serva, Maria, tu bem o sabes…

    —Não, Abdulah. Eu sou ambos, tua serva e tua esposa. —Declarou firmemente Maria, os olhos verdes firmes a encarar o mais velho, que cerrou os lábios, irritado.

    Em menos de um segundo havia largado de todo o narguilé e puxado a moça para cima de si, fazendo pressão em uma certa área, os olhos cor de mel ficando um pouco vermelhos, os dentes a mostra:

    —Minha esposa, e minha serva? Tu existes solenemente para me servir? Pois bem, minha querida… — Cravou os dentes no pescoço da moça, que soltou um gemido, misto de dor e prazer.

    —Sirva-me da melhor forma que tu o podes fazer, e sacia os meus desejos…

    Mais tarde, Abdulah se encontrava na porta de casa, se preparando para sair. Ouviu passos leves atrás de si, e sorrindo preguiçosamente virou-se em direção a esposa:

    —Pensei que eu houvesse te cansado o bastante, de forma que tu não pudesses te mexer por algum tempo. Mas parece que me enganei.

    Maria, enrolada em um cardigã preto de seda, que deixava pouco a imaginação, curvou se no chão, a cabeça baixa, como fizera há tantos séculos atrás, ao jurar lhe sua lealdade:

    —Pois eu lhe disse mestre… Eu sou teu escudo, e aonde tu fores eu irei.

    Abdulah sentiu uma leve dor no peito. Esperava que um dia, Maria entendesse o quanto ela lhe era cara, amada. Que pudesse, principalmente, esquecer a forma como o egípcio a tratara no início, não mais que uma empregada a lhe servir na enorme casa que possuía, em Lisboa. Enquanto este dia não chegava, porém…

    —Me dê uma ordem, e ela será seguida. — sussurrou lhe Maria, os dentes a mostra, se preparando para a transformação.

    Abdulah passou as mãos pelo cabelo, incomodado. Com voz de comando, porém sibilou:

    —Te transformes em um corvo. Quero que fique junto a mim, durante a reunião com Madame Scylla, e que não faças um pio sequer. Nós discutiremos o que tu pensas a respeito da reunião depois, quando voltarmos.

    Maria se despiu do cardigã, ainda curvada, e se transformou em um corvo, pousando firmemente no braço de Abdulah.

    —Sim, mestre. — respondeu a moça mentalmente, os olhos negros a espreita, se preparando para o que viria a seguir…

  • Fui traído! E agora? – pt5

    Fui traído! E agora? – pt5

    Era mais ou menos duas da manhã quando ouvi barulho de carro. Na sequencia um dos funcionários da fazenda veio ao meu encontro dizendo que o “doutor Franz” havia retornado junto de muitas mulheres.

    – Uai, hoje a festa vai ser boa patrão!

    – Nem me fala Alcides, hoje a noite vai ser longa! Aliás, avise o pessoal para preparar os cavalos que hoje vamos para a casa do mato.

    – Sim sinhô!

    Franz estava ao volante, Pepe ao seu lado na frente da caminhonete e no banco de trás estavam Becky e a maldita loira safada. Ela estava visivelmente abalada, seu rosto trazia alguns hematomas e cicatrizes, o que indicava que ela resistiu o quanto pôde. Eu estava tão ansioso, que nem quis saber de como eles haviam a capturado. Porém, fiz questão de fazer uma social e dei boas vindas a todos antes de dar inicio aos trabalhos daquela noite.

    – Becky e Pepe levem essa puta lá para a sala e nos aguardem. Preciso trocar algumas ideias com meu irmão.

    Franz havia me pedido um minuto de conversa longe das outras por telepatia. Apesar de seu jeito chucro e às vezes irresponsável, ele é mais velho e sua opinião é muito importante nos negócios do clã.

    – Maninho, ela estava junto de outros cinco caras. Estavam bem armados e aparentemente eram mercenários contratados para protegê-la. Foi bacana ver as cabeças rolando e alguns tentando fugir pelas janelas da casinha de subúrbio.

    – Não deixaram provas ne?

    – Obvio, que não. Não sobrevivi quase 500 anos fazendo besteira. Bom, o que eu quero dizer é que vasculhei a cabeça dela e descobri quem foram os mandantes. Como, já havíamos descoberto eram aqueles dois da tal […].

    – Relaxa que o Hector e o Eliot vão dar um fim adequado para eles.

    – Sim sim sim, só que eu queria te falar da loira. Eu percebi lendo a cabeças dela que se arrependeu de uma forma bem sincera.

    – Tais de brincadeira ne?

    – Não, pior que não. Ela é muito gostosa para ser sacrificada…

    Interrompi-o abruptamente com uma gargalhada alta e que provavelmente foi ouvida de dentro de casa.

    – Sabes que eu sempre sigo aquela teoria do general Sun Tzu, no sentido de que vale a pena eliminar um soldado em prol da obediência dos demais. Tem muita gente nova no clã e que precisa sentir uma liderança forte vinda de mim.

    – Eu sei, eu sei, eu sei… Foi só uma opinião. As vezes eu acho que tu és o próprio filho do barão e não apenas um parente distante… Enfim, faça o que achar melhor.

    – Tá vamos para dentro que já são duas e poucos e até chegarmos a casa do mato…

    Nesse momento foi Franz que me interrompeu.

    – Casa do mato e hoje? Ah para irmão, vamos amanhã então. As garotas e eu estamos cansados.

    – Franz, ela vai ficar mais uma noite conosco. Não quero ver as garotas ou tu se apegando mais com aquela puta! Vai ser rápido, prometo!

    – Ok, mas tu vais ficar me devendo uma boa depois dessa maninho.

    Apesar de nossa breve discussão Franz acolheu minha ideia e entramos na casa grande. As garotas estava sentadas no sofá, mudas e com olhar fixo para saber o que iriamos fazer. Deb estava cabisbaixa, seu olhar não subia além de meus joelhos e provavelmente não conseguiria me olhar nos olhos, mesmo que eu lhe obrigasse. Diante disso, comuniquei o que iriamos fazer.

    – Vocês querem trocar de roupa ou colocar algo mais confortável? Vamos pegar os cavalos e fazer uma trilha de uns 30 minutos mata adentro. Franz, provavelmente irá na forma de lobo e eu vou levar essa desgraçada noutro cavalo.

    – Tem que ser hoje? – Perguntou Becky.

    – Sim e se não tiveres nenhum motivo relevante, gostaria que fossemos hoje mesmo para lá.

    – Ok ok, sem problemas Fê.

    Pepe decidiu que trocaria de roupas e Becky decidiu fazer o mesmo. Franz foi preparar uma mochila para que eu levasse suas roupas e eu fiquei na sala com a infeliz. Evitei ao máximo qualquer contato direto com ela, mas fui surpreendido por um choroso, delicado e sincero:

    – Desculpa Fê!

    Assim como um pai que vê sua filha fazendo cara de choro e arrependida por algo de errado que tenha feito, eu fiquei calado por alguns segundos.  Decidi que não lhe proferiria nenhum pio, mas ela começou a chorar baixinho, até o ponto que começou a soluçar e se ajoelhou aos meus pés pedindo piedade de sua alma. Naquele momento eu ainda tinha muita vontade de lhe dizer algo do tipo “além do que já vos tenho anunciado, seja anátema”, mas ponderei. Relembrei de quantas “merdas” eu já havia feito mundo afora e do quanto Georg foi Benevolente.

    Mas ela, o que ela havia feito era diferente, ela havia jogado informações confidenciais, inclusive de meu clã, para espiões industriais. Ela era uma Ghoul e não deveria ter feito isso, eu pensava comigo. Foi quando Franz voltou a sala, viu a cena patética e disse com ar de desdém:

    – Ah então agora tu se arrepende?  Fomos baleados, tivemos de matar inocentes para conseguir informações tuas e agora isso. Tenha o favor… Ferdinand se quiser arranco a cabeça dela aqui mesmo e agora…

    – Calma Franz, estou pensando no que tu me disse antes, a opinião de Deb não conta em nada agora. Será que poderias fazer mais uma “leitura” para mim?

    Falei para ele por telepatia: “Descubra quem pediu as informações, veja como que o meu laço de sangue com ela foi rompido e veja se ela realmente pode ter uma segunda chance conosco”.

    Franz foi até a loira, que ainda soluçava e chorava feito uma criança e olhou fixamente para seus olhos. Fitou-os por algum tempo e até que ela parou de chorar. A esta altura da noite Pepe e Becky já haviam retornado para a sala e impacientemente aguardamos o relatório de Franz. Quando finalmente depois de alguns instantes ele se virou para nós e disse:

    – Nem todos merecem uma segunda chance…