Categoria: Histórias

Nesta seção você encontra historias, contos e relatos relacionados ao mundo real e sobrenatural. Verifique a indicação de faixa etária no início de cada texto.

  • Adoro ver o sangue de traficantes

    Adoro ver o sangue de traficantes

    Nestas últimas noites vivi momentos interessantes junto de minha amada Beth. Momentos em que por vezes desejei ser mortal para poder passar um dia inteiro a seu lado, aproveitando cada segundo a seu lado. Claro que não fico me torturando por causa deste mísero detalhe, todavia achei legal falar disto, pois ouvi comentários aqui pelo blog com dúvidas a respeito do que Beth estaria fazendo.

    Enfim, deixando o lado humano de lado, este post é para falar de uma história interessante que me ocorreu a umas quatro semanas atrás, onde ajudei meu cunhado na perseguição e posterior prisão de alguns traficantes de drogas.

    Esta história teve início em uma noite no qual a Beth ligou para seu irmão, para felicita-lo por seu aniversário. Minha audição aguçada que sempre está ativada, me fez ouvir “sem querer querendo” ele comentar que estava em um caso de tráfico. Situação que obviamente me chamou atenção e no momento em que lhe felicitei inevitavelmente acabei lhe fazendo falar um pouco mais do que podia. Apesar dele ainda estar bravo comigo por causa da última vez que nos vimos…

    Descobri que a ação promovida pelos colegas do meu cunhado se passaria em um hotel e lá fui eu tentar dar uma de policial para combater o tal 290 (crime de tráfico). Meu cunhado me conseguiu um uniforme, armas e eu resolvi utilizar um novo poder chamado Maskharah que o Zé estava me ensinando antes de sua morte. Com este poder é possível imitar a face de outras pessoas com todos os seus detalhes e formas, utilizando-se de um pouco de ilusionismo e atuação, claro.

    Lembro que o grupo se reuniu próximo das 20h e la estava eu se passando por um recruta da entorpecentes. O plano discutido era simples, dar flagrante, apreender todos os materiais ilegais e elementos envolvidos.

    Porém nem tudo é tão simples quanto se pensa e assim começava mais uma aventura em minha não-vida…

    1h – “Merda!!! De onde veio todo esse armamento?” Essa foi a última frase que ouvi do capitão antes dele ser baleado entre o pescoço e o colete e cair ao meu lado. Enquanto eu o puxava para o corredor senti de imediato que o grupo pensava em fugir, mas meu cunhado, que era o segundo no comando, tomou as rédeas da situação. Ele nos reagrupou então numa região segura no corredor daquele hotelzinho barato para reprogramar a ação.

    1h 10m – Chamamos reforços e o pessoal que estava do lado de fora lançou granadas de efeito moral e fumaça para dentro do apartamento. Não demorou muito para que eu ouvisse movimentação dentro do apartamento e ao avisar meu cunhado ele me chamou num canto e perguntou o que eu podia fazer. Até pensei em me transformar em algo ofensivo, mas não podia fazer aquilo em meio a tantos humanos. Na hora a melhor solução foi se esconder no andar de cima e virar névoa para invadir o apartamento na surdina.

    1h 17m – Combinei a ação e pouco tempo depois eu estava dentro do apartamento em forma de névoa, havia muita fumaça o que dificultou um pouco minha visão, todavia consegui ver os 5 elementos trancados em um dos quartos, programando suas próximas ações e recarregando suas potentes armas. Um deles inclusive possuía algumas granadas em uma cinturão. No quarto também haviam duas malas com cocaína e uma mochila com muito dinheiro, ou seja, tantos os vendedores como os compradores estavam ali.

    1h 25m – Meu cunhado estava tentando manter uma negociação com os elementos e por duas vezes ele falou em alto e bom tom “O prédio está cercado, se entreguem e vamos acabar logo com essa palhaçada!”. Porém os safados não se manifestavam e apenas um deles disse cochichou: “Cara só vou sair daqui morto”. Ao sentir tão demonstração de desapego diante de sua vida aparentemente inútil, meu lado sombrio começou a me instigar e meu demônio começava a implantar ideias em minha cabeça: “5, até que não é tão difícil”, “Cinco corações pulsando, lembra-se do gosto?”…

    Em momentos como esse é sempre difícil manter a concentração e mesmo com a vontade chicoteando minha mente eu consegui resistir bravamente por mais alguns minutos. Não demorou e minha audição aguçada me permitiu ouvir os dois grupos se manifestando para agir. A partir desse momento seriam poucos segundos para eu poder fazer qualquer coisa e acabei optando pelo belo e bom improviso.

    1h 34m – Já em forma humana usei minha velocidade para pegar algumas das granadas de fumaça que ainda expeliam o seu conteúdo, aproximei-me com a mesma rapidez do quarto onde eles estavam e as joguei dentro. Em segundos eles começaram a tossir e assustados saíram correndo do quarto.

    Puxei as pernas do primeiro e o arremessei contra as paredes do corredor em direção a sala. O segundo vinha logo atrás ficou assustado com o que presenciou e tentou atirar, mas não conseguiu pois fui mais rápido e lhe dei uma coronhada com minha pistola em seu pescoço. Logo atrás vinha o terceiro que me viu batendo no segundo e recuou. Encerrava ali minha sequencia pois levei dois tiros de escopeta que por sorte acertaram meu colete a prova de balas mas que me derrubaram direção a sala.

    Nesse instante vejo dois policiais invadindo a sala munidos de escudos e capacetes, logo atrás vinha meu cunhado que falou em claro e bom tom: “Rendam-se vocês não tem mais para onde ir”…”Joguem as armas e saiam com as mãos na cabeça”.

    1h 38m – Os três que restavam jogaram as armas no corredor e se renderam. Meu cunhado veio até mim me deu um capacete e sussurrou: “Tua máscara caiu”. Um pouco atordoado com o impacto do tiro eu me recompus e levantei. De imediato vejo o capitão se aproximar, sua ferida já estava protegida com uma gaze improvisada, mas mesmo estando fraco ele teve forças par ame dizer: “Aqui não existe lugar apara heroísmo garoto, pega tua sorte e volta pro colo da tua mãe, tu quase fudeu a operação”…

    3h 28m – Já em casa e no chuveiro revejo mentalmente meus passos. Nunca gostei muito do sistema policial e de toda aquela moralidade irrefutável. Será que eu realmente havia me precipitado? Bom, se fosse noutro lugar onde eu pudesse me transformar em minha forma de batalha seria o fim daqueles humanos…

    Fui dormir repensando minhas estratégias e em como as coisas mudaram hoje em dia. Concluí mais uma vez que minha intuição havia gerado mais problemas do que resultados positivos e com isso foi impossível não relacionar tudo aos 30 anos que perdi dormindo.

  • FanArt: Solidão

    FanArt: Solidão

    Este texto foi enviado pelo Victor Salvatore e se chama: “Solidão”.
    Abaixo uma música do System of a Down que eu achei que combina perfeitamente com o texto…

    A noite Vem Saio Para Caçar Sozinho Sem Ninguém
    A Me Esperar Em Casa, Ando Sobre A Luz Da Lua
    Que Me Chama.

    Vejo Uma Floresta Sombria Ando Nela Com O Frio Da Morte
    Ao Meu Lado, Não Sei Para onde Ir Não Sei Onde Devo Ficar
    Na Verdade Não Sei Onde É o Meu Lugar Nem Sei Se Tenho
    Lugar Nesse Mundo Mais Não Posso Perde Meu Animo

    Sou Um Lobo Guerreiro Sei Que Em Algum Lugar Tem Alguém
    Que Precisa Da Minha Ajuda, Sentado Espero A Morte Vim Silenciosa
    E Lenta Mais não Tenho Medo Dela.
    Mais Sei Que A Vida Deve Ter Alguma Coisa Boa Guardada Para Mim
    Mais Fico Sozinho Aqui A Esperar Enquanto ela não chega.

  • Truque de mágica

    Truque de mágica

    Certa vez, ainda nos primeiros anos na faculdade em Paris, Evelyn estava tentando chamar a atenção de um rapaz. Ela não tinha a menor intenção de casar-se com ele, apenas queria se divertir um pouco.
    Ele também estudava na Sorbonne, fazia qualquer coisa bem diferente de História da Arte e eles apenas se cruzavam nos corredores.
    Às vezes Evelyn o via no café que frequantava nos arredores da faculdade. Sentou-se algumas delas em seu campo de visão, chegou até a distraidamente esbarrar em seu braço, mas nada.
    O rapaz simplesmente parecia ser imune aos pequenos truques dela.
    Os meses passaram e a única coisa que ela conseguiu foi tornar-se conhecida através de amigos em comum.
    Começou quando um dia ela abordou o rapaz e um amigo, fez uma pergunta qualquer sobre um movimento do diretório estudantil. Enquanto falava, Evelyn olhava ambos e não mostrava interesse. A resposta veio do amigo, que prontamente se pôs um passo a frente e explicou onde e quando ocorreria a manifestação. Ela não estava interessada de maneira alguma em participar, mas como era um assunto que tocava todos da universidade, qualquer aluno de qualquer curso poderia ter mais informações. Ela não queria cometer uma gafe e perguntar sobre arte à alunos de administração, como já tinha visto o tal rapaz saindo da sala do diretório estudantil, tinha certeza que ele não estranharia a pergunta.
    Evelyn estava certa, ele fazia sim parte do diretório, mas não era um membro atuante, o amigo por outro lado era o vice-presidente. Assim ela conseguira a atenção do cara errado.
    Quando já estava agradecendo e despedindo-se meio frustrada, mas sem deixar transparecer, a sorte lhe deu um sorriso. Ane, uma de suas colegas de aula aproximou-se e abraçou os rapazes, adivilhe só, eles eram vizinhos. Bingo!
    A colega até que era um tanto agradavél, bem menos fútil que as outras.
    Os quatro sairam algumas vezes para um café, outras apenas Evelyn, Ane e o amigo. Ela conseguira, estava no círculo dele, mas não podia dar mais nenhum passo. Se ele a quisesse, o próximo movimento deveria ser dele.
    Mais uma vez o tempo passou e nada.
    Um dia devaniando em seu pequeno apartamento no centro de Paris, Evelyn lembrou-se de uma conversa que ouvira em suas andanças pelo mundo da magia. Um truque simples para conseguir a atenção de um rapaz.
    O feitiço era fácil, não havia palavra secreta ou qualquer abracadabra.
    Em uma folha de papel Evelyn escreveu dos dois lados, preenchendo todas as linhas com o nome completo do rapaz, enquanto se concentrava na imagem dele. Depois ela pegou uma bacia de ferro e queimou o papael enquanto se imaginava carinhosamente abraçada ao rapaz. Assim quando tudo era apenas cinzas, ela foi até o terraço e pedindo aos poderes do ar que lhe atendesse soprou o conteúdo da bacia no vento.
    Passaram-se duas semanas e Evelyn não viu ou ouviu falar do rapaz. Ela ainda saia para um café com os vizinhos dele, mas ninguém comentava nada.
    Depois de algum tempo Evelyn relaxou, achou que talvez ainda não tivesse poderes suficientes para uma simpatia simples e continuou tocando a vida normalmente.
    Até que um dia sentada no café de costume, ouviu alguém lhe dizer “oi”. Ela se assustou, pois estava concentrada em um de seus livros de história, quando levantou o olhar, era o tal rapaz.
    Educada Evelyn perguntou se ele não queria se jutnar à ela na mesa e ele aceitou. Naquela tarde eles conversaram longamente, sem pressa e sozinhos.
    Agora Daniel não só acenava quando cruzava com ela nos corredores, como também muitas vezes parava para conversar ou a chamava pelo nome.
    Os cafés com os vizinhos continuavam e Daniel passou a sentar-se sempre ao lado de Evelyn. Os encontros a sós também se intensificaram e os dois foram se tornando mais intímos.
    Não dá para explicar a maneira que Daniel a encantava, não era amor ou paixão, disso ela tinha certeza. Mas ele tinha alguma coisa que ela tentava entender, parecia que sempre havia muito mais a ser tido, mas Daniel nem puxava o ar.
    Ele tinha uma energia diferente, que como Evelyn descobriu anos mais tarde, agia como um filtro nos olhos dela e nunca deixava a beleza dele desaparecer.
    O verão chegou e os amigos trocaram os cafés do centro pelos piqueniques no Champs de Mars. Essa época do ano, ali é forrado de turistas indo e vindo da Torre Eiffel, mas era exatamente o grande número de desconhecidos que os atraia. Passavam horas apenas observando as pessoas.
    Numa tarde quente Evelyn encontrou Daniel no Louvre. Ela fazia visitas frequentes, já que ainda não conseguira ver todas as obras expostas no museu, mas se surpreendeu por encontrá-lo. Mais uma vez o misterioso rapaz desafiava os sentidos de Evelyn, mesmo assim ela se deixou levar, alguma coisa lhe dizia que não havia perigo.
    Daniel a convidou para jantar em um dos charmosos barcos que passeiam pelo Rio Sena e oferecem refeições, com vinhos e queijos enquanto passam pelos belos pontos históricos da cidade.
    O jantar foi mágico e Evelyn sentia-se feliz e satisfeita. Desembarcaram em frente a Torre Eiffel e aproximaram-se da multidão que esperava o show.
    Naquela noite, enquanto os turistas aplaudiam o acender das luzes na Torre mais fotografada do planeta, Daniel beijou Evelyn e logo depois sumiu na multidão.

  • Ilusão

    Ilusão

    Poema enviado pela Rafizia, onde ela comenta em seu e-mail: “…Acho que ele fala de ilusão (não amorosa, mas em coisas irreais nas quais preferimos acreditar)”.

    Vivemos do sonhar, do não despertar
    Tentando nele, o impossível alcançar

    Todos os dias meus sonhos me aprisionam
    Tento fugir, mas meus pesadelos jamais me abandonam
    Porque se tornam o meu refúgio, o meu abrigo
    O adormecer passa a ser o meu melhor amigo

    Para que mergulhar,
    Se afogar na ilusão?
    Para que querer não acordar
    E para que tentar se manter na escuridão?

    Volte para a realidade
    Antes que seja tarde
    Procure, tateie pela verdade
    Não se torne escravo da irrealidade

    No fundo, este não é o nosso desejo
    Perder-me em meus pensamentos é o que almejo
    Minha mente já obedece meu coração
    Que prega a emoção e descarta a razão.

    Eu aceitei ,minha condenação
    Mas quando acordo, reconsidero essa decisão
    Porque quero o conhecimento
    E por causa dele estou ferindo meus imaginários pensamentos

    No fim das contas, quero acordar do mundo que não existe
    Abandonar o sonho que ainda insiste
    Em tentar curar
    Os problemas que não posso sanar

  • Arriba Cancún!

    Arriba Cancún!

    Ao chegar no hotel em Cancún Evelyn não encontrou qualquer recado de Juan à sua espera na recepção. Sem se importar muito, registrou-se e se dirigiu ao quarto que lhe fora reservado. Era uma bela suíte com vista para a praia e uma enorme porta-janela que dava acesso para a pequena varanda.
    Evelyn resolveu descansar um pouco e adormeceu. Acordou com batidas na porta do quarto, era o mensageiro do hotel. Depois de agradecer ao homem, ela se sentou na cama para ler o conteúdo do envelope:

    “ Hola Bonita Evelyn,
    Esta suíte é sua pelo tempo que desejar. Os restaurantes, bares, lojas e a agência de viagens do hotel também estão à sua disposição.
    Nos vemos em breve.
    Juan”

    Impressionante, pensou Evelyn. Mas nada muito além, quando terminou de ler apenas colocou o envelope amarelo cru sobre o criado-mudo ao lado da cama e resolveu se preparar para jantar.
    Como acreditava que o previsível era Juan aparecer no restaurante, escolheu um vestido leve mas bastante elegante. Calçou suas sandálias de salto e foi até o saguão.
    Havia pelo menos dois restaurantes e um bar no hotel, um com comida Italiana e outro com a típica comida mexicana. O bar parecia bastante agitado, mas Evelyn optou pelo restaurante mexicano, que contava com uma animada performace de mariachis.
    Ela se sentou em uma mesa mais afastada da bagunça e de onde ainda se podia ter uma boa visão de quem entrava no restaurante. Pediu uma tequila, água e tortillas.
    O lugar era lindo, todo decorado para o Dia dos Mortos, e os Mariachis faziam a festa dos turistas, tocando de mesa em mesa as músicas que lhes eram pedidas. Mesmo com o grande movimento a comida não demorou muito.
    Evelyn jantou sozinha e saiu antes que os músicos chegassem ao lado do restaurante onde estava. Mesmo acreditando que Juan apareceria, não ficou vigiando a porta de entrada.
    Antes de voltar ao quarto, passou na agência de viagens e marcou um passeio pelo rio subterrâneo para a manhã seguinte.
    Evelyn acordou cedo, preparou sua bolsa para um dia de mergulho e desceu em direção ao restaurante que servia o café da manhã.
    Ela sabia que Juan apareceria durante uma de suas refeições nos restaurantes do hotel, foi assim que se conheceram, tinha certeza. Mas ainda não foi desta vez.
    O dia foi bastante divertido, além de Evelyn no passeio estavam 3 casais em lua de mel e um grupo amigos de americanos. Um dos casais se juntou a turma nas refeições e todos desfrutaram de uma agradável tarde na praia. De noite Evelyn e o grupo de amigos foram até uma das discotecas badaladas da ilha, lá o grupo bebeu muito e antes do final da noite já tinha se separado.
    Evelyn que nunca perdia o controle consumindo bebida em exesso, apenas assistiu a diversão dos demais, rindo com as performaces dos turistas que participavam das bricadeiras protostas pelos bartenders. Ela voltou sozinha ao hotel já em plena madrugada.
    Dormiu até mais tarde e perdeu o horário do café da manhã. No restaurante para o almoço, mais uma vez olhou atentamente antes de entrar para ver se não encontrava Juan. Viu apenas alguns dos americanos que conhecera no dia seguinte e se juntou à eles. O papo foi entusiasmado, contaram as aventuras da noite anterior e os fatos que alguns preferiam esquecer. Eles sairam em busca de mais diversão e Evelyn voltou ao quarto para evitar o horário de mais calor.
    Já passava das quatro da tarde quando ela saiu em direção à praia.
    Assim passaram quase cinco dias, entre passeios aos pontos turísticos, incluindo nadar com golfinhos e uma visita de um dia as ruinas das pirâmedes, e algumas eventuais festas, Evelyn passou seus dias sem qualquer notícia de Juan.
    Na verdade ela já nem lembrava muito dele, já não esperava mais encontrá-lo nos restaurantes e até flertou com outros homens.
    Decidiu que aquele seria seu último dia, ligou para a agência e marcou uma passagem para Paris com escala em Miami, naquela mesma noite. Desta vez não usou os serviços do hotel, preferiu fazer tudo por uma pequena agente que conhecera uns dias antes. Tinha uma desconfiança, que virou certeza quando recebeu o primeiro contato de Juan após o bilhete de boas-vindas.
    Mais uma vez o mensegeiro bateu à porta do quarto de Evelyn com um envelope amarelo cru nas mãos.

    “Hola Bonita Evelyn,
    Espero você para jantar no restaurante mexicano, estarei por volta das nove na sua mesa preferida.
    Juan”

    Bingo! Durante os dias no hotel, Evelyn havia jantado quase todas as noites no mexicano, sentando sempre na mesma mesa, no canto longe das perfornaces artísticas.
    Ela tinha certeza que o hotel pertencia à familia de Juan, durante as conversas em Caracas ele revelou que trabalhava no conglomerado que seu avô construira, e que entre as emrpesas estavam hotéis e restaurantes. Por mais generosos que muitos homens tenham sido com presentes para ela em outras ocasiões, nunca lhe haviam mandado passar férias em um hotel de luxo sozinha, sem paparecer um dia sequer. Eles sempre ficavam de olho nela, amantes ou maridos, semrpe a vigiavam.
    Esperta, sabia que com Juan não deveria ser diferente. Ele já deve ter usado a tática da semana de férias no hotel de luxo com outras mulheres. As manda para lá, com tudo por sua conta e aparece dias depois, quando já não paravam de pensar nele e nas coisas que ele podia proporcionar. Nessa hora conseguia enfim, seduzi-las sem qualquer resistência.
    Pobre Juan, não sabia que tinha escolhido uma mulher bem diferente de todas as outras. Evelyn não se deu nem ao trabalho de se preocupar com o fato que pudesse passar por ele quando estive saindo do hotel para o aeroporto, sabia que Juan estaria em algum lugar que ela não o encontraria para não estragar o mistério e a surpresa do jantar.
    Ela desceu e discretamente chamou um dos carregadores de mala, era um rapaz jovem mas que já tinha uma aliança na mão esquerda, ele a seguiu até uma área onde os recepcionistas não podia ver se conversavam ou não e pediu que ele fosse até o quarto dela buscar as malas, mas sem chamar atenção ou comunicar a recepção. Também indicou o taxi no qual elas deveriam ser colocadas, já estava tudo combinado com o motorista.
    Evelyn agradeceu ao rapaz, lhe deu metade da gorjeta que prometera e se dirijiu ao bar. Passava um pouco das sete da noite. Cerca de quarenta minutos depois o corregador foi ao encontro dela e disse:
    -“Sua mesa já esta reservada”
    O bartender escutou atentamente, nem fez esforço para disfarçar, mas não desconfiou de nada, as vezes carregadores levavam recados de reservas de mesas à hóspedes que estavam no bar. Ela agradeceu ao rapaz, lhe deu o resto da gorjeta prometida e um envelope que deveria ser entrege na mesa reservada as nove e dez daquela noite.
    Evelyn saiu do bar e deixou o hotel no táxi que a esperava um pouco mais afastado dos outros que atendiam os hóspedes.
    Naquela noite quem jantou sozinho ao som dos Mariachis foi Juan, tudo que ele soube de Evelyn estava escrito em um pedaço de papel amarelo cru, dentro de um envelope da mesma cor:

    “As tortillas ficam melhores quando há alguém para dividir. E.”

  • Religião, casamento e pegas de carro

    Religião, casamento e pegas de carro

    Apesar de terem me dedurado no twitter eu acabei ignorando minha segurança e fui para Florianópolis no final de semana. Um amigo casou-se com outra amiga e como fazia muito tempo que eu não ia numa festa destas, foi então uma ótima oportunidade de rever amigos e por que não fazer contatos.

    Desde que virei vampiro eu tenho evitados templos religiosos, não por que possa me fazer mal muito pelo contrário. É que decerta forma eu andei um pouco descrente mesmo. Sim eu era muito católico quando humano, minha família inteira aliás o era, inclusive íamos a missa todos os domingos com a melhor roupa.

    Nunca vou esquecer de uma vez em que me meu irmão se escondeu no poço para não ir e depois de tanto lhe procurarmos ouvimos um barulho tipo “Tibum” e lá estava ele ensopado e morrendo de frio. Lembro que minha mãe ficou tão brava que mandou ele se secar rapidamente e fomos assim mesmo para a igreja. Nos dias seguintes ele teve febre e minha mãe ficava lhe dizendo que era punição divina…

    Mas esta minha crença na religião foi parando com o tempo, tive muitas perdas, desacreditei por várias vezes da força divina até que de uns tempos para cá depois que acordei eu comecei a rever essa questão em minha vida e digamos que estou um pouco mais crente. Talvez depois que eu tenha conhecido a Beth esta crença tenha voltado, pois ela vive me falando da Deusa.

    Já tive provas, aliás os seres sobrenaturais tal qual eu somos prova de que deve existir sim uma força divina que rege a vida e a não vida de todos que estão nestes e nos outros planos de existência.
    Pois bem deixando a questão crença de lado vou lhes contar como foi minha estadia na bela nova Desterro. Hoje em dia ela é chamada de Florianópolis, nome que muitos julgam ser uma piada de mal gosto, afinal foi praticamente imposto pelo tal Floriano Peixoto.

    Na sexta reencontrei alguns amigos em um belo papo de Boteco, onde eles me contaram como anda a região, o que tem feito e onde alguns humanos que la estavam em nossa mesa acabaram bêbados. Coisa normal hoje em dia? Antigamente também era na verdade, eu mesmo quando humano tive alguns dias de ressaca depois de belas noitadas…

    No sábado aconteceu o tal casamento dos amigos que comentei anteriormente e a cerimonia foi bem parecida com as que eu já tinha visto a muitos anos atrás, acho que o último casamento que fui foi de um casal de vampiros, cuja cerimônia havia sido ministrada por um padre vampiro. Tirando o fato de que hoje em dia as decorações são muito mais bonitas e que as pessoas não se portam mais a igreja como antigamente o resto foi tranquilo.

    Já na festa fiz muitos contatos novamente, dancei, brincamos de sujar o carro do noivo, sujamos também os noivos com muito papel higiênico rss Nem preciso dizer o quanto me diverti, e naquelas poucas horas que estive com eles até esqueci do que sou, aparentando apenas ser mais um cara de 20 e poucos que lá estava.

    Madrugada adentro e antes que o salão fosse fechado eu resolvi sair de mansinho, me despedi apenas do noivos e dos mais chegados e fui para o hotel onde fiquei hospedado. Acontece que eu estava com um carro alugado, um modelo médio preto, no qual dirigia habilidosamente até que vejo a minha frente um carro fazendo fila.

    Os carros que estavam a minha frente buzinavam e o carro simplesmente não entrava em lugar nenhum, até que os carros começaram a subir pela calçada para desviar. Quando chegou minha vez eu dei sinal, buzinei e sinceramente até podia subir no meio fio, mas decidi abrir a porta e dar um xingão “Ow cara, não tá vendo que teu carro trancou a passagem?” Nesse momento o cidadão, abaixou o vidro, E me mostrou o dedo do meio, no qual todos sabem o significado… Eu estava muito bem, havia me divertido horrores, mas aquele cara em poucos segundos tirou minha paciência. Podem achar que sou esquentadinho, mas se existe uma coisa no qual preso é pelo bom senso e educação.

    Fui em direção ao carro do cidadão, parei ao lado e falei: “Não vai tirar o carro da rua?” Ele, então me ignorou fato que me fez perder a cabeça e lhe dar um belo tapa em sua cara. Nada que fosse deixar marcas apenas algo de advertência que nem deve ter doído, sim eu tenho controle da minha força…

    Depois disso voltei para o meu carro, subi o canteiro e fui indo para o hotel. Mas para o meu prazer os caras o tal cara do carro resolveu me perseguir e começamos ali um pega que duraria alguns minutos em meio a algumas ruas de um certo bairro. Ele quase bateu no meu carro várias vezes, junto dele havia outro cara que volta e mia saia pela janela e gritava desaforos para mim e a coisa esquentou quando passamos próximos a um córrego em que eles quase caíram.

    Povo, confesso que fiquei muito tentado em acabar com a brincadeira a qualquer momento, saindo do carro e acabando com os dois mancebos sem ter piedade nenhuma. Mas a noite havia sido tão boa que ontem de madrugada eu resolvi ter piedade. Talvez a igreja ou o sermão do padre tenham reavivado, alguns sentimentos humanos no meu caráter. No entanto eu resolvi passar próximo a um posto policial. Estacionei na frente e quando eles viram que eu havia parado ali eles passaram reto por mim sem parar. Alguns guardas vieram até mim perguntar o que eu estava fazendo na garagem deles, mas eu apenas fiz de conta que estava perdido e pedi informação.

    Obviamente anotei a placa do carro, vou passar para meu cunhado e em poucos dias terei a localização e nome do proprietário, se algum dia eu estiver por Floripa novamente e estiver com fome, já saberei em que casa bater para pedir comida…

  • Arriba, arriba!

    Arriba, arriba!

    Depois de se separar de Beth, Evelyn ainda ficou alguns dias em João Pessoa. Ela ainda precisava decidir seu próximo destino.
    Resolveu que voltaria a Caracas para esperar seu vôo de volta à Europa por lá, entendia melhor o idioma e como não estava mais com Beth para lhe auxiliar com as minúcias do português, resolveu não arriscar.
    Passou alguns dias em Caracas até que conheceu um mexicano que também estava ali de passagem. Os dois passaram muitas refeições conversando no restaurante do charmoso hotel sem nem perguntar nomes. Era costume de Evelyn, nunca perguntava o que não pretendia responder.
    Mesmo sem geralmente fazer uma única pergunta ela descobria muitas coisas sobre as pessoas. Principalmente se eram solitárias, esse tipo costuma conversar muito com qualquer estranho que lhe sorria.
    O homem era bastante atraente, moreno de olhos escuros. Sua pele não era branca clara, nem chegava a ser negro, mas tinha uma cor bonita, diferente aos olhos dela.
    Com alguns anos de prática Evelyn aprendeu um truque usado pelas antigas bruxas da Bretanha. Ela desenvolveu a capacidade de se conectar com algumas pessoas que tenha interesse e que tenham alguma sensibilidade ao dom da visão. Esta capacidade permitia a Evelyn apenas formular perguntas e sem pronuncià-las ouvir a resposta. Isto não chega a ser magia ou leitura de mentes, é apenas um dom que algumas pessoas possuem e ela aprendeu como controlar.
    Assim Evelyn pensava em coisas que gostaria de saber sobre o homem, mas que não teria a menor intenção de responder se lhe fossem perguntadas, e ele as respondia, quase que voluntariamente.
    Quatro dias e seis refeições se passaram até que ele finalmente a convidou para um passeio, foram ao Jardín Botánico. Passeando entre as raras espécies em exposição, o homem sempre cortez falou:
    “A propósito, não me apresentei devidamente” disse, “ Me chamo Juan”
    “Muito prazer, me chamo Evelyn”
    Durante a caminhada, Juan relevou que voltaria a Cidade do México naquela noite e quiz saber mais sobre o próximo destino da bela mulher. Evelyn não revelou muito, apenas que ficaria mais alguns dias em Caracas. Voltaram ao hotel e pela primeira vez combinaram um jantar fora dali, Juan a levou no mais caro restaurante da cidade. Ele queria impressionar.
    Os dois comeram, riram, dançaram e de volta ao hotel Evelyn negou às investidas e Juan se despediu com um cavalherio.
    Na manhã seguinte Evelyn resolveu não correr o risco que encontrá-lo saindo e fez as duas priemiras refeições do dia no quarto. Passou o resto do tempo na piscina do hotel.
    No início da noite embarcou para o uma cidade menor, um pouco afastada da capital. Ali encontrou uma amiga dos tempos de faculdade. Ela foi conhecer o Yopo. Nos últimos meses na América do Sul Evelyn conheceu muitas ervas, chás e misturas que tinha certeza que lhe ajudariam em um futuro bem próximo.
    O Yopo é um pó das sementes de paricá, misturado com cinzas de conchas que é utilizado pelos nativos para fazer previsões e aguça o dom da visão. Algumas lendas dão conta que quando inalado o pó aumenta os poderes dos feiticeiros e bruxos.
    A amiga de Evelyn já tinha preparado uma porção para as duas usarem aquela noite.
    Para inalar algumas pessoas usam um tubo que é feito de ossos de pássaros, outras um tubo longo onde uma pessoa sopra o pó no nariz da outra, pela extremidade oposta. As duas ficaram com a segunda opção e Evelyn foi a primeira a inalar.
    É dito que o Yopo geralmente causa dores de cabeça, vômitos e tonturas, principalmente aos que não são acostumados ao dom da visão.
    Sentada olhando fixamente para o fogo que ardia na fogueira improvisada do lado de fora da casa, Evelyn esperou passar mal. Mesmo dotada da visão e de alguns pequenos poderes, sabia que não era uma bruxa poderosa e acreditou que seu corpo não suportaria um transe depois dos últimos dois, com o Santo Daime e principalmente com o Chá de Jurema que a deixou muito fraca.
    O mal estar não veio e Evelyn viu outra vez a luz que a guiou no último transe. Tentou afastar a visão e a luz se apagou. Em seguida viu o mensageiro do hotel de Caracas, ele trazia uma bandeja com uma carta e uma rosa. As coisas não eram muito claras, e logo depois a imagem se desfez e uma praia surgiu, agora ela via Juan, ele falava mas não conseguia escutar o que era. As imagens continuaram evoluindo e ela viu os dois jantando, depois dançando e os dias passavam. Evelyn se viu coberta de jóias e presentes caros. Cenas do que poderia ser foram pasando e ela apenas assistia tentando entender o que queriam dizer. As imagens pararam de evoluir quando ela estava em pé, dois caminhos se abriam a sua frente, eram estradas escuras de terra, não se podia ver mais que 20 metros além do ponto onde estava. Ali a visão se desfez como fumaça e Evelyn voltou do transe.
    Muito cansada e completamente suada, ela ainda precisou usar as últimas forças para entrar na casa, com a ajuda da amiga, para se deitar. Ela dormiu sem sonhar até a manhã seguinte.
    De manhã as duas conversaram, Anne era uma simpática ex-colega que abandou a escola de Arte para se dedicar à causas ambientais em países do terceiro mundo. Evelyn tinha simpatia por ela e mesmo durante a faculdade a considerava a menos fútil de suas colegas. Nunca foram amigas íntimas, mas mantinham contato esporádico desde então.
    Já de volta à Caracas, ela viu sua primeira visão se realizar. Minutos após entrar no quarto o mensageiro do hotel bateu à porta, ele estava sorridente com uma bandeija, um envelope e uma rosa.
    Depois de agradecer ao rapaz, Evelyn sentou-se cuidadosamente na poltrona e leu:
    “Espero por você. Juan”
    Junto com o bilhete, uma passagem aérea e uma reserva de hotel.
    Três dias depois Evelyn deu entrada no hotel em Cancún.

  • Poema: Leis da noite

    Poema: Leis da noite

    FanArt enviado pela Lella:

    Aconteceu algo comigo, uma experiência inacredítavel…
    Vi, senti, experimentei coisas que Jamais pensei que poderia existir, e resumi isso em minhas entrelinhas nada tão importantes assim….
    Mas eu gostaria de compartilhar :

    Da janela do meu quarto, ouço os gritos dos gondoleiros.
    O sol se pôs há alguns minutos e a paisagem tornou-se dolorosamente bela.
    A cidade labirinto emerge, soberana, um misto de fascínio e mistério.
    Envolve completamente os sentidos, liberta a imaginação.
    No arrebata sem pudor.
    Meu olhar vagueia inquieto, perdido nas ruelas.
    Por entre colunas e pontes, odores e rostos desconhecidos.
    Cada entardecer é um chamado.
    Um convite perpétuo que não se pode recusar.
    Hoje sei que nada aconteceu por acaso…
    Existem leis contra as quais é impossível lutar…
    Leis que regem a luz, leis que regem a escuridão, de onde nunca mais se regressa.
    Sinto que ele prossegue em busca tentando romper o abismo que nos separa….
    Enquanto caminho, terríveis lembranças surgem como fantasmas, assombrando minha alma.
    Se eu ainda tiver alguma !!

    Lella Morais.

  • Limpando a casa e resolvendo problemas

    Limpando a casa e resolvendo problemas

    Para o deleite de alguns e a desgraça de outros cá estou eu de novamente com meus artigos.
    Sim caros leitores, precisei me afastar por alguns dias e noites de vocês, para fazer o que eu chamo de limpar a casa. Passei alguns bons momentos com minha bruxinha, revi alguns planos e como sempre fui atrás de alguns meliantes para me alimentar.

    Esta semana acredito estar mais ávido e renovado diante de minha não vida, então vocês podem esperar boas histórias, vampirocasts e quem sabe vídeos.

    Novidades? Sim, tenho muitas…

    O livro está parado em função de minha meditação, Beth me procurou para conversarmos um pouco sobre nossa relação e eu estive em duas caçadas de sangue, sendo que uma delas inclusive envolveu a perseguição de outros vampiros condenados.

    Sobretudo, antes de lhes contar com mais detalhes do que tenho feito eu preciso falar um pouco sobre algo que tem causado alguns problemas: A vida dos meus queridos. Acreditem, escrever por aqui é extremamente para mim, e de certa forma isto é o meu divã, porém com todas essa falação eu acabei dizendo demais e expus mais do que podia sobre os que estão a minha volta.

    Beth teve problemas por causa disso, Franz foi perseguido, Zé foi assassinado… Não posso deixar de pensar o quão fui ruim para eles expondo fatos desnecessários por aqui. Conversei muito com a Beth nesta semana que passou, ela trouxe muita luz para minha vida sombria e uma das conclusões que tive é de preciso moderar mais minhas histórias.

    Estive procurando formas de amenizar este problema e por enquanto, não tenho outras alternativas se não deixar de falar diretamente sobre o que eles estão fazendo. Conversei com Evelyn e ela também deixará de falar da Beth e se concentrará em suas experiências e vamos ver no que isso vai dar.

    Já estou nesse meio da internet e dos acontecimentos modernos a pouco mais de 5 anos e apesar de ter uma mente digamos rápida, tudo isso aqui é muito novo para mim. Sou um cara do século retrasado e por mais que eu tenha acompanhado a evolução dos meios de comunicação até os anos 60 eu ainda penso como alguém do século 19 que se adaptou a este novo mundo.

    Portanto, eu não sabia realmente no que isso tudo ia dar… Agora que já cheguei a algumas conclusões, preciso me adaptar e sinceramente espero que minhas histórias continuem bem vistas por vocês e principalmente para quem me acompanha no blog desde 2008.

    Vocês me entendem não é mesmo?

    Abs,
    Ferdinand

  • Despertar

    Despertar

    Poema enviado pela Rafizia.

    O meu despertar é apenas o meu adormecer
    Pois é durante meu sonho paradoxal que consigo te ver
    Mesmo assim, ainda há contradições
    Que divergem em sentimentos e emoções

    É que sou feita da mesma matéria prima da rosa vermelha
    Da rosa vermelha que à dor se assemelha
    Onde o sangue representa sua alma
    E as pétalas despedaçadas, apenas mais um trauma
    Mesmo assim, ela está cheia de espinhos
    Por crescer à espreita de muitos caminhos
    Onde a indecisão a paralisa
    Por saber que a escolha que tomar pode ser imprecisa

    Uma rosa pode ser manipulada
    Sua vontade pode ser violada
    Assim acaba por ser silenciada
    Por quem confiou, por este foi calada

  • No semi-árido com Jurema

    No semi-árido com Jurema

    Depois de descansar durante alguns dias em Manaus, Evelyn e Beth embarcaram para João Pessoa, a capital da Paraíba. Mesmo nessa época do ano é bastante agradável por lá e as duas resolveram passar alguns dias na praia.
    Evelyn precisava trabalhar um pouco, aproveitou que veio ao Brasil com a desculpa de aprender mais sobre as artes dos Cordéis e levou Beth em um longo passeio pelo sertão.
    Lá conheceram histórias, ouviram músicas e se encantaram pelos Cordéis que cantam o dia-a-dia e as lendas da região. Foi durante esses dias que ouviram falar do Chá de Jurema.
    A bebida faz parte de um ritual que é as vezes chamado de Catimbó e é dito que este ritual é uma viagem interior, onde é possível curar-se de doenças, afastar o mau olhado e receber conselhos. Beth ainda andava confusa sobre o futuro ao lado do namorado, chegou a conversar algumas vezes sobre isso com Evelyn durante os dias que passaram juntas, mas não havia chegado a nenhuma conclusão. Ela amava Galego, sem dúvidas, mas não queria ser transformada, pois pensava em filhos, e isto, um vampiro não poderia lhe dar. Em meio a confusão de Beth, acharam que uma viagem espiritual para conselhos poderia ser interessante, assim, dirigiram no 4×4 até Alhandra na Paraíba.
    A cidade é tida como local sagrado para os cultos com o chá de Jurema e as celebrações são realizadas com bastante freqüência.
    Chegaram, instalaram-se em uma pequena pensão e saíram em busca de algum dos mestres da cidade santa para participarem do ritual. O fato de Evelyn ser estrangeira abre muitas portas, o povo receptivo do nordeste adora mostrar sua cultura aos “gringos” e logo elas encontraram um lugar para participar da cerimônia.
    Desta vez nenhuma das duas participou do preparo, descobriram apenas que também são denominadas como “ciência de índio” as artes do preparo do chá, e que as árvores são bastante comuns na região do semi-árido brasileiro, sendo também usadas como lenha.
    Sentadas em roda no chão juntos com as outras pessoas, elas viram sobre uma toalha vermelha algumas outras ervas para fumo, além de quatro velas acesas em cima de pedaços do tronco da árvore, dois copos altos com água e alguns recipientes com o chá.
    O mestre que conduzia a cerimônia disse as duas que não deveriam lutar contra os efeitos do chá, que caso a bebida não firmasse no estômago da primeira vez deveriam beber quantas vezes fosse necessário até que se acostumassem com ela.
    Evelyn não gostava de maneira alguma de ficar indefesa, a idéia de que não poderia ter alguém de confiança na roda sem estar sob o efeito do chá a assustava. Mas Beth não queria ficar ali sozinha, insistiu que a amiga também passasse pela experiência e ela cedeu.
    De tão relutante em ficar “desprotegida” Evelyn acabou não segurando o chá no estômago da primeira vez. O gosto extremamente desagradável não ajudou nem um pouco. Beth se entregou prontamente a experiência e já não teve problemas com a primeira dose.
    As duas bebiam uma mistura da Jurema Preta e de Arruda da Síria. Evelyn vomitou mais duas vezes antes de finalmente se acostumar com o chá no estômago. A essa hora a cerimônia de invocação dos encantados já estava acontecendo.
    Com maracá, um chocalho indígena, sinos de metal nobre e Toantes (uma espécie de cântico meio falado), as pessoas ao redor pareciam em transe.
    Os encantados são as entidades que regem a mística em torno da crença, e estão presentes nas árvores de Jurema que são sempre muito antigas. Dizem que ali é onde se encontram as almas que já foram pessoas, as que nunca foram e algumas que vivem em um mundo onde nunca se transformaram em carne viva. Conta-se que aos pés da Jurema é possível ver as pessoas queridas que já se foram e também os anjos.
    Já fazia quase uma hora do início e ninguém havia se levantado ou feito qualquer movimento. Uns quinze minutos depois de ingerir, Beth sussurrou para Evelyn que sentia uma forte dor de estômago, mas sabia que já não conseguiria mais vomitar. Logo depois ela viu a amiga de olhos fechados, sem nenhuma expressão no rosto. Parecia que apenas o corpo dela estava ali.
    Evelyn ainda olhou para o céu mais umas duas vezes, tentando imaginar o que acontecia com as outras pessoas, antes de conseguir se entregar aos poderes do chá.
    Primeiro veio a dor no estômago, depois uma forte ânsia, mas já não havia nada para colocar para fora. A dor parecia lhe consumir e olhando as pessoas ao redor, Evelyn achava que nunca mais sairia dali. Todos pareciam ter abandonado seus corpos, como Beth, estavam sentados. Alguns cantavam e tocavam os sinos e os maracás automaticamente. Aquele tempo pareceu uma eternidade.
    Sentada tentando controlar a dor Evelyn começou a ver uma luz, ficou em dúvida se era alguém com lanterna que se aproximava, chegou a achar que seria o sol, mas era muito cedo.
    De repente ela estava de pé e olhou ao redor achando que havia levantado em um impulso de dor, mas viu apenas idéias. A luz havia desaparecido e ela caminhava por um lugar escuro. Aos poucos a luz voltou a se aproximar e Evelyn viu vários pedaços da sua própria vida. Algumas vezes ela era pequena demais até para se lembrar do que tinha acontecido.
    Viu os pais no dia do casamento deles, o pai andando de um lado para o outro em um lugar de paredes frias, depois um mulher de branco e o pai explodindo em alegria.
    Também viu os dois chegando em casa com um bebê nos braços, sabia que era ela. As cenas foram mudando e ela foi crescendo nelas como um filme que passa apressado. A infância em Bruges, os verões na casa de campo dos tios, os anos no colégio interno, os primeiros anos em Paris e alguns dos lugares que visitou.
    Ela sorriu quando a lembrança da primeira viagem ao Estados Unidos pareceu, esta lembrança pareceu maior que as outras, seguindo de coisas que aconteceram anos depois e em ordens diferentes. Nessa hora Evelyn notou que não era ela quem controlava as lembranças, mas não conseguiu entender o que estava acontecendo.
    A misteriosa luz mostrou o canto preferido dela no apartamento que morava e desta vez era real. Ela foi até a poltrona que fica perto da janela e se sentou. Parecia estar de volta em casa, relaxou e dormiu.
    Quando Evelyn acordou estava sentada no chão, exatamente na posição que se lembrava de ter ficado quando sentiu as fortes dores de estômago. Beth estava ao seu lado, já relaxada olhando para a amiga. Completamente tonta e ainda sentindo náuseas Evelyn acompanhou Beth até o alojamento e se deitou sem falar nada. Dormiu logo em seguida.
    Na manhã seguinte Evelyn já se sentia melhor, estava até com um pouco de fome. Beth levantou cedo e foi procurar o mestre da roda da noite anterior. Ela voltou com algumas coisas para o café da manhã e as duas comeram no carro mesmo.
    “Você ainda precisa fazer mais alguma coisa no sertão?” Beth perguntou.
    “Não e estou ansiosa para dormir em uma cama confortável de um bom hotel” Evelyn respondeu.
    Beth disse apenas “ótimo” e as duas embarcaram no carro e dirigiram até João Pessoa. A viagem era curta, já que Alhandra é perto do litoral.
    No hotel Evelyn se apressou em tomar banho e pedir ao serviço de quarto um chá calmante para o estômago. Beth não subiu ao quarto com ela, disse que ia resolver uma coisa e saiu pela porta do hotel sem ao menos se registrar.
    Algumas horas depois quando Beth voltou Evelyn já tinha caído no sono outra vez, desta vez mais tranquila e sem sentir enjôo.
    Evelyn acordou com a amiga entrando no quarto e quis saber se ela havia conseguido resolver o que queria.
    “Sim”, respondeu Beth.
    Enquanto arrumavas as coisas Beth perguntou a Evelyn o que aconteceu durante o transe da noite anterior, ela respondeu, mas confessou que não entendeu direito o que a misteriosa luz queria mostrar.
    Beth contou que assim que se entregou aos poderes do chá viu um grande fluxo de idéias passarem por ela. “É isto!” pensou Evelyn, a ligação das duas não era só de tutora-aprendiz no mundo da magia, nem só de amizade neste mundo, pois quando ela entrou no transe acabou “se levantando” bem no meio do fluxo de idéias do transe de Beth.
    A amiga também contou que sentiu o poder da árvore e que havia se aconselhado com sábios encantados que se encontravam ao pé de uma antiga Jurema.
    “E o que você vai fazer? Tem alguma relação com sua saída mais cedo?” Indagou Evelyn.
    “Tem, sim. Os conselhos tem relação com muito do que conversamos nos últimos dias, e bem… Eu vou embora esta noite.”
    Sem tocar mais no assunto as duas jantaram em um restaurante próximo ao hotel e Beth se despediu, indo direto para o aeroporto.

  • Por que somos assim?

    Por que somos assim?

    Artigo enviado por Xis, desculpe só colocar ele no ar agora…

    Hoje, após mais um trauma na minha vida, parei para pensar por que eu sou assim. Eu tento entender qual das características da minha natureza afastam todos que eu amo. Será que sou tão horripilante quanto acho que sou? Eu preciso passar por tudo isso? Por que eu tenho que ser imortal e subsistir com isso. Por que eu tenho que amar tanto tantas pessoas e proteger elas com minha própria vida? Por que eu não tenho coração e mesmo assim esse vazio onde ele deveria estar dói tanto?

    Por favor, alguém pode me explicar? Eu simplesmente queria minha vida de volta. Chorar, rir, gargalhar como uma pessoa normal. Sair e ver pessoas. Mas assim, do jeito que estou, minha reclusão é muito mais cômoda. Não vou ferir ninguém, não vou viver, não vou matar, não vou magoar, simplesmente pelo fato de ter perdido isso no momento em que me tornei isso.

    Eremita, talvez isso me defina. Palavra que docemente descreve todo mal que se isola dentro de mim, longe de todos. Ser poderoso é fácil, quero ver ser fraco. Eu quero ser fraco. Ser insensível, indiferente, mau é fácil. Quero ver se tornar vulnerável. Sentir-se vivo novamente. Doce ilusão, sonho impossível. Minha ânsia em destruir tudo me toma e faz despertar tudo que esperam de mim. Mas eu nego, chega!

    Um dia eu fui humano, hoje sou meramente algo vazio. Uma armadura indestrutível que não permite nada entrar. Algo que foi feito para ter algo em seu interior e que sem isso não tem utilidade.

    “Um dia eu sorri, um dia chorei. Hoje não sou nem sombra do que passou.”