Categoria: Histórias

Nesta seção você encontra historias, contos e relatos relacionados ao mundo real e sobrenatural. Verifique a indicação de faixa etária no início de cada texto.

  • Trabalho para o vampiro: fome

    Trabalho para o vampiro: fome

    Depois de brincar de humano, eu estava com fome e marquei um encontro com Pepe perto do galpão, onde havia encontrado os materiais relacionados ao culto do Santo Daime. Na estrada indo para o local havia alguns pontos de parada, onde estacionei o carro e fiquei no aguardo de minha cria.

    Minutos mais tarde comecei a sentir uma presença. Aquele sentimento de quando outro sobrenatural está por perto e nesse caso, com maior intensidade por se tratar de Pepe. Ela também veio noutro carro e parou logo depois do meu.

    – E ai mestre!?

    – Ué pra que essa formalidade vampirinha?

    – Zuera, só pra ver tua reação. (risos)

    – Sei, tais andando muito comigo (risos) mas olha só olha só fui até o bar que aquele cara que sumiu trabalhava. Troquei uma ideia com o pessoal lá e descobri que a ligação mais próxima dele com a zinha lá influencer é por causa da irmã que está presa aqui perto.

    – Irmã dela? Não entendi…

    – Dele, vou pedir a ficha dela pra saber o que ocasionou sua prisão.

    – Eita podia ter me mandado um whats pra falar disso, o que tem mais?

    – Tá com pressa? Vamos por partes aiii. Seguinte, tais com fome? Porque eu tô viu!

    – Não tava pensando nisso, mas se rolar algo eu topo, bora.

    – Eu troquei uma ideia com o pessoal, que vem para cá as vezes. Sabe que sou mó preocupado com o território alheio. Como brinde pela boa vizinhança, me falaram de um bordel aqui perto, onde há uma ou duas damas que mercadejam sangue.

    – Nossa, tá anacrônico hoje. Mercadejam é o que, tio?

    – Tio? Volta pro mestre que era melhor, que vendem sangue… enfim, bora lá ver isso. Ah e se der ruim já sabe, corre, que eu me viro.

    Lugarzinho simples, mas limpinho. Logo na entrada um barzinho com uns petiscos e uma velha com cara de poucos amigos atendendo no balcão. Na sua direita uma porta com aquelas cortinas de fita, que ao passar gruda em todas as partes do corpo e da raiva. Porém logo ali já havia três meninas com pouca roupa e sorriso de orelha a orelha.

    – Boa noite damas, senhoritas e garotas. – Cheguei no melhor estilo Franz, bom vivant e continuei – Quem das senhoritas se dispõe a nos doar um pouco de seu amor?

    “Doar amor” era a frase secreta que me indicaram e percebi que nenhuma delas reagiu ao que eu falei. Então, repeti em tom mais firme:

    – Doar amor (pausa) ninguém quer?

    Fiquei ali com cara meio de trouxa, por uns segundos até que alguém gritou dos fundos um tímido: “Eu… espera!”. Eis que surge uma outra garota, ela vestia preto e era pálida. Diferente das outras mais bronzeadas e meio indígenas. Essa tinha feições mais europeias e literalmente parecia fora de contexto.

    Percebi um burburinho entre as meninas com sua chegada. Mas a garota foi logo pegando no meio braço, me puxando para dentro e dizendo.

    – Oxi, esse é meu, suas rapariga! Venha você também se quiser, bonitinha. – Virando-se para Pepe.

    Ao que me parecia, era o quarto dela mesmo, com uma caminha de solteiro, uma cômoda com meia dúzia de Funko e alguns livros. Também algumas roupas jogadas, restos de comida num prato e como disse antes ela parecia muito destoada para o local. Fiquei curioso e perguntei:

    – Entendo que outros iguais a nós já trocaram uma ideia contigo antes?

    – Sim vampirão, fica tranquilo. Já vendi meu sangue para caras do teu tamanho.

    – Nem por isso senhorita, é que você me parece um pouco “longe de casa” aqui nesse lugar.

    – Ai, sabe quando a vida te dá duas varetas e alguém fala, faça um barco? Eu tô nessa vampirão.

    Curti a simpatia dela, bem na verdade tive um pouco de pena. Sobretudo, nossa fome foi saciada depois de alguns goles. A pobre coitada mal se aguentava em pé depois disso, mas ficou super feliz com o pagamento a mais que lhe dei.

  • Trabalho para o vampiro: sumiço

    Trabalho para o vampiro: sumiço

    Perto das 18h30 o sol já havia se posto a quase 1h e eu me vesti de forma bem simples para investigar o novo sumiço. Pus um boné de lona, botas de couro por baixo da calça Jeans surrada, uma camiseta qualquer e fui para a lanchonete onde o homem que sumiu trabalhava.

    Gosto de “madrugar” nesses horários, pois ainda há muita gente pelas ruas. Muitos saem do trabalho e aproveitam para movimentar o comércio antes de voltarem para suas casas. As lanchonetes ou bares se enchem nesses horários, onde as pessoas fazem o famoso Happy hour ou jantam antes de ir para suas casas.

    Lugar pacato, com dois atendentes naquela área de balcão, onde havia a popular estufa de salgados e freezer por baixo. Nas banquetas muitos aliviando a fome, trocando ideias de tudo um pouco. Encostei-me, e apenas observei o povo ao redor.

    – Vai o que chefe? – Comentou o atendente mais baixo.

    – Tô pensando em algo pra levar…

    – O pernil ta no ponto pra um lanche e tem um caldo de piranha novinho saindo.

    – Sei, faz um de cada pra eu levar, por favor…

    – É pra já!

    Enquanto esperava um casal do meu lado falava sobre o dia e como estavam cansados. Ele reclamava do chefe e ela tentava falar do dia dela, mas não tinha mita brecha. Noutro lado dois caras mais velhos, talvez na faixa dos 50 ou 60 falavam do campeonato brasileiro de futebol.

    Quando o atendente mais baixo voltou com o meu pedido eu pedi uma água com gás e um copo. Fiquei molhando a boca ao mesmo tempo que tentei puxar papo. Falei do cara que tinha sumido:

    – O fulano não tá ai hoje?

    – Ele veio trabalhar esses dias mas tava meio Jururu. Tá sumido, visse.

    – Sei, a gente joga bola e ele não apareceu também. – Inventei algo rápido.

    – É a primeira vez que te vejo aqui, mas se é chegado daquele bocó, fala que ele vai ser mandado embora se não aparecer.

    – É ruim né, quando o cara some do nada. Vai ver ele foi contrato pela fulana (influencer) e foi fazer videozinho no TikTok, só falam disso agora. – Gargalhei mais alto pra ver se chamada atenção do pessoal do lado.

    – Essa ai acha que manda aqui na cidade – Resmungou um dos senhores do meu lado.

    – É mesmo viu. – Comentou o outro.

    – Eu sigo ela em todos os lugares. – Comentou a mulher, interrompendo o monólogo do seu companheiro – E continuou – Vocês tão sabendo que agora ela tá ajudando o pessoal lá da Penitenciária central?

    – Tchá por Deus, ela só deve tá se aproveitando deles pra ganhar mais bufunfa. Comentou o atendente mais alto…

    E esse papo durou uns 20 minutos, descobri mais alguns detalhes sobre o jeito da influencer e dos negócios mais recentes. De um modo geral e para qualquer pessoa mais famosa, tinha os que apoiavam, os invejosos e aqueles que só viam o lado ruim do que ela faz. O importante é que na conversa descobri que o cara sumido tinha uma irmã presa no tal presidio. Teria isso alguma relação com o fato da influencer estar fazendo alguma ação por lá?

  • Trabalho para o vampiro: suposições

    Trabalho para o vampiro: suposições

    Em meio a descoberta de uma pista. Liguei para Pepe e comentei sobre o que havia encontrado. Ali ficou evidente ao menos um rumo inicial que devíamos dar a investigação. Indo atrás de outros que também possuam crachá ou alguma relação com o galpão e sua possível utilização como “Espaço de autoconhecimento”.

    “Pesquisei sobre os vampiros que vem aqui eventualmente e nenhum deles parece comprometer nossa estadia” Disse Pepe por áudio.

    Ainda faltava um vínculo maior entre os desaparecidos ou uma simples motivação, que fosse além do Santo Daime. O chá da um belo estrago no intestino e faz alguns perderem o juízo por minutos ou poucas horas. No entanto, não existem muitos casos de morte ou assassinatos relacionados ao chá. Havia algo pontual e maior, bem maior que ocorre todos os anos, mas o que?

    Liguei para Carlos, meu irmão lobisomem. Perguntei sobre a região se oferecia algum diferencial, onde algum propósito pudesse ser utilizado para algum fim. Sim, divaguei por ele por algum tempo. Isso no caminho de volta para o hotelzinho que pegamos.

    – Preciso fazer umas contas, usar umas tabelas… Vou falar com a Vera se ela me da algumas ideias também. A gente se fala em breve, irmão!

    No hotel revi algumas fotos e anotações que fizemos. Perto das 9 o sol já batia nas cortinas e por sorte longe das camas. Foi o momento de dar uma relaxada e descasar para a próxima noite. Pepe preferiu relaxa na banheira por algum tempo, ficou tanto lá que adormeci e a revi apenas na noite seguinte.

    Ao acordar revi as mensagens e havia algumas mensagens de Carlos, me contando as suas suposições. Sobre o local, em algum momento da história ele foi rota para os nativos sul-americanos, possivelmente A’uwē. Mais em específico talvez pelos Xavante e seus aliados. Esse povo e todos os outros dessa região foram muito reprimidos ao longo dos anos desde a chegadas dos Espanhóis e Portugueses.

    Apesar disso, ainda temos relatos de suas lendas mais populares, quase todas transmitidas entre as gerações oralmente. “Sabe se tem alguma tribo aí perto? – Perguntou ele.” Um fato curioso também trazido por Carlos é que a região fica em oposição exata no globo terrestre a região das Filipinas. Um local também riquíssimo em termos de lendas, costumes e tradições.

    Bacana e curiosas as suposições de Carlos, mas aquilo ali, sei lá parecia algo mais mundano. Eu devia estar divagando nos pensamentos. Entretanto, o segundo dia trouxe uma pressão maior: “Aparentemente teve outro sumiço ai na região. A polícia local registrou que um cara na faixa dos 30 saiu para trabalhar numa lanchonete e sua mãe reportou que ele não voltou depois de 24h”.

  • Trabalho para o vampiro: investigação

    Trabalho para o vampiro: investigação

    Com os papeis definidos e os principais locais mapeados, fomos cada um para um canto. Naqueles que me propus a verificar, comecei pela pedreira. Local que um dia já foi utilizado para retirada de sedimentos e atualmente é palco de shows. Nos dias normais é muito utilizado para aqueles que gostam de privacidade e natureza, se é que me entendem.

    Com o frio daquela noite havia poucos carros e dentre os frequentadores nenhum utilizou o espaço ao ar livre. Minha audição aguçada indicou apenas alguns gemidos ou safadezas ditas ao pé do ouvido. Fora isso, pelo local também não havia nada de suspeito, apenas lixo ou restos de alimento.

    Fui então para o segundo local. Um loteamento novo, que já possuía infraestrutura de vias e apenas duas casas prontas. Dizem que ali também é utilizado para os mesmos fins do local anterior e da mesma forma nada de suspeito.

    O terceiro local era na verdade dois: em parte havia um parque e nos fundos dele jazia o que algum dia foi uma olaria. A imensa torre da chaminé era o que havia de mais inteiro e o barracão ofertava poucas opções para investigação. Apesar disso, foi onde encontrei algo suspeito. No chão em algum momento foi desenhado algo circular, mas que fora muito bem apagado com alguma enxada ou rastelo.

    Além dos rastros de algum símbolo, também encontrei vestígios de cera de vela e meu olfato surrado indicou mais ferro que o normal naquela terra. Isso podia ser relacionado a algum depósito de materiais metálicos ou sim, pelo derramamento de sangue. O problema é que só havia isso. A antiga chaminé que seria o local mais óbvio para se queimar qualquer vestígio era muito inacessível para humanos.

    Já que estava ali, olhei dentro do forno na base da chaminé só havia ninhos de animais e o que um dia foi madeira ou carvão mineral queimados. Com essa pulga atrás da orelha quanto ao que havia sido feito ali eu parti para o último lugar. Um galpão já na área rural e coisa de uns 25km dali.

    No carro Pepe me ligou e contou que descobriu algo sobre um grupo de vampiros que frequenta a região eventualmente. Eles inclusive mantem um Ghul como gerente num bar bem localizado e frequentado. No entanto, ainda precisava de mais tempo para saber se seriam aliados. Nesse tempo cheguei ao galpão.

    Investigação pra que te quero

    Além do galpão o local possuía uma meia dúzia de outros prédios. Provavelmente, nos últimos 50 anos o local fora utilizado como espaço para alguma empresa e suas salas, agora saqueadas ainda resguardavam papeis, calendários, armários. Todos em sua maioria revirados em busca de algo de valor ou vandalizados. O que me chamou atenção ali é que havia uma cerca tímida protegendo algumas partes e alguns cadeados novos reluziam as luzes de pequenos postes modernizados com lâmpadas de LED.

    Algumas câmeras também foram instaladas e por pouco não fui pego numa. Prestei muita atenção daquele ponto em diante, tanto que resolvi fazer uma investigação diferente, em forma de névoa. Transformei-me e vasculhei tudo o que me foi possível. Inclusive, nesse estado percebemos com maior facilidade passagens secretas, o que não foi o caso. Pois o que precisa ser encontrado estava guardado em armários novos dentro de uma sala arrumada e limpa

    Cálices, mantos e outros elementos rituais. Alguns poster, quadros e diversos livros falando da popular Ayahuasca. Um famoso cipó, também chamado de Santo Daime, que nos últimos anos tem sido utilizado em cerimônias. A maioria delas com o objetivo de proporcionar um encontro com si mesmo, na aspiração por maior autoconhecimento.

    Ao menos é o que a maioria dos Gurus no assunto indicam. Sinceramente, não estava encontrando motivos para aquilo ser suspeito, até que em um dos crachás vi o nome da influencer.

  • Trabalho para o vampiro: Desaparecidos

    Trabalho para o vampiro: Desaparecidos

    Certa noite eu estava de boas até que recebi um e-mail sobre desaparecidos, intitulado: “Mensagem para o vampiro”. Entre tantos que eu espero um dia poder responder, esse tinha um remetente conhecido. Aquele meu contatinho na polícia.

    “Hey vampiro, sabe aqueles encardidos que ninguém acha e fazem um monte de merda? Sim, aqueles que tu gostas! Da uma olhada na ficha anexo e me fala se te interessa o caso desses desaparecidos! No aguardo!”

    Dei uma boa olhada e pedi para Pepe dar aquela varrida on-line. Depois de um tempo tinha algumas dúvidas, mas era certo que ela tinha família, amigos, seguidores e certa influência on-line. Tudo bem se não fosse o fato de que 10 pessoas ao seu redor haviam desaparecido nos últimos 10 anos.

    Tínhamos ali possivelmente uma assassina em série para caçar. Mas por onde começar se não havia corpos ou provas de nada? Fizemos uma triagem nos desaparecidos e procuramos similaridades.

    Pepe chegou a criar um quadro numa parede, onde colamos de tudo um pouco. Entretanto, tirando a ligação comum ao possível assassino, o único fato similar entre os desaparecidos era a moradia na mesma cidade. Uma cidade média brasileira do interior.

    Nenhuma prova ou ligação entre as vítimas!

    Os desaparecidos me empolgaram, mais do que ficar assistindo CSI ou Bones. Eu cheguei a comentar com Pepe: o melhor dos vampiros não seria tão cuidadoso com suas vítimas. Seria um vampiro, aliás? Um lobisomem ou qualquer outra coisa? Chega a ser engraçado eu pesar esse tipo de coisa. Fato é que a gente tinha que se aprofundar mais.

    Influência política, simpática, corpo em forma e uma série de conteúdos relacionados ao veganismo ou a causa animal. Essa era nossa benfeitora. Ou malfeitora… Só por isso já havia uma série de problemas, dentre eles a nossa exposição. Como se envolver com esse tipo de gente exposta sem que algo espirre contra nós?

    Planejei uma estratégia junto de Pepe, consegui algumas credenciais policiais com meu contatinho e fomos para a região dos problemas. Por lá não havia vampiro algum como líder, tampouco outros sobrenaturais e isso é normal. Lugares menores não geram status, nem possuem movimentação necessária para que exista algo do tipo.

    Onde viviam os desaparecidos?

    Quem viaja pelo interior do Brasil sabe que as cidades de norte a sul, são meio parecidas. Claro que o sotaque e as tradições populares variam, mas de um modo geral são lugares que dependem de produção rural, turismo ou comércio. Em algumas há mais ou menos fábricas, que podem lapidar alguns comportamentos. Sobretudo, podemos mapear alguns perfis e seu modo de “viver”.

    Dentre eles, há sempre uma maioria que segue rotinas, há locais com maior circulação e sempre existe áreas isoladas onde alguns se escondem para praticar suas safadezas, sejam elas sexuais ou criminosas.

    Nos dividimos, Pepe foi para as áreas de alta densidade e eu para as de baixa. Inicialmente, fomos para os locais onde os desaparecidos foram vistos pela última vez.

  • Os Escolhidos, novos casos em breve

    Os Escolhidos, novos casos em breve

    Numa noite dessas peguei-me relendo Lestat, aquele famoso vampiro retratado no livro homônimo, escrito pela excêntrica Anne Rice. Lá o vampiro retrata logo de início as mudanças percebidas por ele entre os séculos XIX e XX. Senti-me representado em algumas delas, principalmente nos comportamentos sociais. Tal qual a liberdade de se vestir, se expressar e se relacionar, podendo inclusive namorar em público.

    Isso parece algo banal para quem nasceu no século XXI, e longe de mim querer bancar o Baby Boomer diante “os Enzos e Valentinas millenials“, mas sim o mundo na atualidade é mais permissivo para diversos temas. É livre afinal.

    Nesse contexto de liberdade eu volto a falar do Os Escolhidos aquele velho programa criado por mim, junto de Sebastian para aplicar a lei, a justiça e correção aqueles que ferem as liberdades dos demais.

    O conceito de liberdade é bem amplo e pelo lado filosófico seria algo como a “independência do ser humano, o poder de ter autonomia e espontaneidade”, ou de acordo com outras vertentes: “o direito de agir segundo o seu livre arbítrio, conforme a própria vontade, desde que não prejudique outra pessoa, é a sensação de estar livre e não depender de ninguém.”

    É nesse “…desde que não prejudique outra pessoa…”, que mora o perigo ou onde o Os escolhidos tem foco. Muitos não sabem separar sua liberdade do outro, não sabem viver nessa convenção social, não sabem onde termina sua liberdade e começa a do outro. Tais criaturas, avançam tanto nas liberdades alheias que a ferem, maltratam e no extremo a eliminam.

    Dizem que os vigilantes também ferem algumas liberdades, ninguém é perfeito, não é mesmo? Todavia, se o governo não consegue se organizar a sociedade reage de alguma forma. Sem falar dos sistemas corruptos onde alguém precisa por barreiras e ajudar aqueles que não podem se defender sozinhos. Nesse sentido, foram muitos os casos em que meus aliados e eu atuamos na busca de justiça. Independente do fogo ou sangue necessários para ela seja feita, o equilíbrio deve ser almejado.

    Sendo assim aguardem novos casos para breve: Os Escolhidos

  • Relatos de  um Lican

    Relatos de um Lican

    A lua já sorria no céu, como aquele gato doido do Alice in Wonderland, manja? Nem preciso dizer que isso me animou, apesar de que a lua não me afeta muito. Os velhos contam que alguns licans são afetados pela lua, porém no meu caso ela é apenas um brilho a mais no céu. Algo que ilumina minhas rondas de noite.

    Quando falo das rondas, essa é a minha função atual na matilha. Eu sou um membro novo e cara, isso é muito melhor do que limpar o chão ou os banheiros lá do nosso canto.

    Tem 52, desde a última vez que contei e com essa quantidade de licans, que sempre muda, a gente vai se virando. Me falaram que é como se fosse um moto clube. Tem um presidente (alfa), um vice, tesoureiro e pá. Mas nem todo mundo anda de moto, eu mesmo pego Uber pra tudo o que é lado.

    Além do tempo que eu tô no covil, também faço uns bicos como pintor, pedreiro, encanador… Se eu morasse nos Estados Unidos a minha vida seria o bicho. Tá ligado que lá os cara são chamados de empreiteiros e têm até programa de televisão. Mas sendo eu um nascido no Brasil, sou apenas mais um “pedreiro pé rapado”.

    O lance dos lobisomens aconteceu pra mim faz pouco tempo também. Coisa de uns 5 anos, eu acho. Tive umas noites mal dormidas, depois tive muita vontade de comer carne cru num churrasco e um dia tomando banho aconteceu minha primeira transformação. Ainda bem que eu estava sozinho numa obra, porque gritei, cara. Chorei feito uma menininha e até achei que ia morrer, tá ligado?

    É difícil descrever, tudo o que houve. É muito louco! Primeiro teu coração começa a bater muito forte e parece que tá rolando um ataque. Depois tem uma suadeira e doi tudo, sabe? É como se alguém tivesse te dando uma surra do caraio.

    Depois das dores, até os ossos doem, os músculos e quando você já tá no chão, querendo morrer, a transformação rola. Os pelos viram cabelos, as unhas crescem, a boca e o nariz ficam grandes e os músculos ganham força.

    É algo louco de explicar assim escrevendo. Mas o mundo precisa saber que rolam essas coisas por ai e quem sabe eu ajudo falando disso. Deve ter muita gente que passou por isso e perdeu família. É a parte chata disso. Ainda mais nos dias de hoje em que tem câmera pra tudo o que é lado e até os pelado tipo eu, tem celularzinho que grava tudo.

    Volta e meia eu fico rindo com os parsa, dos vídeos dos maluco que são pegos e aparecem no Tic Toc, sabe? É engraçado, mas ao mesmo tempo dá dó dos camarada. Sóquem passou por isso manja o que é ruim.

    Mas é isso, pra começar a falar de mim é isso, até uma próxima ai.

    Ah meu nome é Almir, caso alguém queira comentar algo. O Ferdinand disse que vai colocar isso no site dele, gente fina esse loco ai. Valeu.

  • Me arrrependo…

    Me arrrependo…

    Dos abraços que não dei

    Do amor que perdi, 

    Dos erros que cometi, 

    Até de tudo o que sofri.

    Se tivesse sido diferente, 

    A dor inerente, não estaria aqui. 

    As lágrimas rolam, se copiam sem cessar. 

    Será que essa dor nunca vai passar ? 

    Será que tudo isso não vai acabar.

    Somente ficará o seu olhar,

    seu jeito de abraçar, não mais sentirei o teu tocar, os teus lábios a me beijar, sua risada a me alegrar.

    Me arrependi,  dos erros que cometi, por não ter dito, o que senti, tu me quisestes  de volta pra ti.

    Eu não dei ouvidos e apenas saí.

    E a dor incessante continua aqui.

    Pois sei que pra sempre eu te perdi.

    Não tive o tempo que queria para me despedir.

    Arrancaram você de mim, a luz dos seus olhos se apagaram, com violência, de mim te tiraram, seu sangue inocente para quê derramaram ? 

    Me arrependo, 

    Pois sempre te amei, 

    Com essa dor no meu peito eu morrerei ? 

    Um amor igual ao teu eu jamais sentirei. 

    Me arrependi. 

    E até hoje choro

    Choro de tristeza, choro de raiva, 

    Choro por amor, choro de dor.

    Meu grito em silêncio, foi só o que restou…

    Me arrependi, me arrependo…Pois sempre será o meu grande e eterno amor.

    By Bia. 

    Baseado numa história real.

  • Highlands – parte 1

    Highlands – parte 1

    Introdução.

    Olá, queridos leitores, como estão?

    Eis que eu volto para contar mais uma parte da minha rotina imortal para vocês.

    Mas antes um recadinho: os nomes dos locais e dos integrantes dessa nova jornada minha, serão mudados por questões pessoais e por segurança. Tentarei descrever os locais que estive o mais próximo possível para que possam sentir-se ali, juntinho comigo, vivendo essa nova aventura.

    Com carinho, Lilian.

    —–

    Se você já tiver viajado de avião e balsa pela Europa, sabe que o voo não sai barato e provavelmente a sua mala vai demorar para aparecer no desembarque e a balsa sempre vai atrasar, não importa o horário, nunca vai conseguir chegar no horário exato, a maré sempre atrapalha. Mesmo que você se aventure durante as noites de viagem até o seu destino final.

    Como sempre e por precaução, eu fui a última a desembarcar, observando os turistas andando de um lado para o outro, enquanto caminhava pelo barracão de metal que as pessoas nesta pequena ilha nas Highlands, chamava de aeroporto.

    Sem minha moto ou meu carro, eu, uma vampira, teria que pegar um ônibus, sim isso mesmo que você leu, um ônibus, cheio de viajantes humanos, empolgados e alegres por não estar chovendo agora a noite, carregando seus bastões de caminhada e guias turísticos que tinham várias páginas falando sobre a pequena ilha.

    Enquanto o ônibus, que deveria ser mais velho do que Caim, balança por entre a pequena estrada, percebi que a névoa densa da noite parecia se dissipar, dando a impressão de que em meio a nuvem de fumaça a pequena cidade que seria meu lar por algumas semanas, aparecia logo a frente como um passe de mágica. As colinas escuras pela noite, desciam até as praias brancas, banhadas pela luz da lua. Longas praias que pareciam não ter fim.

    Ao descer do ônibus eu conseguia sentir a presença dela, uma antiga amiga que conheci nas minhas viagens ainda quando era uma jovem vampira. Lorna e sua aparência nada convencional para aquela pequena cidade tradicional.

    – Lilian King! – declarou ela, apontando para mim seu dedo indicador com um esmalte rosa neon. – Quem diria!

    – Olá, Lorna! Se não fosse pelas várias cores da sua roupa, talvez eu não te acharia. – cantarolei de modo automático ao ver que ela não havia mudado nada.

    Nesses últimos meses eu havia me sentado ao lado de grandes vampiros, resolvido assassinatos, me declarei para o vampiro da minha vida e ainda tive que ver um outro vampiro conhecido, ser preso por ter perdido o rumo da imortalidade. Acho que eu precisava mudar os ares e rever velhos amigos.

    – Então, você voltou hein…

    – Eu só vim para ficar algumas semanas Lô – Sabendo que a informação da minha chegada já havia passado para todos da família e clã de Lorna. – Não vou morar aqui.

    – Ah, isso é o que vamos ver! – Bufou a lobisomem mais diferente que todo clã de lobisomens já viu.

    Ual, realmente, este lugar não mudou quase nada com o passar das décadas. A fazenda da família de Lorna era a imagem imaculada de como seria um lar nas Highlands. Uma fazenda labiríntica, com seus corredores escuros, que levavam a pequenos cômodos e quartinhos aqui e acolá, bem próxima ao oceano, com uma pequena praia particular e ao longe, o que pareciam uivos de cachorros aos ouvidos humanos, para mim eram os uivos dos irmãos mais velhos de Lorna ao longe.

    A noite estava maravilhosamente agradável, os campos verdes-escuros, a praia branca banhada pela lua, o som e o cheiro do mar, traziam de volta lembranças boas de quando eu ainda estava explorando meu lado vampírico, enquanto me enturmava com uma família de lobisomens, todos amigos de Trevor.

    – Como estão as coisas na grande e antiga Ordem? Já perceberam que estamos no século 21 e que celulares existem? Salazar ainda usa aquela capa enorme por cima dos ternos sensuais dele? – Lô realmente não tinha e nunca teve filtro para falar o que bem vinha na cabeça. Uma vez, ela e seus peculiares irmãos visitaram a Ordem e digamos que para eles, seguir regras e vestir roupas convencionais, que não sejam camisas xadrez e calças jeans batidas do tempo, não era uma opção.

    – Senti o cheiro de vampiro ao longe! E vejam só, uma vampira tatuada sentada na nossa mesa de jantar! – Kolt, o irmão mais velho de Lorna, com sua presença nada discreta de quase dois metros de altura, a barba ruiva batendo no peito, os olhos verdes escuros e seus cabelos ruivos presos em um coque bagunçado, com o braço repleto de tatuagens, vinha para me dar um abraço de urso molhado.

    – Falou o cara que tem um braço tomado por tatuagens. – Por fim, atrás de Kolt, entrou pela porta Hamishy, também um ruivo alto e acredito que o mais forte dos três irmãos. Apesar de parecer um cara ameaçador, com sua feição fechada, barba que poderia ser trançada e os cabelos soltos brilhando o tom de vermelho do clã, ele era o mais amável de todos.

    – Pelos deuses! Essa é a Lilian? Achei que o Trevor havia te trancafiado em um sarcófago minha cara.

    Mais um abraço de urso molhado e eu estava oficialmente fedendo a lobisomens litorâneos…

    Como é bom estar de volta.

  • Vampiros de sangue ralo

    Vampiros de sangue ralo

    Entre 1852 e 1872 eu tive os meus primeiro 20 anos como vampiro, onde tive um aprendizado terrivelmente express sobre nossa sociedade. Boa parte desses anos eu retrato no livro Ilha da Magia que está no forno e deve ser lançado no primeiro semestre de 2023.

    Sobretudo, neste post eu queria lembrar um pouco daquela época e dos percalços que enfrentei. Onde percebi preconceitos por ser da América do Sul, por ser novo e por estar num lugar onde a maioria ao meu redor era mais velho ou de famílias tradicionais.

    Quando falo de famílias tradicionais eu falo do Franz, que pertence a família real prussiana e quando humano tinha o título de conde. Falo do Achaïkos, que é um dos Wampir mais antigos que conheço. Falo também de Lord Gualbert, um Wairwulff de extrema importância para a região. Sem falar de Georg, meu mestre, que proporcionou minha entrada neste mundo e tem bastante influência naquela região.

    Referências a parte e além da transformação, no qual eu abordei aqui, gostaria de explorar um pouco mais estes primeiros anos como. Vampiro.

    Treinamento e estudo

    Por alguns anos meu próprio mestre me indicou o que eu deveria fazer, como deveria agir nas situações mais simples, como a arte de imitar humanos, a lábia para se esquivar de situações adversas, até o aprendizado (constante) dos poderes do sangue. Cujo, alguns levam como foco principal em suas rotinas.

    O problema é o aprendizado que ocorre em função de fatores externos como política e relacionamento interpessoal. Você pode ser bom no que faz, mas de que adianta ser foda se isso não pode ser utilizado para o benefício comum de um grupo?

    Isso que me fez tomar as primeiras porradas!

    Sangue novo (Noob)

    Passados os primeiros meses e anos, você aprende a controlar a sede ou fome, pega uma ou outra manhã nos poderes e sabe como se manter humano, apensar das presas, da pele mais fina e esbranquiçada, olheiras e unhas mais grossas. Na boa? Isso você tira de letra sem qualquer curso de atuação e é instintivo para sua sobrevivência.

    Os problemas surgem em função do bullying ou puro preconceito pelos mais velhos. Nessas horas não há nenhum tipo de preparo, manual ou ensinamento a ser dado, apenas o famoso “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Sendo a paciência ou bom senso, pontos que precisam ser praticados.

    Sangue puro x ralo

    Aí entra um divisor de águas. Tendo em vista, a reprodução acelerada nos últimos séculos pelos humanos, percebe-se que alguns genes estão sumindo, enfraquecendo ou sofrendo mutações.

    Veja você que até 1700 havia algo em torno de 150 milhões de humanos na terra, entre 1800 e 1900 isso subiu para 500 milhões a atualmente temos algo em torno de 4,5 bilhões. Com essa quantidade de gente é inevitável que hajam cruzamentos entre os genes.

    O gene Wairwullf ou o gene dos magistas são os mais prejudicados e cada vez menos tem se visto estes sobrenaturais nascidos. Mesmo entre os Wampir, isso é problemático, pois um humano que possui genes sobrenaturais e é transformado consegue ativar os poderes do sangue com imensa facilidade, se comparados aqueles que tem sangue ralo.

    Minha ascensão

    Vocês vão ler isso com detalhes no Ilha da magia, mas de forma resumida eu precisei provar o meu valor. Tive de aprender tudo muito rápido, me aperfeiçoei noite a noite com estudos, treinamento e usei como pude o sangue puro e nome do meu mestre.

    Dei sorte? Talvez em alguns pontos, mas certamente o Franz, apesar de seu berço de ouro levou mais tempo. Eleonor também, ainda mais por ser mulher em meio a sociedade machista e enraizada no patriarcado daqueles anos.

  • Um sangue diferente

    Um sangue diferente

    Fomos embora da Ordem, tão logo fomos liberados e os novos acordos foram renovados. Mesmo tendo um clã pequeno, se comparado com o da Lili, é importante termos aliados de sangue, ainda mais nesse mundo da atualidade, onde a política tem sido cada vez mais um diferencial que contribui para a sobrevivência.

    Estava dirigindo o carro alugado, quando recapitulei alguns pontos com Julian:

    – Ainda não acredito que depois de tantos anos aquele puto se demonstrou tão sacana. Já dividi sangue com aquele filho da puta, te falei né?

    – (pensativo) Fuck, tô preocupado com o desdobrar das ações dos Regrados. O tal ali não parecia ser um dos chefes que bolou todo aquele lance na África. No clã deles, ok, mas tem outros maiores por trás do que vimos. Tenho certeza!

    – Bom, o que pediram foi entregue, meu amigo. Nem o meu pessoal nem o teu, tem condições de pescar peixes maiores agora, relaxa ai…

    – Aye!

    Seguimos viagem por mais algumas horas. O som do carro ia do bom e clássico rock inglês ao pop contemporâneo. Obviamente, quando tocava essas mais moderninhas Julian, reclamava. Algo no qual me acostumei depois de um tempo, a ponto de rir da revolta dele.

    No esconderijo

    Enfim chegamos e fomos recepcionados pela Megs, outra que está sempre empolgada. Sobretudo, no que diz respeito a falar sobre o que tinha rolado na missão. Então, quando resolvemos a entrega do carro e as malas foram desfeitas nos quartos ela nos chamou.

    – Achei que ia dar merda isso ai que vocês fizeram, sei que os Regrados são contatos importantes, mas chamaram vocês para algo totalmente suicida.

    – Fuck yeah Megs, ficou com saudade e medo de me perder então?

    – Ahh bloody hell, claro de quem mais eu iria pegar no pé, precisaria dividir muitos pescoços pra confiar em alguém de novo.

    Percebendo a merda que a gente tinha feito eu comentei:

    – Desculpa Megs, eu devo ter empolgado o Julian nessa missão.

    Fazendo cara séria ela me respondeu:

    – Pois não desculpo mesmo, seu sacana!

    Em seguida ela deu uma risada e continuou:

    – Ahh seus filhos da puta, se não sou eu pra incentivar algum juízo em vocês… Dois moleques metidos a macho alfa…

    – Relaxa mana, agora é relaxar com a grana que a gente levou nessa…

    Complementei Julian:

    – E os contatinhos…

    – Ahh claro, só se for pra ti… Tirando a vampirona lá que você deu uns beijinhos as outras tudo com cara de bruxa velha. (risos)

    Uma breve cerimonia

    Julian e Megs, são vampiros extremamente antenados em tudo o que pode gerar benefícios a nossa existência. Inclui-se nisso rituais, itens mágicos, relíquias e afins. Comento isso, porque após nosso papo Julian me chamou para uma sala. Algo cerca de quatro ou cinco andares nos subsolo. Onde havia um armário com quatro portas pequenas, algumas cadeiras, uma mesa e um grande barril de madeira e metal. Cuja história do que era aquilo, ele me contou em seguida:

    – Eu te falei que esse lugar aqui é bastante antigo e com o passar dos anos o protegemos e o mantivemos como refugio. Acontece que esse espaço pertenceu a alguns membros mais antigos que o meu mestre, provavelmente o mestre dos mestres. E ele era um grande influente da nossa cultura. Talvez fosse líder da cidade ou da região, fato é que recebia muitos presentes como esse. Diz a lenda passada pelo meu mestre que o barril armazena qualquer coisa, quase que para sempre em seu interior. Claro que isso é muito benéfico, especialmente para se armazenar sangue.

    – Vindo de você eu espero mais alguma coisa além do sangue, estou certo?

    – Aye! Aqui eu faço alguns experimentos e dessa última vez eu consegui o sangue de um ancião, me custou os olhos da cara, mas valeu a pena. Já era pra eu ter te trazido aqui para experimentar isso, mas você agora só fica lá no Brasil e sabe como é…

    Fiquei pensativo por um instante, até que ele continuou:

    – Quer experimentar? Acho que deve ter pouco menos de um litro ainda.

    Aquele sangue

    Relutei por alguns instantes novamente, enquanto ele servia duas taças. Porém o sangue ativou minhas narinas, senti algo magicamente adocicado, com notas florais. Quase como um perfume sobrenatural que me hipnotizou de imediato.

    – Pela tua concentração, já percebeu que isso aqui é diferente, né?

    – Olha se não fosse você me oferecendo isso… cara, certamente eu negaria. Mas me conta mais…

    – Claro, experimenta um gole. Ah e bebe devagar.

    Bebi e aquilo desceu de uma forma diferente. Parecia leve e pouco espesso, diferente de qualquer outro sangue que já havia bebido, mesmo o de meu mestre. Julian continuou

    – Percebeu como ele é leve e diferente? Vamos, continua bebendo…

    Apenas acenei com a cabeça e em questão de menos de um segundo tudo ficou escuro, eu apenas ouvia a voz de Julian e uma sensação de paz tomava conta do meu corpo. Todas as dores dos ossos calcificados fora do lugar sumiram, todos os meus músculos, veias… Parecia que eu podia sentir até meu cabelo ficando mais harmonioso.

    Instantes mais tarde a luz da pequena lâmpada incandescente do teto voltou a ficar visível e o aparente transe havia passado. Julian ainda estava no transe sentado numa das cadeiras e ali percebi que meu corpo havia sido completamente restaurado.

    – Fuck yeahh baby! Curtiu meu amigo?

    – Pena que acabou….

    – Pelo preço certo posso conseguir mais, sõ me falar pra quando!?

    – Seu puto, agora sei de onde vem parte da tua grana (risos)

    Algumas horas mais tarde eu fui dormir. Na noite seguinte acordei bem disposto, arrumei minhas coisas, me despedi e voltei para o Brasil. Ao longo do caminho alguns ossos e músculos voltaram a doer. Apesar disso, eu estava feliz por ter sobrevivido e renovado algumas alianças…

  • O retorno – final

    O retorno – final

    Após a prisão dos vampiros sombrosos…

    A pesada porta de metal, o corredor gelado e mórbido que levava até onde Jonathan estava preso, me parecia uma cena de filme e eu me encontrava dentro dela. Conforme eu vou ficando mais velha na imortalidade eu aprendo que um dos bens mais valiosos é a honestidade e o ato de confiar em alguém… Estas pequenas palavras carregam consigo um significado enorme e que é pouco valorizado.  

    Cada passo que eu dava até o local, ao longe consiga ouvir o tintilar de uma gota cair no chão, chovia lá fora e fazia uma tempestade dentro de mim. Por estes dias me vi angustiada, querendo uma simples explicação, do porquê e para que o Jonathan, que tinha tudo o que qualquer vampiro poderia querer, tomou uma decisão tão baixa e tão rala mesmo com toda sua sabedoria, apesar de sua arrogância.  

    Os olhares que Trevor e Salazar me deram quando pedi para falar com o vampiro traidor, eram impagáveis, porém logo ele seria levado por forças maiores e talvez eu nunca mais o visse para obter a resposta. Salazar enfatizou que, apesar de fraco agora, Jonathan ainda era capaz de muita coisa, por isso ele ficaria próximo o suficiente para ajudar e Trevor junto, claro. 

    Ao passar por aquelas portas que aguentariam até o fim do mundo, em um espaço escuro com uma pequena luz ao centro e um vampiro acorrentado pelos pés e pelas mãos, pude ver o que realmente acontecia com nossa espécie após tal golpe… Os longos e platinados cabelos, os olhos que brilhavam, o sorriso e o olhar de superioridade de um grande vampiro já não estavam mais ali. O que se sentava naquele local era a sombra do que já se foi.  

    Jonathan levantou sua cabeça em minha direção, ele não parecia surpreso ao me ver, no fundo ele sabia que eu viria. Ainda com a marca da estaca cicatrizando no peito o vampiro me observava pegar um pequeno banco e me sentar alguns metros dele. Seu olhar era de arrependimento. 

    – O que veio fazer aqui Lilian? Zombar da minha ignorância? – Fraco e derrotado, ele continuava sentado no chão sujo e insalubre daquele lugar. Suas forças finalmente haviam se esvaído. 

    – Você jamais foi ignorante… Arrogante sim, mas ignorante nunca. Sempre soube o que estava fazendo.  

    Eu sentia que ali eu conversava com um fantasma de um vampiro e não mais o vampiro em si. 

    – Não Lili, não. Em tantos séculos finalmente a ignorância me alcançou e me vi perdido entre duas realidades. 

    Ele agora olhava diretamente nos meus olhos, o pálido azul do que sobrava em seu olhar, me encarando com remorso. 

    – Jonathan você tinha tudo, o que te fez convencer a entrar em uma missão tão tola e cruel com tua própria espécie? Foi por amor? Poder? Divertimento? 

    Minhas perguntas pareciam cortar o mais profundo do vampiro pois sua feição parecia de pura derrota. 

    – Sim foi por amor, por poder e pôr o que você quiser intitular… Iludido como nunca fui e desolado como eu nunca fiquei. Mas sentindo que pertencia há algum lugar, que era amado de certa forma e que tinha algum tipo de liberdade como não sentia há tempos. 

    – Mas ela estava com você. Vocês tinham um relacionamento… Iludido como? Não tens o que ter se iludido! 

    – Mais uma vez está errada ao presumir tantas coisas minha cara. Ela me prometeu que se eu aceitasse a nova supremacia, conseguiria tudo que eu quisesse. Bastava aceitar. 

    – Não te entendo, vocês estavam juntos para tramar tudo e depois comemorar sozinhos? 

    – Sim, afinal ela era atraente e queria me agradar, porém eu não a amava Lilian, tinha uma feição por ela, mas não era amor. Fiquei triste por sua morte, afinal ela foi sincera desde o começo e me fez sentir o que eu nunca senti na imortalidade… Pertencer…  

    Senti que algo muito maior iria me atropelar de sentimentos quando ele terminasse de me contar tudo e sinceramente hoje eu vejo que eu não estava nada preparada.  

    Agora ajeitando-se ainda sentado no chão e acorrentado, de uma forma que eu conseguia vê-lo, o vampiro contou de uma só vez as verdadeiras motivações dele. 

    – Você foi embora… Machucada e derrotada, em nenhum momento eu tive a chance de te falar o que eu sentia e aquilo foi me corroendo por dentro, mas deixei passar porque no fundo eu sempre soube, era nítido pra mim, porém não para você, ainda não estava. Após os anos do seu sumiço eu resolvi seguir em frente e a Flora apareceu na minha vida, trouxe propostas indecentes que eu no começo recusei, mas com o tempo ela me cativou e eu sinceramente estava cansado da Ordem e de tudo que a envolvia.  

    – Jonathan… Não venha me culpar pelos teus erros. 

    – Eu nunca te culparia, afinal você nunca me iludiu, apenas me conquistou sem esforço nenhum e sem o teu retorno eu descobri que as amarras com nosso clã não eram tão poderosas mais. Se você podia mudar, porque eu não?  

    – Você não mudou Jonathan! Você continuou aqui, matando dos seus! 

    – Eles já estavam mortos mesmo, que diferença faria? Ficariam séculos aqui, vivendo alegremente em comunidade? Me poupe minha querida vampira, mas não, eu te garanto que não.  

    – Apenas me diga logo o porquê dessa merda toda! 

    – Impaciente como sempre… Obviamente porque eu aqui não posso ter nada do que eu realmente quero! Grande comandante da Ordem? Tens visto alguma guerra? Tens participado das reuniões dos grandes líderes? Não! Você ficou longe, teve teu tempo Lilian e eu estou preso aqui por mais que eu tenha viajado o mundo várias e várias vezes, eu estou preso aqui! Esse lugar te aprisiona. 

    As palavras dele cortaram o mais profundo, pois o lugar que sempre o acolheu foi escolhido como o lugar de sua vingança cega e sem sentido.  

    – Porque não saiu da Ordem? Foste embora! 

    – Lilian acorde minha cara. Estes anos longe se recuperando e onde está neste exato momento? Sentada em um banquinho sujo, falando com um vampiro derrotado e de volta as grandes muralhas da Ordem. Vá embora soldada enquanto ainda te resta a sanidade mental que eu não tive quando a escuridão me tomou. 

    – Por todos estes anos, apesar do seu ego inflado, eu jamais achei que promessas vazias pudessem fazer a sua cabeça, teus ideais intactos. 

    – Não foram vazias, em retorno eu tive o que você e a Ordem não puderam me dar! O sentimento, a sensação de ser aceito, de ser necessitado e de ser amado!  

    – Eu nunca te iludi Jonathan. 

    – Sim, eu sei disso, mas também nunca correspondeu, assim como o seu adorado vampiro nunca irá te corresponder! Espero que aquele crápula pelo qual os teus olhos brilham tanto, reconheça o que você sente antes que você se olhe no espelho e ao invés do teu reflexo o meu apareça. 

    Se eu tivesse lutado por um dia inteiro não me sentiria tão indisposta como me senti naquele dia, na hora daquela fatídica conversa. Algumas verdades foram ditas e aquilo foi como um banho de água fria. Ao sair daquele lugar eu olhei uma última vez para Jonathan e o que eu senti não foi raiva, não foi revolta e sim pena, a mais pura pena de no fundo saber que um vampiro que tinha tanto, queria na verdade tão pouco.  

    Agora dirigindo meu carro e ouvindo uma música depressiva da Adele para entrar no clima, se eu pudesse ainda chorar eu choraria, porque no fundo eu sabia o que me faltava, porém será que essa falta seria preenchida?  

    Quem sabe deixo isso pra outro dia. 

    No fim, Salazar me falou o destino de Jonathan e eu ainda atordoada com a conversa apenas assenti com a cabeça e pensei que no fim das contas, não seria tão ruim assim para o atordoado vampiro. 

    – Lilian, o não você já tem, mas mesmo assim continue tentando. E antes que me esqueça, aqui sempre será sua casa. 

    Ele obviamente havia ouvido a conversa e no fim tudo que disse valeu mais que muita conversa esfarrapada por ai.