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  • O despertar

    O despertar

    Como faz tempo que não publico nenhum FanArt, segue abaixo uma bela história de transformação que me foi enviada pela Gabriela Cristina.

    O despertar

    Meu corpo me pedia para sair, minha alma clamava desesperadamente por aquilo. Tudo me pedia. A brisa entorpecente da noite soprando em meu rosto, a lua estava cheia, linda e soberana, dominando um céu negro e apinhado de estrelas. Prometi a Ian que não sairia, ele não queria que eu fizesse aquilo, não achava certo, havia me pedido milhões de vezes, pois se eu o fizesse correríamos o risco de nos tornarmos inimigos, então prometi a ele que não sairia, mas algo naquele lugar foi mais forte que eu e me conduziu pra lá. No caminho, senti que estava sendo observada, mas nem liguei o chamado era tão forte que nem tive tempo de sentir medo do que quer que estivesse me acompanhando, ultimamente, depois de ter tomado de vez a minha decisão, meus sentidos estavam mais aguçados, os espíritos não paravam de aparecer tanto em sonhos quanto pessoalmente me pedindo que reconsiderasse pois se eu fizesse realmente o que queria, estaria me desfazendo de um dom dado por Deus e pela natureza e passaria a ter dons obscuros, não poderia mais vê-los e nem ajuda-los. No início fiquei um pouco pensativa sobre isso. Desde pequena eu era atormentada por espíritos, sempre os vi, ouvi, senti, mas por um bom tempo não soube como lidar com eles, por muitas vezes chorava de medo, implorando para que fossem embora, quando eu contava a alguém, a pessoa se afastava de mim ou então dizia que eu estava ficando louca, já fui parar em muitos médicos por causa disso, mas à medida que fui crescendo, comecei a me informar e descobrir algumas formas de controlar as visões. O medo passou um pouco, mas continuei a vê-los. Quando perdi meus pais, as visões pioraram de novo, vi minha mãe uma vez, era o que eu mais queria, mas de tão assustada não consegui se quer abrir a boca para falar com ela, então ela se foi. Depois desse fato, me revoltei, de que adianta ter o dom de ver espíritos, sentir e falar com eles, se não posso trazer ninguém de volta, isso não é justo! Foi refletindo sobre isso que tomei de vez minha decisão, não tinha mais nada a perder, se desse certo, eu seria, pela primeira vez e muito tempo, uma pessoa feliz, se não, eu morreria e tudo acabaria de vez, como acontece com qualquer mortal.

    A floresta estava muito iluminada pela luz da lua, havia muito tempo que eu não ia ali, desde a morte de meu pai, era doloroso de mais se quer pensar, mas agora era diferente, eu sairia dali diferente, e talvez, se tudo desse certo, as lembranças da minha vida mortal não me assombrariam mais. Fui entrando cada vez mais fundo em direção à clareira, a floresta havia mudado um pouco, não estava mais tão fechada, peguei uma das trilhas e segui em direção ao meu objetivo. O ar foi ficando mais denso e pude escutar meus passos, senti um calafrio percorrer minha espinha e sabia que não tinha nada a ver com o vento, parei. Estava ofegante. Meu coração estava tão acelerado que outra pessoa seria capaz de ouvi-lo de longe. Olhei ao meu redor, não havia ninguém. Silêncio absoluto. Comecei a pensar se deveria mesmo continuar ali, se não deveria voltar e ouvir o conselho de todos que me pediram para que eu não fizesse aquilo. Imediatamente uma voz dentro de mim respondeu: “Continue, você não tem nada a perder, está no caminho certo, ignore o medo.” Fui respirando mais calmamente e aos poucos, o coração voltou a bater mais devagar. Recomecei a andar e pouco tempo depois já estava na clareira. Era o lugar mais iluminado, por entre as árvores eu podia ver a lua claramente. Sentei e esperei. Confesso que o silêncio daquele lugar estava me deixando muito assustada, toda coragem que eu havia reunido estava começando a se dissipar, estava tudo muito quieto, nem um barulho, até o vento estava silencioso. Esperei mais um pouco e nada. Comecei a pensar que era melhor tentar voltar pra casa e desistir de tudo, eu só podia estar louca, ir para o meio da floresta, sozinha, a noite. Ele não iria aparecer, disse que saberia quando eu chegasse e que queria ver se eu realmente teria coragem de ir até ali sozinha, se eu realmente queria o que eu havia pedido a ele, poderia até já estar ali, mas por alguma razão eu não conseguia sentir sua presença. Olhei no relógio, já se passava da meia noite, o ar ficava cada vez mais frio e eu, a cada minuto que passava, ficava mais incomodada com aquele silêncio. Decidi ir embora. Quando me levante, senti outro calafrio transcorrer minha espinha, bem mais forte que o primeiro. Um vulto passou por entre as árvores, tão rápido que não pude ver, meu coração acelerou de novo, fiquei apreensiva, sabia que não era um espírito, era algo físico. O vulto se moveu de novo, dessa vez pude ver a sombra de um rosto. Tudo ficou quieto. Não sabia se corria ou se continuava parada, foi então que ouvi uma voz doce e ao mesmo tempo venenosa sussurrar em meu ouvido.

    – Tu és mesmo corajosa, vir aqui a essa hora da noite, sozinha e sem avisar ninguém onde estás!

    – Não te disse que eu viria, aqui estou.

    – Sim, estou vendo, provou que és uma pessoa decidida, de palavra, mas não achas que estás se arriscando de mais ao fazer isso? Eu poderia muito bem não cumprir o que disse…

    – Pensei mesmo que você não viria, já estava indo embora.

    Ele se colocou a minha frente e acariciou meu rosto ao falar com aquela voz doce e suave que ao mesmo tempo soava com um tom de perigo, de ameaça, seus olhos verdes, muito brilhantes penetravam os meus, seu cabelo negro e liso caia sobre seu rosto perfeitamente belo, uma beleza sobrenatural, que me deixava hipnotizada, mas o que me fez perder a fala foram suas palavras.

    – Não me refiro a isso, jamais deixo uma dama me esperado, eu já estava aqui te observando, vendo se terias mesmo coragem de vir até o fim, mas eu poderia muito alimentar-me de ti e deixar seu corpo aqui para que talvez fosses encontrada um dia, não tens medo?

    Mais uma vez passou pela minha cabeça se eu realmente deveria estar ali, por um momento pensei em correr, mas de nada adiantaria ele me alcançaria antes que eu chegasse à metade do caminho, então apenas respirei bem fundo e respondi.

    – Por um momento tive medo do silêncio da floresta, de que alguém que não fosse você aparecesse, mas jamais de você. Sei muito bem o que quero, disse que estaria disposta a te encontrar em qualquer lugar.

    – Será mesmo que sabes o que quer? Posso sentir o medo que emana de ti, minha cara… Mas podes ficar tranquila que não vou só me alimentar de ti, bom, pelo menos não pretendo, a menos que eu mude de ideia. Quero saber se pensou a respeito das cosas que eu te disse? Vais embarcar em um caminho sem volta, e não é tão fácil quanto pensas, podes desistir agora e eu até te deixo voltar viva pra casa…

    – Não. Pensei em tudo que você me disse, já tomei minha decisão, farei o que você mandar, o que for preciso, vou aprender tudo que for necessário para conseguir me adaptar.

    – Pense bem minha cara, estarás abrindo mão da sua mortalidade, da sua alma, da sua humanidade e se um dia se arrependeres, não poderás mais voltar atrás, terás que viver com isso pela eternidade. A minha mortalidade me foi tirada contra minha vontade e eu daria tudo para tê-la de volta, tu tens a sua e estás abrindo mão…

    – Se eu pudesse, faria com que você voltasse a ser mortal, trocaria de lugar com você, te daria minha mortalidade, mas não posso, quero ser transformada tanto quanto você quer ser humano novamente, não tenho mais o que pensar, estou decidida, faça o que tem que ser feito.

    – Está bem, minha cara, farei como quiseres, mas te darei um aviso: jamais transformes ninguém, em hipótese alguma, jamais faça isso, nem mesmo se ficares apaixonada, terá que desistir dele ou vê-lo envelhecer e morrer, mas jamais o transforme, porque eu vou saber, e virei atrás de ti de quem tiveres transformado e os matarei, sem dó, e não penses que podes me enganar, eu sempre saberei onde te encontrar. Estamos combinados?

    Nesta hora, senti realmente o peso daquelas palavras, tive a convicta certeza de que ele dizia a verdade, ele realmente teria coragem de me matar, mas eu sabia que não iria me apaixonar, seria a última coisa que eu faria sabendo que teria uma eternidade pela frente.

    – Sim, estamos combinados, você tem a minha palavra de que não vou transformar ninguém.

    – Então, minha cara, bem vinda a sua tão sonhada vida imortal, aproveite a eternidade…

    Confesso que tive medo novamente, mas apesar disso, nunca iria voltar atrás, estava prestes a começar viver a vida que sempre senti que me pertencia, não veria mais espíritos, e nem precisaria conviver com lembranças que eu não quisesse, teria a eternidade pela frente para fazer o muito que ainda não tinha feito em 26 anos, sem me preocupar com o tempo. Estava nascendo de novo…

    Ele veio em minha direção, segurou minha mão, acariciou meu rosto, sentiu o cheiro do meu sangue, meu coração batia acelerado, pude ver nitidamente a cor de seus olhos mudando, ele ficou atrás de mim, tombou gentilmente minha cabeça para trás, senti seus dedos passando pelo meu pescoço, olhei para a lua, que continuava clareando a floresta, me sentia muito feliz… Senti suas presas penetrarem meu pescoço e uma dor excruciante tomar conta do meu corpo, uma dor como jamais senti em outra ocasião, a pior de todas, senti uma fraqueza imensa tomar conta do meu corpo, minhas pernas cederam e minha visão escureceu…

    Quando acordei, não sabia onde estava. Meus olhos que estavam embaçados, aos poucos foram voltando ao normal, fui me recordando da noite que se passou, me dei conta de que
    es estava em meu quarto, deitada em minha cama, senti uma tristeza enorme ao perceber que tudo não passou de um sonho, tive vontade de morrer, não acreditava que pudesse ter apenas sonhado, parecia tão real…

    Mas quando passei a mão em meu pescoço, senti algo diferente… Minhas mãos estavam diferentes… Meu corpo estava diferente… E quando abri a cortina e o sol tocou na minha pele, foi como fogo queimando papel… Percebi então que não havia sonhado, estava acordando para a eternidade.

  • Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 1

    Livro de bruxarias da Madame Borgia – Pt 1

    “…A caligrafia do Livro deve ser firme, clara e bela. Na fumaça do incenso é difícil ler os conjuros. E enquanto tenta ler as palavras por entre a fumaça, ele desaparecerá, e terás de escrever aquela terrível palavra: Fracasso.”

    ―Aleister Crowley

    Quando fui acordado em 2005 depois de 50 anos hibernando nos braços de Morpheus, eu levei algum tempo para me readaptar. Todo Wampir que já hibernou alguma vez, enfrenta esta fase de uma forma muito pessoal e eu não fui diferente. Por incentivo de Joseph e Sebastian, ambos ratos de biblioteca, eu fiquei até meados de 2008, lendo sobre tudo que me aparecia. Livros, revista, internet, até bulas de remédios ou rótulos de produtos nos supermercados foram meu passatempo até que em fim montei este site em 2008.

    Dizem que esta hibernação pode recuperar a sanidade de um vampiro e foi por isso que tomei tal decisão nas idas e vindas pelo Rio de Janeiro dos anos 50. Alguns chamam esse processo de realinhamento de xacras, outros de cura da alma e eu só tenho a dizer que voltei “novinho em folha” e pronto para mais 100 anos de muitas peripécias…

    Mudando então de assunto, mas nem tanto, foi nesta época de muitas leituras que encontrei um livro especial nas cousas do Barão. Este material cujo nome não posso revelar e que chamarei por aqui de “Livro de bruxarias da Madame Borgia”, me despertou um interesse ímpar. Afinal, entre tudo o que o autor(a) anotou, há também muitas poções e rituais interessantíssimos.

    Na verdade, o livro é apenas a ponta de um iceberg que me levou a outra grande aventura, cujo fim será digamos revelador. Pois bem, deixando o contexto histórico de lado voltemos a uma sexta-feira e que por coincidência era  dia 13 de outubro de 2006. Não sei o que vocês faziam neste dia, mas eu estava em nossa casa da fazenda. Era uma noite quente, úmida e como todo final de ano no Brasil havia aquele clima Natalino onde todos só falavam disso, TV, internet, lojas decoradas, casas decoradas…

    Fazia quase um ano que eu havia voltado de meu sono e mesmo assim esta sempre me foi uma época difícil, pois sempre me recordo muito de minha família mortal. Obviamente chateado e triste decidi ligar o rádio e lá vinha o senhor Eric Clapton com sua famosa Layla.. Para quem não conhece a letra da música começa assim:

    “What will you do when you get lonely
    and nobody´s waiting by your side?
    You’ve been running and hiding much too long
    You know it’s just your foolish pride”

    Eu gosto desta música, gosto também do ritmo e do famosíssimo refrão: “Layla, you’ve got me on my knees… bla bla bla”, mas sabe aquele dia em você presta atenção na letra? Caso não tenhas reparado mancebo, a letra é um belo tapa na cara logo de início, onde o autor deu a entender algo do tipo: “Deixa de ser orgulhoso e faça alguma coisa seu babaca”.

    Para piorar mais ainda minhas ideias não havia mais ninguém comigo naquele dia. Franz havia saído com Eleonor, Sebastian e Joseph estavam em outro cidade/mundo e nenhum dos serviçais Ghouls da fazenda me instigavam a atenção a ponto de eu puxar assunto. Tento em vista isso tudo, eu comecei a vasculhar as coisas antigas em busca de algo que me distraísse.

    Quando um vampiro hiberna é como se ele fosse fazer uma mudança então imagine muitas cousas que eu possuía encaixotadas, fechadas ou entulhadas em uma grande sala de jogos, aquela sala onde você joga tudo a ponto de esquecer que possui e aos moldes dos problemáticos acumuladores.

    Uma caixa com objetos variados, outra com lembranças, outras tantas com coisas inúteis tipo talheres de prata, se bem que a prata na pior das hipóteses pode ser derretida… Enfim, fucei tudo até que finalmente achei mais uma com livros. Porém, estes eram do barão e eu não deveria mexer. Sabe quando você acha algo velho dos seus pais e surge aquela curiosidade?

    Manuscritos sobre biologia, química, algumas cartas… Até que finalmente encontro um pacote muito bem embalado com um tecido bege e lacrado com cera preta. Cujo carimbo não consegui identificar. Naquela de abrir ou não, eu simplesmente deixei de lado o fato de ser um vampiro, o fato de aquilo ser algo do meu mestre e toda aquelas cousas que nos falam sobre educação ou boas maneiras. Minha curiosidade sempre foi minha maior virtude e defeito, não é mesmo?

    Dito e feito, logo que rompi o selo do pacote, senti algo diferente, tal qual uma espécie de calafrio inesperado, daqueles que arrepiam os cabelos da nunca de qualquer um. Embalagem para um lado e em minhas mãos um livro grande de mais ou menos umas 500 páginas e uma bela capa de couro texturizado. Não havia cadeado, mas uma simples fechadura daquelas de empurrar uma bolinha para cima e outra para baixo. Ao abrir, as páginas se estufam dobrando de tamanho e algumas cousas caem de seu interior.

    Dentre as cousas que caíram havia uma pena negra, um pingente aparentemente de prata com formato de pentagrama e algum tipo de pó, que simplesmente misturou-se ao ar. Guardei tudo nos bolsos e fui para a sala, onde passei o resto da noite folheando e folhando até apagar…

    Suellen? Quem é você? Não brinque comigo garota tire logo esse capuz!!!

  • Rio de janeiro sec. XX

    Rio de janeiro sec. XX

    Olá tudo bem? Quem acessa meu site há algum tempo sabe que por vezes eu dou minhas sumidas. Todavia, o que eu realmente faço quando desapareço por algumas noites? A resposta está abaixo em mais um relato de época…

    Já falei diversas vezes por aqui sobre o inicio de século 20, época no qual tive o prazer de viver ao lado de minha querida Eleonor e logo depois de voltamos da Europa. Onde estivemos por quase 50 anos em meio aquelas pessoas geladas, no qual o clima por vezes nem era o que mais incomodava.

    Este início de século me foi uma época muito boa por vários motivos. Precisei reencontrar minha humanidade, tive de me readaptar aos novos modos brasileiros e além disso, ganhei responsabilidades novas. Afazeres que muitas vezes não eram o que um ser eterno gostaria de fazer, ou pensa que gostaria como a tão almejada liberdade de ir e vir. Afinal ninguém é livre, nem mesmo nós.

    Apesar dos pesares, gostei muito desta época por ser o inicio da era moderna. Naqueles anos as pessoas, ao menos aquelas dos ambientes urbanos estavam melhorando seus hábitos relacionados a higiene. Questão que na minha opinião é muito importante, afinal de contas quem gosta de se alimentar de algo sujo? Eu nunca fui fã de pessoas sujas ou maltrapilhas em minhas degustações, salvo as vezes em que é necessário. Aliás, dizem que isso é um dos meus defeitos…

    Nas décadas de 1900 e 1930 no Rio de Janeiro, eu pude acompanhar a grande mudança nos transportes de longas distâncias, como quando em 1927 em que os primeiros aviões comerciais começaram a substituir os tradicionais navios a vapor. Além disso, os famosos “bondinhos” do Rio que existiam desde 1859 começaram a dividir espaço com os carros particulares.

    Todas essas mudanças nos meios de locomoção encurtaram as distâncias e facilitaram muitas cousas, principalmente o transporte de mercadorias. Tendo em vista, este cenário e nossa experiência adquirida anteriormente na Europa no que diz respeito a fabricação de roupas, Eleonor teve a genial ideia de montar uma filial em terras tupiniquins.

    Nestas noites difíceis entre pesadelos e sentimentos ruins nós procuramos por diversos espaços que comportassem nosso negócio. Por se tratar de uma construção complexa que exige diversos componentes naturais e políticos, nós optamos por atuar diretamente com nossos Ghols. Fazendo com que eles fossem os “laranjas” e assim nos protegíamos ao mesmo tempo que agregávamos moral as negociações.

    Então depois de vários investimentos o negócio ia de vento em pompa até que veio a maldita política de 30, onde o governo louco brasileiro sacaneou muitos industriais em favorecimento da economia cafeeira. Foi quando resolvemos vender a fábrica antes de ter prejuízo.

    Depois disso, minhas crises existenciais pioraram de tal forma que eu vivia de pândegas e boêmias. Meu relacionamento com Eleonor rumava para o fim, porém por sorte ela se mantinha firme. Controlando como podia os negócios de nosso clã, função que na verdade era minha.

    Então os anos se passaram e eu resolvi hibernar. Franz se manteve a frente do clã junto de Eleonor, Sebastian e Joseph. Na verdade, diz ela que foi nesta época em que eu e o Barão hibernávamos que o clã realmente se uniu. Como eu digo, pelo menos a minha desgraça teve uma parte boa…

    Depois que retornei ao mundo em 2005, encontrei uma organização nunca antes vista em nosso clã. Parte proporcionada pelas novas formas de gestão via computador e noutro lado por causa de Eleonor e seu jeito mãezona. Depois disso, eu já comentei por aqui sobre o meu retorno a liderança do clã, sobre meu novo afair com Eleonor e acredito que não preciso dizer por que atualmente ela vive isolada, apenas cuidando da filha da falecida Stephanie.

  • Frases do vampiro Ferdinand

    Frases do vampiro Ferdinand

    A minha querida e paciente Mila Bortoluzzi, leu todos os posts e histórias aqui no site e separou algumas frases que ela achou interessante. Como existem cousas que eu nem me lembrava de ter dito, resolvi salvar neste post. Divirtam-se com meus pensamentos!

    “Cara de boa eu tava aqui coçando o saco… Pois é vampiro tb tem saco apesar de alguns acharem que não… E funciona muito bem obrigado!”

    “…o sangue tipo “O” é mais pesado, quando o consumimos nos deixa com a sensação de peso, sabe quando você come uma feijoada, é parecido.”

    “Deprimido? Que tal ler um poema vampirico e piorar…”

    “…Pare e pense comigo, se uma pessoa que viveu 20 ou 30 anos já está infeliz, imagina tendo uma eternidade pela frente…”

    “Eu não sei qual o peso da sua “mochila”, só sei que se você carrega uma maior que a minha é por que você consegue!”

    “Não existe ser consciente que consiga viver sem se apaixonar…”

    ”Quem já amou e por algum motivo perdeu quem ama, sabe que não é necessário a presença, nem o toque para se gostar e sentir falta…”

    ”…cada um tem de ter o seu espaço se não o bicho pega, no nosso caso o vampiro rss…”

    “… mas no fundo o passado e o que fizemos sempre retorna para nos assombrar ou pelo menos confundir.”

    ”Gente nem tudo na vida é 8 ou 80 as vezes algumas regras podem ser modificadas.”

    “Esse negócio de moda, aliás, é algo complicado entre os velhos, eu mesmo tenho um quarto cheio de tranqueiras e relíquias. Deve ser do comportamento humano se agarrar a objetos que lhe são convenientes ou importantes em determinados momentos.”

    “Fiz algo simples, metamorfoseei-me (existe essa palavra?) em um cachorro.”

    “…ver todos a sua volta morrendo com o passar das gerações é para muitos um drama difícil de superar…”

    “…por que o ser humano é o único entre os seres deste mundo que consegue ser tão ruim para com o seu próprio semelhante?”

    “Ok, esse upgrade ou atualização nos custou a vida, o sol e acabou nos trazendo milhares de problemas que muitos de nós apenas deixam rolar…”

    “…sempre que nos tiram algo a primeira ideia que surge é sair por ai querendo fazer justiça com as próprias mãos…”

    “Já disse que eu escrevo para me acalmar?”

  • Download – Bíblia das bruxas

    Download – Bíblia das bruxas

    Noites atrás vários de vocês me perguntaram o que eu sei sobre bruxaria. Como eu disse não é o meu forte ou assunto no qual eu me dedico, porém sempre que posso ou tenho acesso eu desprendo algum tempo nisso também.

    Alguns anos atrás eu estava lendo muito sobre sobre Wiccas, talvez por influência da Beth (minha ex) e em meio alguns materiais eu me deparei com essa tal de Bíblia das bruxas:

    Clique aqui para ver o arquivo no formato pdf.

    Eu não vou falar muito e queria na verdade, antes de dar minha opinião, ouvir o que vocês acham sobre esse material. Vamos lá leiam, não é tão longo e garanto que os textos são de fácil interpretação, vejam o trecho abaixo:

    Queríamos referir que os bruxos Americanos usam agora universalmente o pentagrama direito isto é, apenas com uma ponta para cima como sigla do Segundo Grau, porque o pentagrama invertido é associado com o pensamento americano sobre o satanismo. Os bruxos europeus, no entanto, ainda usam o tradicional pentagrama invertido, com as duas pontas para cima, mas sem implicações sinistras. O simbolismo europeu significa que, não obstante os quatro elementos de Terra, Ar, Fogo e Água estarem agora em equilíbrio, ainda dominam o quinto, o Espírito. O pentagrama direito do Terceiro Grau simboliza que agora o Espírito domina, rege os outros. Dada a diferença entre o uso Europeu e o Americano, damos duas alternativas no procedimento da unção no ritual que se segue.

  • O totem desaparecido – Final

    O totem desaparecido – Final

    Eu havia sido recarregado, sentia-me forte como se tivesse me alimentado de sangue fresco e ao reabrir os olhos vejo-me deitado em uma cama, no que parecia ser uma das casas do tal plano no qual estávamos. Ao meu lado um velho índio, que dentre outro detalhes utilizava um colar igual ao de Apoema.

    – Enfim acordou meu filho, precisei realinhar teus chakra, está bem agora?

    – Sim sim obrigado, já estou acostumado a esses apagões, quase tudo na minha vida gira em torno disso e desde que virei o que sou. Onde estamos, onde estão os outros?

    – Nos aguardam do lado de fora, Carlos está ansioso para ir buscar o Totem!

    Então sem mais delongas saímos do lugar e para minha surpresa ao abrir a porta sou agraciado com uma das mulheres mais lindas que já vi. Cabelos amendoados e muito lisos, olhos escuros como a maioria das minhas noites e com o rosto pintado com tinta azul, ao melhor estilo Pocahontas em dia de guerra. Confesso que poderia preencher uma página com todos os seus atributos… No entanto, quando me viu ela apenas sorriu e disse com todo o carinho possível: – Porra até que enfim Edward, você estava esperando o que, a Bella vir te dar um beijinho??? Anda te mexe, todos nós queremos voltar logo para casa. – Porém, eu estava tão bobo diante a beleza da garota que simplesmente ignorei a piadinha e somente sorri feito um idiota… Eu devia estar babando na verdade…

    Todos estavam sentados próximos a uma grande árvore no jardim, cujo cume não pude ver em função da forte neblina que ainda assolava o lugar. – Então nosso Wampir acordou! Como estou sentindo tuas energias renovadas, vou reforçar nosso plano de ação. A ideia é simples meus irmãos e nos separaremos em dois grupos. O maior vai atrás da outra matilha e o menor irá atrás do totem. Ferdinand, Apoema e Charlotte e eu iremos ao santuário.  Stuart irá liderar o outro grupo que conterá o máximo possível àqueles bastardos. Lembrem-se tudo o que acontece por aqui afeta os seus corpos no plano terrestre, que a Deusa Dhan os proteja e que nosso reencontro seja próximo.

    Caminhamos por muito tempo em meio à densa floresta e longe da urbanização. Por alguns momentos eu me sentia muito bem naquele plano, pois era como se eu estivesse voltado no tempo, numa época antes de virar o que sou. Bem na verdade eu estava empolgado “secando” a bela indiazinha que rebolava a cada passada a minha frente… Contudo, isso não durou muito e meus pensamentos foram interrompidos por Carlos:

    – Pois bem meu amigo, preciso te deixar a par do que está acontecendo. Aqueles dois Wairwulf, que foram assassinados eram os protetores do Totem de Giniw, que dentre vários atributos é uma espécie de gerador que torna possível a nossa entrada em planos como este. Como é possível entrar aqui e sair onde se quiser imagine as possibilidades de tal artefato. Apoema é o espírito que vive dentro do Totem e ao perceber que eu queria apenas protegê-lo, veio para o nosso lado contra a outra tribo. Neste momento estamos indo na direção do santuário, que nada mais é do uma cópia do totem neste plano, onde Apoema fará a transferência de propriedade dos antigos protetores para alguém que ele julgue merecedor. Caso ninguém seja capaz de tal mérito todas as almas presentes aqui serão expulsas e o totem será “desligado” por cem anos.

    Isso explicava por que alguns Wairwulf rondavam a casa, por que o Totem havia sumido e por que tantos poderes ocultos estão envolvidos em tudo que está relacionado a tal relíquia.  Diante tal história só me restava acompanhá-los e desejar que mais nada desse errado.

    Minutos mais tarde chegamos ao tal santuário, uma bela construção de pedras escuras envolta de arbustos e pequenas árvores. Confesso que estivesse passando por ali não repararia na pequena formação rochosa, com pouco mais de 2m de altura e com uma bela águia entalhada no topo. Apoema foi o primeiro a chegar ao local e antes de iniciar o ritual nos disse: – Preciso juntar toda a energia que eu conseguir, é possível que isso faça todo o lugar se estremecer, portanto fiquem próximos a mim. Caso os outros cheguem, apenas aguardem minha manifestação.

    Enquanto o espírito se concentrava nós apenas aguardamos em silêncio, quando sem mais nem menos tudo ao nosso redor parecia sacudir, tal qual como em um interminável terremoto. Pedras rolavam, árvores caiam, um forte vento quase nos levantava do chão, até que após alguns instantes veio a calmaria. Porém como nada é fácil, Carlos avistou alguém da outra tribo e correu para seu encontro. Charlotte, o seguiu antes que eu pudesse dizer algo e para minha surpresa lá estava eu novamente em minha forma bestial.

    Ao contrário das outras vezes, nesta eu pude controlar minha forma como se estivesse sem ela e certamente foi a primeira vez que percebi todos os benefícios da transformação. Força, visão, destreza, olfato… Todos ampliados de uma maneira nunca antes sentida por mim. Olho para o lado e Apoema havia sumido, então não me restava mais nada além de ir para a briga.

    Iniciava-se ali uma série de lutas, onde os ferimentos literalmente doeram na alma. Garradas, mordidas, chutes… Todos arrancavam partes do que pareciam ser nossos fluidos e que se dissipavam no ar quando arrancados. Foi assim até que outro terremoto e desta vez mais forte, fez todos caírem ao chão, a camada de neblina que parecia permanente finalmente se dissipou e agora podíamos nos ver uns aos outros. Lá estava Carlos, Charlotte, o irmão mala e quase todos os outros entre amigos e inimigos.

    Naquele instante paramos obrigatoriamente de brigar, era como se o lugar nos forçasse a parar todas as lutas e pedisse atenção. Quando finalmente surge uma espécie de luz vinda de onde Apoema estava, a formação luminosa flutuou até mais ou menos o meio do campo de batalha e aos poucos nos mostrou a forma de uma bela águia. Em questão de instantes, ela começou a mudar de um tom amarelado para um tom vermelho, quando sem qualquer tipo de aviso simplesmente explodiu… Silêncio… Escuridão…

    Não sei quanto tempo se passou desde a explosão luminosa, mas ao reabrir meus olhos percebo que estou novamente abaixo da terra e ainda sob efeito de minha magia de união com esse elemento. Percebo que ainda é noite então desfaço o poder e revejo a floresta do plano terrestre. Próximo a mim vejo Carlos e também os corpos de Charlotte, Stuart e de todos os demais a exceção daqueles pertencentes à tribo rival.

    Dirijo-me a Carlos, ouço seu coração que ainda bate e lhe dou alguns tapas na cara. Entre resmungos o velho Wairwulf reluta como uma criança birrenta, mas finalmente abre os olhos. Ele se senta, espreguiça-se e depois de um tempo me fala: – Eu imaginava que seriamos expulsos daquele plano, só não sabia que Charlotte seria escolhida a nova protetora do Totem, venha, vamos acordá-la!

    Duas noites depois ligo para meu ex-cunhado e recomendo o arquivamento do inquérito, em seguida arrumo algumas malas e viajo para o Chile. Afinal, depois de tudo que enfrentei junto de Carlos, eu precisava participar do Ritual de agradecimento a Apoema e oferecido pela linda Charlotte.

  • O totem desaparecido – Parte 6

    O totem desaparecido – Parte 6

    “Bang bang, he shot me down
    Bang bang, I hit the ground
    Bang bang, that awful sound
    Bang bang, my baby shot me down”

    Bang Bang – Nancy Sinatra

    Como em um dos filmes do Tarantino, naquelas intermináveis cenas do famoso olho no olho, estava eu diante uma trupe apavorante de metamorfos sedentos por meu sangue. Não sei se você meu caro mancebo já passou por uma situação similar, mas ao meu ver esse não é o tipo de evento em que se planeja estar e muito menos em que se permite o luxo de uma estratégia.

    Certamente, se tu já leste algum outro texto meu, sabes que tenho certa impaciência e quase sempre costumo agir por impulso. Mesmo diante tantos, tu ainda agiu desta forma Ferdinand? Pois então, o que você faria em meu lugar?

    Acordado repentinamente do que parecia ser um sonho, transformado no que eu chamo de forma demoníaca ou bestial e envolto por duas dezenas de Licans. Naquele instante não me restava alternativa além de arriscar. Então, em poucos segundos vi o primeiro a minha frente recebendo uma “garrada” de minha mão direita. Na sequencia outro ao seu lado recebendo um chute e entre tantos socos percebi enfim, que se tudo continuasse de tal forma, eu acabaria sucumbindo ao fim pela cimitarra afiada de meu ex-amigo…

    Todavia, há sempre aquele respiro final ou a tal luz no fim do túnel e quando estava literamente entrando em paranoia, Carlos se manifestou por telepatia: – Puta que pariu, meu amigo realmente achas que eu te trairia? Não te lembras de que temos um pacto de sangue e nem se eu quisesse poderia ir contra tua existência? Acalma-te!

    Como um estalo e diante de tal telepatia eu voltei à realidade, ao menos a realidade daquele mundo paralelo… A minha frente ainda se fazia presente a horda com os vários peludos, porém percebi que nenhum deles realmente apresentava ameaça. Na verdade todos apenas me observavam e os que tinham poderes mentais, deviam provavelmente estar rindo de minhas estratégias e pensamentos.

    Tudo isso deve ter durado poucos segundos e quando abri a boca para soltar algo, Carlos se manifesta novamente e agora para todos: – Ai está o sangue puro que eu comentei com todos vós… – Ao mesmo tempo ele passou rapidamente por entre seis ou oito que estavam a sua frente e continuou a apresentação. – Como ninguém aqui quer desperdiçar energia é melhor eu contar sobre o que todos nós fazemos aqui, não é mesmo meus irmãos?

    Diante tais palavras outro metamorfo que estava próximo a mim, aquele mesmo com aparência de pantera negra, completou as palavras de Carlos: – Ainda acho que deveríamos capturá-lo e tentar aproveitar ao menos uma parte dessa sua energia suja … – Confesso que ao ouvir tais palavras, certo calor instigou meu demônio interior a ponto de me deixar com muita vontade de dar uma boa surra no infeliz. No entanto, ao mesmo tempo em que eu pensava outro peludo com aparência parecida com a dele, porém comedidamente menor, interrompeu tal infortúnio.

    – Cala essa tua boca “bafo de rato”, estamos aqui para o resgate, deixe tuas opiniões idiotas para as tuas putas… – Para minha surpresa era uma garota, um tanto quanto xucra pensei comigo, mas uma garota e com forte sotaque inglês, muito semelhante ao tal babaca. Contudo, antes que aquilo pudesse virar uma festa de xingamentos, Carlos interrompeu os ânimos com mais algumas palavras. O detalhe é que tudo isto estava acontecendo por telepatia, aliás, toda a comunicação nesse plano e ocorrida até aquele momento havia acontecido desta forma.

    – Acalmem-se irmãos! Ferdinand, estes são Charlotte e Stuart, são irmãos e fazem parte da minha tribo. Chamei-os junto dos demais assim que conheci Apoema. – Apoema? Pensei comigo e tão logo o nome indígena foi pronunciado, percebo em meio a todos um Lican diferente, no qual nem tinha dado muita atenção antes. Ele possuía uma pelagem grisalha, seu tamanho não era muito significante próximo aos demais e a única coisa que o diferenciava, eram algumas penas vermelhas, verdes e azuis presas em um colar feito de couro entrelaçado e preso ao seu pescoço.

    Apoema  se aproxima de mim ignorando todos, inclusive Carlos que continuava falando e coloca sua mão direita sobre meu peito. Uma sensação de conforto, paz e tranquilidade toma conta de mim a ponto de me deixar eufórico. Tal sentimento me faz fechar os olhos e como mágica tudo fica no mais completo silêncio…

    Bang… Bang… Ouço novamente aquele som lindo vindo do meu peito…

  • O totem desaparecido – Parte 5

    O totem desaparecido – Parte 5

    – Anda Ferdinand levanta, não podemos ficar aqui a céu aberto… – Dizia a voz preocupada de Carlos enquanto eu recuperava a consciência. Tudo bem que eu não sou acostumado a tais práticas, só que cabe aqui uma explicação sobre a viagem astral. Uma cousa é tu entrar pela “porta da frente”, outra é fazer o que fizemos e praticamente invadir o ponto de encontro de outro clã.

    Dois chutes nas costelas e três tapas na cara foram suficientes para recobrar minha consciência, a ponto de eu visualizar melhor o lugar. Percebendo que estávamos em um beco, onde uma densa e típica neblina londrina ocultava a maior parte do local e um forte perfume de Jasmim, que promoviam um clima extremamente diferente do cotidiano mundano.

    Carlos, que parecia não ter sofrido com o enjoo da viagem, ia à frente e eu um pouco cambaleante lhe seguia com afinco. Afim de logo chegar a algum lugar possivelmente seguro. Nesses ambientes não há digamos monitoramento, porém estávamos expostos a todo tipo de ocorrência, principalmente aquelas em que o subconsciente adora nos mostrar durante os sonhos.

    Enfim, depois de algum tempo encontramos o que parecia ser uma floresta as margens da cidade e foi ali que paramos para se recompor mentalmente, ao menos essa era a minha intenção. – Ferdinand, mil desculpas, não era minha intenção te trazer para essa faixa do plano espiritual, afinal dentre vários detalhes, tu não está completamente energizado para se manter por aqui… Pelo que pude perceber o local em que estamos é uma réplica de uma cidade antiga e que foi preservado de alguma forma, talvez por forças que eu provavelmente desconheça… Fique aqui até se recompor, que eu preciso saber com exatidão onde estamos. Caso algo te aconteça lembre-se que a morte é apenas o começo… – Depois de tais palavras ele simplesmente sumiu na minha frente.

    Sabe aquele momento em que tu pensas: – Onde diabos eu fui me meter? – Pois é lá estava eu imaginando por que Carlos havia me abandonado em meio aquele lugar inóspito? Por que eu estaria fraco, sendo que já havia viajado de tal forma antes e não tinha enfrentado tal fraqueza? Por que, porquê e porque, todos passaram pela minha mente.

    Entre tanto, já que eu conhecia o Wairwulf de outros carnavais e sei que ele é um tanto preocupado em excesso, eu comecei a confabular comigo mesmo. Ao meu redor a floresta parecia normal, porém ao observar melhor percebi que não havia o som típico dos insetos. A neblina permanecia densa para qualquer lugar que eu mirasse e aquele odor de Jasmim superava todos os outros cheiros, na verdade tudo tinha cheiro de Jasmim e minha respiração parecia ter voltado à época de humano.

    Não havia animais ou pessoas e o conjunto assemelhava-se muito a uma grande maquete em tamanho e proporções exatas a “realidade”.  Tendo em vista tais detalhes, não resisti e tão logo me senti mais forte, voltei à parte urbana. Para ser sincero eu não me sentia mais forte e é provável que eu estivesse apenas mais confiante.

    Deixando as descrições de lado, eu parti em meio ao desconhecido, vaguei por muitos lugares, entrei e sai de diversas casa, armazéns, porões, porém ninguém aparecia aos meus olhos. Nem mesmo as energias que sempre sinto com muita precisão indicavam qualquer ser vivo. Cansado de tentar achar respostas, sentei naquele mesmo chão no qual eu acordara e por lá fiquei por muito tempo. Ao menos eu achava que estava ali por muito tempo, até que finalmente ouço um ruído. Este foi ficando gradativamente mais alto culminando em uma espécie de zumbido estridente, tal uma britadeira se ligada ao lado do ouvido.

    O barulho era tanto, que de inicio me provocou um comedido pânico, tive vontade de sair correndo, esfreguei os olhos várias vezes, bati nos ouvidos. Todavia, ao perceber que conseguia ver nada, resolvi fechar os olhos… Concentrei-me e para minha surpresa o volume do barulhos foi diminuindo, só que nem tudo são flores, ao reabrir os olhos percebo que estou em minha forma bestial e com mais ou menos uns 20 Wairwulf a minha frente me olhando fixamente.

    Todos estavam em suas formas animais/humanoides. Havia um metamorfo felino, um que se parecia muito com um gorila, outros se pareciam com os tradicionais lupinos. Porém, meu mundo caiu quando reconheci Carlos entre eles, que dentre vários detalhes ostentava sua bela cimitarra…

  • O totem desaparecido – Parte 4

    O totem desaparecido – Parte 4

    – Ao menos podias ter me avisado que iríamos começar assim, matando nossa primeira fonte de informação! – Foi o meu primeiro comentário diante a atrocidade cometida por Carlos, ao mesmo tempo em que eu cutucava aquele resto humano com o pé direito.

    Diante tais palavras, o velho Wairwulf desfez sua transformação e suas feições até então animalescas, deram lugar a um olhar fixo e combinado com um debochado sorriso cínico. Segundos depois ele começava seu discurso (no qual traduzirei para o português). – Fica tranquilo jovem Wampir, antes de liberar a fúria de meus antepassados sobre sua carne podre, eu obviamente absorvi tudo o que era possível desta cadela. E fique de olhos bem abertos há mais deles próximos daqui, esta reserva é uma espécie de oásis, cuja fonte de energia é o totem desaparecido.

    Naquele momento eu confesso que me senti um completo inútil. Meu amigo em poucos minutos havia matado alguém, que escapara facilmente de minhas mãos e descoberto a utilidade de tal item roubado. – Maldita leitura da mente, no qual nunca consegui dominar… – Pensei comigo.

    Então depois de jogar os restos da “cadela” no porta-malas do carro e fornecer algo para cobrir as partes íntimas de Carlos, adentramos na mansão. – Belo ritual de proteção este que tu fez aqui, porém de nada adiantaria se algum deles resolvesse entrar. – Ok, duas vezes inútil, pensei comigo, mas sem reclamar entramos na casa e o sábio peludo fez os procedimentos necessários.

    Entre ervas, pedras e rabiscos no chão, diz ele ter selado o local. Sendo eu apenas um aprendiz de tais prática, confesso que esperava ver alguma entidade, espírito ou pelo menos algumas “coisinhas piscando”. – Tudo bem, devo estar vendo filmes demais. – Pensei comigo…

    Depois de tudo limpo, voltamos ao carro onde Carlos comentou: – Que tal sairmos os dois mata a dentro como lupus? Eu realmente gostaria de descobrir mais alguns detalhes desta tribo e essa sua ligação com tais seres profanos. – Naquele instante eu sentia que podia ser útil novamente e não pensei duas vezes quando aceitei seu convite.

    Minutos depois estávamos ambos na forma de lupus caninus em meio àquela mata úmida e completamente escura aos olhos humanos. Nós no entanto, víamos muito bem a ponto de desviar sorrateiramente de mais dois “vigias”. Nesta forma há uma maior agilidade com relação a movimentação e o faro (olfato) nos permite sentir cousas a muitos metros de distância. Tanto que foi fácil achar a porta de entrada para o oásis.

    Quando o assunto envolve Wairwulfs, há muita magia e principalmente misticismo envolvidos. Um oásis, por exemplo, é uma espécie de refúgio oculto aos olhos mundanos e somente alguém com a devida chave, habilidade ou mapas para localizar suas entradas. É nesse local que a maioria das tribos ou clãs se encontra para suas reuniões, pois dentre outros detalhes a utilização de quaisquer poderes é permitida e oculta aos olhos dos humanos.

    Deixando o papo cultural de lado vamos a ação… Carlos é um exímio rastreador e guerreiro, porém suas habilidades abrangem muito mais que isso. Ele não foi escolhido o Xamã de sua tribo a toa e adentrar universos paralelos é sua grande especialidade. Cabe aqui uma breve explicação, somente a alma do indivíduo adentra em um oásis, então antes de iniciar quaisquer procedimentos, tivemos de ocultar nossos corpos. Tendo em vista, meus recentes aprimoramentos na arte de ocultação na terra, essa foi a opção escolhida.

    De volta a forma primordial, nos concentramos e Carlos deu o início ao procedimento. Com uma faca ele derramou um pouco de sangue e tive de me concentrar novamente, pois o sangue Wairwulf é um dos mais apetitosos. Algumas palavras ao vento e ele me deu o sinal… Era minha vez de parecer útil e sem pestanejar iniciei o ritual. Pedi para Carlos segurar minha mão, concentrei-me, mordi um pouco os lábios como quem faz força e em instantes começamos a sentir as folhas, depois a terra e por fim era como se afundássemos… – Finalmente, fiz algo que presta – Pensei comigo e ao mesmo tempo em que a escuridão total nos envolveu.

    É difícil explicar a sensação, mas a escuridão foi dando lugar a uma espécie de conforto quente e maternal, onde alguns poucos barulhos se tornaram aos poucos estalos longos, que ecoavam infinitamente em todo o ambiente. Na sequência, como num piscar de olhos o lugar começou a esfriar e se iluminar novamente. De início vi meu corpo, depois entendi que os estalos vinham de alguns pingos de chuva que caiam sobre meu rosto. Então, percebi que eu utiliza uma roupa antiga e estava sobre o que parecia ser uma rua calçada de pedras lisas, que de imediato me lembrou uma Londres antiga e perdida no espaço/tempo.

    Como nem tudo são flores e em meio a minha “viagem” sinto algo puxando meu braço esquerdo. Era Carlos, que também trajava uma roupa de época, parecia um pouco nervoso e dizia algo que não pude entender de início…

  • O totem desaparecido – Parte 3

    O totem desaparecido – Parte 3

    15h 32m era o horário que marcava meu smartphone, no momento em que olhei para sua tela e segundos depois de ouvir o barulho irritante e estridente do interfone. – Mas que diabos, eu já pedi para o porteiro não me incomodar durante o dia. – Pensei comigo. – Depois com a menor vontade de todas fui até a cozinha, peguei o interfone e balbuciei: – Oi, diga!

    – Doutor, o doutor Carlos está por aqui, ele pode subir? – Disse-me o porteiro do prédio, que inclusive me pareceu completamente assustado. Apesar disso, liberei entrada e fui correndo para o quarto para ao menos vestir uma cueca. Sim, eu durmo sem nada. Minutos depois, duas longas batidas à porta e a sensação de sua presença sobrenatural acusaram a chegada de meu velho amigo.

    Buenas noches cabrón! – Disse-me o homem grande, de olhos escuros profundos, barba rala, voz grave e roupas simples. Suas vestimentas eram as mesmas de sempre uma camisa xadrez verde e preta, com botas de couro cru por baixo das surradas calças jeans. Ele trazia consigo apenas uma mochila de lona grande, uma maleta quadrada forrada por fora com couro batido marrom e algo com quase 1,5m embrulhado em um bonito tecido vermelho. Tão logo ele entrou já foi me dando um abraço apertado seguido por um fraterno beijo no rosto. Sei que isso vai parecer estranho, principalmente para os brasileiros e ainda mais vindo de um brutamontes feito ele, mas tais procedimentos tem origem em sua cultura, no qual sempre admiro e respeito muito.

    Carlos atualmente é o Xamã/líder de sua tribo e apesar de já estar com quase 100 anos, possui a bela vitalidade Wairwulf (nome que damos aos lobisomens), que lhe garante uma aparência de no máximo 40 e poucos. Então, passados os papos iniciais sobre a viagem e toda aquela conversa fiada entre amigos, eu lhe contei sobre o tal caso do Totem e lhe mostrei todas as evidências que havia conseguido. Inclusive sobre a tal garota, que parecia não ter sido afetada pelas balas de prata de minha pistola “.50”.

    O velho Wairwulf me contou sobre algumas experiências que estavam sendo desenvolvidas nos últimos anos e sobre um soro que diminuía a influencia de tal elemento em seus organismos. Ele não tinha muitos detalhes, mas a garota era a prova de que esse projeto havia saído do papel. Com relação ao Totem ele me apresentou outra história interessante. O casal que havia sido assassinado possuíam certa influência e eram uma espécie de guardiões da peça roubada, que dentre várias importâncias religiosas, também é visto como símbolo representativo de uma determinada tribo sul-americana.

    Em função de tais fatos planejamos uma nova incursão a tal cena do crime. Obviamente, aguardamos a noite e só fomos para o lugar depois de alguns preparativos, eu inclusive optei por levar junto comigo o novo IWI CTAR-21, que ganhei de presente de um amigo do Oriente médio. Carlos pegou alguns itens da caixa de couro e os embalou numa mochila menor e em seguida fez questão de se gabar de seu mais novo “brinquedinho”. Oculto sob o manto vermelho havia uma bela cimitarra com várias escrituras rúnicas entalhadas na lâmina. Arma que ele havia encomendado a pouco tempo de nosso, mas que já havia se tornado o seu “xodó” e certamente não era apenas um pedaço de metal forjado.

    Escondemos tudo entre algumas toalhas ou casacos e fomos para garagem. Lá peguei minha BM e fomos para a tal casa. Embalados na maior parte do tempo por uma banda nova que achei por essas noites na internet, chamada Piel de Serpiente e sua empolgante Muérdeme.

    Novamente em meio aos buracos e poças de lama da estrada de terra e algumas horas depois, finalmente estávamos nós diante ao monumento arquitetônico. Ainda dentro do carro não senti muita confiança na expressão de Carlos, que naquele instante parecia colado a sua cimitarra. Tendo em vista a situação acenei com a cabeça e disse um breve: – Vamos? Naquele instante minhas palavras pareciam ter surtido algum efeito no Wairwulf que franziu a testa e desceu muito rápido do carro, batendo a porta e me deixando ali sem saber o que estava acontecendo.

    Nos instantes seguintes eu sai rapidamente do carro e com minha audição aguçada apenas assisti ao que pareciam ser muitos galhos e até mesmo troncos, sendo dizimados por muitas e muitas espadadas. Confesso que de início pensei em ir atrás, depois ponderei e fiz uma rápida vistoria em volta do lugar, que parecia não ter recebido nenhuma visita depois de mim. Não sei dizer quanto tempo levou para Carlos voltar, mas algum tempo depois senti sua energia se aproximando novamente de mim.

    Eram passadas pesadas e longas. Porém, antes de pensar qualquer coisa lá estava novamente a minha frente aquela majestosa forma lobo humanoide com quase 3m de altura, que tal qual eu sempre digo, fariam um humano normal se arrepiar só de olhar.

    Sua respiração estava ofegante e pedaços de suas roupas rasgadas, ainda estavam presas em sua bela pelagem marrom escura. Em uma das mãos ele trazia a cimitarra, agora banhada de sangue e noutra uma cabeça humana. Percebi que seus olhos estavam fixos em mim e sem pronunciar nada apenas lambeu um pouco do sangue da cabeça decapitada, jogando-a em seguida aos meus pés.

    Pobre garota, nem deve ter visto o endiabrado se aproximando… Coisas de Wairwulf…

  • O totem desaparecido – Parte 2

    O totem desaparecido – Parte 2

    “Pela estrada a fora eu vou bem sozinha…”

    Poucas horas depois eu estava em uma das florestas próximas a cidade. Aquele ar fresco, úmido e puro poderia excitar meus pulmões caso eu ainda respirasse, mas diferente disso apenas molhou um pouco a minha jaqueta. – Será que o delegado havia me passado as coordenadas certas do lugar? – Pensei comigo. Porém, não tardou e logo em seguida já pude ver aquela escultura em forma de casa.

    Ao longo do caminho muitos animais tentavam se esquivar da luz do farol ou se sentiam incomodados pelo tradicional e robusto ronco do motor de minha Harley. Foi assim entre eles e as pequenas poças de lama, que finalmente me deparei com o majestoso ao portão de entrada. Lacrado com uma grande corrente enferrujada e horrorosamente decorado com várias fitas listradas pretas e amarelas da pericia da policia.

    Através das grades portão vi o restante da casa, que estava vazia e muito escura, mas meus sentidos afirmavam com pouca precisão que havia alguma movimentação sobrenatural pelo lugar. Sabe aquela sensação de há alguém te observando? Pois bem… Mesmo assim achei um lugar longe da entrada para minha moto e tratei de escalar o muro em busca de ao menos uma visão ampliada do local.

    Novamente não havia nada que chamasse a atenção de minha visão aguçada, porém em função de uma melhor proteção, resolvi ocultar a moto e fazer contato com algum mamífero ao meu redor. Por sorte não demorou até que avistei um pequeno Callitrichinae em meio às folhas de uma Ficus clusiifolia. Aliás, ele quase fugiu ao me ver, mas consegui ser mais rápido. Com o macio e pequenino animalzinho em minhas mãos eu me concentrei por alguns instantes, ate que finalmente nos sincronizamos.

    O poder de telepatia com animais, ainda mais com os menores e menos inteligentes, é sempre difícil de usar, mas entre as memórias do curioso sagui havia a imagem de algumas pessoas que haviam passado a pouco pelo tal lugar. Infelizmente ele não foi muito “amigo” e correu tão logo pode. – Tudo bem isso já me basta. – Era o que havia em minha cabeça, quando saltei os muros do lugar e por azar aterrissei próximo a uma poça de lama que respingou sobre minhas já castigadas botas.

    O jardim estava abandonado, porém ainda muito bonito. Não havia câmera, sensores ou qualquer outro tipo de rastreador pelo lugar, no entanto tudo estava muito bem fechado com o portão. Obviamente virar névoa seria a melhor opção de entrada, se não fosse minha intuição me levar até uma janela entreaberta e que insistia em bater contra uma das paredes do lugar.

    Peguei impulso e na primeira vez não cheguei nem perto do batente, no entanto sou brasileiro e ao insistir de segunda. Com um pouco mais de força quase atravesso a janela, caindo dentro do que parecia ser um quarto de hospedes no segundo pavimento. Logo de inicio muita sujeira, penas e pequenos ganhos provavelmente trazidos pelo vento ou pequenos animais. Nesse instante eu já não sentia mais ninguém me observando e com mais curiosidade que o normal investiguei todos os cantos da casa.

    Estava tudo revirado, muitas marcas de calçados, muita poeira e se não fossem as marcas de sangue entre a suíte e os corredores, eu diria que o lugar era apenas abandonado. Muitas peças de decoração que me pareceram caras e até mesmo um bonito televisor de ultima geração ainda decoravam muitos dos ambientes. Roupas novas e limpas em um dos armários, detalhes que no geral denotavam um ambiente muito bem cuidado e harmonioso, apesar de tudo. Foi ao observar estes detalhes que encontrei uma foto onde o casal posava em sua sala de estar ao lado do tal Totem.

    Porém abruptamente toda a calmaria deu lugar a uma intensa movimentação de vários tipos de animais, que inclusive me fez tapar os ouvidos, cousa que dificilmente preciso fazer. Na sequencia, uma inquietante angustia tomava conta de mim, quando ouço barulho de vidros estilhaçando e sou agredido de supetão pelas costas por algum tipo de objeto pesado. Por sorte ele não me machucou, parecia algum tipo de pedra ou mineral, no qual não dei atenção, pois preferi me movimentar em direção à origem do arremesso.

    Aproveitei o espaço aberto na janela e com as pistolas em punho atirei contra um vulto que se mexia próximo ao ofurô do quintal. Depois disso, foram muitos os saltos e largas passadas seguidas de mais tiros até que finalmente a figura misteriosa cai ao chão. Reviro o corpo que havia se esvaído de bruços e para o meu azar era apenas uma garota, que provavelmente estava brincando pelo lugar…

    Confesso que de inicio tive pena, porém com ela em meus braços bastaram alguns segundo para que sua constituição a regenerasse e com uma espécie de manobras quase ninja e inesperadas, ela se desvencilhou de mim. Muito rapidamente a figura sobrenatural parou em cima do muro de mais de 5 metros, mas antes de fugir me disse em claro e bom tom: – A ordem dos “fulanos de tal” não quer sanguessugas envolvidos nisso. – Em seguida, antes que eu pudesse ao menos lhe retrucar, ela sumiu sem deixar rastros.

    Volto para a moto, pego uma mochila e junto o máximo de evidências que me são cabíveis naquele instante. Ainda por lá junto alguns ingredientes e faço uma espécie de lacre em uma das paredes com o intuito de que mais ninguém entre ali até meu retorno. Horas depois e já em casa, entro em contato com Carlos, que de prontidão me atende. Ele ouve atentamente sobre tudo e sem pestanejar promete vir até mim no próximo avião…

  • O totem desaparecido – Parte 1

    O totem desaparecido – Parte 1

    Naquela noite eu ouvia um som novo de uma banda chamada Texas Hippie Coalition, uma pegada pesada com vocal grave, daqueles que te fazem balançar as pernas e cabeça ao ouvir. Quando recebo uma sms do delegado, cuja interrupção abrupta na música, me despertou de imediato uma sensação de ansiedade pelo que estava por vir.

    “Tenho um novo caso pra ti, pago como sempre em moeda fresca.” – Dizia a simples frase que de súbito fez as papilas gustativas de minha língua se excitar. – “Estou longe, mas posso chegar rápido caso o pagamento esteja fresco mesmo RS” – Obviamente eu não podia deixar de fazer uma piadinha. –“Relaxa, vou te mandar as instruções, só precisava saber se queria um novo passatempo. Abs”

    Então, o som havia retornado, porém novamente fora interrompido pelo bip de “nova mensagem”. Alguns segundo para os arquivos serem baixados e lá estava eu diante mais um daqueles casos em a que a policia tinha dificuldades para atuar. Ainda mais a brasileira… Furto seguido de duplo homicídio, com posterior evasão sem vestígios de arrombamento ou quaisquer sinais de outra presença além das vítimas.

    Apesar de furtos com homicídios serem algo quase comum no Brasil, havia algo de estranho naquela ocorrência. De acordo com meu ex-cunhado, a cena estava muito limpa, algo que indicada uma ação profissional. Porém, o que lhe fez vir até mim foi o item afanado. De acordo com parentes do casal assassinado, dois homens gays e colecionadores de obras de arte, um totem antigo não estava na sala de estar.

    Quando o papo envolve totens há sempre o envolvimento de lobisomens, fato que de imediato me fez ligar para Carlos. Todavia, como o “peludo latino” está sempre em meio aos seus afazeres de tribo, consegui apensas lhe deixar uma mensagem na caixa postal. Também contatei Sebastian, que sempre se empolga neste tipo de ocorrência, porém ele ainda estava ocupado em suas ultimas aquisições amorosas. Apesar de ele ser minha cria e eu poder requisitar a sua presença quando necessitar, eu preferi deixá-lo fora desta vez. Afinal, não é sempre que um Nerd se permite desfrutar dos prazeres da carne.

    Naquela noite não fiz nada demais além de algumas pesquisas e contatos no submundo, mas não encontrei nada sobre eventuais rituais, movimentações lupinas ou qualquer outra cousa que merecesse maior atenção. Foi nesta noite, aliás, que Julie resolveu dar o ar da graça depois de algumas semanas oculta em suas próprias trevas. Disse ela que estava com saudades, mas me ver pessoalmente, que é muito melhor, ela não o fez ¬¬

    A lua já estava minguando quando Carlos finalmente retornou minha ligação. – “Como lo puedo ayudar?” – Lá estava a voz seca, grave e pouco gentil do peludo, tal qual sempre me é difícil de decifrar em função dos inexpressivos sentimentos, mas que depois de algumas piadas sempre emite uns moderados HÁ-HÁ-HÁ de assustar desavisados mais sensíveis.
    Contudo, tendo em vista suas atuais ocupações ele não poderia me encontrar de imediato, mas combinamos que caso minhas investigações iniciais produzissem algum resultado significativo, ele poderia “comparecer personalmente”.

    Contatos feitos e naquela mesma noite eu preparei minhas pistolas com balas de prata, juntei algumas outras surpresinhas “antilobisomem”, abasteci uma de minhas motos e fui investigar o local mais obviu: a cena do crime…