Peter é o que muitos chamam de cara de sorte, sempre bem vestido, namorada perfeita, amigos ricos, pais de origem humilde, mas que nem por isso deixaram de dar tudo o que os filhos precisavam. Resumindo, eu não tinha por que seguir um cara desses… Na verdade acho que foi coisa do destino quando ele passou correndo em minha frente, por uma das ruas escuras da velha Berlin.
Eu estava quieto encostado em uma parede, esperado meu velho tio passar. Nada demais para uma noite em que eu ainda tentava não pensar como predador. Uma fase de transição quando nossa cabeça começa a se acostumar com os sentidos aprimorados e as coisas que são diferentes nos deixam afoitos e perdidos…
O vi correndo e quase por instinto comecei a correr atrás, foi como um susto: Em um momento estamos parados e quando nos damos por si estamos fazendo algo… O cara viu que eu estava atrás dele e começou a correr mais, até que entrou em um beco e o perdi… Droga, meu lado curioso queria mais e nem mesmo o cheiro de sexo que pairava do infeliz eu podia sentir como quando ele passou por mim…
Passaram-se alguns meses e lá estava o cidadão passeando com uma mulher de braços dados. Eu tinha por que seguir o cara mais uma vez. Sim, fiquei escondido e comecei minha perseguição. Os dois andavam devagar, se acariciavam e trocavam beijos românticos como dois namorados apaixonados. E minha cabeça martelava a mesma idéia: “Ele não é um vampiro”… “Eu não sou igual a ele”…
Pararam em uma velha hospedagem, dessas que os viajantes pousam quando estão as pressas e não querem qualidade, apenas uma cama… Fiquei do lado de fora, a espera de algo e nada, até que resolvo usar meu dom de se transformar em animais, vou para um canto escuro imagino um rato e instantaneamente viro um desses de esgoto, nada bonito, mas que me permite ir onde humanos não vão.
Meu faro me leva até um quarto onde ouço barulhos de cordas sendo amarradas. Entro e vejo a mulher amordaçada cama, sendo que a única peça de roupa que cobria suas vergonhas era um pano sujo de sangue.
Minha boca salivava a medida que eu via o cara afiando uma faca e seus olhos sedentos de desejo para a pobre infeliz que chorava desolada.
Eu podia me transformar em humano, mas eu sentia apreço por aquela situação. O prazer da dor vinha quando ele enfiava a faca, comparável como quem passa manteiga no pão… Por um instante sinto um silêncio profundo… Rompido por um último suspiro vindo da senhorita.
“Precisamos disso”… “Não eu não quero que ela morra”… Minha cabeça fica confusa.
– Hei açougueiro solte essa faca! Bem que ele tentou me golpear, mas foi tarde, eu fui mais rápido e quebrei sua mão… Soltei a moça ela ainda suspirava de leve… Tome minha querida, beba isso e ficarás bem…
Quanto ao Peter… Ah o Peter, por que não ouviu o que seu pai lhe dizia… Por que quis parecer um de nos…