Categoria: Histórias

Nesta seção você encontra historias, contos e relatos relacionados ao mundo real e sobrenatural. Verifique a indicação de faixa etária no início de cada texto.

  • Novos laços – pt1

    Novos laços – pt1

    A primeira semana do ano foi banhada pela lua minguante e em muitas crenças ou religiões tal fase é relacionada ao desapego. Aquilo tudo que não queremos mais, deve ser deixado para trás nessa época: mental, material, espiritual. Para que na próxima fase a lua nova nos permita preencher os espaços vagos literalmente com novidade.

    Acredite ou não, no que eu falei até aqui. Fato é que Gaia ou o planeta tem seu próprio ciclo, que depende muito do coletivo. Por isso, diversos grupos, clãs ou matilhas se reúnem e se aproveitam desses momentos para reaver planos. Integrar novos membros ou simplesmente equalizar o que já estava sendo realizado.

    Conosco não foi diferente, tanto que organizei uma semana para ficarmos juntos lá pela fazenda. Todos foram: Franz, H2, Pepe, Sebastian e o cara que vos escreve. Na primeira noite, reativamos nossos laços e compartilhamos nosso sangue. Algo simples, onde cada um coloca um pouco de seu sangue num cálice e compartilhamos. Eu como líder em exercício bebo primeiro e em seguida a ordem é do mais antigo para o mais novo.

    Tal laço nos reaproxima, fortalece o comprometimento e de forma sobrenatural permite que cada um sinta o outro quando estiver próximo e tenhamos uma união que vai além das palavras, sempre pensado no bem dos enlaçados. É uma prática comum na maioria dos clãs organizados, mas também pode ser visto como um tipo de enlace obrigatório e combatido por muitos rebeldes.

    Nas noites seguintes, revisitamos os compromissos com os antigos que hibernam. Limpamos suas criptas, atualizamos os dispositivos de segurança. Reforçamos portas, paredes… as tumbas. Essas deram problema e é onde se inicia uma nova história por aqui.

    Mármores e granitos, se mantidos da melhor forma duram uma eternidade além de um vampiro, por exemplo. No entanto, aqueles que foram utilizados nas criptas dos “velhos”, desde sua construção no final do século XX, começaram a exibir uma porosidade maior do que o esperado. Não sou geólogo, mas acredito que água sanitária e tantos outros produtos que utilizamos ao longo das décadas. Junto ao fato de termos um controle de umidade apenas recente e tantos outros malcuidados, pode ter afetado a estrutura dos minerais.

    Situação que eu já monitorava a tempos, mas confesso que não dei a devida atenção…

    – Olha ali, isso vai desmoronar, eu acho. – Comentou Pepe com seus olhos ainda jovens.

    – Pqp, mano. Como não viu isso, ainda mais ali… deixa eu conferir – Comentou Franz de certa forma desesperado.

    Ele se pôs a observar cada centímetro da cripta, o que me deixou preocupado:

    – Franz, por que a preocupação maninha… Essa não é a…

    Ele me interrompeu de forma seca:

    – Sim é a Audny, lembra que falamos dela uns anos atrás?

    – Isso só pode ser obra do destino, meu irmão. Veja só a cripta dela está se desfazendo e o caixão vai junto… Chegou a pesquisar melhor sobre ela?

    – Não encontrei ninguém que esteja a mais de 500 anos acordado, essa merda!

    – Ta isso não vai cair agora, mas precisamos decidir e agora que estão todos aqui é um bom momento de democracia.

    Pepe se atreveu a comentar antes de H2 e Sebastian:

    – Eu iria curtir mais uma vampira por perto, vocês pareciam se dar tão bem com a Eleonor…

    – Cala boca menina… Interrompeu Franz se remoendo no passado.

    – Muita calma nessa hora Marquês! – Lembre Franz de seu antigo título.

    Sebastian aproveitou minha pausa e trouxe:

    – Façam o que achar melhor, mas não contem comigo pra ser babá de uma velha…

    H2 sentiu confiança e como era o último emendou Sebastian.

    – Mantenho-me neutro também senhores.

    – Sério que vocês vão deixar eu brigar com Franz por isso? – Comentei fazendo um gracejo, mas meio puto. – Continuei – Tá, vou me entender com o meu irmão e até o fim desta semana alinhamos algo.

    Na noite seguinte ao final de um ritual para exploração de nossa metamorfose animal, troquei uma ideia com Franz:

    – Seguinte, falamos da Audny em 2018 e desde então fiquei preocupado de não seguir o que o Georg havia pedido…

    – Sossega, ele não entende o mundo atual. Aquela vez que voltamos ele, tu lembras que ele preferiu hibernar novamente.

    – Mas será que ela não vai ter o mesmo entendimento?

    – Olha faça o que achar melhor, mas repito o que a tua cria te disse: não vou ser babá de velho.

    – Caralho, clã unido pra caralho Franz. Eu me responsabilizo por ela…

    – Tá sem problemas ne? Tu procuras isso, só isso que te digo!

  • Passeio na livraria

    Passeio na livraria

    Em algum momento de outubro eu estava sem muito o que fazer e resolvi dar uma volta na livraria de um shopping. O excesso de luz me incomoda e provavelmente a maioria dos vampiros, sobretudo descobri que por lá foi inaugurada uma nova livraria. Local que pelas fotos me motivou a dar uma olhada no que tem sido publicado.

    Fui de moto, estacionei no último andar e para minha sorte ao longo do caminho as nuvens se espalharam. Ao remover o capacete senti o sereno das 21h e fui presenteado pela visão de uma lua cheia. Gosto de ficar por um tempo a observando sobre os prédios e isso parecia ser o sinal de que teria uma noite tranquila. Eu esperava.

    Desc por algumas escadas rolantes, àquela hora muitos já estavam indo embora e ao chegar na livraria me deparei com um lugar maior do que esperava. Entre as capas, sempe me impressiono pelas artes da Darkside, muitos livros de fotografia também me fizeram lembrar de locais e pessoas que me marcaram ao longo dos anos. Eu parecia criança com brinquedos novos e certamente meus olhos estavam brilhando.

    Não vi as horas passarem e me permiti ficar pela livraria até que fosse convidado a se retirar. E foi o que aconteceu, com jeitinho meio acanhada uma garota de uns 20 e poucos veio ao meu encontro:

    – Senhor, a loja vai fechar. Encontrou tudo o que precisa? Quer uma ajudinha?

    – Oi senhorita, sim. Obrigado pela ajuda, vou levar esses aqui dessa pilha.

    Ela olhou aqueles mais de 15 volumes e ficou impressionada.

    – Nossa, eu te ajudo a levar.

    – Imagina…

    Peguei a pilha e de imediato ela ficou impressionada com a minha força, mesmo assim não ofereceu mais ajuda e fomos até o caixa. Indiquei ela para que recebesse o percentual do vendedor, o que a deixou muito feliz. Faz-me bem ver essas pequenas alegrias nos outros, confesso.

    Voltei com meia dúzia de sacolas para o estacionamento e deu trabalho colocar tudo nas bolsas laterais. Inclusive estava cogitando chamar um taxi, quando percebi um casal brigando num dos carros. Algo até comum se não fosse o fato dele estar forçando que ela fizesse sexo com ele ali mesmo. Ela já estava chorando e o cara insistia… Tive de fazer algo.

    Liguei a moto, e parei em frente ao carro. Virei a perna por cima do banco e fiquei ali de braços cruzados esperando que alguém fizesse algo. O cara ficou bravo, livou o carro e deu umas aceleradas. Permaneci imóvel. Então ele desligou, desceu e veio me xingar cara a cara. Em determinado ponto ele levantou a mão e juro que eu só queria dar um susto no valentão.

    Segurei o braço dele e soltei um soco no estômago. Ele sentiu e caiu de joelhos entre mim e o carro. Levantei-me e fui falar com a mocinha.

    – Você viu que eu estava só parado aqui… Vai desce e chama um Uber, tem pra onde ir?

    Ela ainda chorava, mas percebi que consentiu o que eu disse e deu uma pequena corrida até os elevadores. Percebi que já havia gente olhando, então voltei pra moto. O cara tentava se levantar e não resisti, dei-lhe uma rasteira enquanto arrancava com a moto.

    Fui embora antes que desse merda com os seguranças. No caminho arranquei a placa, não seria bacana dar de cara com alguma blitz ou ser perseguido pela polícia. Cheguei ao refúgio daquela cidade. Tomei um banho e o primeiro livro que comecei a folear foi “O colecionador” do John Fowles.

  • Highlands – parte 3

    Highlands – parte 3

    Antes mesmo que eu continuasse a reclamação do tempo que levei para chegar nas terras dos lobisomens ruivos. Ela se aproximou ao ouvir minha voz, usou as rapidez para encaixar-se no meu peito e se fosse um pouco mais lta certamente estaria próxima do meu pescoço. Cheirando e se enroscando tal qual uma gata.

    A abracei firme, para matar a saudade e devagarinho espacei as pernas e afundei os pés na areia para ficar boca a boca com ela. Seu batom MAC com o inconfundível vermelho, aumentava ainda mais os seus lábios carnudos, que encaixam perfeitamente nos meus. Ficamos ali por algum tempo, até que uma fria brisa balançou seus cabelos pretos sedosos e os jogou contra o meu rosto. Rimos carinhosamente.

    Eu tentei dar um passo para trás, mas sou um pouco estabanado na areia e caímos. Ela caiu sobre mim em seguida os beijos continuaram e ali fizemos amor. Sim amor, nada selvagem comparado as outras vezes, mas sim algo carinhoso e intenso. Como eu estava com saudades dos seus suspiros e gemidos…

    Passamos um tempo ali, até que a nevoa e a brisa se intensificaram. Sem contar a areia que já estava grudada em tudo. Um forte Déjà vu me acometeu e lembrei da praia de Naufragados, local que me ficou marcado, pois foi onde fui transformado e onde aprendi a dar os primeiros passos como um ser da noite.

    – Acho que vou tomar um banho – Comentei.

    – Sério?

    – É sei lá, lembrei do tempo que eu cruzava ondas no mar frio da minha cidade natal.

    – Beleza, tô tranquila aqui… amor…

    – Amor?

    – Ah para, eu digo isso pra todo mundo!

    – Sei… ta vou ali dar um mergulho e já volto

    Insisti naquela incursão pelo mar do norte e senti muito frio, sério… o frio do norte é muito maior que o do sul. Tanto que bastaram dois mergulhos para eu voltar correndo para a areia.

    – Já?

    – Ahh, era só pra tirar a areia e matar a saudades do mar. – Meu orgulho precisava ser mantido…

    Ela apenas deu um sorrisinho sem mostrar os caninos. Dei umas batidas nas roupas e como era confortável sentir algo cobrindo meu corpo novamente. Em seguida fomos para a fazena da tal Lorna. Ainda na praia eu lembro que brincamos como dois adolescentes de jogar areia um no outro (dou risada ao lembrar daquilo, acho que ela me deixa meio bobo)

    Lá chegando, eu fui sentido a presença dos peludos. Se fosse em outras épocas eu estaria muito atazanada com tal contato, mas é bom como o tempo passa e alguns conceitos mudam. Lugar simpático e que lembrou uma fase mais rústica da fazenda do meu clã no Brasil. Repleta de livros antigos, móveis feitos talvez por eles mesmo e muita poeira. Cara, alguém que fizesse uma faxina ali, levaria uma boa semana pra deixar tudo habitável aos costumes brasileiros.

    – Olha só quem chegou. Esse é o vampirão Lili?

    As duas se olharam e Lilian ficou nitidamente com vergonha da situação. Fingi que não tinha percebido e apenas cumprimentei a todos:

    – Boa noite, é um prazer ser convidado para sua companhia e para o local de vosso refúgio.

    – Nossa o vampirão é chique (Ela disse isso num sotaque meio inglês, meio escocês que demorei para entender)

    Lilian, já estava acostumada e me cutucou dizendo:

    – Amor, pra quem fala alemão, você se acostuma, mas ela disse que teu jeito de falar é chic.

    De novo ela insistiu no “amor” e isso parecia diferente do jeito que ela sempre me tratou. Será que era a mesma Lili? O que havia mudado nos últimos tempos? Tratei aquilo como uma mudança de padrão. Agradeci e no resto da noite nos acomodamos. O quarto onde a vampira estava hospedada possuía uma cama de casal e não tive escolha se não ficar ali junto dela.

  • Trabalho para o vampiro: Dríade

    Trabalho para o vampiro: Dríade

    Quando comecei a investigar esse caso, não fazia ideia que iriamos topar em algum momento com qualquer Dríade. Atualmente eles são raros, muito mais que qualquer vampiro ou lobisomem. No entanto, após uma breve pesquisa no Google e surgiram as primeiras menções a esse tipo de sobrenatural. Seres mitológicos que vem desde as culturas Greco-romanas e já estiveram presentes em contos, relatos, histórias e odisseias ao longo dos milênios.

    Mas o que elas faziam aqui no interior do Brasil? A História clássica diz que as dríades nascem junto de uma árvore e são exaladas delas. Vivendo próximos ou na própria árvore e sua vida é relacionada a mesma, ou seja, se uma morrer, ambas morrem. Foi aí que decidimos ir direto a árvore em que fui surpreendido pelo sobrenatural anteriormente. Lá iniciamos um breve fogaréu ao seu redor. Situação que oportunamente atraiu o ser e por consequência as suas criações.

    Nunca achei que fosse enfrentar um(a) Dríade

    Oportunamente, iniciei minha transformação bestial, para que desta vez a briga fosse diferente. Pepe se armou e foi atrás de H2. Fiquei posicionado de tal forma que pudesse surpreender aquele Dríade e tão logo ele veio ao encontro de sua árvore eu o ataquei. Nos embrenhamos pelo chão e minha estratégia foi arrancar seus pedaços com mordidas. Foi feio, apanhei muito principalmente quando ele conseguiu fazer crescer seus galhos. Logo de início ele tentou quebrar meus ossos como se fosse uma jiboia, depois usou as guampas para perfurar minha carne.

    Os demais vieram amparar o seu criador, mas Pepe e H2 surgiram e ali a briga foi mais feia, inclusive a influencer se mostrou muito feroz à medida que tentava ajudar seu amante sobrenatural. A certo ponto o fogo havia mudado de cor para um verde sinistro e tomou boa parte da árvore, seus galhos e folhas. Era nítido que o Dríade havia ficado mais fraco, então os humanos começaram a perder sua condição e voltar a forma humana. Uns inclusive saíram correndo para a sede do sítio.

    Por fim os galhos da figura sobrenatural se desfizeram e seu lado humano, se é que existia, ficou mais aparente. A influencer, permaneceu ao seu lado, até que por fim a figura inteira se dissolvesse como terra, espalhando-se pelo chão. Ela caiu de joelhos e se pôs a chorar… Em seguida o casal que a acompanhava desde a chegada, não tiveram dó e também saíram em disparada para a sede.

    Um fim?

    Em seguida ao enfrentamento dos celebrantes vieram os seguranças. Estes estavam armados e a briga foi diferente, eles conseguiram avançar com suas escopetas encurralando Pepe e H2 em direção a casa. Eu ainda em forma bestial fui por outro lado e surpreendi dois dos quatro. Arranquei o braço de um e a cabeça de outro. Depois levei dois tiros, que acertaram em sequência meu ombro esquerdo e parte da cabeça.

    Fiquei tonto e perdi a direção, mas foi tempo para H2 reagir e pular num deles. Ele foi certeiro no pescoço daquele que havia atirado em mim. Pepe ainda estava na troca de tiros com o outro, mas tudo mudou quando ele precisou recarregar. Ela se aproveitou da situação, pulou no infeliz depois o estripou com suas garras vampirescas.

    Depois de acuado e surrados nos recompomos. Voltei a forma humana, peguei algumas roupas que Pepe havia guardado na bolsa e vasculhamos o local. Todos haviam fugido nos mesmos carros em que chegaram à exceção da influencer. Esta ainda estava aterrorizada, catatônica e deitada sobre os vestígios do que antes era o seu amante Dríade. Peguei-a no colo e levei até um sofá na sede. Pepe a cobriu e por alguns instantes divagamos sobre o que faríamos.

    No fim, chamar a polícia foi a opção mais sensata…

    Antes de partir voltei ao local onde o Dríade havia sumido e peguei um pedaço de sua árvore que havia resistido ao fogo. Certamente, Carlos, meu irmão lobisomem, vai saber o que fazer. Quem sabe não foi ali o extermínio do último Dríade brasileiro.

  • Trabalho para o vampiro: influencer

    Trabalho para o vampiro: influencer

    Minutos mais tarde a cerimônia começou e os convidados chegaram, incluindo a influencer. Diz o H2 que ela não chegou sozinha e veio junto do que parecia ser um segurança armado e um casal. Todos se dirigiram para onde fica a sede do lugar e ali se encontraram com os convidados. Houve um momento em que H2 e outros três novos foram apresentados e todos ficaram frente a frente com a influencer.

    Quem dia diria que uma garota que até pouco tempo atrás era uma desconhecida e que viralizou depois de meia dúzia de dancinhas no TikTok, nos traria tantos problemas. A influencer fez dinheiro muito rápido e arrumou patrocinadores influentes, como o casal. De acordo com H2 eles se apresentaram como sendo os líderes do grupo e a influencer seria apenas uma convidada famosa para fazer propaganda. Apesar disso, ela também participaria da cerimônia e beberia o famoso chá de Santo Daime.

    Situação que mudou quando, após os atos iniciais e muitas conversas, eles finalmente foram para a área externa. Local onde seria realizada a cerimônia. A chuva deu uma trégua e caia leve, como uma brisa molhada. Se não fosse pela situação o lugar era bonito e muito bem cuidado, certamente uma ótima opção para férias. Eis que em determinado momento o ser sobrenatural surgiu junto das pessoas.

    Uma influencer em transe

    Ele parecia usar uma roupa levemente diferente daquela que deram aos demais. Bem na verdade eu não percebi inicialmente, mas a roupa daquele sobrenatural era igual ao casal e a outras duas pessoas que administravam o cerimonial.

    Ainda naquele clima Londrino, todos se juntaram no que parecia ser um palco ao ar livre. Nas laterais árvores centenárias ajudavam a nos camuflar e podemos observar de camarote o que viria a acontecer. No meio do palco havia uma grande mesa natural, ali provavelmente existiu algum dia uma árvore que foi serrada e tirando esse detalhe, também havia um fogareiro a gás com dois panelões em cima.

    O cheiro forte de cipó e das folhas que ferviam indistintamente, se misturava com os cânticos puxados em sua maioria pelo ser sobrenatural. Aquilo inicialmente me lembrou os rituais que fiz junto de Carlos e sua matilhas, mas aos poucos percebi a diferença. Era na verdade uma grande hipnose no qual Pepe quase caiu a distância e h2 embarcou sem pestanejar.

    Inclusive a influencer que parecia se deixar levar e acompanhava tudo na mesma forma que os demais. Alguns minutos depois o ser sobrenatural se aproximou dos panelões e se aproveitando dos cânticos e da falta iluminação para pegar algo dentro de suas roupas. Ao que parecia ele pegou algumas folhas e as jogou dentro da mistura.

    A revelação

    Instantes depois o ser sobrenatural começou a chamar um a um. Eles se aproximavam, num andar ritmado e a medida que chegavam perto dele recebiam um copo com a mistura. Nesse ponto os cânticos continuavam num ritmo mais lento e após 20 minutos começaram os efeitos da bebida.

    Alguns dos presentes se sentavam ou se deitavam pelo chão, inclusive o casal e a influencer. H2 em determinado ponto também se deitou e ficou por um tempo de barriga para cima cantando a canção. Apesar disso, o que parecia ser um ritual tradicional, mudou de figura quando a primeira pessoa começou a sentir os efeitos. Era uma mulher pequena, com pouco mais de 1,50 de altura. Ela parecia estar tendo algum tipo de possessão e se revirava pelo chão.

    Depois dela, vários outros iniciaram aquela performance nefasta. Até que algo surpreendente iniciou por aquela mesma mulher. Pequenos galhos começaram a brotar de seu corpo. Também folhas e depois de um tempo ela ainda mantinha sua forma mas a pele verde e algumas protuberâncias indicavam talvez o surgimento de uma Dríade.

    Com vários outros, incluindo a influencer, aconteceu a mesma coisa e se transformaram. Em algum momento o cântico terminou e apenas h2 e mais dois homens não se transformaram, mas eles permaneciam deitados. Foi ai que o sobrenatural aproveitou e partiu para cima de um deles. Já em sua forma Dríade ele proferiu vários golpes no corpo do primeiro homem. Este obviamente foi a óbito rapidamente. Mas ali não seria apenas um homicídio, ele iniciou um jantar, onde devorou até os ossos do infeliz.

  • Trabalho para o vampiro: sobrenatural

    Trabalho para o vampiro: sobrenatural

    Aquela presença sobrenatural, estava estranha demais e muito fora de contexto. Pepe, sentiu algo também e quando lhe pedi para fiar aguardando, ela coçou a cabeça e concordou. Depois disso, quando eu dei dois passos na direção do que havia lá ela comentou, algo completamente aleatório: “Eu goto da Lua em noites de verão”. O pior é que eu apenas acenei com a cabeça e continuei, dando pouca atenção para o que ela disse.

    Alguns passos depois alguns pensamentos estranhos vieram até mim, como algo estivesse tentando me dizer algo e ali eu tive grande vantagem sobre o que estaria prestes a ver. No alto de uma árvore imponente. Cerca de uns 5 ou 6 metros do chão havia um homem. Ele reparou que eu estava próximo e foi gentil:

    – Quem seria o viajante que eu vejo ao longe?

    Aquilo era muito fora de contexto, mas seu jeito amistoso mereceu reciprocidade:

    – Eu venho em busca de respostas. E o senhor o que faz ai em cima, precisa de uma ajuda para descer?

    – Não se preocupe viajante, estou tranquilo aqui, mas se lhe agrada eu posso descer.

    Alguns galhos da árvore balançaram, folhas secas caíram, mas não consegui observar a movimentação do que eu julgava ser um homem. Eis que em alguns segundos depois eu percebi um rosto, um corpo e dois braços, mas a parte inferior da barriga para baixo estava dentro da árvore, como se ele fizesse parte dela. Outros pensamentos estranhos vieram até mim, como o fato de eu ter a impressão de estar com fome, quando não estava e uma vontade muito grande de comer uma fruta bem doce.

    Um sobrenatural diferente

    Apesar dos pensamentos estranhos a criatura continuou amistosa:

    – Viajante, se eu não souber as perguntas eu não posso lhe dar as respostas.

    – Certo, você conhece uma mulher chamada (de o nome da influencer).

    – Sim, o que você quer com ela.

    Percebi que ele tinha mudado de tom, mas continuei e resolvi insistir numa provocação para avaliar melhor o que ele tinha com ela:

    – Ela é uma mulher má e algumas pessoas tem desaparecido por causa dela.

    Nesse momento eu percebi que suas expressões ganharam rubor e ele estava de certa forma bravo com o que eu lhe havia dito. Mas ele continuou sendo amistoso na forma de falar.

    – Ela não é má, outras pessoas são ruins e eu ajudar ela a se proteger. O que você quer com ela?

    Raciocinei que provavelmente estava diante de algum demônio ou algo do tipo, então a tratativa deveria ser muito diferente. Contive a vontade de provocar e apenas concordei com ele.

    – Sim, você é bom para ela então. Vou seguir viagem e te deixar descansar.

    Nesse momento o corpo humano virou árvore e ele se unificou com ela. Achei que ele se recolheria e foi um erro… fui surpreendido por uma pequena explosão de galhos e cascas da árvore. Parte daquilo chegou a me machucar, senti perfurações nos braços e em parte do rosto. Um pouco de sangue escorreu depois disso antes da regeneração.

    Em seguida algo passou por cima de mim e em seguida parei de sentir sua presença. Ouvi passos, mas era apenas Pepe que ouviu o barulho e veio na minha direção.

    – Tudo bem Fê?

    – Vamos nos esconder naquele outro ponto que combinamos, antes que algum segurança ou outra coisa sobrenatural apareça por aqui…

  • Trabalho para o vampiro: cerimônia

    Trabalho para o vampiro: cerimônia

    Tive um descanso conturbado naquela tarde de sexta-feira e afoito para a tal cerimônia. Sabe quando a gente fica com algo martelando na cabeça e todos os pensamentos te levam pra aquele bendito foco? Seja humano ou sobrenatural a pagada acaba sendo a mesma. Afinal, todos temos preocupações, anseios e vontades. No fim das contas é essa inquietação que movimenta tudo, não é mesmo?

    Motivado pelos direcionamentos que planejamos, eu foquei nos detalhes da cerimônia, me vesti da forma mais adequada, revisei os equipamentos e já estava praticamente pronto quando Pepe acordou. Não é novidade nenhuma para ela, essa minha ansiedade e é algo que ela sempre me estimula a controlar. Mesmo assim, ela arrumou uma brecha para tirar uma comigo.

    – Hey, mas já tá pronto? Arrumou as minhas coisas também, resolveu tudo e podemos voltar lá pra “casa”?

    – Relaxa, a tua parte tá ali te esperando. – Falei sem dar muita atenção a leve brincadeira.

    – Nossa alguém nem dormiu pelo visto. Credo, tá com fome, quer um abraço?

    – É foco vampirinha, mas dormi mal sim. Tô com a cabeça cheia de preocupação, pra evitar o perrengue que passamos outra noite.

    Ela ponderou por um tempo, evitou responder com outra piada e falou algo que me fez ter orgulho, algo quase que de filha para pai.

    – Sabe Fê, eu entendo os perrengues e por mais que a gente esteja a pouco tempo juntos, se comparar ao seu tempo de existência. Só que nesse tempo a gente já passou por muita merda juntos e você tem sido um bom mestre. Tem dedicado tempo pra me ensinar e passar os teus conhecimentos. Tanto que poxa, eu que salvei tua cabeça dias atrás, então confia em mim e no H2. A gente vai resolver essa.

    – Acho que vou aceitar o abraço heim!

    Ela soltou um “aff”, levantou-se ainda de pijama e me deu um abraço. Retribui o carinho e depois terminarmos os preparativos. Instantes depois, as mesmas duas batidas secas na porta, era H2. Consigo ele trouxe uma chuva forte, que coincidentemente encharcou e criou poças por toda a redondeza.

    Foco na cerimônia

    Repassamos os planos, combinamos eventuais ações secundárias ou remediativas, caso algo de errado ocorresse e partimos para o local do evento. Era algo em torno de umas 20h quando nos separamos. H2 seguiu adiante com o plano de se infiltrar como convidado e fomos com outro carro por fora do sítio, com o intuito de invadir caso realmente a influencer estivesse por lá. Se tudo ocorresse conforme planejado, seria um banal sequestro relâmpago. Algo no qual levaríamos a influencer para algum local e ali sabatinar a mesma em função de todos os desaparecimentos. Algo que a polícia diz já ter feito, mas que descobrimos ser manipulado.

    Planejamento que mudou ao chegarmos perto da propriedade. Cara, como eu queria que alguns planos descem certo igual ao que a gente pensa! Chegando lá comecei a sentir algo estranho e perguntei se Pepe sentia o mesmo, ela disse que sim. Apesar disso, seguirmos para o local marcado com H2. Era uma área remota, já dentro do sitio e em meio as arvores havia algo diferente,

    Pela redondeza havia também alguns seguranças e um deles quase no viu, mas a agilidade vampiresca falou mais alto e por sorte ele era humano. Mas aquilo ali estava esquisito a presença parecia ser algo sobrenatural e com certeza era antigo, talvez não fosse poderoso, mas certamente era antigo. Ali aconteceu a primeira mudança de planos onde Pepe ficou de vigia e fui o mais perto que pude da presença.

  • Trabalho para o vampiro: novo plano

    Trabalho para o vampiro: novo plano

    Com a emboscada e chegada de H2 tivemos a necessidade de montar um novo plano. Eu já estava recuperado e alimentado graças a disponibilidade da Melissa, garota de programa e doadora de sangue, que se tornou uma aliada importante na investigação sobre a influencer e sua seita. Inclusive a nossa “sumida” por uns dias e noites foi importante para que recebêssemos mais informações sobre os policiais corruptos, vampiros e ghouls que nos confrontaram recentemente.

    Preciso dizer o quão puto eu estava? Sim, preciso. Cara, eu fui surrado de uma forma que não me acontecia a anos. Também, fui descuidado, andando com munição normal e achando que lidaria apenas com humanos pilantras. Sobretudo, também deixei Pepe a mercê dos safados e sabe-se lá o que teriam feito com ela, caso também tivesse recebido o tratamento que me foi dado. Contar com a sorte, não é e nunca deve ser um ponto de vantagem.

    Entretanto, eu subestimei o inimigo. Muito provavelmente a ”influência da influencer” é maior do que eu imaginava, mas também isso é um mundo novo para mim. Como pode alguém que publica vídeos nas plataformas sociais consegue movimentar tantos seguidores? Na literatura, Lestat tentou isso e deu no que deu, mas será que teria ela seguido esse plano tão manjado? Ou melhor será que ela seria uma vampira ou algum ouro tipo de sobrenatural?

    Um novo plano de fato

    Concentramos a investigação nessa nova hipótese. Pepe, vasculhou tudo o que pode na internet, deep web e inclusive praticou alguns hacks. H2 trocou de roupa, ficou menos chamativo e tomou minha posição de campo. Circulou. Com os devidos cuidados, pelos locais aonde e eu já havia ido e em alguns novos, incluindo a tal penitenciária. Passamos algum tempo nessa rotina até que novas hipóteses surgissem.

    Eis que para a surpresa de ninguém, sim, a influencer tem uma conexão com o sobrenatural. A seita como um todo possui e aquilo que Carlos havia me trazido como suposições, tinham um pouco de sentido. Pepe, confirmou algumas das teorias ao interceptar alguns comentários da influencer, que deixou passar intencionalmente ou não, diversos preceitos até então relacionados a uma entidade específica.

    A internet é assim, sei bem depois de todos esses anos escrevendo para vocês. Imagine se eu indicar onde tem um vampiro conforme muitos me pedem. Imagine se eu falar onde tem um coven ou onde uma matilha se reúne. Tem algumas regras que todos precisam ter ao acessar tal ambiente aberto para o mundo, mas isso é outro papo.

    Uma cerimonia diferente

    Enfim conseguimos descobrir quando seria o próximo encontro da seita e lapidamos o plano ideal para investigar melhor o que ocorria ali. Se era proporcionado algo que tomasse a vida dos desaparecidos ou apenas palco de consumo de Ayahuasca pelos frequentadores.

    Uma forte chuva ocorreu naquela semana, ouvimos que muitos carros atolaram pela região da cerimônia, mas em nenhum momento se ouviu falar cancelamento. Inclusive a propaganda a cerca do comparecimento da influencer havia sido reforçada as vésperas do evento.

    De peito aberto, agora com as devidas armas preparadas e um plano fomos apra o local do evento. H2 iria entrar como participante da cerimônia. Pepe e eu ficaríamos na espreita e com todos os ouvidos sobrenaturais atentos. A menor oportunidade que exista seria o gatilho para confrontar cara a cara a influencer.

  • Trabalho para o vampiro: resgate

    Trabalho para o vampiro: resgate

    Acordei bem e ao que indicava um resgate havia ocorrido. Estava numa cama de casal confortável e um cobertor fora improvisado na janela para me proteger da luz. Senti presenças sobrenaturais, inclusive a de Pepe ao redor. A cabeça não doía, mas havia cascas de sangue seco no travesseiro e na roupa que eu utilizava. Era a mesma que utilizei quando fomos emboscados, apenas meus tênis haviam sido deixados aos pés da cama.

    Além disso, minha mochila com trecos pessoais estava sobre uma cadeira e cara, aquilo estava muito estranho. Me pus de pé. Estava fraco e com fome, com certeza minha reserva de sangue foi consumida na regeneração e eu precisava de sangue o mais breve possível. A porta estava entreaberta, o espaço era pequeno e ao sair do quarto me deparei com Pepe sentada num sofá simples com o Macbook no colo. Na varanda, fumando um cigarro, estava a garota que nos doou sangue outro dia.

    – Porra até que enfim Fê! Achei que ia precisar chamar os velhos (Franz, H2 ou Sebastian) pra fazer um resgate aqui. Cê tá bem, mestre?

    – Calma, deixa eu se sentar aqui nessa cadeira e você me conta o que houve…

    – Claro, claro de boas… Inclusive a fome deve tá punk e pedi pra Melissa dar um pulinho aqui.

    Alimentação e resgate

    Ela soltou a fumaça, apagou o cigarro numa latinha de cerveja e soltou um simples, mas cativante: “E ai vampirão”. Depois disso ela puxou a outra cadeira que havia ali, sentou-se quase que de frente para mim e afastou os cabelos para trás. Dando a iniciativa necessária para que eu visse as lindas veias saltadas de seu pescoço branquinho. Alimentei-me.

    Alguns segundos depois ela desmaiou, tratei de segurá-la como pude para que não caísse e com as forças recuperadas a levei para a cama onde eu estava. Voltei para sala onde Pepe me descreveu o que havia acontecido. Fomos atacados por vampiros fracos ou Ghouls, ela não soube descrever, as eles possuam poderes relacionados a silêncio e força bem acima da média dos humanos.

    Ela também foi emboscada e arrastada para o mato, onde conseguiu se livrar do primeiro que a puxou pra fora do carro, o segundo quase a prendeu, mas um tiro sortudo num dos olhos facilitou o combate. O terceiro estava com o pescoço estourado, era mais forte que os demais, só que estava te carregando e foi um alvo fácil, diz ela.

    – Poxa te treinei bem vampirinha! Orgulho do pai (risos) e esse lugar aqui?

    – A garota ali, a Melissa que me indicou, é uma pousada isolada. Eu liguei pra ela quando consegui juntar nossas coisas e você num carro. Ai fui até o lugar lá que a gente conheceu ela e viemos pra cá. Ela merece um bônus pela ajuda heimm.

    Novos planos

    Surpreendentemente, a situação havia tomado um rumo diferente e com muita rapidez. “Os planos são outros agora” Comentei com Pepe. A maior preocupação era que os vampiros da região, até então aliados haviam mudado de time. Então, mandei uma mensagem puto da vida para aquele que havia sido simpático anteriormente. Alguns minutos depois ele mandou um áudio pedindo desculpas pela recepção na cidade e deixou claro que não era ninguém do seu grupo.

    Fato é que precisamos rever a situação e chamei reforços. Pedi que Franz liberasse H2 de seus afazeres. Ele ficou meio puto, pois o velho estava cuidando e uma coisas pra ele, mas o liberou por uma semana. “Pow maninho, tu precisas arrumar outras brincadeiras, por que não monta um puteiro ou vai cuidar sei lá ajudar um asilo…”. Errado ele não estava, mas isso é um pensamento para o Ferdinand do futuro.

    Na noite seguinte, senti uma presença pelo lado de fora, seguida de três batidas secas na porta do quarto. Abri com cuidado, mas lá estava o velho H2 com sua roupa militar, o crucifixo exageradamente grande no peito e uma bolsa cheia de “brinquedos”. Com as sobrancelhas altas e peludas, além do sorriso recheados de dentes muito brancos ele foi direto:

    – E ai senhor Ferdinand, foi aqui que solicitaram meus serviços?

  • Desabafo, dos meus desabafos

    Desabafo, dos meus desabafos

    Esse #FanArt foi enviado pela Bia e achei que a música a seguir combina.

    Desabafo, dos meus desabafos, é controlar a melancolia, que no meu peito acaricia as tantas emoções, ela somente queria, um pouco mais de harmonia e menos decepções, nos olhos dela escorriam salgadas gotas de agonia, e todas ela engolia, sem menos objeções… 

    Só ela, somente ela sabia o que ela sentia em meio a tantos turbilhões.

     Sentimentos… instalados no meio de suas emoções.

    Ela só queria calmaria, em meio a mares de confusões …

    Ninguém a queria, até ao ponto de querer deixar de existir, “se lembra do quanto era bom aqui” ?

    “Era tão bom, sim, era muito bom, lembro também disso”!.

    Me senti parte algo, mas logo tudo foi despedaçado em meio a tantas desilusões…

    O peito ardia, só ela sabia o que ela  queria, a sua janela interior ela abria, o temporal lá dentro dela caía, janela do peito, despedaçado…

    Tão dilacerado por seus segredos tão guardados, que não dirá, nem tampouco deixará de ter as suas decisões, a liberdade em sua alma, se espalha, e ao mesmo tempo se acalma em tantas situações, veja como ela é calma, ao mesmo tempo ela explode em suas próprias confissões…

    Ela vai voar, buscar o seu lugar, lugar que traga paz ao invés de arranhões, as feridas da vida, às vezes sofrida, ela cicatriza com suas próprias convicções, ela quer tudo, ela quer nada, muitas vezes desesperada, as vezes calma, ela só quer calma… 

    Devaneios da alma.

     Devaneios de  sentimentos confusos …

    Obscuros, do nada, boca calada, vontade de gritar, um grito ! silencioso, que só ela mesma poderia escutar ! 

    Devaneios dessa mente confusa, que fez a esse poema criar… 

  • Trabalho para o vampiro: refúgio

    Trabalho para o vampiro: refúgio

    A noite veio e com ela a necessidade da mudança do nosso refúgio. Pepe até que conseguiu descansar um pouco, eu passei aquele final de tarde fazendo ligações, procurando um novo local e juntando nossas coisas em algumas mochilas. Perto das 21h saímos. Olhamos duas, três ou até quatro vezes para ver se não havíamos esquecido nada. Colocamos as coisas nos carros, depois fiz checkout e fomos para o novo refúgio.

    Circulamos pelas ruas centrais por um tempo e depois entramos nas escuras e desabitadas vias rurais. Em determinado momento eu lembro que o carro de Pepe vinha logo atrás, mas seus faróis se apagaram de abrupto. E tudo o que ouvi com a minha audição aguçada foi uma longa freada e o arrastar dos pneus pelo asfalto esburacado. Parei no acostamento, abri os vidros e antes de descer dei uma boa ouvida no ambiente, mas apenas as cigarras e sapos se divertiam naquela noite.

    A meio caminho do novo refúgio

    Desci e corri o mais rápido que pude em direção ao outro carro. A porta do motorista estava toda torta como se algum acidente tivesse acontecido. Pepe não estava ali e eu sentia sua presença sobrenatural de uma forma muito fraca. Na hora eu pensei o pior, puxei as duas pistolas, que sempre estão engatilhadas e apenas as destravei. A medida que fazia isso eu tentava sentir se havia mais alguém ali, mas meus sentido estavam bagunçados.

    Perambulei por todos os lados, até que fui atingido na cabeça por algo. Fiquei tonto… Tudo ficou meio escuro e eu lutei com todas as minhas forças para me manter atento, mas as coisas começaram a acontecer em flashes. Eu piscava, levava socos e chutes. Então piscava novamente, cara, aquilo não parecia ter fim. Foi quando tentei minha transformação bestial e algo bloqueou o uso completo dos meus poderes.

    Em determinado ponto e depois de atirar para qualquer lado em vão as armas travaram sem balas e eu estava sendo jogado de um lado para o outro e aquilo não parecia ter fim. Mas tudo tem um fim ou uma pausa. Inicialmente, um deles já estava ofegante e parou. Os outros continuaram o espancamento e eu já estava no chão em posição fetal, apenas protegendo a cabeça, quando alguns tiros foram dados próximos a nós. Um deles soltou:

    – Caraio Altair, vai lá vê se a menina ta dando trabalho pro Osias! – Disse um deles.

    Uma breve pausa na surra

    Foi a pausa que eu precisava para ter alguns segundos de regeneração e recuperação dos sentidos, que começaram a voltar aos poucos. Por entre os dedos, que encobriam a minha cara, eu percebi a saída do tal Altair e havia só dois ali comigo. Decidi aguardar mais alguns instantes antes de tentar fazer algo, um deles ainda recuperava o fôlego e mesmo que falou antes falou novamente:

    – Esse ai já era, recupera logo essa merda de fôlego e vai lá pegar a corda, anda porra!

    Foi tempo ideal para eu me recuperar e na primeira piscada que ele deu eu me desvirei, me apoiei com um dos braços e pulei nele. Foi um ataque de improviso e descoordenado, mas suficiente para que ele caísse abaixo de mim. Ele era mais forte que um humano normal e tentou me segurar com algum tipo de manobra marcial, talvez jiu-jitsu. No entanto meus quase 100 quilos e a força sobrenatural foram suficientes para que minha boca se aproximasse de seu pescoço.

    Na primeira mordida eu arranquei parte da pele e alguns nervos, o sangue jorrou! Bebi o que pude, mas ele ainda resistia. O primeiro gole desceu queimando, o segundo não queria descer e começou a dar ânsia, seguida por um inevitável vômito. Era um sangue vampiresco diferente, algo que eu não conseguia consumir e foi ali que ele se soltou e recebi a segunda batida na cabeça.

    Mais flashes e fui amarrado. Outros flashes, eu fui arrastado e tentei me soltar. Um último flashe… recebi uma última cacetada na cabeça.

    Apaguei.

  • Trabalho para o vampiro: uma seita

    Trabalho para o vampiro: uma seita

    É normal em investigações a gente ir de um lado ao outro, encontrar uma seita, um grupo, ou mesmo indivíduos, em prol de algo que machuque outros. Isso vem dos primórdios, onde se sacrificavam virgens para os deuses para uma melhor colheita. Para se obter a força daqueles que foram derrotados ou ainda por simples e mero prazer.

    Quando focamos num  grupo ou seita, o papo muda um pouco. Continuamos atrás de indivíduos que buscam algo, mas isso é amplificado pelo coletivo. De acordo com William James, quando duas pessoas se encontram há, na verdade, seis pessoas presentes: cada pessoa como se vê a si mesma, cada pessoa como a outra a vê e cada pessoa como realmente é.

    Sobretudo, lidar com uma seita requer cuidados especiais, ainda mais numa cidade pequena e foi ai que as coisas apertaram.

    Polícia ajudando a seita?

    Na tarde do próximo dia dormíamos e o telefone do quarto tocou. Era da recepção do hotelzinho e a moça estava assustada. Um casal de policiais gostaria de subir ao quarto para uma verificação.

    Autorizei a subida, acordei Pepe e deixamos os documentos a mão. Três batidas firmes na porta e de prontidão abri.

    – Sim, pois não. A que devo a visita? – Falei.

    – Boa tarde, sou a policial fulana esse aqui é meu colega cicrano, estamos investigando o sumiço do beltrano. Recebemos uma denúncia anônima de que um homem alto, que se diz amigo do beltrano esteve procurando por ele em seu trabalho e há uma suspeita que de possa ser o senhor.

    – Certo, senhora. Suponho que possua um mandado ou algo do tipo para vir até aqui com uma suposição e incomodar o descanso meu e da minha filha?

    – Veja bem é que a situação…

    Interrompi.

    – Tem ou não?

    – Não, mas…

    Eu ia fechando a porta quando o cicrano colocou a bota, para que eu não conseguisse fechar. Para o azar dele minha força estava a toda e continuei apertando. Cheguei a ouvir estalos da madeira, a medida que eu apertava e mantinha o olhar fixo nele. Obviamente seu pé começou a doer e ele soltou um gemido, seguido de um pedido: “Po-por-favor!”

    Parei a pequena tortura, reabria porta e soltei: – Sim, há mais alguma coisa em que eu possa lhes ajudar?

    Uma pequena ameaça

    O cicrano levou rapidamente o pé para trás e disfarçou a dor com duas pisadas fortes no chão. Segurou a dor e falou:

    – É bom cê larga de moage! A gente vai voltar aqui com os papel e cê vai vê!

    – Percebo um tom de ameaça no senhor? Entendo que caberia aqui um boletim de ocorrência por importunação e abuso de autoridade. Vou ter de me dirigir até o delegado de vossa comarca ou posso continuar meu descanso vespertino?

    Olhei fixamente o cicrano nos olhos, ele ficou intimidado, baixou a cara e puxou a fulana pelo braço, depois se viraram e foram embora.

    – Ferrou Fê, até a polícia tá envolvida nisso, e agora? – Soltou Pepe preocupada.

    – Relax, só vamos precisar ver outro hotelzinho e sumir um pouco. Pode descansar. Vou fazer umas ligações aqui e a gente já troca no início da noite.

    Reportei, a abordagem, os envolvidos e tudo mais que havia acontecido até então para meu amigo na PF. Fiquei até a noite vasculhando o mapa da cidade a procura de um local para a gente ficar.