Autor: Jean Felski

  • Novos laços – pt6

    Novos laços – pt6

    Na 7ª noite como já era previsto e avisado por Franz, ele pegou suas coisas e estava para ir para cabana do mato. Lá ele praticamente se liberta de tudo, passa a maior parte do dia pelado em meio as árvores, morros, rios e cavernas da reserva. Um parque florestal que compramos décadas atrás e tem sido um grande playground para o marquês. Certa vez ele me contou que ali ele se permite ser ele mesmo, deixando de lado ambas as sociedades.

    Eu por outro lado, também estava com as coisas prontas, mas para antes do fim da noite pegar um helicóptero e ir para um dos grandes centros urbanos brasileiros. Enquanto isso havia preparado uma pequena caçada em meio as terras da fazenda e da reserva. Então juntei todos na sala e fiz uma última reuniãozinha.

    – Seguinte, obrigado pela presença de todos inclusive você Franz (risos). Eu sei que você precisa ir para o seu refúgio, mas achei que iria gostar de ouvir o que preparei. Foi difícil, mas consegui trazer um grupo de hienas e as soltei em meio ao parque. A minha proposta é que a gente em forma de lobo faça uma caçada, antes que elas consigam sair da área da reserva. Inclusive para facilitar proponho ir de helicóptero e saltar perto do local onde elas foram soltas hoje a tarde. O que me dizem?

    Pepe me olhou com olhos arregalados, H2 fez cara de que estava pronto, Sebastian iria comentar algo, quando Franz colocou uma mão em seu ombro e soltou:

    – São quantas?

    Respondi rapidamente:

    – 5.

    Ele se empolgou de imediato:

    – Vamos então, vens Audny?

    A vampira estava em seu momento contemplativo, mas balançou a cabeça numa breve confirmação. Diante disso apenas reforcei:

    – Vou acionar o piloto e em 10 minutos nos encontramos para o voo. Levem somente o necessário.

    Vesti apenas uma bermuda e camiseta, estava quente como sempre naquela região e prendi uma faca na perna direita. Algo que já fiz antes e permanecia na forma de lobo. Sem delongas nos reunimos e embarcamos. No meio do caminho perguntei para Audny:

    – Você possui o dom da metamorfose, certo?

    – Sim, sim em lobo, mas nos últimos anos estava estudando a famosa névoa, todavia nunca cheguei a conseguir.

    – Quem sabe e dou umas aulas quando quiser?

    – Seria oportuno sr. Ferdinand.

    – Não precisas utilizar a formalidade do senhor. Basta Ferdinand.

    O helicóptero desceu pouco acima de árvores médias e todos saltaram. Tão logo nos agrupamos eu olhei ao redor e mostrei as jaulas onde as hienas estavam e iniciei minha transformação. Despi-me. O maxilar começou a doer, os pelos surgiram por todos os cantos. Ossos e músculos se contorceram. A boca se projetou para frente, os membros encolheram e já de quaro no chão, minha transformação estava completa.

    Percebi que todos fizeram o mesmo à exceção de Audny que permanecia humana. Ela observou a transformação de cada um e ao final se despiu mais para um canto. Sua transformação levou um pouco mais de tempo, mas ao fim surgia ali uma linda loba de pelos marrons com dourado.

    Partimos em meio a mata, as vezes Franz liderava, as vezes eu… Em certos pontos até mesmo Pepe indicava um rastro ou outro. Tudo ia bem e realmente parecíamos integrados a forma lupina, ao ambiente e parecia um real engajamento de matilha. Mesmo Audny parecia renovada depois de tanto tempo hibernando.

    Tiros. Um, dois, três… perdi as contas depois das várias alvejadas que nos foram direcionadas.

  • Novos laços – pt5

    Novos laços – pt5

    A semana estava terminando, mas antes de acabar Audny aceitou fazer a cerimônia do laço com todos do clã e na 6ª noite de imersão com o clã nos reunimos novamente na cripta. Tal qual da outra vez, todos compartilharam um pouco do seu sangue no cálice e depois bebemos comigo por primeiro e seguimos a tradicional ordem dos mais velhos aos mais novos. Sabendo que Franz partiria para a cabana do mato, tão logo a próxima noite viesse, aproveitei para reforçar alguns pontos.

    – Meus queridos, o clã tem passado por mudanças ao longo desses últimos anos. Foram muitos os que entraram, se aproximaram, mas os que estão aqui são a base necessária para ele permaneça firme e agora ainda mais fortalecido com o retorno de Audny, que assumirá aos poucos a função de Franz como anciã.

    Quando comentei, sobre Franz percebi que ele desceu os ombros e isso lhe pareceu um alívio. Os demais permaneceram atentos as minhas palavras e continuei:

    – Em todo o mundo existem vampiros aliados e a proposta para esse ano é que ampliemos isso. Sinto que o período anárquico deve passar, tais quais projetos que se iniciam e precisam ser ajustados ao longo de seu desenvolvimento. Foi-se o tempo da fúria e conto vocês para que ao fim deste ano estejamos muito mais conectados a sociedade sobrenatural. Cá entre nós eles fazem ótimas festas, não é mesmo Franz?

    Sua expressão mudou para algo safado com sorrisinho de canto, mas ele preferiu ficar calado. Pepe, ao contrário, sentiu confiança e nos cativou com sua jovialidade:

    – Nós fizemos algumas festas, onde eu coloquei um som ano passado, foi superdivertido, devíamos continuar com isso mestre.

    – Claro, a festa do banho de sangue, lembras? Muitos me pedem quando vai rolar de novo. Sebastian, H2, Audny algum comentário? A ideia de amanhã é sair para se alimentar e todos serão liberados para voltar aos seus refúgios.

    – Sabes que pode contar comigo para tudo mestre. Ainda mais nesses propósitos políticos, aliás se me permite. Saudades do Joseph, seria o momento dele, mas assumirei o que vier com maestria. – Comentou Sebastian.

    – Lá vem você com isso de mestre, temos quase a mesma idade vampírica… (fiz uma pausa) Joseph iria brilhar, mas lembre-se de tudo o que ele nos ensinou e deixou alinhado sobre os sobrenaturais. Tome isso como um direcionador.

    – Posso? Se me permitem, eu sou um soldado de Deus e mais do que isso sinto que meu propósito é libertar esse plano de tudo aquilo que fuja da divindade. Vou me sentir um pouco deslocado nesse momento do clã…

    H2 foi interrompido por Franz:

    – Relaxa, o Ferdinand não consegue sossegar a bunda numa cadeira e ficar socializando. Logo ele arruma algo pra satisfazer o animal interior…

    – Não é bem assim Franz, mas é muito provável… – Comentei.

    (risos) Tão logo os ânimos se acalmaram Audny aproveitou para falar também.

    – Sabes, não façam caso disso, mas estive eu me adaptando com tudo de novo que veríeis nas últimas noites e dias. Ainda tenho a linguagem para explorar, nalgumas parafernálias, bugigangas e aparelhos para desprender atenção. Certa estou eu de que vós compreendeis de minhas capacidades. Anima-me os bons ares de hoje, contem comigo parças, é que assim que se profere?

    (risos) Aquele “parças” soou muito como um gringo falando e acabamos rindo, deixando ela um pouco envergonhada. Comentei:

    – Sim, sim, precisa dar uma adaptada no linguajar e achar um sotaque brasileiro que se adeque melhor ao teu estilo. Vamos subir povo?

  • Novos laços – pt4

    Novos laços – pt4

    Audny passou alguns dias em claro sentada no sofá da grande sala. Quando escurecia ela saia e as vezes ficava apenas na varanda observando o movimento dos empregados, dos animais, aviões ou qualquer outra coisa que se movimentasse. Comecei a achar que Franz tinha feito uma lobotomia com ela e decidi ir lhe perguntar com mais detalhes o que havia rolado.

    – E ai tá tranquilo? – Cheguei de boas…

    – Depende, se for pra encher o saco sobre a velha, vai dar merda!

    – Tá foda esse teu mau humor. Tais assim faz mais de mês, tem algo em que eu possa te ajudar? – Tentei ser compreensivo.

    – Só de não vir aqui falar comigo, já me ajudas!

    – Caralho Marquês, vai se fuder… só preciso saber o que tu fizeste com a velha, lobotomia?

    – Relaxa maninho, só mandei ela esquecer o Georg. Repensar sobre o que a motivava existir e que ela tinha tido uma segunda ou terceira oportunidade de se reinventar nesse século.

    – Porra, essa ideia saiu de ti mesmo? Fiquei impressionado, sério mesmo!

    – Vai se fuder, tu também e me deixa aqui no quarto… Aliás vou pra cabana do mato passar uns tempos lá. Se precisar de algo, não me procura.

    Segurei o riso, ele faz isso de tempos em tempos. Geralmente, quando começa a se apaixonar, mas estava tão chucro que evitei qualquer tipo de comentário e sai em silencio, apenas me abaixei e fiz uma reverência brincando com sua nobreza. Coisa de irmãos, só quem tem sabe como isso funciona rsss.

    Em seguida, aproveitei para falar com Pepe, que também estava em seu quarto. Ela jogava GTA em seu notebook. Blackout total e apenas a luz da tela e dos leds do fone gamer brilhavam por ali. Ao me ver, ela apenas virou o rosto rapidamente e comentou: “precisa de algo chefe?”. Percebi que estava bem, então fiz sinal de positivo com a mão e ela me respondeu com uma piscadinha de um olho só.

    Sebastian e H2 haviam saído e só me restava Audny na varanda. Resolvi interagir. Ela estava de pé encostada com os braços no guarda corpo da varanda e me aproximei até ficar uns palmos dela. Soltei:

    – O mundo mudou muito desde que você precisou hibernar?

    Ela virou o rosto rapidamente para mostrar que estava me ouvindo, mas segurou por alguns segundos a resposta.

    – Simm… Percebi eu, que vós possuís muitos itens feitos do tal plástico, é assim que nominaram? No meu tempo era madeira, metal… Já havia vidro, porém era muito caro. O que ainda estou tentando entender é como as velas se ligam sozinhas, é magia?

    – Já ouviste falar em energia elétrica?

    – Sim quando bebestes do meu sangue, eu também senti e vi coisas a teu respeito. Energia elétrica, o português que proferes, essas caixinhas que vocês mexem com as mãos… Estou assimilando tudo isto nas últimas noites e dias.

    – Entendo e obrigado por compartilhar comigo. Ouvimos algumas histórias a teu respeito, mas quando bebi teu sangue percebi o teu ponto de vista. Na era atual, você seria vista como uma mulher independente e que não aceita ordens de nenhum homem.

    – Por favor, conte-me mais Ferdinand, quinta cria de Georg.

    – Pra começo de conversa, esquece esse “quinta cria…

    O papo rolou por mais algum tempo. Tentei fazer um resumo dos comportamentos, modos e tudo o mais que temos na atualidade. Ela entendeu alguns, achou graça e até vergonha de outros, mas senti ali alguém que realmente estava aberta para o mundo.

    Confesso, que aquele pé atrás ainda persistiu naquela noite…

  • Novos laços – pt3

    Novos laços – pt3

    Abri os olhos e a minha frente estava Audny. Seus grandes olhos verdes me observavam com curiosidade. Tomei um susto! Me movimentei para trás…

    – Calma – Disse ela sorrindo, mas aquele sorriso simpático no qual os olhos fecham.

    Veio o sentimento de amor, misturado com ódio, medo e diversos outros sentimentos bons e ruins. Sendo a maioria bom, em função de eu ter bebido seu sangue. Enquanto absorvia tudo isso, procurei por Pepe, mas não vi nem senti sua presença.

    – Poderia eu falar com vossa mercê em português ou Sprechen Sie lieber Deutsch?

    – O teu alemão tá estranho e português anda bem arcaico, mas como estamos no Brasil, o português vai ser necessário… Onde está a minha cria?

    – Cria, mencionas tu, a neófito?

    – Sim isso a Penelope, mas chama ela que Pepe. Ela não gosta do nome completo…

    – Ela se pôs a correr, tão logo dei-lhe sangue humano. Um pouco daquele que havia em tais garrafas exóticas. – Apontou as térmicas, que estavam quebradas próximas ao caixão.

    – Percebo que ficou curiosa e quebrou as garrafas?

    Ela sorriu fechando os olhos novamente e me encantou sem precedentes. Filha da mãe…

    – Estava eu com o tédio e curiosidade aflorados.

    Comecei a me levantar, a cabeça estava pesada…foi quando diversas imagens, pensamentos e situações surgiram. Sentei-me novamente. Fechei os olhos e me via tomando uma surra de socos e chutes de Georg, depois ele me chamou de besta imunda e acorrentou minhas mãos no que parecia ser uma cela. As mãos eram femininas, então logo de cara percebi que eu estava vendo o passado de Audny.

    Diversos outros momentos surgiram, inclusive com Audny consumindo o sangue de crianças, em algumas situações apanhando novamente ou levando tiros no que parecia ser alguma guerra. O que me chocou mais foi a forca no qual ela estava presa, como se estivesse em algum julgamento. Senti a dor no pescoço e abri os olhos.

    H2 e Franz estavam segurando Audny. Ao mesmo tempo Franz olhava fixamente para os olhos dela. Ele estava usando seus poderes mentais. Sebastian me ajudou a levantar e Pepe surgiu por último com uma roupa trocada e ficou ao longe observando tudo. Depois de cair na real resolvi interromper o Franz:

    – Calma Franz, não é culpa dela, o Georg…

    – Cala boca, tô vendo aqui – Disse ele com seu jeito cavalo de sempre.

    Alguns instantes depois ele a soltou, pediu pra H2 fazer o mesmo. Percebendo que estava solta fisicamente e com seus pensamentos, ela se encostou na lápide ao seu lado. Colocou as mãos no rosto e pôs-se a chorar. As lágrimas de sangue lhe escorriam pe rosto, mãos e caíram nas roupas. Peguei uma das toalhas que estava mais limpa e me aproximei para oferecer apoio.

    Fui surpreendido por uma vampira linda de mais ou menos 1,70 procurando proteção em meu peito. Abracei-a e ela procurou conforto, senti seu corpo macio e a sensação de mármore havia ido embora. O que Franz teria feito em seus pensamentos?

  • Novos Laços – pt2

    Novos Laços – pt2

    Preparei o ritual, no qual tempos atrás já mencionei maiores detalhes aqui, mas não custa repetir. Separamos alguns galões de sangue bovino. Ele é o mais fácil de conseguir nessas redondezas. Além dele, conseguimos um doador de sangue humano, não vou entrar nos detalhes, mas era alguém que não fará falta neste plano. Com os principais preparos realizados, fomos os cinco para a cripta.

    Pepe levou algumas roupas numa bolsa de viagem, além de toalhas e alguns itens de higiene. Ela achou oportuno e digno, pensei o mesmo. No interior da cripta, iniciamos rapidamente o desmonte do mármore que protegia o caixão de Audny. Como falei anteriormente foi fácil, estava muito poroso e com nossa força foi quase como desmontar blocos de lego.

    Na sequência retiramos o caixão, este feito de uma liga de metais não corrosivo e o levamos para um espaço mais aberto. Removemos a tampa e como esperado, havia muita terra sobre o corpo da vampira. Retiramos pouco, algo em torno de um palmo e algumas de suas formas começaram a surgir.

    Iniciamos o processo despejando um pouco do nosso sangue e em seguida o sangue bovino e aos poucos o caixão foi preenchido até a borda. Nos restava esperar… Algumas bolhas aqui e ali nos davam a impressão de que o corpo da vampira o estava absorvendo. Enquanto aguardava ansioso, removi as tampas das garrafas térmicas com sangue humano.

    Bastaram alguns minutos e as bolhas aumentaram muito, a ponto de balançar o interior do caixão… Mais alguns instantes e emergia por ali, uma bela forma feminina, realmente era tudo que encantou Georg. Não só ele, todos ficamos ali boquiabertos. Até que Pepe percebeu e foi cobri-la com uma das toalhas.

    Ao mesmo tempo em que ela se ergueu, ela também se encolheu e tive a impressão de que ela estava com medo. Percebendo a tremedeira eu tentei me aproximar para lhe oferecer uma das garrafas de sangue humano. Mas ela se pôs para trás de Pepe, deixando claro ali um pouco dos seus poderes. Apesar disso, insisti em lhe oferecer o sangue e ela não deu bola. Apenas quando Pepe lhe ofereceu, ela aceitou.

    – Ah pronto, a babá já foi definida. Podemos voltar lá pra cima agora? – Soltou Franz sem o menor carisma.

    – Acho que vai ser o caso ate que ela se acostume. Podem ir eu vou ficar um tempo com a Pepe aqui, vai que a anciã da uma de doida com a minha cria.

    Eles subiram e eu fui pra um canto mais isolado até que Pepe ajudasse Audny a se vestir. Fiquei preocupado em deixar as duas mais longe. Mas comigo por perto, ela não queria se movimentar, cometi ali meu primeiro erro. Na primeira oportunidade a velha meteu as presas no pescoço de Pepe. Voltei correndo e usei toda força que possuo para separá-las.

    A sua força era surreal e era como se eu tentasse mover uma casa. Não movimentei um dedo de seus membros. Seu corpo é tão duro quanto pedra e então no desespero cometi meu segundo erro, a mordi também no pescoço.

    Pepe foi a primeira a cair, eu em seguida…

  • Novos laços – pt1

    Novos laços – pt1

    A primeira semana do ano foi banhada pela lua minguante e em muitas crenças ou religiões tal fase é relacionada ao desapego. Aquilo tudo que não queremos mais, deve ser deixado para trás nessa época: mental, material, espiritual. Para que na próxima fase a lua nova nos permita preencher os espaços vagos literalmente com novidade.

    Acredite ou não, no que eu falei até aqui. Fato é que Gaia ou o planeta tem seu próprio ciclo, que depende muito do coletivo. Por isso, diversos grupos, clãs ou matilhas se reúnem e se aproveitam desses momentos para reaver planos. Integrar novos membros ou simplesmente equalizar o que já estava sendo realizado.

    Conosco não foi diferente, tanto que organizei uma semana para ficarmos juntos lá pela fazenda. Todos foram: Franz, H2, Pepe, Sebastian e o cara que vos escreve. Na primeira noite, reativamos nossos laços e compartilhamos nosso sangue. Algo simples, onde cada um coloca um pouco de seu sangue num cálice e compartilhamos. Eu como líder em exercício bebo primeiro e em seguida a ordem é do mais antigo para o mais novo.

    Tal laço nos reaproxima, fortalece o comprometimento e de forma sobrenatural permite que cada um sinta o outro quando estiver próximo e tenhamos uma união que vai além das palavras, sempre pensado no bem dos enlaçados. É uma prática comum na maioria dos clãs organizados, mas também pode ser visto como um tipo de enlace obrigatório e combatido por muitos rebeldes.

    Nas noites seguintes, revisitamos os compromissos com os antigos que hibernam. Limpamos suas criptas, atualizamos os dispositivos de segurança. Reforçamos portas, paredes… as tumbas. Essas deram problema e é onde se inicia uma nova história por aqui.

    Mármores e granitos, se mantidos da melhor forma duram uma eternidade além de um vampiro, por exemplo. No entanto, aqueles que foram utilizados nas criptas dos “velhos”, desde sua construção no final do século XX, começaram a exibir uma porosidade maior do que o esperado. Não sou geólogo, mas acredito que água sanitária e tantos outros produtos que utilizamos ao longo das décadas. Junto ao fato de termos um controle de umidade apenas recente e tantos outros malcuidados, pode ter afetado a estrutura dos minerais.

    Situação que eu já monitorava a tempos, mas confesso que não dei a devida atenção…

    – Olha ali, isso vai desmoronar, eu acho. – Comentou Pepe com seus olhos ainda jovens.

    – Pqp, mano. Como não viu isso, ainda mais ali… deixa eu conferir – Comentou Franz de certa forma desesperado.

    Ele se pôs a observar cada centímetro da cripta, o que me deixou preocupado:

    – Franz, por que a preocupação maninha… Essa não é a…

    Ele me interrompeu de forma seca:

    – Sim é a Audny, lembra que falamos dela uns anos atrás?

    – Isso só pode ser obra do destino, meu irmão. Veja só a cripta dela está se desfazendo e o caixão vai junto… Chegou a pesquisar melhor sobre ela?

    – Não encontrei ninguém que esteja a mais de 500 anos acordado, essa merda!

    – Ta isso não vai cair agora, mas precisamos decidir e agora que estão todos aqui é um bom momento de democracia.

    Pepe se atreveu a comentar antes de H2 e Sebastian:

    – Eu iria curtir mais uma vampira por perto, vocês pareciam se dar tão bem com a Eleonor…

    – Cala boca menina… Interrompeu Franz se remoendo no passado.

    – Muita calma nessa hora Marquês! – Lembre Franz de seu antigo título.

    Sebastian aproveitou minha pausa e trouxe:

    – Façam o que achar melhor, mas não contem comigo pra ser babá de uma velha…

    H2 sentiu confiança e como era o último emendou Sebastian.

    – Mantenho-me neutro também senhores.

    – Sério que vocês vão deixar eu brigar com Franz por isso? – Comentei fazendo um gracejo, mas meio puto. – Continuei – Tá, vou me entender com o meu irmão e até o fim desta semana alinhamos algo.

    Na noite seguinte ao final de um ritual para exploração de nossa metamorfose animal, troquei uma ideia com Franz:

    – Seguinte, falamos da Audny em 2018 e desde então fiquei preocupado de não seguir o que o Georg havia pedido…

    – Sossega, ele não entende o mundo atual. Aquela vez que voltamos ele, tu lembras que ele preferiu hibernar novamente.

    – Mas será que ela não vai ter o mesmo entendimento?

    – Olha faça o que achar melhor, mas repito o que a tua cria te disse: não vou ser babá de velho.

    – Caralho, clã unido pra caralho Franz. Eu me responsabilizo por ela…

    – Tá sem problemas ne? Tu procuras isso, só isso que te digo!

  • Uma noite de verão

    Uma noite de verão

    Numa noite dessas eu havia deixado o meu local de descanso. Estava tudo bem, tirando o tempo, que oscilava entre nuvens carregadas e o vento quente de verão. A intensão do momento seria rever um contato importante. Bem na verdade era uma mulher que havia me interessado. Não apenas por seu jeitinho simpático e empoderada, mas também por ser representante de uma indústria que fornece metal para uma de minhas fábricas, ou seja, seria um encontro com vários interesses.

    Fui de carro, não era minha BM, mas um tal de BYD Seal elétrico. Carrinho divertido, mas não se compara ao v6 que tenho em “casa”… Cheguei no lounge, lugar simpático com tochas, gazebos de madeira e algo tipo umas camas ou como diziam os anfitriões “espreguiçadeiras”. Fato é que já havia gente por ali, alguns casais naquela pegação gostosa, outros apenas na intensão de tais atos ou para ouvir um som e se embriagar.

    – Oi, Ferdinand. Acertei teu nome? – Disse ela com um pé atrás.

    – Sim, senhorita acertou precisamente. Mas isso eu vou considerar um ato de sorte.

    – Ato de sorte, eu pesquisei bem antes de lhe convidar para cá!

    – Não esperava menos que isso de vocês, incluindo a bela dama para negociação. É o ajuste anual de preços ou algum percentual menor naquilo tudo que compramos de vocês? – Joguei um verde.

    – Um pouco disso tudo e mais…

    – Certo, você prefere um gazebo, uma mesa ou quer ficar de papo aqui na entrada…?

    – Calma moço, vamos ali. – Ela me apontou um canto que parecia um camarote, algo a princípio reservado e mais intimista.

    Papo vai e vem e eu percebi a chegada de algumas garotas, muitas delas bonitas, com marca de biquini ou com trajes muito pequenos. Acho que uma delas estava praticamente de lingerie, quando a vi junto ao segurança que liberou sua entrada. Achei aquilo tudo um tanto forçado, então resolvi puxar um novo papo focado com a representante.

    – Hoje é tipo o que, festa, negócio…?

    – Ah Fe relax, a empresa liberou uma verba, só queria ficar de boas, me permite?

    – Primeiro, que não temos intimidade pra você me chamar assim. Segundo que eu vim aqui pra um assunto importante. Terceiro…

    Quando eu iria falar a terceira cousa ela se aproximou, sentou-se na minha perna e fez carinho na minha orelha esquerda. Cara, ali é um ponto fraco, segurei sua mão de forma meio bruta e ao estilo predador me aproximei de seu pescoço. O aroma de frutado, talvez framboesa me despertou algumas lembranças. Beijei de leve sua pele quente e senti que meus lábios frios lhe proporcionaram um arrepio, que deixou sua pele branca e macia com os poros excitados.

    Mordisquei de leve aquele mesmo pescoço perfumado e até tive a intensão de me alimentar, mas me contive e me concentrei a ponto de apenas ficar ali. Tal qual os casais que mirei na entrada entre amassos e caricias.

    Confesso que a minha cabeça ainda está na Escócia, mas me ative ao momento. Em determinado ponto nosso camarote já estava cheio e eu era o único cara em meio aquele antro da perdição, estava me sentindo o próprio sultão em um harém. Situação que deixaria Franz com orgulho, se não fosse minha cabeça pouco focada em tal situação.

    Em algum ponto da madrugada as nuvens se juntaram e o céu literalmente caiu. Todos que estavam nas áreas externas se movimentaram para dentro e o local se tornou inóspito. Convidei a mulher para irmos ao meu hotel e depois de alguns minutos chegamos por lá. A banheira foi bem usada por ela e sozinha, enquanto eu colocava as redes sociais em dia…

    No fim, ela realmente queria se divertir e devo ter sido uma péssima companhia por não ter feito tudo o que ela queria. Sobre os negócios, enquanto ela já tomava um café, consegui manter o fornecimento com um pequeno reajuste já esperado contratualmente.

    Foi bom para se distrair em meio aos humanos e seus hormônios…

  • Passeio na livraria

    Passeio na livraria

    Em algum momento de outubro eu estava sem muito o que fazer e resolvi dar uma volta na livraria de um shopping. O excesso de luz me incomoda e provavelmente a maioria dos vampiros, sobretudo descobri que por lá foi inaugurada uma nova livraria. Local que pelas fotos me motivou a dar uma olhada no que tem sido publicado.

    Fui de moto, estacionei no último andar e para minha sorte ao longo do caminho as nuvens se espalharam. Ao remover o capacete senti o sereno das 21h e fui presenteado pela visão de uma lua cheia. Gosto de ficar por um tempo a observando sobre os prédios e isso parecia ser o sinal de que teria uma noite tranquila. Eu esperava.

    Desc por algumas escadas rolantes, àquela hora muitos já estavam indo embora e ao chegar na livraria me deparei com um lugar maior do que esperava. Entre as capas, sempe me impressiono pelas artes da Darkside, muitos livros de fotografia também me fizeram lembrar de locais e pessoas que me marcaram ao longo dos anos. Eu parecia criança com brinquedos novos e certamente meus olhos estavam brilhando.

    Não vi as horas passarem e me permiti ficar pela livraria até que fosse convidado a se retirar. E foi o que aconteceu, com jeitinho meio acanhada uma garota de uns 20 e poucos veio ao meu encontro:

    – Senhor, a loja vai fechar. Encontrou tudo o que precisa? Quer uma ajudinha?

    – Oi senhorita, sim. Obrigado pela ajuda, vou levar esses aqui dessa pilha.

    Ela olhou aqueles mais de 15 volumes e ficou impressionada.

    – Nossa, eu te ajudo a levar.

    – Imagina…

    Peguei a pilha e de imediato ela ficou impressionada com a minha força, mesmo assim não ofereceu mais ajuda e fomos até o caixa. Indiquei ela para que recebesse o percentual do vendedor, o que a deixou muito feliz. Faz-me bem ver essas pequenas alegrias nos outros, confesso.

    Voltei com meia dúzia de sacolas para o estacionamento e deu trabalho colocar tudo nas bolsas laterais. Inclusive estava cogitando chamar um taxi, quando percebi um casal brigando num dos carros. Algo até comum se não fosse o fato dele estar forçando que ela fizesse sexo com ele ali mesmo. Ela já estava chorando e o cara insistia… Tive de fazer algo.

    Liguei a moto, e parei em frente ao carro. Virei a perna por cima do banco e fiquei ali de braços cruzados esperando que alguém fizesse algo. O cara ficou bravo, livou o carro e deu umas aceleradas. Permaneci imóvel. Então ele desligou, desceu e veio me xingar cara a cara. Em determinado ponto ele levantou a mão e juro que eu só queria dar um susto no valentão.

    Segurei o braço dele e soltei um soco no estômago. Ele sentiu e caiu de joelhos entre mim e o carro. Levantei-me e fui falar com a mocinha.

    – Você viu que eu estava só parado aqui… Vai desce e chama um Uber, tem pra onde ir?

    Ela ainda chorava, mas percebi que consentiu o que eu disse e deu uma pequena corrida até os elevadores. Percebi que já havia gente olhando, então voltei pra moto. O cara tentava se levantar e não resisti, dei-lhe uma rasteira enquanto arrancava com a moto.

    Fui embora antes que desse merda com os seguranças. No caminho arranquei a placa, não seria bacana dar de cara com alguma blitz ou ser perseguido pela polícia. Cheguei ao refúgio daquela cidade. Tomei um banho e o primeiro livro que comecei a folear foi “O colecionador” do John Fowles.

  • Uma amiga e um cabaret

    Uma amiga e um cabaret

    Eis que a noite me brindou mais uma vez com frio e uma garoa. Estava um tanto quanto inibido por fazer qualquer coisa, mas o bom de ter muitos amigos é que um sempre aparece…

    – Tá meio pra baixo heimm loirão?

    – Quem é viva…

    – Mortinha a tempos baby, quer sair?

    – Assim sem nem dar um oi direito?

    – Vais ficar de doce agora? Isso é novo pra mim… ainda mais vindo de ti.

    – Pow Julie, cavala como sempre, mas ok o que me propõe?

    Alguns minutos depois no whatsapp:

    – Tem esse lugar novo, quer ir comigo, acho que o espetáculo vai te animar.

    – Quem te falou que tô desanimado?

    – Tu mesmo loirão, quem te conhece a tanto tempo e lê teu site, sabe que tá na merda.

    – Depois desse soco na cara, só posso aceitar. Umas 22h?

    – Chega as 21h30 pra pegar lugar na frente!

    E assim começava mais uma noite. Levei uns minutos para me arrumar depois de um banho quente. Passei o perfume que ela já conhecia, uma calça capri bege e uma camisa mais solta tipo vintage off-white, nos pés um mocassim caqui e confortável. Antes que perguntem a Pepe tem me ajudado com umas ideias de look que saiam do roqueiro sujo. Diz ela que isso é coisa de tiozão do pave e ainda tenho oportunidades que precisam ser exploradas.

    Enfim, fui de carro também para não sujar a roupa clara na garoa e na estrada. Lá chegando o manobrista pegou o carro. Fiquei por um tempo fumando meia dúzia de Djarum black mentolado e isso não é propaganda. Pontualmente, 9h29 surgia ela, a bela morena de vestidinho curto, azul e colado. O salto 15 a deixou com algo perto de 1,75 e isso por si só já mexeu comigo, pois ela também estava diferente do padrão.

    Veio de início uma troca de olhares, aquele lance meio animal que temos… ela me cheirou, depois beijou de leve o meu pescoço com seus lábios carnudos e segurou minha mão dizendo:

    – Sabia que hoje seria diferente, vamos entrar loirão?

    Uma hostess nos recebeu e nos levou até a mesa que a vampira havia reservado em frente ao palco. Lugar amistoso. Os leds coloridos e o ambiente industrial se complementavam. Ficamos ali lembrando momentos divertidos e aquilo me trazia lembranças de um tempo que eu havia esquecido.

    Eis que o show começou com uma drag cantando lindamente. Além da voz e do canto afinados ela nos surpreendeu com uma performance estilo pomba gira e uma letra que na verdade me soou como um grito de liberdade diante a sociedade tradicional. Ela criou o clima perfeito para os demais shows que veríamos. Muitos striptease, pole dance e inclusive um bondage ao estilo Kinbaku japonês que me surpreendeu.

    A cada espetáculo ela ficava mais perto de mim. Por vezes senti ela agarrando meu braço ou minha perna. Ela estava diferente e excitada. Não falamos muito, mas ao fim do espetáculo ela insistiu para que eu fosse ao seu hotel e por lá ela me surpreendeu com uma lingerie minimalista, na mesma cor de seu vestido, com detalhes em renda e linha preta. Seu corpo estava perfeito como sempre, a exceção de uma ou outra cicatriz nova, o que a meu ver apenas a deixava ainda mais encantadora.

  • Highlands – parte 3

    Highlands – parte 3

    Antes mesmo que eu continuasse a reclamação do tempo que levei para chegar nas terras dos lobisomens ruivos. Ela se aproximou ao ouvir minha voz, usou as rapidez para encaixar-se no meu peito e se fosse um pouco mais lta certamente estaria próxima do meu pescoço. Cheirando e se enroscando tal qual uma gata.

    A abracei firme, para matar a saudade e devagarinho espacei as pernas e afundei os pés na areia para ficar boca a boca com ela. Seu batom MAC com o inconfundível vermelho, aumentava ainda mais os seus lábios carnudos, que encaixam perfeitamente nos meus. Ficamos ali por algum tempo, até que uma fria brisa balançou seus cabelos pretos sedosos e os jogou contra o meu rosto. Rimos carinhosamente.

    Eu tentei dar um passo para trás, mas sou um pouco estabanado na areia e caímos. Ela caiu sobre mim em seguida os beijos continuaram e ali fizemos amor. Sim amor, nada selvagem comparado as outras vezes, mas sim algo carinhoso e intenso. Como eu estava com saudades dos seus suspiros e gemidos…

    Passamos um tempo ali, até que a nevoa e a brisa se intensificaram. Sem contar a areia que já estava grudada em tudo. Um forte Déjà vu me acometeu e lembrei da praia de Naufragados, local que me ficou marcado, pois foi onde fui transformado e onde aprendi a dar os primeiros passos como um ser da noite.

    – Acho que vou tomar um banho – Comentei.

    – Sério?

    – É sei lá, lembrei do tempo que eu cruzava ondas no mar frio da minha cidade natal.

    – Beleza, tô tranquila aqui… amor…

    – Amor?

    – Ah para, eu digo isso pra todo mundo!

    – Sei… ta vou ali dar um mergulho e já volto

    Insisti naquela incursão pelo mar do norte e senti muito frio, sério… o frio do norte é muito maior que o do sul. Tanto que bastaram dois mergulhos para eu voltar correndo para a areia.

    – Já?

    – Ahh, era só pra tirar a areia e matar a saudades do mar. – Meu orgulho precisava ser mantido…

    Ela apenas deu um sorrisinho sem mostrar os caninos. Dei umas batidas nas roupas e como era confortável sentir algo cobrindo meu corpo novamente. Em seguida fomos para a fazena da tal Lorna. Ainda na praia eu lembro que brincamos como dois adolescentes de jogar areia um no outro (dou risada ao lembrar daquilo, acho que ela me deixa meio bobo)

    Lá chegando, eu fui sentido a presença dos peludos. Se fosse em outras épocas eu estaria muito atazanada com tal contato, mas é bom como o tempo passa e alguns conceitos mudam. Lugar simpático e que lembrou uma fase mais rústica da fazenda do meu clã no Brasil. Repleta de livros antigos, móveis feitos talvez por eles mesmo e muita poeira. Cara, alguém que fizesse uma faxina ali, levaria uma boa semana pra deixar tudo habitável aos costumes brasileiros.

    – Olha só quem chegou. Esse é o vampirão Lili?

    As duas se olharam e Lilian ficou nitidamente com vergonha da situação. Fingi que não tinha percebido e apenas cumprimentei a todos:

    – Boa noite, é um prazer ser convidado para sua companhia e para o local de vosso refúgio.

    – Nossa o vampirão é chique (Ela disse isso num sotaque meio inglês, meio escocês que demorei para entender)

    Lilian, já estava acostumada e me cutucou dizendo:

    – Amor, pra quem fala alemão, você se acostuma, mas ela disse que teu jeito de falar é chic.

    De novo ela insistiu no “amor” e isso parecia diferente do jeito que ela sempre me tratou. Será que era a mesma Lili? O que havia mudado nos últimos tempos? Tratei aquilo como uma mudança de padrão. Agradeci e no resto da noite nos acomodamos. O quarto onde a vampira estava hospedada possuía uma cama de casal e não tive escolha se não ficar ali junto dela.

  • Trabalho para o vampiro: Dríade

    Trabalho para o vampiro: Dríade

    Quando comecei a investigar esse caso, não fazia ideia que iriamos topar em algum momento com qualquer Dríade. Atualmente eles são raros, muito mais que qualquer vampiro ou lobisomem. No entanto, após uma breve pesquisa no Google e surgiram as primeiras menções a esse tipo de sobrenatural. Seres mitológicos que vem desde as culturas Greco-romanas e já estiveram presentes em contos, relatos, histórias e odisseias ao longo dos milênios.

    Mas o que elas faziam aqui no interior do Brasil? A História clássica diz que as dríades nascem junto de uma árvore e são exaladas delas. Vivendo próximos ou na própria árvore e sua vida é relacionada a mesma, ou seja, se uma morrer, ambas morrem. Foi aí que decidimos ir direto a árvore em que fui surpreendido pelo sobrenatural anteriormente. Lá iniciamos um breve fogaréu ao seu redor. Situação que oportunamente atraiu o ser e por consequência as suas criações.

    Nunca achei que fosse enfrentar um(a) Dríade

    Oportunamente, iniciei minha transformação bestial, para que desta vez a briga fosse diferente. Pepe se armou e foi atrás de H2. Fiquei posicionado de tal forma que pudesse surpreender aquele Dríade e tão logo ele veio ao encontro de sua árvore eu o ataquei. Nos embrenhamos pelo chão e minha estratégia foi arrancar seus pedaços com mordidas. Foi feio, apanhei muito principalmente quando ele conseguiu fazer crescer seus galhos. Logo de início ele tentou quebrar meus ossos como se fosse uma jiboia, depois usou as guampas para perfurar minha carne.

    Os demais vieram amparar o seu criador, mas Pepe e H2 surgiram e ali a briga foi mais feia, inclusive a influencer se mostrou muito feroz à medida que tentava ajudar seu amante sobrenatural. A certo ponto o fogo havia mudado de cor para um verde sinistro e tomou boa parte da árvore, seus galhos e folhas. Era nítido que o Dríade havia ficado mais fraco, então os humanos começaram a perder sua condição e voltar a forma humana. Uns inclusive saíram correndo para a sede do sítio.

    Por fim os galhos da figura sobrenatural se desfizeram e seu lado humano, se é que existia, ficou mais aparente. A influencer, permaneceu ao seu lado, até que por fim a figura inteira se dissolvesse como terra, espalhando-se pelo chão. Ela caiu de joelhos e se pôs a chorar… Em seguida o casal que a acompanhava desde a chegada, não tiveram dó e também saíram em disparada para a sede.

    Um fim?

    Em seguida ao enfrentamento dos celebrantes vieram os seguranças. Estes estavam armados e a briga foi diferente, eles conseguiram avançar com suas escopetas encurralando Pepe e H2 em direção a casa. Eu ainda em forma bestial fui por outro lado e surpreendi dois dos quatro. Arranquei o braço de um e a cabeça de outro. Depois levei dois tiros, que acertaram em sequência meu ombro esquerdo e parte da cabeça.

    Fiquei tonto e perdi a direção, mas foi tempo para H2 reagir e pular num deles. Ele foi certeiro no pescoço daquele que havia atirado em mim. Pepe ainda estava na troca de tiros com o outro, mas tudo mudou quando ele precisou recarregar. Ela se aproveitou da situação, pulou no infeliz depois o estripou com suas garras vampirescas.

    Depois de acuado e surrados nos recompomos. Voltei a forma humana, peguei algumas roupas que Pepe havia guardado na bolsa e vasculhamos o local. Todos haviam fugido nos mesmos carros em que chegaram à exceção da influencer. Esta ainda estava aterrorizada, catatônica e deitada sobre os vestígios do que antes era o seu amante Dríade. Peguei-a no colo e levei até um sofá na sede. Pepe a cobriu e por alguns instantes divagamos sobre o que faríamos.

    No fim, chamar a polícia foi a opção mais sensata…

    Antes de partir voltei ao local onde o Dríade havia sumido e peguei um pedaço de sua árvore que havia resistido ao fogo. Certamente, Carlos, meu irmão lobisomem, vai saber o que fazer. Quem sabe não foi ali o extermínio do último Dríade brasileiro.

  • Trabalho para o vampiro: influencer

    Trabalho para o vampiro: influencer

    Minutos mais tarde a cerimônia começou e os convidados chegaram, incluindo a influencer. Diz o H2 que ela não chegou sozinha e veio junto do que parecia ser um segurança armado e um casal. Todos se dirigiram para onde fica a sede do lugar e ali se encontraram com os convidados. Houve um momento em que H2 e outros três novos foram apresentados e todos ficaram frente a frente com a influencer.

    Quem dia diria que uma garota que até pouco tempo atrás era uma desconhecida e que viralizou depois de meia dúzia de dancinhas no TikTok, nos traria tantos problemas. A influencer fez dinheiro muito rápido e arrumou patrocinadores influentes, como o casal. De acordo com H2 eles se apresentaram como sendo os líderes do grupo e a influencer seria apenas uma convidada famosa para fazer propaganda. Apesar disso, ela também participaria da cerimônia e beberia o famoso chá de Santo Daime.

    Situação que mudou quando, após os atos iniciais e muitas conversas, eles finalmente foram para a área externa. Local onde seria realizada a cerimônia. A chuva deu uma trégua e caia leve, como uma brisa molhada. Se não fosse pela situação o lugar era bonito e muito bem cuidado, certamente uma ótima opção para férias. Eis que em determinado momento o ser sobrenatural surgiu junto das pessoas.

    Uma influencer em transe

    Ele parecia usar uma roupa levemente diferente daquela que deram aos demais. Bem na verdade eu não percebi inicialmente, mas a roupa daquele sobrenatural era igual ao casal e a outras duas pessoas que administravam o cerimonial.

    Ainda naquele clima Londrino, todos se juntaram no que parecia ser um palco ao ar livre. Nas laterais árvores centenárias ajudavam a nos camuflar e podemos observar de camarote o que viria a acontecer. No meio do palco havia uma grande mesa natural, ali provavelmente existiu algum dia uma árvore que foi serrada e tirando esse detalhe, também havia um fogareiro a gás com dois panelões em cima.

    O cheiro forte de cipó e das folhas que ferviam indistintamente, se misturava com os cânticos puxados em sua maioria pelo ser sobrenatural. Aquilo inicialmente me lembrou os rituais que fiz junto de Carlos e sua matilhas, mas aos poucos percebi a diferença. Era na verdade uma grande hipnose no qual Pepe quase caiu a distância e h2 embarcou sem pestanejar.

    Inclusive a influencer que parecia se deixar levar e acompanhava tudo na mesma forma que os demais. Alguns minutos depois o ser sobrenatural se aproximou dos panelões e se aproveitando dos cânticos e da falta iluminação para pegar algo dentro de suas roupas. Ao que parecia ele pegou algumas folhas e as jogou dentro da mistura.

    A revelação

    Instantes depois o ser sobrenatural começou a chamar um a um. Eles se aproximavam, num andar ritmado e a medida que chegavam perto dele recebiam um copo com a mistura. Nesse ponto os cânticos continuavam num ritmo mais lento e após 20 minutos começaram os efeitos da bebida.

    Alguns dos presentes se sentavam ou se deitavam pelo chão, inclusive o casal e a influencer. H2 em determinado ponto também se deitou e ficou por um tempo de barriga para cima cantando a canção. Apesar disso, o que parecia ser um ritual tradicional, mudou de figura quando a primeira pessoa começou a sentir os efeitos. Era uma mulher pequena, com pouco mais de 1,50 de altura. Ela parecia estar tendo algum tipo de possessão e se revirava pelo chão.

    Depois dela, vários outros iniciaram aquela performance nefasta. Até que algo surpreendente iniciou por aquela mesma mulher. Pequenos galhos começaram a brotar de seu corpo. Também folhas e depois de um tempo ela ainda mantinha sua forma mas a pele verde e algumas protuberâncias indicavam talvez o surgimento de uma Dríade.

    Com vários outros, incluindo a influencer, aconteceu a mesma coisa e se transformaram. Em algum momento o cântico terminou e apenas h2 e mais dois homens não se transformaram, mas eles permaneciam deitados. Foi ai que o sobrenatural aproveitou e partiu para cima de um deles. Já em sua forma Dríade ele proferiu vários golpes no corpo do primeiro homem. Este obviamente foi a óbito rapidamente. Mas ali não seria apenas um homicídio, ele iniciou um jantar, onde devorou até os ossos do infeliz.