“A Catarina/Kate é um deles, mas acho que não tá sozinha”
Aquelas palavras ecoavam na minha mente como um disco arranhado. Kate apesar de ser uma das “antigas”, porém, pela óbvia falta de controle emocional, a vampira não possuía um cargo alto na Ordem e esse detalhe por si só deveria ligar todos meus sinais de alerta.
Enquanto lia a mensagem do Ferdinand, ainda na sala elegante de Salazar, que agora se servia de uma taça de sangue enquanto sentava-se em sua pomposa cadeira ao me observar. Eu tentei ligar os pontos, de quem seriam os possíveis colegas dessa loucura coletiva que estavam à procura de uma supremacia antiquada, junto com a Kate.
Alguns nomes óbvios vieram a mente, mas alí observando o antigo vampiro tomar os goles de sangue com os olhos compenetrados em mim, tive que parar os pensamentos sobre este caso. Segui até a mesa ficando em pé na frente de Salazar, que escondia um sorriso malicioso por detrás dos longos cabelos negros.
-Sinceramente, minha cara. Achas que um vampiro antigo e sábio, tentaria reerguer uma supremacia falida? – os dedos ágeis do vampiro faziam uma sincronia de leves batidas na grandiosa mesa de carvalho. Ao fixar os meus olhos nos dele, senti que o próprio, estava dois passos à frente de todos nós, nesses casos absurdos de assassinatos dentro das muralhas da Ordem.
-Acredito que tais atitudes como estas poderiam apenas vir de egocêntricos vampiros com sede de poder… Jovens e ignorantes, se me permite a colocação.
Senti meu corpo atento a todos movimentos do vampiro, que num instante estava sentado e noutro com uma agilidade fora do normal, estava de pé ao meu lado e falou baixinho no meu ouvido, como se fosse soltar a mais indecente proposta.
-Sei de quem desconfia, não vá diretamente até um pequeno pedaço de uma grande armação. Pense Lilian, pense… Afinal, quando aprovei você para liderança, esperava que usasse mais a cabeça do que a espada… Nem tudo se vence na força, os grandes líderes ganharam grandes batalhas com estratégias, muitas vezes, sentados em seus cavalos sem mover um braço de luta.
Uma estratégia
O toque suave dos longos dedos do vampiro na minha testa, foi como um sinal do que eu deveria fazer. Eu sai do escritório de Salazar e caminhei por entre os corredores da Ordem, observei cada canto de treino, administrativo, pátio com os grupinhos formados batendo papo e foi quando me virei para a saída dos locais no qual treinávamos tiro, dei de cara com ninguém mais, ninguém menos do que Kate e Amelia. Ambas me olhavam com receio, mas nenhuma tinha a essência do assassino.
Fiz um sinal para que parassem de andar e fui até elas, caminhando com as mãos para trás e analisando o que tinha a minha frente. Dei o sorriso mais amigável e gentil que pude ao cumprimentar as vampiras, que agora pareciam mais relaxadas e eu mais astuta.
-Kate, vejo que se acalmou depois do teu estopim…
Olhos negros foram e voltaram da vampira e bingo, uma foi achada, mas ainda sabia se conter.
-Lilian, mais uma vez peço desculpas por meu comportamento inadequado.
Ela estava esperta e eu observava Amelia ainda calada, mas me observando ao seu lado.
-Deixei passar, afinal não é nada agradável perder alguém que amamos.
Ambas me olhavam com ar de dúvida e suspeita, eu apenas assenti e fui embora até a sala de armas, fingindo da melhor maneira que eu não desconfiava de nada. Porém, o que me chamou a maior atenção foram os ruídos vindos de uma das salas de armamento. Fui me aproximando sorrateiramente, quando o aroma de amadeirado e citrino entrou por minhas narinas. Cada vez mais peto da fonte e lá estava um casal fazendo um bom e refrescante sexo.
O aroma do assassino e outro aroma se juntaram e quando percebi eu reconhecia o outro aroma, masculino e com toda certeza sangue. No fundo sempre achei que Jonathan pendia para o lado obscuro da força, mas, não ao ponto de matar da própria espécie.
Pensei um milhão de vezes em invadir o lugar e render a amante assassina de Jonathan só que algo me impediu quando ouvi meu nome saindo dos lábios do vampiro em um estupor de orgasmo e a então amante dele entrar em uma crise existencial.
-Lilian? Você está aqui comigo e aquela vampira que te vem à cabeça?
Sim a voz era definitivamente a dela, da ruiva que vi com Jonathan logo que eu voltei para a Ordem. Apesar de “cansada” estava com o aroma e Jonathan no meio do fogo cruzado? Ele estava ou não ajudando nos assassinatos?
Meus aliados
Mandei mensagem para Ferdinand que prontamente me respondeu. Contei tudo que estava ouvindo para ele, mas fui interrompida por passos nervosos vindo em direção a saída e meu ato mais rápido foi correr dali, trombando novamente com Salazar que, assim como eu, havia ouvido tudo. A ruiva vinha a passos largos seguida de Jonathan. Eu agora estava envolvida pela longa capa negra de Salazar, ambos entrelaçados como um casal em uma pilastra escura, sendo totalmente ignorados pelos pombinhos.
Quando percebemos que os dois estavam a uma boa distância de nos ouvir, Salazar pediu que chamasse Ferdinand, Julian e Trevor para o seu escritório. Quando finalmente estávamos todos lá, contei com detalhes o que ouvi e o que senti, tirando algumas gargalhadas do polido vampiro Julian, um olhar de repreensão de Trevor e a cara de desaprovação de Ferdinand que balançava a cabeça em negação.
Julian em seu estupor de risadas achou que seria sábio dar uma de suas tiradas com “Então vamos descobri os mistérios por conta de uma briga de casal?”. Ao que tudo indica sim. Tentamos bolar um plano mas somente um plano era o certeiro e Ferdinand, mais que todos ali, descordava fortemente.
-Não, eu não concordo. Não precisamos usar a Lilian de isca! Podemos muito bem encurralar os dois e usar eles de isca para pegar todo resto dos filhos da puta!
Sinceramente, achei que ele iria aceitar de boas, mas com a postura ereta que inclusive parecia lhe deixar mais alto e os braços cruzados como sinal de negação. Ferdinand não aprovou de jeito nenhum a ideia em que eu deveria seduzir o Jonathan e armar uma cilada para a ruiva de nome Marie e sua gangue de retardados.
Salazar caminhou pela sala e ao fixar o olhar na janela parecia ponderar alguns pensamentos, quando finalmente botou todas as cartas na mesa.
-Caro Ferdinand, Jonathan é um dos vampiros mais antigos e preparados para combate dentro da Ordem. Acha mesmo que conseguira medir na força do braço com ele ou pega-lo de surpresa em uma hora desvantajosa?
Salazar tinha toda razão. Jonathan era um excelente espadachim e ainda arqueiro, poderia muito bem driblar muitos de nós, se estivesse realmente ao lado desses tarados pela supremacia falida. Olhei para Ferdinand que retribuiu um olhar de “Fica quieta”, porém não era apenas minha vida que estava em jogo e sim de vários outros de nós que não tinham culpa de absolutamente nada.
Olhei para os três vampiros e com um suspiro eu já havia decidido tudo em minha mente. Ferdinand parecia ler meus pensamentos pois foi logo vindo em minha direção, segurando gentilmente meus braços.
-Você não precisa fazer isso… Vamos dar um jeito.
-Fê, Salazar tem razão e não é como se eu fosse transar com o Jonathan e sim ser uma mera distração para ele e para a amante dele.
Derrotado o vampiro que eu tanto gosto tirou as mãos de mim e se sentou na cadeira ao lado e com a mão esquerda coçou a barba do queixo. Parecia ponderar tudo que poderia dar certo ou errado.
-Sim Salazar, Jonathan seria uma briga boa e que talvez eu não tenho a tempos… Que assim seja… mas vou fazer plantão por perto com o Julian! Na primeira merda arranco-lhe a cabeça…
Ao ouvir tais palavras, Julian apenas lambeu os lábios e fez uma cara de psicopata. Olhei para o Trevor que levantou as sobrancelhas e fez uma cara de “ok”.