Autor: Jean Felski

  • Trabalho para o vampiro: Desaparecidos

    Trabalho para o vampiro: Desaparecidos

    Certa noite eu estava de boas até que recebi um e-mail sobre desaparecidos, intitulado: “Mensagem para o vampiro”. Entre tantos que eu espero um dia poder responder, esse tinha um remetente conhecido. Aquele meu contatinho na polícia.

    “Hey vampiro, sabe aqueles encardidos que ninguém acha e fazem um monte de merda? Sim, aqueles que tu gostas! Da uma olhada na ficha anexo e me fala se te interessa o caso desses desaparecidos! No aguardo!”

    Dei uma boa olhada e pedi para Pepe dar aquela varrida on-line. Depois de um tempo tinha algumas dúvidas, mas era certo que ela tinha família, amigos, seguidores e certa influência on-line. Tudo bem se não fosse o fato de que 10 pessoas ao seu redor haviam desaparecido nos últimos 10 anos.

    Tínhamos ali possivelmente uma assassina em série para caçar. Mas por onde começar se não havia corpos ou provas de nada? Fizemos uma triagem nos desaparecidos e procuramos similaridades.

    Pepe chegou a criar um quadro numa parede, onde colamos de tudo um pouco. Entretanto, tirando a ligação comum ao possível assassino, o único fato similar entre os desaparecidos era a moradia na mesma cidade. Uma cidade média brasileira do interior.

    Nenhuma prova ou ligação entre as vítimas!

    Os desaparecidos me empolgaram, mais do que ficar assistindo CSI ou Bones. Eu cheguei a comentar com Pepe: o melhor dos vampiros não seria tão cuidadoso com suas vítimas. Seria um vampiro, aliás? Um lobisomem ou qualquer outra coisa? Chega a ser engraçado eu pesar esse tipo de coisa. Fato é que a gente tinha que se aprofundar mais.

    Influência política, simpática, corpo em forma e uma série de conteúdos relacionados ao veganismo ou a causa animal. Essa era nossa benfeitora. Ou malfeitora… Só por isso já havia uma série de problemas, dentre eles a nossa exposição. Como se envolver com esse tipo de gente exposta sem que algo espirre contra nós?

    Planejei uma estratégia junto de Pepe, consegui algumas credenciais policiais com meu contatinho e fomos para a região dos problemas. Por lá não havia vampiro algum como líder, tampouco outros sobrenaturais e isso é normal. Lugares menores não geram status, nem possuem movimentação necessária para que exista algo do tipo.

    Onde viviam os desaparecidos?

    Quem viaja pelo interior do Brasil sabe que as cidades de norte a sul, são meio parecidas. Claro que o sotaque e as tradições populares variam, mas de um modo geral são lugares que dependem de produção rural, turismo ou comércio. Em algumas há mais ou menos fábricas, que podem lapidar alguns comportamentos. Sobretudo, podemos mapear alguns perfis e seu modo de “viver”.

    Dentre eles, há sempre uma maioria que segue rotinas, há locais com maior circulação e sempre existe áreas isoladas onde alguns se escondem para praticar suas safadezas, sejam elas sexuais ou criminosas.

    Nos dividimos, Pepe foi para as áreas de alta densidade e eu para as de baixa. Inicialmente, fomos para os locais onde os desaparecidos foram vistos pela última vez.

  • Os contratempos para um vampiro da atualidade

    Os contratempos para um vampiro da atualidade

    Passado o tempo de estruturação dos meus projetos de vampiro no Brasil, tomei a liberdade necessária para reencontrar alguém que tenho muito apreço atualmente, a Lilian. Depois de algum tempo trocando mensagens, resolvi que seria muito oportuno dar uma saída. Sabe, o famoso renovar de ares.

    Para tal fim preparei a viagem com certa antecedência. Fiz os contatos necessários e deixei as coisas arrumadas em casa, para a felicidade da Pepe. Atualmente é bem ruim e estressante viajar internacionalmente sendo um vampiro. São muito protocolos e documentos. Na boa, da muita vontade de viajar num caixão de terra como antigamente.

    Oportunamente, deixei meu clã todo avisado, os prefeitos vampiros de onde eu passarei, bem como um ou outro aliado. Falo de todo o processo pois realmente vivemos uma época diferente. Câmeras, impressão digital, biometria facial… Está cada vez mais difícil circular globalmente. Sem contar os perrengues com polícia federal, alfandega, caçadores, mercenários…

    Por que um vampiro on-line?

    E por que você continua divulgando, tudo isso de vampiro e outros seres aqui Ferdinand? Cara, esse papo rende e toda semana inclusive renovamos as medidas de segurança daqui… Sabe, para manter o anonimato. Mas é muito do que já falei várias e várias vezes aqui. Sem falar que eu já vejo como uma grande utopia, mas alguém precisa persistir e incentivar os demais a pensar na união coletiva. No porquê disso tudo e em como seria a convivência aberta entre todos os seres da terra.

    Temos diversos ideais diferentes, mas o planeta é casa de todos. Sim, falo abertamente aqui dos ideais Wairwulf, muito disso tendo pra base as trocas que faço com eles e com meu irmão. Por isso talvez alguns me veem como anarquista entre os vampiros. Não nego essa rebeldia e acredito que ela seja necessária, principalmente diante todo o contexto de opressão e controle que falei anteriormente.

    “Ai lá vem o Ferdinand com os papos revolucionários!” Sim, o site aqui não serve para história bonitinhas de “sonhos com vampiros” ou “meu amor vampiro” ou diario de um vampiro… minha intenção é sempre banhar vocês com a realidade. Sendo ela propícia as histórias boas ou ruins.

    Nesse contexto, fui em direção as terras antigas, onde esperava encontrar aquela vampira encrenqueira que em diversos momentos tem roubado meus pensamentos. Nem preciso dizer que isso e que vai ser contado nas próximas semanas já aconteceu. Então não adianta ir atrás de mim nem dela pelos locais que mencionaremos.

  • Os Escolhidos, novos casos em breve

    Os Escolhidos, novos casos em breve

    Numa noite dessas peguei-me relendo Lestat, aquele famoso vampiro retratado no livro homônimo, escrito pela excêntrica Anne Rice. Lá o vampiro retrata logo de início as mudanças percebidas por ele entre os séculos XIX e XX. Senti-me representado em algumas delas, principalmente nos comportamentos sociais. Tal qual a liberdade de se vestir, se expressar e se relacionar, podendo inclusive namorar em público.

    Isso parece algo banal para quem nasceu no século XXI, e longe de mim querer bancar o Baby Boomer diante “os Enzos e Valentinas millenials“, mas sim o mundo na atualidade é mais permissivo para diversos temas. É livre afinal.

    Nesse contexto de liberdade eu volto a falar do Os Escolhidos aquele velho programa criado por mim, junto de Sebastian para aplicar a lei, a justiça e correção aqueles que ferem as liberdades dos demais.

    O conceito de liberdade é bem amplo e pelo lado filosófico seria algo como a “independência do ser humano, o poder de ter autonomia e espontaneidade”, ou de acordo com outras vertentes: “o direito de agir segundo o seu livre arbítrio, conforme a própria vontade, desde que não prejudique outra pessoa, é a sensação de estar livre e não depender de ninguém.”

    É nesse “…desde que não prejudique outra pessoa…”, que mora o perigo ou onde o Os escolhidos tem foco. Muitos não sabem separar sua liberdade do outro, não sabem viver nessa convenção social, não sabem onde termina sua liberdade e começa a do outro. Tais criaturas, avançam tanto nas liberdades alheias que a ferem, maltratam e no extremo a eliminam.

    Dizem que os vigilantes também ferem algumas liberdades, ninguém é perfeito, não é mesmo? Todavia, se o governo não consegue se organizar a sociedade reage de alguma forma. Sem falar dos sistemas corruptos onde alguém precisa por barreiras e ajudar aqueles que não podem se defender sozinhos. Nesse sentido, foram muitos os casos em que meus aliados e eu atuamos na busca de justiça. Independente do fogo ou sangue necessários para ela seja feita, o equilíbrio deve ser almejado.

    Sendo assim aguardem novos casos para breve: Os Escolhidos

  • Relatos de  um Lican

    Relatos de um Lican

    A lua já sorria no céu, como aquele gato doido do Alice in Wonderland, manja? Nem preciso dizer que isso me animou, apesar de que a lua não me afeta muito. Os velhos contam que alguns licans são afetados pela lua, porém no meu caso ela é apenas um brilho a mais no céu. Algo que ilumina minhas rondas de noite.

    Quando falo das rondas, essa é a minha função atual na matilha. Eu sou um membro novo e cara, isso é muito melhor do que limpar o chão ou os banheiros lá do nosso canto.

    Tem 52, desde a última vez que contei e com essa quantidade de licans, que sempre muda, a gente vai se virando. Me falaram que é como se fosse um moto clube. Tem um presidente (alfa), um vice, tesoureiro e pá. Mas nem todo mundo anda de moto, eu mesmo pego Uber pra tudo o que é lado.

    Além do tempo que eu tô no covil, também faço uns bicos como pintor, pedreiro, encanador… Se eu morasse nos Estados Unidos a minha vida seria o bicho. Tá ligado que lá os cara são chamados de empreiteiros e têm até programa de televisão. Mas sendo eu um nascido no Brasil, sou apenas mais um “pedreiro pé rapado”.

    O lance dos lobisomens aconteceu pra mim faz pouco tempo também. Coisa de uns 5 anos, eu acho. Tive umas noites mal dormidas, depois tive muita vontade de comer carne cru num churrasco e um dia tomando banho aconteceu minha primeira transformação. Ainda bem que eu estava sozinho numa obra, porque gritei, cara. Chorei feito uma menininha e até achei que ia morrer, tá ligado?

    É difícil descrever, tudo o que houve. É muito louco! Primeiro teu coração começa a bater muito forte e parece que tá rolando um ataque. Depois tem uma suadeira e doi tudo, sabe? É como se alguém tivesse te dando uma surra do caraio.

    Depois das dores, até os ossos doem, os músculos e quando você já tá no chão, querendo morrer, a transformação rola. Os pelos viram cabelos, as unhas crescem, a boca e o nariz ficam grandes e os músculos ganham força.

    É algo louco de explicar assim escrevendo. Mas o mundo precisa saber que rolam essas coisas por ai e quem sabe eu ajudo falando disso. Deve ter muita gente que passou por isso e perdeu família. É a parte chata disso. Ainda mais nos dias de hoje em que tem câmera pra tudo o que é lado e até os pelado tipo eu, tem celularzinho que grava tudo.

    Volta e meia eu fico rindo com os parsa, dos vídeos dos maluco que são pegos e aparecem no Tic Toc, sabe? É engraçado, mas ao mesmo tempo dá dó dos camarada. Sóquem passou por isso manja o que é ruim.

    Mas é isso, pra começar a falar de mim é isso, até uma próxima ai.

    Ah meu nome é Almir, caso alguém queira comentar algo. O Ferdinand disse que vai colocar isso no site dele, gente fina esse loco ai. Valeu.

  • Uma vampira peculiar 

    Uma vampira peculiar 

    Como vocês imaginam, um vampiro tem o privilégio de frequentar diversos ambientes… Tempos atrás falei aqui do caos e da imersão que fiz em um centro antigo e hoje falarei de Margot. Nome fictício de uma dama da sociedade vampírica, uma letrada no meio artístico contemporâneo e capaz de contar histórias como ninguém. 

    Nosso contato mais recente merece o relato, haja vista a boa companhia. O bom papo e tudo o mais que nos aproximou naquela noite fria e chuvosa de outono. 

    Estava eu envolto em meus afazeres administrativos, quando recebo a visita de um pardal. Ele bicou a janela por alguns instantes e quando se cansou ficou ali sentado me aguardando no peitoril. Ele possuía um bilhete amarrado em uma das patas e neste um número de celular. Era um papel simples, desses de impressora, que fora rasgado com pouca precisão. Porém, o número estava escrito com uma letra muito bonita, das que hoje em dia chamam de lettering.

    Obviamente minha curiosidade falou mais alto. Salvei o número no smartphone e logo de cara vi que era também um número de Whats, por onde mandei um áudio: 

    “Quem és tu e o que procuras?” 

    Falei em tom simpático, ansiando um retorno breve. Todavia, este demorou… Passadas algumas horas, onde inclusive já havia esquecido do contato, quando recebi a primeira notificação. Era Margot, naquele tom de mulher mais velha e que fumou muito: “Jovenzinho, que confortante ouvir a conjugação verbal perfeita. Terias tu, tempo para um encontro em meu ateliê? Estaremos em poucos, mas tua companhia sempre me revigora…” 

    Aquele convite mexeu comigo, tal qual sempre que falo com Margot e tratei de responder o mais breve possível. Fiquei inclusive ansioso para tal encontro. Haja vista que a vampira sempre aproxima figuras conhecidas em eventos pomposos. 

    Um convite especial merece um presente significativo 

    Na noite seguinte recebi o convite. Este sim era muito bem trabalhado, num papal ornamentado e possivelmente feito manualmente. O lettering harmônico era o mesmo da escrita do bilhete e para finalizar ele possuía um perfume singular. Algo que me lembrou madeira e algumas ervas muito conhecidas na sociedade vampiresca, aquelas mesmas que alguns que alguns clãs ofertam aos novos membros na transformação. 

    No tempo que antecedeu o evento eu pensei em algumas opções de presente para minha amiga. Viajei em algumas opções, mas um contato conseguiu o roteiro original de uma peça teatral conhecida. Aproveitei para fazer propaganda e embalei junto também um frasco do elixir que estamos produzindo em parceria com o Julian

    Na noite do evento, vesti-me de acordo com a ocasião e levei Pepe como companhia. Ela estava desconfortável com a roupa chique, mas muito bem arrumada e linda do jeito dela. Achei importante embarcá-la em tais momentos. O motorista nos pegou no horário marcado e e fomos levados a uma propriedade no centro antigo. O prédio na superfície era novo, mas o evento seria em algum dos subsolos. 

    Alguns seguranças protegiam a entrada, vampiros em sua maioria, mas confesso que também senti a presença lobisomem. Algo compreensível se analisarmos a grande quantidade de aliados que Margot possui. Ela me serve de modelo nesse quesito, inclusive. 

    Um lugar amplo, charmoso e aconchegante. 

    Logo na saída do elevador aquele mesmo perfume do convite nos indicou que haviam pensado em cada detalhe. Das mesas, aos candelabros e espaços separados por cortinas na forma de tenda. 

    Uma vampira pegou o presente e o guardou com muito esmero. Em seguida nos levou até uma das tendas onde Margot os aguardava. Ela foi muito querida desde aquele momento. 

    – Jovenzinho, senti sua presença desde o elevador. Venha e de um abraço gelado nesta velha. 

    Sabe aquele sentimento de encontrar uma tia? Margot parece-me como tal e Pepe sentiu a mesma coisa. 

    Saímos de lá com vontade de permanecer mais tempos junto dela e de todos os outros que apareceram para “dar um abraço”. Lembramos de momentos históricos, discutimos as sociedades humana e vampiresca e novos laços foram feitos. 

    Proveitosamente, os encontros promovidos pela vampira, são momentos em que me sinto a vontade e despreocupado. Nessas raras ocasiões podemos sair dos problemas, desfrutar de bons papos e ampliar a cultura. Pena que dure tão pouco tempo. 

    Um tempo depois ela me mandou o passarinho com outro bilhete: “Onde consigo mais desse maravilhoso elixir?” 

  • Vampiros pretos e asiáticos, temos sim!

    Vampiros pretos e asiáticos, temos sim!

    Depois de alguns anos alguns temas voltam à tona. Recentemente, temos visto no Brasil e alguns outros locais do mundo o racismo, preconceito e até mesmo violência contra pretos, asiático, índios ou mestiços aflorando de forma ridícula na sociedade humana.

    Sobretudo, isso não é novidade para alguém como eu que viu a abolição da escravatura e festejou tal movimento junto de amigos próximos. Tal mudança levou anos para surtir efeito. Foram muitos os que resistiram, restringindo acessos, boicotando e inferiorizando indivíduos. Tudo isso porque eles não possuíam a tal cara pálida, termo muito bem utilizados pelos indígenas norte-americanos.

    Quem lê o Wampir, sabe que incentivamos todos os tipos de cultura e sabe que nos alinhamos a todos tipos de criatura. Seja ela humana das mais variadas feições ou sobrenatural, independente da predominância do vampirismo, licantropia ou bruxaria.

    Então, por que falar desse tema aqui? Simples, não basta ser simpatizante, a sociedade humana precisa ser militantes. Precisamos falar do assunto e não fechar os olhos. É sim necessário acabar com essa babaquice criada por brancos idiotas. É de extra importância para o mundo que tais preconceitos, bullying e demais atitudes vexatórias sejam punidas.

    Ah mas e era só uma “brincadeirinha”. Macebo, cala boca! São as brincadeirinhas que fortalecem as coisas piores! Temos diversos casos que se iniciaram com bullying e terminaram desgraça. Chega!

    Voltando ao assunto dos vampiros pretos, temos vários… Meu querido e falecido Joseph foi um. São milhares os outros por ai e sinceramente espero que eles suguem muito o sangue podre dos racistas.

    Caso queira ler mais sobre as histórias do Joseph, recomendo esses posts aqui do site: Joseph e os vampiros negros e esse A morte do meu irmão Zé

  • Depois do lixo

    Depois do lixo

    Eis que o tempo no lixo havia passado e na noite seguinte eu procurei um local mais amistoso. Bairro misto com comércios e prédios residências, muitas pessoas circulando pelas ruas, até perto das 23h e o mais importante: limpo! Por vezes eu vi circulando alguns moradores de rua, mas ninguém que ficasse pela região mais de algumas horas.

    Que saudades de uma boa ducha a gás!

    A pressão d’água certamente limpou meus poros e os resquícios de quaisquer sujeiras que eu pudesse ter trazido comigo. Inclusive aproveitei o tempo para comprar algumas roupas novas, mas nada que saísse do habitual jeans e camiseta. Outro ponto. Alto daquela noite foi o corte de cabelo e barba.

    – Quem é vo… Ah desculpa senhor, pode entrar. – Comentou o porteiro do prédio, achando que eu era outro cara, após a “tosa”.

    Gosto de tempos em tempos de mudar um pouco as coisas. Porém, o povo mais humilde, que beira a marginalidade sempre me impulsiona criativamente. Os mais abastados estão sempre preocupados com suas rotinas, seus empregos fixos, família ou roda de conhecidos.

    Diferente dos “pé rapados” que não sabem onde vão cair mortos ou como vão ter grana pra comer ou pagar, na melhor das hipóteses, um aluguel. Essa classe precisa ser criativa todos os dias, seja para agir legalmente ou ilegalmente. Tanto nas vendas, como no trato com os outros.

    Inclusive, a estratégia de sobrevivência ao longo dos anos, depende muito disso. Pois ter contatos em ambas as classes favorece o relacionamento. Se relacione ou morra! Diria um conhecido meu. Algo que faz muito sentido quando a gente precisa se alimentar, conseguir algo diferente. Principalmente resolver problemas.

    Filosofia a parte, a mudança foi benéfica para minha organização mental. Trouxe novos ares e estes agora ajudam a revisar os materiais. Tenho levado a sério quem falou: “Escreva com vinho e revise com café” rss

  • Noites atrás

    Noites atrás

    Algumas noites se passaram desde o momento em que fiz uma imersão em minhas andanças passadas. Isso foi de extrema importância para que eu pudesse refletir e até mesmo concentrar-me para produzir alguns escritos. Foram noites desapegadas num quarto de hotel barato, salvo uma dessas, onde a condição vampiresca me obrigou a procurar sangue.

    Novidade nenhuma até então, mas por se tratar de um tempo que eu não publicava nada e rolaram uns lances diferentes, resolvi “aparecer” por aqui.

    Depois de mais de três meses morando no hotelzinho, eu já conhecia a região. Havia conseguido inclusive dois doadores amistosos. Uma cara que faz entregas de bike pela região e se mostrou afoito por experimentos genéticos clandestinos e uma puta. Eu deveria ser mais polido e chamá-la de garota de programa, meretriz ou qualquer outra coisa, mas é difícil descreve Fátima, uma velha guerreira noturna das ruas.

    Fato é que nenhum dos dois estava disponível naquela fatídica noite e precisei ir a caça. Numa pracinha eu vi um casal se pegando no escuro, mas havia muitas câmeras. Num beco tinha alguns craqueiros, porém fui desaconselhado, haja vista que muitos vizinhos tem filmado os pobre coitados para hypar videozinhos no Tic Toc. Ainda tinha uma terceira opção, que seria a velha tática de conquistar alguém e levar pra algum canto.

    Preguiça a parte, liguei para o prefeito vampiro da cidade, que me indicou um lugar especial, chamado Boca Louca.

    Chegando no estabelecimento procurei o gerente e me identifiquei. Ele me deu uma pulseirinha de cor fluorescente “de balada” para pôr no pulso e indicou uma porta. Tal porta dava num corredor apertado, onde um elevador fora escondido.

    Desci meia dúzia de andares e lá rolava um bar com mesas, poltronas acolchoadas e intimistas. Havia também um palco com pole dance, mas ao invés de ter alguém dançando, estavam lá um cara com violão e outro atrás de um macbook. Eles faziam um som diferente, que me lembrou muito os dark folk, no qual ouço costumeiramente quando vou para certos locais da Europa.

    Um lanche apropriado

    Sentei-me, fiquei ali degustando aquele som sujo, repleto de poesias baratas. Até que uma dama se aproximou e perguntou se eu queria algo. Entendi que sua função seria algo próximo de uma garçonete e lhe pedi o cardápio. Ela Só apontou um QR Code no porta guardanapo e ia se virando, quando segurei sua mão. Senti o calor de sua pele e ela obviamente sentiu o frio da minha.

    – Ah se tivesse falado que queria sangue bastava dizer (pausa) senhor! – Respondeu ela num tom pobre de emoções

    – Se tiver quente, seria do meu gosto – Apertei um pouco sua mão.

    Ela puxou e se soltou com desenvoltura. Deu-me as costas e foi para o balcão. Lá ela abriu uma geladeira, pegou uma bolsa de sangue e trouxe até minha mesa.

    – Servimos apenas gelado (pausa) senhor!

    – Certo, abra-me uma conta, por obséquio e traga-me uma taça, se não for pedir muito?!

    – Claro (pausa) senhor!

    Degustei cinco bolsas de tipos sanguíneos variados. Alguns indivíduos tentaram puxar assunto e um deles inclusive tentou me vender drogas, pessoas e objetos de procedência duvidosa. Guardei seu cartão e o endereço de seu portifólio na Deep Web para qualquer eventualidade.

    Sem que houvessem outros contatos e já alimentado sai do antro e voltei para o meu cafofo. Na rua, o cheiro de urina, lixo e vômito completavam o ambiente. Transitei entre os bêbados cansados e as putas que jaziam do labor soturno.

    Cansei-me.

    Já estava na hora de mudar os ares, apesar da variedade e diversidade dos meus vizinhos.

  • Me arrrependo…

    Me arrrependo…

    Dos abraços que não dei

    Do amor que perdi, 

    Dos erros que cometi, 

    Até de tudo o que sofri.

    Se tivesse sido diferente, 

    A dor inerente, não estaria aqui. 

    As lágrimas rolam, se copiam sem cessar. 

    Será que essa dor nunca vai passar ? 

    Será que tudo isso não vai acabar.

    Somente ficará o seu olhar,

    seu jeito de abraçar, não mais sentirei o teu tocar, os teus lábios a me beijar, sua risada a me alegrar.

    Me arrependi,  dos erros que cometi, por não ter dito, o que senti, tu me quisestes  de volta pra ti.

    Eu não dei ouvidos e apenas saí.

    E a dor incessante continua aqui.

    Pois sei que pra sempre eu te perdi.

    Não tive o tempo que queria para me despedir.

    Arrancaram você de mim, a luz dos seus olhos se apagaram, com violência, de mim te tiraram, seu sangue inocente para quê derramaram ? 

    Me arrependo, 

    Pois sempre te amei, 

    Com essa dor no meu peito eu morrerei ? 

    Um amor igual ao teu eu jamais sentirei. 

    Me arrependi. 

    E até hoje choro

    Choro de tristeza, choro de raiva, 

    Choro por amor, choro de dor.

    Meu grito em silêncio, foi só o que restou…

    Me arrependi, me arrependo…Pois sempre será o meu grande e eterno amor.

    By Bia. 

    Baseado numa história real.

  • Uma noite com os vampiros

    Uma noite com os vampiros

    Eis que meu amigo Julian veio me visitar na fazenda. Todos os preparos foram feitos conforme as regras de nossa sociedade vampírica e ele pode vir de seu refúgio sem quaisquer problemas no percurso. Chegou pensativo, mas no jeito dele:

    — Te falar que eu achei que eu iria me cagar todo viajando de avião novamente.

    — É o tipo de coisa que não podemos evitar, meu amigo. — Respondi.

    — Ah para de frescura, chega mais e leva tuas coisas lá naquele quarto, hoje a noite promete. — Falou Franz, sendo prático e já empurrando praticamente Julian para o seu cômodo.

    Ele arrumou seus pertences e passou um tempo no sofá mandando mensagens pelo smartphone. Em determinado ponto Pepe aproveitou pra “gastar” seu inglês e também trocou uma ideia com ele. Perto das 11h30 daquela noite saímos para um evento montado por Franz.

    Lugar simpático e com convidados selecionados. Obviamente, a presença feminina era maior, numa escala de 3×1 pela minha avaliação. Sobretudo, o que mais me chamou atenção do lugar, um clube que até onde eu tinha conhecimento estava abandonado, foi a decoração latina. Algo numa pegada meio caribenha, tropical.

    — E ai o que acharam do lugar? — Perguntou Franz empolgado.

    — Amazing, great… — Acho que Julian repetiu mais meia dúzia de adjetivos e estava vidrado numa negra com pouca roupa que nos recepcionou.

    — Incrível Franz. Olha o gringo ali, não sei se ele curtiu mais a garota ou o lugar (risos). Vem cá, isso aqui é novo ne?

    — Sim maninho, construíram nos últimos meses, tô pensando em montar um escritório lá nos fundos.

    — Hey, pera o lugar é teu? Veja só… achei que só tava por ai vagamundeando!

    — Caralho, que imagem a minha heim (risos). Bora lá que tá reservado pra gente

    Mezanino ou camarote?

    Em seguida, subimos para um mezanino, que era um canto mais reservado com mesas, cadeira puffs e uma parede com prateleiras repletas de bebidas. Então, a cada detalhe Franz nos falava de onde havia tirado ou de onde vinha a ideia…

    — Sabe aquele seriado Lucifer, a parede ali de bebidas foi inspirada naquela do apê dele. Essa mesa veio de um bar que eu visitei na Jamaica e os puffs eram de um Iate onde fiz uma festa anos passado em Mônaco. Cara aquela festa foi boa heim!

    — Sem palavras Franz, fazia anos que não te via tão empolgado com algo.

    Ele apenas consentiu com a cabeça e deu um sorrisinho.

    — Muito bom gosto Franz, inclusive aquela preta…

    — É a Rita, uma Ghoul minha, já adianto que ela tem sangue quente, meu amigo. Inclusive acho que ela se vira no inglês heimm!

    — Fuck yeah, baby! Mas antes toma aqui. O Ferdinand experimentou comigo outra noite e eu trouxe uma misturinha nova pra vocês.

    Julian abriu a mochila, dentro havia uma pistola, sua carteira, documentos e o squeeze de metal que ele nos entregou. Diferente da outra essa tinha um aroma forte de canela, no qual ele me instigou a decifrar, após eu gastar um pouco da minha energia ativando o olfato.

    A primeira noite seguiu desse jeito, com o Franz contando mais histórias do que pretendia fazer com seu clube, com Julian tentando algo com as funcionárias da casa e comigo curtindo aquela bela misturinha.

  • Highlands – parte 1

    Highlands – parte 1

    Introdução.

    Olá, queridos leitores, como estão?

    Eis que eu volto para contar mais uma parte da minha rotina imortal para vocês.

    Mas antes um recadinho: os nomes dos locais e dos integrantes dessa nova jornada minha, serão mudados por questões pessoais e por segurança. Tentarei descrever os locais que estive o mais próximo possível para que possam sentir-se ali, juntinho comigo, vivendo essa nova aventura.

    Com carinho, Lilian.

    —–

    Se você já tiver viajado de avião e balsa pela Europa, sabe que o voo não sai barato e provavelmente a sua mala vai demorar para aparecer no desembarque e a balsa sempre vai atrasar, não importa o horário, nunca vai conseguir chegar no horário exato, a maré sempre atrapalha. Mesmo que você se aventure durante as noites de viagem até o seu destino final.

    Como sempre e por precaução, eu fui a última a desembarcar, observando os turistas andando de um lado para o outro, enquanto caminhava pelo barracão de metal que as pessoas nesta pequena ilha nas Highlands, chamava de aeroporto.

    Sem minha moto ou meu carro, eu, uma vampira, teria que pegar um ônibus, sim isso mesmo que você leu, um ônibus, cheio de viajantes humanos, empolgados e alegres por não estar chovendo agora a noite, carregando seus bastões de caminhada e guias turísticos que tinham várias páginas falando sobre a pequena ilha.

    Enquanto o ônibus, que deveria ser mais velho do que Caim, balança por entre a pequena estrada, percebi que a névoa densa da noite parecia se dissipar, dando a impressão de que em meio a nuvem de fumaça a pequena cidade que seria meu lar por algumas semanas, aparecia logo a frente como um passe de mágica. As colinas escuras pela noite, desciam até as praias brancas, banhadas pela luz da lua. Longas praias que pareciam não ter fim.

    Ao descer do ônibus eu conseguia sentir a presença dela, uma antiga amiga que conheci nas minhas viagens ainda quando era uma jovem vampira. Lorna e sua aparência nada convencional para aquela pequena cidade tradicional.

    – Lilian King! – declarou ela, apontando para mim seu dedo indicador com um esmalte rosa neon. – Quem diria!

    – Olá, Lorna! Se não fosse pelas várias cores da sua roupa, talvez eu não te acharia. – cantarolei de modo automático ao ver que ela não havia mudado nada.

    Nesses últimos meses eu havia me sentado ao lado de grandes vampiros, resolvido assassinatos, me declarei para o vampiro da minha vida e ainda tive que ver um outro vampiro conhecido, ser preso por ter perdido o rumo da imortalidade. Acho que eu precisava mudar os ares e rever velhos amigos.

    – Então, você voltou hein…

    – Eu só vim para ficar algumas semanas Lô – Sabendo que a informação da minha chegada já havia passado para todos da família e clã de Lorna. – Não vou morar aqui.

    – Ah, isso é o que vamos ver! – Bufou a lobisomem mais diferente que todo clã de lobisomens já viu.

    Ual, realmente, este lugar não mudou quase nada com o passar das décadas. A fazenda da família de Lorna era a imagem imaculada de como seria um lar nas Highlands. Uma fazenda labiríntica, com seus corredores escuros, que levavam a pequenos cômodos e quartinhos aqui e acolá, bem próxima ao oceano, com uma pequena praia particular e ao longe, o que pareciam uivos de cachorros aos ouvidos humanos, para mim eram os uivos dos irmãos mais velhos de Lorna ao longe.

    A noite estava maravilhosamente agradável, os campos verdes-escuros, a praia branca banhada pela lua, o som e o cheiro do mar, traziam de volta lembranças boas de quando eu ainda estava explorando meu lado vampírico, enquanto me enturmava com uma família de lobisomens, todos amigos de Trevor.

    – Como estão as coisas na grande e antiga Ordem? Já perceberam que estamos no século 21 e que celulares existem? Salazar ainda usa aquela capa enorme por cima dos ternos sensuais dele? – Lô realmente não tinha e nunca teve filtro para falar o que bem vinha na cabeça. Uma vez, ela e seus peculiares irmãos visitaram a Ordem e digamos que para eles, seguir regras e vestir roupas convencionais, que não sejam camisas xadrez e calças jeans batidas do tempo, não era uma opção.

    – Senti o cheiro de vampiro ao longe! E vejam só, uma vampira tatuada sentada na nossa mesa de jantar! – Kolt, o irmão mais velho de Lorna, com sua presença nada discreta de quase dois metros de altura, a barba ruiva batendo no peito, os olhos verdes escuros e seus cabelos ruivos presos em um coque bagunçado, com o braço repleto de tatuagens, vinha para me dar um abraço de urso molhado.

    – Falou o cara que tem um braço tomado por tatuagens. – Por fim, atrás de Kolt, entrou pela porta Hamishy, também um ruivo alto e acredito que o mais forte dos três irmãos. Apesar de parecer um cara ameaçador, com sua feição fechada, barba que poderia ser trançada e os cabelos soltos brilhando o tom de vermelho do clã, ele era o mais amável de todos.

    – Pelos deuses! Essa é a Lilian? Achei que o Trevor havia te trancafiado em um sarcófago minha cara.

    Mais um abraço de urso molhado e eu estava oficialmente fedendo a lobisomens litorâneos…

    Como é bom estar de volta.

  • Vampiros de sangue ralo

    Vampiros de sangue ralo

    Entre 1852 e 1872 eu tive os meus primeiro 20 anos como vampiro, onde tive um aprendizado terrivelmente express sobre nossa sociedade. Boa parte desses anos eu retrato no livro Ilha da Magia que está no forno e deve ser lançado no primeiro semestre de 2023.

    Sobretudo, neste post eu queria lembrar um pouco daquela época e dos percalços que enfrentei. Onde percebi preconceitos por ser da América do Sul, por ser novo e por estar num lugar onde a maioria ao meu redor era mais velho ou de famílias tradicionais.

    Quando falo de famílias tradicionais eu falo do Franz, que pertence a família real prussiana e quando humano tinha o título de conde. Falo do Achaïkos, que é um dos Wampir mais antigos que conheço. Falo também de Lord Gualbert, um Wairwulff de extrema importância para a região. Sem falar de Georg, meu mestre, que proporcionou minha entrada neste mundo e tem bastante influência naquela região.

    Referências a parte e além da transformação, no qual eu abordei aqui, gostaria de explorar um pouco mais estes primeiros anos como. Vampiro.

    Treinamento e estudo

    Por alguns anos meu próprio mestre me indicou o que eu deveria fazer, como deveria agir nas situações mais simples, como a arte de imitar humanos, a lábia para se esquivar de situações adversas, até o aprendizado (constante) dos poderes do sangue. Cujo, alguns levam como foco principal em suas rotinas.

    O problema é o aprendizado que ocorre em função de fatores externos como política e relacionamento interpessoal. Você pode ser bom no que faz, mas de que adianta ser foda se isso não pode ser utilizado para o benefício comum de um grupo?

    Isso que me fez tomar as primeiras porradas!

    Sangue novo (Noob)

    Passados os primeiros meses e anos, você aprende a controlar a sede ou fome, pega uma ou outra manhã nos poderes e sabe como se manter humano, apensar das presas, da pele mais fina e esbranquiçada, olheiras e unhas mais grossas. Na boa? Isso você tira de letra sem qualquer curso de atuação e é instintivo para sua sobrevivência.

    Os problemas surgem em função do bullying ou puro preconceito pelos mais velhos. Nessas horas não há nenhum tipo de preparo, manual ou ensinamento a ser dado, apenas o famoso “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Sendo a paciência ou bom senso, pontos que precisam ser praticados.

    Sangue puro x ralo

    Aí entra um divisor de águas. Tendo em vista, a reprodução acelerada nos últimos séculos pelos humanos, percebe-se que alguns genes estão sumindo, enfraquecendo ou sofrendo mutações.

    Veja você que até 1700 havia algo em torno de 150 milhões de humanos na terra, entre 1800 e 1900 isso subiu para 500 milhões a atualmente temos algo em torno de 4,5 bilhões. Com essa quantidade de gente é inevitável que hajam cruzamentos entre os genes.

    O gene Wairwullf ou o gene dos magistas são os mais prejudicados e cada vez menos tem se visto estes sobrenaturais nascidos. Mesmo entre os Wampir, isso é problemático, pois um humano que possui genes sobrenaturais e é transformado consegue ativar os poderes do sangue com imensa facilidade, se comparados aqueles que tem sangue ralo.

    Minha ascensão

    Vocês vão ler isso com detalhes no Ilha da magia, mas de forma resumida eu precisei provar o meu valor. Tive de aprender tudo muito rápido, me aperfeiçoei noite a noite com estudos, treinamento e usei como pude o sangue puro e nome do meu mestre.

    Dei sorte? Talvez em alguns pontos, mas certamente o Franz, apesar de seu berço de ouro levou mais tempo. Eleonor também, ainda mais por ser mulher em meio a sociedade machista e enraizada no patriarcado daqueles anos.