Autor: Ferdinand

  • Espírito: Vampiro x Lobisomem – pt5

    Espírito: Vampiro x Lobisomem – pt5

    Meu período de sono e pensamentos foi rápido, devo ter ficado na cama umas 4h no máximo. Porém, foi tempo suficiente para o espírito de Ari me encontrar e sugerir algumas ideias: tortura, sacrifício, vampiro, lobisomem…

    Os dois últimos termos provavelmente foram em consequência do meu cotidiano e da minha convivência recente com meu irmão Carlos (Adolf) e de Vera. Além disso, minha fome estava aflorada, meus sentimentos conturbados e acordei com apenas uma coisa na cabeça: preciso de sangue!

    Levantei-me, coloquei uma roupa qualquer e lavei a cara algumas vezes. Vampiro não tem remelas, mas o fato de jogar água na cara dá aquela sensação de renovação, de limpeza… Acorda, sabe?

    Carlos e Vera estavam na sala. Acho que o sol ainda estava dando o ar da graça por mais alguns minutos. Sentei-me numa poltrona próxima a eles e tentei ser hospitaleiro:

    – Boa tarde ou noite pessoal.

    Carlos, sorriu e soltou um singelo “E ai meu irmão vampiro”. Já Vera me olhou e ponderou antes de se manifestar:

    – Boa noite moço! Pelo visto seu descanso não foi tão bom?

    – É me revirei em pensamentos descasados e acho que preciso me alimentar também.

    – Humm pois é Carlos, como estávamos falando é melhor chamar a Jaciara… Mas vou deixar o Carlos te falar disso Ferdinand, tô com fome também.

    – Jaciara, não lembro de nenhuma índia com esse nome na tua alcateia.

    – Ela saiu de lá faz um tempo. É daquelas que curte a vida na cidade, acho que na última vez que falamos estava pelo Nordeste. Bom, ela entende bastante de espíritos, ela foi aprendiz da Vera e depois a superou. Ganha a vida como vidente e geralmente anda com os ciganos. É uma lobisomem também, antes que pergunte.

    – Olha curti essa história, acho bacana toda essa vibe de videntes e ciganas e se quiser mando um helicóptero ou jatinho pegar ela onde estiver. Só que preciso muito de sangue, se não vai dar merda mano.

    Carlos com toda sua calma meio viajona:

    – Tá, boa. Aliás, quer ver quem encontra primeiro um cervo ou qualquer outro animal naquela floresta?

    – Só se for agora!

    Pausa para o lanche

    Carlos mandou algumas mensagens para Jaciara, que até o momento em que saímos não havia respondido. Deixamos as roupas na varanda e foi naquele momento conturbado que percebi a idade agindo sobre o corpo do meu irmão. Uma barriga estava saliente, muitos pelos brancos espalhavam-se por seu corpo e a pele já sobrava em algumas partes.

    Apesar disso, sua transformação em lobo foi rápida e nesta forma ele ainda parecia jovem e forte. Dizem que alguns lobisomens preferem essa forma e alguns a assumem como permanente no final de suas vidas. Talvez seja a animalidade deles que seja difícil de controlar na velhice, mas é apenas uma lenda e ninguém realmente gosta de discutir isso com um lobisomem velho, ou tem paciência.

    Decidi que seria mais justo se ambos estivessem na forma de lobo e foi nisso que me tornei. Quase todos os sentidos ficam mais aguçados nessa forma e foi fácil rastrear um javali. Animal difícil de pegar, ainda mais porque também havia uma onça na espreita.

    Situação que se tornou ainda mais complicada quando Carlos apareceu. Mordidas pra lá e pra cá, uivos, rosnados… Por fim consegui o sangue que manteria são por mais alguns dias e noites. Carlos aproveitou para fazer um lanche também. Ficou pensando se a onça ao fugir entendeu o que se passou ali entre nós.

    De volta a fazenda

    Depois, já de banho tomado, nos encontramos no meio da madrugada e Carlos veio ao meu encontro na varanda com notícias boas:

    – Posso mandar alguém ir pegar a Jaciara? Ela tá em Fortaleza.

    – Claro, deixa eu ver se o nosso piloto tá disponível de manhã.

    Instantes depois fizemos as combinações necessárias e ela seria trazida para a fazenda ao longo da tarde.

    Passei aquele dia entre uma mistura de cochilos, com momentos de inspiração onde eu vinha aqui no blog ou nas redes sociais para escrever algo.

    O final de tarde veio e com ele a chegada de Jaciara. Alguém que desde o primeiro olhar chamou minha atenção. Morena de cabelos lisos e compridos. Altura mediana e olhos castanhos claros. Ela vestia uma blusinha solta sem sutiã, com uma parte dentro do short… Sinceramente, havia sido uma bela e ótima primeira impressão. Até que nos cumprimentamos…. Nossos rostos se conectaram para um singelo beijo na bochecha, seguido de um abraço leve, que terminou num rápido empurrão por parte dela…

    – O que diabos tem em você, cara?

    Afastei-me, fiquei sem jeito e preocupado olhando para o que ela me falaria depois:

    – Vampiro… tens um espírito agarrado em ti…

  • Espírito: Alguém familiar – pt4

    Espírito: Alguém familiar – pt4

    Sabe aquele déjà vu, quando vemos alguém e este nos parece alguém familiar? Pois foi assim quando revi o espírito do Ari. Até então nosso contato havia sido muito mental, em alguns momentos passados eu nem o via, ou apenas algo disforme que emanava uma espécie de luz e se comunicava.

    Sobretudo, nesta vez ele tinha uma forma mais definida e em muito se parecia com aquele garoto negro que perambulou meu sonho/possessão. Outro ponto diferente é que ele parecia mais velho, talvez com a idade de um adolescente.

    Que fique claro, que estas minhas impressões ocorreram muito rápido e tão logo ele nos viu ele já foi se comunicando.

    “Finalmente veio ao meu encontro Fer-di-nand. Obrigado!”

    “Ari” Perguntei receoso.

    “Achei que na minha possessão do outro dia tinha deixado isso claro?”

    “Sim, um pouco. Inclusive fui atrás de umas ossadas, eram suas?”

    “Não sei. Preciso que me ajude a sair daqui… Depois de todo esse tempo sinto que estou sumindo. Ajuda eu Fer-di-nand”

    Naquele instante, alguns fatos começaram a fazer sentido. Eu queria mais respostas, mas o tempo dentro névoa disponibilizado pela Vera havia terminado.

    Novamente neste plano familiar

    Voltamos a fogueira, que estava com o fogo bem baixo e no horizonte o sol dava indícios que nasceria em breve. Pepe comentou:

    – Cara, que loucura foi isso? A gente, tipo, estava onde?

    Vera com toda suas calma respondeu:

    – Veja bem criança, ali é um lugar entre Gaia e o que há depois. Alguns chamam de limbo, outros de plano espiritual.

    Carlos mal deixou Vera terminar e já foi me perguntando:

    – E aí meu irmão, como foi, encontrou quem procurava?

    – Sim. Respondi-lhe apreensivo. Depois de uma pausa continuei. – Há algo de familiar nele e acho que ele está se desfazendo! Vera, nesse lugar os espíritos não deveriam vagar por longos anos e séculos?

    Todos me olharam com ar de curiosidade e depois de pigarrear, Vera comentou:

    – Cada ser tem seu desenvolvimento, acredito que este espírito seja novo e possivelmente seu tempo ali pode ser curto. Gaia e os Deuses agem assim, a vida é criada, desenvolvida e transformada. Sempre!

    Quando eu iria comentar algo Pepe me atravessou:

    – Hey, vamos continuar lá dentro? Já sinto um calor vindo do horizonte.

    Levantei a cabeça e olhei pensativo para o horizonte, de alguma forma aquele espírito havia se aproximado e mexido com meus sentimentos. Tínhamos de entrar, mas ao mesmo tempo eu queria resolver tudo o quanto antes.

    – Vamos. Comentou Carlos colocando a mão em meu ombro, eu te ajudo com isso meu irmão.

    Irmãos, aqui e onde mais precisar

    Contudo, voltamos pra sala principal da casa. Naquela manhã passei algum tempo revendo algumas quinquilharias que eram do sítio dos nossos pais. Foi algo nostálgico de uma época que se foi há tempos. Algo, que se levado em conta o contexto atual, mexeu muito comigo. Ainda mais com uma das preocupações levantadas por Carlos:

    – Não sei mais quanto tempo Gaia me reserva por aqui, mas sinto que devo te ajudar com esse espírito. Há algo nessa jornada que te fará bem.

    – Hey, você tá aí, velho e tal, mas forte… Tenho muitas coisas pra me preocupar e nem venha me falar em partir desse plano. Já basta o Ari, foca no Ari porra!

    – Tá desculpa, mas é algo que você precisa se atentar. Em algum momento vai acontecer. Enfim, pega lá os ossos que acharam!

    Trouxe a caixa para a sala. Carlos passou o dia neles e eu aproveitei a tarde para tirar um cochilo. Depois de tantas experiências eu comecei a gastar mais energia e a noite teria de me alimentar. Além disso ao acordar fui surpreendido pela vontade de entrar em contato com alguém familiar: o Doutor.

  • Espirito: pensamentos – pt3

    Espirito: pensamentos – pt3

    Anoiteceu. Acordei, levantei e fiquei por um tempo remoendo os pensamentos sobre o sonho/possessão que ocorrera. Sabe aquela impressão “Foi muito real”? Pois é, e em função disso chamei Carlos e trocamos uma ideia por alguns minutos. Em meio ao nosso papo Pepe apareceu com uma caixa e para minha surpresa lá estava um conjunto de ossos.

    – Hey garota como isso? Assim fácil?

    – Olha, na verdade não… Dei uns beijos num carinha lá e em seguida me alimentei dele… relaxa não matei… e não tinha câmeras lá no depósito.

    – Olha ela tão crescida que orgulho pro pai! (risos)

    – Aff que desnecessário! Mas olha ali, tem pouca coisa, só o crânio e maxilar meio quebrados e alguns ossos maiores, será que resolve pra algum ritual ou coisa do tipo?

    – Ahh deve resolver… Cara que falta o Zé me faz! Ele que era extremamente ligado nessas coisas, pensando bem… deixa eu ver o que o Hadrian está fazendo.

    Mandei uma mensagem para o vampiro e imediatamente ele me respondeu. Disse que ossos e almas não eram seus estudos, mas agradeceu pelo contato. Disse que estava com saudades desses meus “pasatempos”.

    Carlos, por outro lado, demonstrou interesse e gostou da ideia de viajar até a nossa fazenda. Desde então fiquei aguardando sua chegada, até que ele apareceu por lá junto de Vera.

    – Veja só quem aparece por aqui!

    – Belo lugar meu irmão… espera aquele filtro dos sonhos ali é aquele?

    – Simm, aliás tem mais coisa aqui, lá da casa dos nossos pais. Entrem, estão com fome?

    Pensamentos: Irmãos

    A noite foi diferente. Carlos interagiu bastante com Pepe, que inicialmente ficou receosa pela proximidade de um lobisomem em nossos domínios. Coisa que passou rápido em virtude das habilidades comunicativas dele. Nem parece mais aquele cara pacato, tranquilão e meio perdido nos pensamentos da adolescência.

    No dia seguinte, enquanto dormíamos, os lobisomens deram um rolê pela região. Vera queria ver a variedade da flora e fauna, enquanto Carlos passou um tempo revendo os artefatos que eu havia preservado e fazia alguns contatos com seus chegados.

    Acordei cedo, o sol mal havia se posto e tratei de me encontrar com eles. Ambos pareciam turistas em meio a um ambiente novo e diferente da sua realidade amazônica. “Vamos levar algumas mudas, algumas sacos com aquelas pedras. Olha, olha! Acho que são ossos de um tamanduá…”Disse Vera empolgada.

    – Acho que estou ficando velho e sentimental, me peguei por alguns momentos do dia revendo as coisas lá do sítio do pai e da mãe. Por que não me disse que ainda tinha isso mano?

    – Estava guardando pro dia que viesse pra cá. Viu aquela caixa ali? Acho que era uma das tua geringonças…

    – Clarooo, isso a mãe usava para apoiar o ralador de queijo… Acho que vi um parecido na cozinha?

    – Nossa, chegou a ir na cozinha também!

    – Tu esqueces que a gente come ne!?

    – Verdade! Hey, hoje conseguimos falar daquele assunto?

    – Sim, a Vera preparou um espaço lá fora, longe dos olhos dos teus criados.

    – Bom, muito bom! Vou resolver algumas coisas e lá pelas 22h nos encontramos por lá?

    Outro ritual

    Carlos concordou e eu voltei para o meu quarto/escritório, onde tratei dos meus assuntos. Perto da hora marcada fomos para o local preparado por Vera. Pepe também nos acompanhou e tão logo chegamos, já vestidos com os trajes recomendados, o ritual foi iniciado.

    Vera acendeu a fogueira, enriqueceu seu fogo com algumas ervas e pós. A determinado ponto ele ficou verde azulado e foi aí que entramos na névoa. Desta vez foi difícil de se locomover, o ambiente estava muito denso e no início até mesmo a comunicação parecia estar em câmera lenta e havia uma certa bagunça em nossos pensamentos. Situação que normalizou depois de um tempo por lá.

    “Ali” – Comentei para os demais.

    “Finalmente veio ao meu encontro Fer-di-nand. Obrigado!”

  • Espirito: uma possessão – pt2

    Espirito: uma possessão – pt2

    Alguns dias e noites se passaram desde a possessão de Ari naquele humano deslocado. Daquele momento em diante eu foquei meus esforços numa pesquisa acerca da região e obteve alguns resultados. Nada muito relevante se compararmos casos mais cabulosos vistos em tantos outros locais.

    • Ainda nessa?! – Comentou Pepe com ar de curiosa.
    • É… – Olhei  para o nada a medida que o som da letra saia desanimado da minha boca.
    • Nossa Fê que desanimo, vou te ajudar… manda ai o nome da rua.

    Ela pegou o endereço e ficou por uns 20 min navegando no smartphone. Ficamos um para cada lado jogados no sofá e quando eu já estava distraído com um seriado qualquer, ela deu um salto empolgada.

    • Olha isso aqui, vou te mandar pera ai…
    • “Ossada encontrada em escavação de terreno é levada para universidade…” Como tu achas essas coisas?!
    • Sorte talvez, mas prefiro dizer que são os termos certos na busca, meu caro!
    • Ótimooo, preciso… aliás você tem cara de universitária ne… Me ajuda nessa?
    • Lá vou eu…
    • Relaxa só precisa dar um pulinho lá e ver se acha os ossos.
    • Ahhh super fácil, vai nessa hahaha!

    E lá foi minha pupila por algumas noites no campus da universidade citada na matérias que ela havia encontrado em suas buscas. Do meu lado eu continuei as pesquisas e não havia nada de mais relevante se comparado com esses casos.

    Inclusive num dos dias fui dormir meio frustrado pela falta de informações, quando entre um sonho e outro fui possuído.

    A possessão nos meus sonhos

    “Eu estava numa maca ou cama de solteiro, meus braços e pernas estavam amarrados e por mais força que eu fizesse era impossível se soltar.  A pouca luz que vinha das frestas de uma porta ao meu lado me mostravam um lugar que parecia pequeno, mas seco.

    Os minutos se passavam e eu divagava nos meu pensamentos, alguns deles nem eram meus, como se eu tivesse outro passado, sim eu era outra pessoa ali e estava em meio a uma possessão. A lembrança de um garoto negro, perto dos 3 ou 4 anos correndo e brincando dentro de uma casa era nítida.

    Uma mulher branca aparecia por vezes e na presença dela o garoto ficava nitidamente com medo. Por vezes ele se escondia dela e por vezes ele apanhava… Senti as pernas formigarem em alguns momentos como seu mesmo estivesse levando a surra dele.

    Estive por muitos minutos naquela maca, até que a porta se abriu e uma forte luz iluminasse o lugar. Aquilo me cegou temporariamente, até que em minha frente surgiu uma figura misteriosa, suas feições me lembravam alguém familiar…Em suas mão uma faca grande… Eu tentei falar ou gritar, mas da minha boca não saiam sons, apenas gemidos internos, como se ela estivesse colada…”

    Acordei sufocando, como se minha respiração estivesse voltando… como se eu fosse humano novamente… como se eu estivesse sendo sufocado por alguém ao longo da possessão… alguém familiar.

  • Espirito: uma saga – pt1

    Espirito: uma saga – pt1

    Tempos atrás eu estava com o Carlos, meu irmão Lobisomem. O interessante desse papo é que em nossas andanças, rituais e experiências ao longo de 2020 e 2021 eu conheci um espírito inquieto. Seu nome é indizível em línguas humanas, mas o apelidei de Ari.

    Digo que Ari é um espirito inquieto, pois ainda tem apego ao seu corpo humano e está há alguns passos da ascensão evolutiva. Tal ascensão pode ocorrer quando ele resolver o que deixou pendente em sua última passagem pelo plano terrestre ou quando realizar algo de valor para outros seres.

    Conheci Ari em umas das seções em que Carlos e seus chegados nos levaram até o mundo Umbral. O Local onde alguns espíritos circulam, geralmente em busca de penitência ou por estarem perdidas. Tais almas podem ser pacíficas, agressivas ou estarem num estado parecido com uma espécie de paralisia. Estas últimas geralmente ficam nesse estado quando ainda não aprenderam como se movimentar no Umbral ou por se esquecerem que ainda existem depois de longos anos e séculos em tal ambiente.

    Ari também pode por alguns segundos influenciar o mundo terreno, nos famosos assobios, brisas que movimentam cortinas, objetos derrubados ao chão ou na forma de sombras rápidas que por vezes assustam as pessoas na penumbra do luar. Além disso, alguns sensitivos podem receber seus espíritos e lhes permitem a possessão de seus corpos por alguns instantes.

    Onde quero chegar com tal espírito?

    Pois bem noites atrás eu estava circulando por um lugar de gosto duvidoso, estava atrás de alimento e quando estava atracado em um pescoço delicioso, apareceu alguém do meu lado. Este alguém estava possuído por Ari, que gentilmente tocou em meu ombro e disse com a voz tranquila: “Acho algo neste lugar… Algo… quando passei aqui… Acho… Morri aqui… Falamos disso… Fer-di-nand!”.

    Surpreso, parei o que estava fazendo e soltei aquele pescoço gentilmente ao chão. Ponderei por dois ou três segundos e me veio à mente o papo de outrora com o Ari que comentei acima. Soltei:

    – Lugar ruim para se morrer meu amigo! Fui eu?

    A pessoa possuída pelo espírito deu uma viradinha com a cabeça, dando a impressão que me observava e disse:

    – Talvez! Ajuda?!

    Peguei-me de forma tensa e pensativa à medida que a possessão terminava e alguém à minha frente voltava a si, como se acordasse de um sonho louco.

    Desfeitos os desencontros, voltei para a estrada. No caminho mandei algumas mensagens e Carlos foi o primeiro a responder: “Karma, mano… Quem sabe alguns espíritos precisam ter algumas contas acertadas!”. Tal resposta me deixou meio puto de início, ponderei e minha humanidade falou mais alto. Chegando em casa tentei lembrar das mortes mais recentes ou daquelas que mais impactaram minha existência nos últimos anos.

    Passei o resto da noite naquilo… Pepe tentou chamar minha atenção algumas vezes e não consegui dar bola… Fui atrás de dados sobre pessoas encontradas mortas no local onde eu estava.

  • Pico do Diabo

    Pico do Diabo

    Certa vez estive em lugar chamado Pico do Diabo. Até onde eu sei ele não tem nada demais “Magicamente”, a não ser que fica uns 600 metros acima do nível do mar. Estive lá, ou melhor, fui até lá transformado em névoa. Fiz isso a pedido do meu mestre, que tinha a intenção de me incentivar a aprimorar tal transformação.

    Ao longo do percurso foram muitos os desafios e não foi na primeira vez que consegui chegar até o topo. Lembro que na primeira vez eu fui até um trecho da subida e em determinado ponto me senti fraco, como se eu não conseguisse me movimentar mais. Como se algo dificultasse meu deslocamento ou me segurasse.

    Noutras vezes aconteceu o mesmo e percebi depois de um tempo que o vento seria um inimigo, bem como minha força mental, ou seja, eu deveria estar num dia “de boas”. Outro ponto é a vitalidade ou reserva de sangue. É como se eu precisasse estar com a alimentação em dia, pois há um grande gasto energético em tal empreitada.

    Consegui atingir o cume em algumas tentativas posteriores. Meu sucesso só veio num momento em que percebi os pontos descritos anteriormente. Além de contar com a sorte de ter pouco vento em alguns momentos do percurso.

    Gosto destas práticas, pois além de servirem para aumentar meus poderes, me fazer evoluir como ser. Esse foi meu contexto de existência enquanto vivi na velha Desterro e um pouco antes de ir para a Europa.

    Outra questão que me vem a memória sobre aqueles dias é o fato de que eu era muito apegado ao meu mestre. Tais sentimentos se confundem, em virtude dos séculos que se passaram, com os sentimentos ligados à minha família mortal. Tanto que é difícil dizer sobre quem são mais importantes, de um lado meu mestre Wampir e do outro meus pais mortais.

    Sentimentos, divagações e lembranças a parte… tudo isso veio à tona depois que retomei os treinamentos juntos de Pepe. Ela é minha segunda cria e eu já deveria estar acostumado com tais rotinas. Engana-se quem pensa assim, pois Sebastian foi criado junto de mim, como um irmão e muitos de seus treinamentos foram feitos por Georg, Franz ou Joseph.

    Com a Pepe estou fatidicamente me posicionando como professor. Situação lógica em função do fato de que eu lhe transformei e de que ela precisa aprender. No entanto, o bacana desse processo é que eu me sinto confortável para lhe passar tudo o que já vi em todos esses anos. Sabe, a manha do jogo…

  • Reuniões sociais com vampiros

    Reuniões sociais com vampiros

    Entre um ensinamento e outro, dedicado à minha cria. Chegou o momento que havia comentado com Franz, no qual precisamos fazer as famosas reuniões sociais com os demais Wampir ao redor mundo. Jatinho pronto e partimos para encontrar os hermanos vampiros argentinos, na tradicional Buenos Aires.

    – Será que o Gastón, vai ficar com aquelas frescuras de sempre – Comentei com Franz

    – Ah para ele é super querido, sempre tem uns “petiscos” na chegada…

    – Sabia que tu irias falar das meninas dele (risos) devia ter trazido a Pepe!?

    – Ah não deixa as crias se virar um pouco lá, com o Gastón é papo de alta classe!

    – Sei a alta classe que tu almejas (risos).

    Depois de algumas horas de voo chegamos há um aeroporto pequeno e privado. Um motorista nos aguardava uma Mercedes, bem simpático e na sua versão AMG. Sem mais delongas chegamos num prédio requintado. Repleto de janelas espelhas e com um pé direito generoso em recepção.

    No check-in solicitaram apenas os nomes e ao perceber quem somos a garota nos cumprimentou e indicou o elevador uma sala, lateral aos 4 elevadores que haviam por ali. Entramos pelo corredor e depois de dois patamares de escada descemos a uma nova recepção. Outra recepcionista nos atendeu, registrou nossos nomes reais e pelo sistema chamou um elevador com as portas pretas.

    Tal elevador não possuía comandos, mas tive a percepção que descemos mais de 10 andares no subsolo. Quando a porta se abriu fomos recepcionados por duas garotas lindas e de biquíni…

    – Sai pra lá que a ruiva é minha – Falou Franz com seu jeito mais moleque.

    Dei uma risada leve, posicionei o braço esquerdo no qual a outra garota (loira) segurou e seguimos pelo interior do lugar.

    Gosto dessas reuniões em festas

    Novamente, um espaço amplo com pé direito alto, climatizado em pelo menos 25 graus com uma piscina, bar e algumas poltronas. Todos estavam num clima festivo praiano, inclusive pelas roupas.

    As garotas nos indicaram um canto mais ao fundo, onde havia uma mesa, algumas poltronas mais confortáveis e um cara com chapéu panamá e uma camisa florida. Ao passar pela multidão, cerda de uns 100, percebi vários olhares de vampiros e ghouls. Alguns inclusive intimidadores, mas nada fora do normal.

    – Bienvenidos chicos, gracias por venir!

    Uma sensação de familiaridade, misturada com saudades da Eleonor me veio a cabeça… que foi interrompido pela amistosa saudação de Franz:

    – Gastón, seu filho da puta que saudades!!!

    Nos cumprimentamos. Franz e Gastón são velhos amigos e fiquei meio de canto no início, ouvindo as piadinhas, as recordações e até alguns planos futuros. Nesse último ponto consegui entrar no papo.

    – Sabem, eu gosto de ir até a praia, fechar os olhos e sentir a brisa… Lembro dos tempos de “new blood” e o mundo novo que surgiu pra mim. – Comentei meio afoito.

    – Es un sentimiento hermoso que trato de alentar, pero sabes que el mundo ha cambiado mi joven! – Lembrou Gastón.

    – Si si es una pena que ya no podamos salir desnudos por la noche, hoy hay cámaras y mirones por todas partes. – Comentou Franz gastando seu espanhol.

    Rimos.

    – Es por eso que estamos aquí para pensar en cómo podemos protegernos mejor hoy. Sabes que puedes contar con nuestras armas. Falei em tom sério e entrando nos negócios, antes que Franz viesse com mais alguma piadinha.

    E assim seguiu a noite… até o momento em que nos separamos, Franz seguiu para algum canto coma ruiva, eu dispensei a loira e continuei na festa até o último vampiro partir.

  • Aprendendo novas habilidades

    Aprendendo novas habilidades

    As habilidades de um vampiro levam algum tempo para serem aprendidas da melhor forma. A melhor forma é aquela no qual o Wampir consiga utilizar os “poderes” e não tenha efeitos colaterais. Nos níveis iniciais o vampiro utiliza alguma habilidade e após sente-se cansado. Dependendo do que é feito ou obtido pode-se sentir mais ou menos cansado ou com fome. 

    Nesse sentido é sempre prudente praticar algo antes de sair executando, haja vista que um vampiro com fome ou muito perto de seu demônio interior é algo as vezes incontrolável. Eu mesmo tenho diversas histórias por aqui onde já me meti em muitos problemas, devido muitas vezes a ações onde sai sem pensar nas consequências de meus atos. 

    Ensinado a cria 

    Fui até Pepe numa noite em que eu percebi que havia as condições necessárias para um novo aprendizado. Ela estava bem alimentada, estava com a cabeça boa, o tempo na nossa região era de céu limpo e ambos estávamos sem muito o que fazer… 

    • Sabe hoje é uma noite bacana para eu te ensinar algo novo, bora? 
    • Humm vou me sujar Fê? 
    • Relaxa, talvez a boca apenas (risos) 
    • Aff tá vou por uma roupa velha…

    O poder do sangue

    Fomos até uma parte mais isolada da fazenda onde podíamos ficar à vontade e até mesmo gritar sem se preocupar com curiosos. Levei comigo uma ânfora e lá chegando contei o que pretendia para minha pupila: 

    • Aqui tem um pouco de sangue que sobrou do Zé… Antes que pergunte essa ânfora é também presente dele e de acordo com o que ele me disse ela foi encantada por alguns vampiros antigos e preserva quase que eternamente o sangue que for colocado aqui dentro. 
    • Olha só que toppp 
    • Sim… Mas aqui não deve ter mais do que um litro, tinha mais só que usei tempos atrás. A ideia é que ao beber um pouco a gente consiga treitar as habilidades de mudança de aparência ou invisibilidade. Ambos os maiores poderes que o Joseph possuía e estava me ensinando antes de seu fim. 
    • Ai Fê, sério cara não vou beber isso. Ele era super amigo teu e tu merece mais do que qualquer um isso ai… 
    • Relaxa, eu já consegui aprender tudo o que o sangue dele podia me oferecer, o resto dos aprendizados agora é comigo. Assim sendo quero você também tenha a oportunidade de expandir tuas habilidades! 
    • Poxa que honra, vou ficar te devendo mais essa. 
    • Tá vamos deixar esse sentimentalismo de lado e vem aqui, vou tirar a tampa e você precisa tomar super rápido um golão. 

    Vamos a lição prática

    Dei-lhe a ânfora e ela agiu conforme solicitei. Passados alguns minutos os efeitos do sangue de Joseph começar a surgir. Algo normal quando consumimos o plasma de outro sanguessuga. Uma certa náusea incomodou sua barriga, em seguida veio um forte calor a garganta e por fim uma cefaleia breve a atormentou por alguns minutos.  

    • Está de boas agora? 
    • Acho que sim, já posso ficar de pé de novo eu acho. 
    • Tá vamos lá, quero que você feche os olhos e pense em alguém… Pensou? Tá, agora quero você se imagine ao lado dessa pessoa e usando as mesmas roupas, sabe como se fossem aqueles gêmeos que se vestem iguais… Agora aos poucos se imagine como aquela pessoa, pense no nariz… pense nos olhos, pense ema alguma expressão que ela faça, pense na boca… pense nela falando… pense que é você falando como se fosse ela, como se vocês fossem os gêmeos que se vestem igual… você é aquela pessoa! 
    • Que loucura, senti meu corpo mudando! 
    • Sim pra mim você mudou. Tô tentando lembrar o nome dessa cantora… é Billie… 
    • Billie Eilish, sério Fê, não acredito, deixa eu tirar uma selfie… Hey tô igual affffff 
    • Então esse é um dos poréns, nos espelhos e no smartphones e afins não rola essa mudança. O Zé me disse que isso é algo relacionado a aura, mudarmos energeticamente e somente a visão humana é enganada dessa forma. Mas relaxa deu certinho. Meus parabéns, garota! 
    • Vou tentar também me transformar pra você ver como é a mudança com o uso de tais habilidades… 
  • Aprendendo a ser vampiro

    Aprendendo a ser vampiro

    Faz oito anos que a minha cria mais nova, Penélope (Pepe), foi transformada em vampiro e isso abre algumas oportunidades para o avanço de suas habilidades Wampir. Digamos que a fase inicial passou e agora ela já pode se aprofundar nos aprendizados de segundo nível. Aqueles que vão exigir mais de seu corpo e mente, mas que lhe trarão diversos benefícios.

    Existem algumas fases no amadurecimento de um Wampir. Há o perigo inicial que pode durar até 10 anos, onde a adaptação aos costumes e hábitos e habilidades primárias se fazem necessárias.

    Em muitos casos os vampiros ao longo dos seus primeiros 10 anos de “não-vida” aprendem a lidar com diversos aspectos, como alimentação, sentidos aguçados e a famoso teatro. Sendo este último o mais difícil, pois é necessário aprender com disfarçar pele fria, palidez, sensibilidade ao sol, dentre outros.

    Com a Pepe não foi diferente. Apesar dela já estar acostumada com a vida noturna, ela passou um tempo aprendendo a controlar os instintos aguçados. Depois de alguns incômodos principalmente com a Audição, ela focou no controle da sede e isso durou pelo menos uns 2 anos.

    Em seguida, foi a questão da aparência, que depois de alguns anos começou a ampliar as olheiras, a pele se tornou mais clara e fina. Então vieram os primeiros passo na direção dos aprendizados de sangue.

    Trabalhando a parte física do vampiro

    Primeiramente ela praticou a velocidade e digamos que gostou do que sentiu. Vieram os passos rápidos, os movimentos acelerados ao desviar de objetos que eram arremessados na sua direção e por fim lhe ensinamos alguns golpes. Aprendidos em função da prática em diversas artes, como Kung-fu, Karatê, Muay Vai, boxe, Krav Magá…

    Tudo isso contribuiu muito para sua evolução física e mental. Por falar na psique, Franz passou um empo com ela e facilitou tudo o que se refere a mente. Apesar de não parecer, o vampiro é mestre no que diz respeito a leitura e jogos mentais.

    A pouco anos atrás em 2019 foi a vez de eu iniciá-la no trabalho de sua força física e de uns tempos para cá ela já tem feitos nas evoluções. Inclusive semana passada ela levantou uma das máquinas da fazenda, como se fosse uma cadeira. Sabe aquele tipo de coisa que fazemos sem perceber? Rimos…

    Nos próximos meses temos estamos pensando em quais habilidades a treinaremos primeiro. Queria muito que ela pudesse fazer as famosas metamorfoses, tanto em animais como lobos ou grandes felinos. Também seria bacana se ela pudesse desenvolver a transformação em nevoa ou ainda praticar algo novo como a mudança de aparência. Essa última inclusive, era algo que eu estava praticando junto do meu falecido amigo Josef.

    Enfim, só o tempo dirá os caminho que um membro mais novo de um clã pode ter. Eu mesmo nunca me imaginei liderando nada antes dos meus 100 anos de transformação. No entanto o mundo mudou muito, tal qual meu mestre e seus planos, forçando de certa forma o acumulo de responsabilidades ao longo da não vida de vampiro.

    Texto em revisão

  • Os planos do clã

    Os planos do clã

    Continuando o que falei no post anterior…

    …liguei para o Franz para falar sobre o clã e para ver onde ele andava:

    – Vivo?

    – Sempre!

    – Tô aqui na minha banheira na fazenda pensando na vida.

    – Que fase…

    – Sei, pois é… A Pepe me abriu os olhos, precisamos voltar pro mundo.

    – Você, maninho! Eu nunca saio dele.

    – É sei bem, tá aqui perto?

    – Não, mas amanhã posso estar. Vou?

    – Não, não, deixa! Fala onde tá que eu vou para aí.

    Juntei o essencial numa mochila, fui pro carro e peguei estrada. Algumas horas antes do nascer do sol eu parei num hotelzinho de estrada e lá passei o dia.

    Chovia bastante, mas tão logo a chuva parou veio aquela música dos pássaros, sinal de que ocorreria uma estiagem. Tão logo o sol se pôs eu saí e fui para o encontro de Franz.

    O vampiro estava hospedado num hotelzinho bem bosta, daqueles que não tem nem nome na frente e provavelmente é usado como motel ou para venda de qualquer tipo de porcaria por aqueles que estão próximos.

    – Cara, o que tu fazes com a nossa grana?

    – Ahh para maninho esse lugar tem tudo o que preciso: putas, drogas e sangue free.

    – Pensando assim… nem sei o que te dizer (risos)

    – Senta ali e me conta logo o que tais pensando.

    As formalidades do clã

    Nesse sentido, passei um tempo revisando com ele o que havíamos feito nos últimos anos… As estratégias das empresas eu bem que tentei, mas ele não deu bola… Por fim focamos no formalidades vampirescos e no nosso relacionamento com os demais clãs.

    – Com o fim da pandemia se aproximando seria vital retomar alguns contatos e expressei minha vontade de que Franz fizesse isso, haja vista que ele é o ancião acordado no momento.

    – Eu sei que pra muitas coisas eu lidero o clã, ainda mais no tocante das empresas, negócios da fazenda e afins, mas para os eventos e viagens posso contar contigo?

    – Obviamente maninho, se tem festa eu vou…

    – Tá nem sempre vai ter festa, tu sabes, mas se eu puder contar contigo na maioria das reuniões já ajudaria pacas!

    – Relaxa, eu sei que algum tipo de compromisso eu preciso ter, de um modo geral eu prefiro as festas, mas sei ser sério também quando precisa… agora combinamos tudo, cansei. Sério, vamos dar um rolê por algum lugar? Faz tempo que não fazemos nada juntos.

    – Sabia que já tava ansioso pra dar uma saída… Vamos embora dessa espelunca!

  • As tumbas dos anciões

    As tumbas dos anciões

    Queria saber como a poeira consegue surgir, mesmo em lugares no qual até então havia-se um fechamento digamos hermético. Esta foi minha reação ao adentrar as tumbas onde ficam nossos anciões. Mas isso foi apenas um levantamento rápido de minha mente inquieta. Pois o havia coisa mais importante a ser feitas naquele dia ou noite.

    O tempo é algo que nos ocorre de forma diferente, mas certamente a poeira é um indício de que ele continua existindo. Passei um pano molhado sobre o caixão de Eleonor. Depois por alguns instantes me debrucei sobre ele e usei todos os meus instintos na intenção de ouvir ou sentir algo.

    Nada! Apenas algumas gotas que se esvaiam pela lateral da cripta ou aqueles estalos comuns das cavernas. Nem mesmo os morcegos, nossos companheiros animais mais íntimos emitiam qualquer som.

    Ainda falando sobre tempo, naquela data fazia exatos 6 anos em que minha doce espanhola iniciara sua hibernação. Tanto tempo a mais estava Georg também em sua hibernação e todos os outros que por lá protegemos.

    Além da breve limpeza nos caixões, aproveitei também para revisar as partes elétricas e câmeras que fazem a vigilância das criptas e antessalas. Não de novo, além de algumas lâmpadas led que aproveitei para instalar. De tempos em tempos surgem tais novidades e é fundamental que tais espaços recebam upgrades.

    Pepe apareceu num determinado momento

    – Hey senhor eletricista preciso de uma ajuda com umas tomadas…

    – Põe na agenda minha filha, hoje to ocupado aqui.

    – Aff seu sem graça era zuera, não precisa ficar bravinho não Fe.

    – Sabe que fico meio nostálgico vindo aqui…

    – Sei… é ali que ela tá?

    – Sim!

    – George tá lá?

    – É… Quer que faça um passeio guiado contigo?

    – Nossa mas tá chatão mesmo hoje heimmm

    – Se não fosse essa maldita fiação velha aqui eu estaria mais de boas vampirinha.

    – A gente não pode transformar um ghoul pra ficar cuidando disso?

    – Até podemos, mas as cosias estão tão tranquilas ultimamente que eu prefiro vir aqui pra me estressar um pouco.

    – Sei, sabe Fê, aproveitando. Quando que você vai voltar pro mundo? Desde o início da pandemia nós viemos pra cá e tudo parou sabe… Já tô vendo os humanos de volta nas suas rotinas e nós aqui. Já cansei dos jogos novos que baixei, já ví todos os seriados possíveis…

    Fiquei calado por um tempo, digerindo o que ela falava.

    – É teu tempo ne, sou sua aprendiz e preciso estar junto de ti, mas será que a gente podia dar uma variada, pelo menos indo pra alguma outro lugar.

    Estava evidente ali duas questões, o tédio dela e suas idade humana. Alguém que até então passava suas noites em claro no computador e que o vampirismo trouxe um mar de possibilidades.

    Poderei por mais alguns instantes, gerei aquele silêncio climático e lhe devolvi.

    – Acho que podemos variar um pouco sim.

    Ela me abraçou e me encheu de beijos. Como uma filha beijaria o pai, diante a promessa de algo que ela queria muito. Ao final daquela jornada em torno da manutenção das criptas eu voltei para meus aposentos na casa da fazenda. Fui para minha banheira e juntos da água quente, misturada a sais de banho eu pensei. Adentrei o amago de meus sentimentos e decidi que deveríamos voltar para o mundo. Liguei para o Franz.

  • O controle da minha sede

    O controle da minha sede

    Dias atrás eu estava com muita sede, aquela famosa sede que acomete os vampiros e nos deixa loucos atrás do mais puro sangue. Já disse por aqui que o sangue que mais mata a nossa sede é o humano. Apesar de que o sangue dos animais inferiores também trás certa satisfação… mas cara, não é a mesma coisa!

    Por causa disso, fui aonde há mais sangue disponível, o centro de uma cidade. Em tais ambientes há sempre aqueles que merecem uma ou duas mordidas. Há sempre alguém fazendo bosta e merecendo um corretivo. Há sempre um filho da puta que não devia cruzar meus caminhos.

    Jaqueta, calças, all-star… peguei a BM e rodei. Gosto de usar ele, pois não faz muito barulho e consigo ficar atento com minha audição aguçada pelos arredores.

    Não tardou e perto de um boteco, onde uns velhos tomavam cachaça e jogavam carteado, havia um prédio de dois andares. De dentro do lugar havia uma ou duas crianças chorando, uma outra voz de mulher mais velha e um cara putasso.

    Coisas da pandemia?

    Dizem que a pandemia fez aumentar esse tipo de comportamento. Onde os metidos a machões, que não sabem dialogar batem, xingam e abusam daqueles tidos como mais frágeis. Mesmo que esses sejam filhos esposas, ou gente que em algum momento foram amados

    Nesse contexto, eu parei a moto e fiquei um tempo ali perto dos tiozões jogando sinuca. O jogo estava animado e quase me distraiu. Só que a fome, quando bate, desnorteia nosso foco. Principalmente, porque a violência estava grande naquele apartamento e decidi me aproximar.

    Fui para um lugar mais escuro, procurei por câmeras ou curiosos e me transformei em névoa. Flutuei até uma das janelas e de lá observei. A cena deixaria qualquer perito ou legista animado e me motivou a entrar em ação.

    Numa das salas havia uma mulher mais velha, com cara de vó e amarrada numa cadeira. Ela estava com a boca machucada e com um pouco de sangue no canto. Numa bochecha a vermelhidão roxeada indicava que havia recebido bofetadas.

    Num sofá em posição fetal uma garotinha, em silencio, mas que parecia estar “bem”. Já no quarto a cena era podre. Havia um garotinho com as calças abaixada deixado de bruços na cama e o sujeito, também com as calças arriadas se masturbava.

    Minha sede assumiu o controle

    Assim, estava ali um sujeito que aos moldes da sociedade atual merecia cadeia. Então, fui para o corredor desfiz minha transformação e estourei a porto do lugar. A mulher tomou um susto e a garotinha não se mexeu.

    – Pelo amor de Deus ajuda a gente moço!

    Soltei ela tão rápido quanto um humano faria e percebi que havia movimentação no quarto. Ao mesmo tempo em que ela se libertava percebi o carinha indo para a porta. Com intenção de fugir.

    – Senhora, chama a polícia e fala que o detetive Marcos passava pela rua e te ajudou.

    Fui atrás dele e na descida das escadas o alcancei.

    – Dei-lhe um soco na barriga e na empolgação quebrei-lhe algumas costelas. Ele se estremeceu, suas pernas amoleceram e ele quis se abaixar, foi quando o segurei e o levei até o carro.

    Dali fomos para um local desocupado e tranquilo, onde finalmente saciei minha fome.

    Em tempos antigos eu certamente acabaria com o sangue daquele corpo. Mas como a cidade faz parte dos meus limites, decidi me poupar de possíveis problemas e denunciei para a polícia.

    Hoje minha sede foi saciada. Até quando eu já não sei mais… coisas da pandemia.