Autor: Jean Felski

  • Ser um sobrenatural nos tempos atuais é algo sofrível

    Ser um sobrenatural nos tempos atuais é algo sofrível

    Todos sabem que os tempos mudaram e que ser um vampiro atualmente, bem na verdade, ser um sobrenatural nos tempos atuais é algo sofrível. Tá, lá vem o cara imortal reclamar… Não é bem assim, mancebo!

    Sim os tempos da época em que eu fui transformado eram diferentes. Não havia higiene, tampouco band-aid, smartphnes, banho quente ou sequer banheiro dentro das casas. Já falei um pouco aqui sobre isso, mas como sempre temos novos leitores e de tempos em tempos eu retomo o assunto: época atual vs o passado.

    Apesar disso, também havia coisas boas. Não havia a loucura e a correria dos tempos atuais e isso sim eu acho que sinto falta, pois quando os veículos motorizados começaram a circular pelos centros das grandes cidades foi a verdadeira loucura. Em coisa de 10 ou 20 anos eles tomaram as ruas. Levantaram muita poeira nas antigas ruelas e tudo se transformou em função disso.

    Vieram as grandes obras urbanas, os famosos calçamentos, os bondes e os postes com luz a óleo foram trocados pelos ligados a luz elétrica e todos os locais receberam dezenas de fios. O que provocou a modificação das casas residenciais e de comércio. Muitos foram derrubados e deram lugar a edifícios modernos e nos padrões aproximados com os atuais.

    E o lado sobrenatural disso?

    Bom, é aí que surgem as minhas reclamações. Pois as mudanças que eu disse linhas atrás fazem, além dos imóveis, as pessoas também se movimentarem. O problema é que existem muitos que não gostam de mudança. Mudanças de processos e de rotinas tal qual na atualidade, em função da pandemia global de COVID.

    Os sobrenaturais em especial aqueles que podem viver centenas de anos, como os vampiros, não gostam muito de mudanças. Imagine que você tem sua rotina de alimentação, tem os lugares onde pode ir ou que não deve chegar perto. Todavia, de uma hora para outra há bloqueios policiais e sanitários. Todos evitando as ruas, empresas decretando falência e as pessoas recolhidas na “segurança” de seus lares.

    Por um tempo não se pode entrar em bares, baladas, lojas, padarias… Shoppings, que eram o principal local de passeio de alguns e até mesmo as praças foram fechadas… Tenho amigos vampiros que decidiram hibernar nesse tempo. Triste, mas alguns empreenderam e até criaram negócios novos de delivery. Algo tipo sangue a domicílio? Sim, porque não… oferta e demanda, babe!

    Falando de mim…

    …eu já tocava muitos dos meus negócios a distância e tenho certa simpatia por tecnologia. Sobre minha dieta, alguns animais disponíveis pelos arredores a compõe nesse momento, mas confesso que a fome, aquela antiga, inerente e pecaminosa pelo sangue humano tem me acometido. Inclusive nesse momento ao falar disso, minha perna direita insiste em balançar… Obviamente, indicando ansiedade em minha cabeça.

    Talvez por isso tenha me afastando um pouco daqui e deixado meu irmão Carlos, publicar suas histórias e andanças. Bom, convenhamos que falar somente de vampiros (e minhas reclamações) devia estar chateando os mais antigos frequentadores? Então essa variação de assuntos hora lican, hora vampirescos trás variedade e renovação para cá.

    Afinal, em meio a tudo o que tem ocorrido nos últimos meses inovação e variação são palavras bacanas e que podem animar a cabeça. Principalmente, daqueles como eu que ficam angustiados quando permanecem por muito tempo nos mesmos locais.

    Ahh, tenho lido bastante e visto seriados. Esses dias maratonei o Legado de Júpiter e vocês?

  • Licans, como eles são?

    Licans, como eles são?

    Nos meus últimos artigos aqui no blog do meu irmão Ferdinand, tenho falado bastante sobre minha matilha de Licans. Sobre como vivemos em meio a uma das maiores florestas do mundo, juntos dos indígenas e dos demais povos que frequentam nossa região.

    Hoje, eu vou mudar um pouco o foco e falar especificamente sobre nós: Licantropos. Popularmente conhecidos como Lobisomens, Metamorfos ou simplesmente Licans. Dando ênfase as principais características de cada um daqueles que conheço, bem como suas origens.

    Em seu livro Ilha da Magia, Ferdinand cita algo assim: “O seu corpo começou a crescer, muitos pelos foram preenchendo sua pele branca, e depois de alguns segundos entre contorções e grunhidos ele se transformou em algo bestial… ele parecia ser muito mais forte e havia algo de felino em suas feições”

    Conforme tal relato, enfatizo aqui as “feições felinas” pois isso é a base do que quero lhes trazer. Afinal, é um erro muito comum achar que os licans são variações avantajadas apenas dos Canis Lupus ou Familiaris.

    P0de-se no entanto haver variações em outros grupos como Panthera, Leopardus, dentre outros felinos. Sobretudo, também existem ou existiram variações com base nos Ursidae, Equus Ferus, Bos taurus, entre outros. Sendo estes últimos muito relacionados respectivamente aos mitos dos Centauros e do Touro de Minos, popularmente conhecido como Minotauro.

    Ferdinand e eu, mais do que ele, pertencemos há uma linhagem de Canis Lupus e por esse motivo, conseguimos mudar de forma indo ao encontro das feições próximas destes seres.

    No que diz respeito ao mundo sobrenatural e das potencialidades que tal “poder” nos confere, há a vitalidade ampliada, a força, e todos os sentidos ampliados. Ou seja, resistimos, ouvimos, vemos e sentimos com maior precisão que os humanos ou até mesmo que os animais.

    Não vou entrar no mérito aqui de onde tais “poderes” vieram ou de como aprendê-los, apenas me restrinjo ao fato de que isso existe desde os primórdios. Acompanhando as tantas evoluções dos seres que habitam este plano e os demais que circular em paralelo a este.

  • Um dia nas minhas rotinas de Lican

    Um dia nas minhas rotinas de Lican

    Acordei e como de costume mais cedo que os demais. Junto de Vera fiz meu desjejum com muito café e carne fresca de capivara. O tempero secreto da Lican é um dos seus maiores segredos e faz a alegria de marmanjos, tal qual eu. Papo vai e vem e chega até nós, todo esbaforido, o Jonas. Um lican nativo da região e que era lenhador antes de se juntar a nossa alcateia e causa.

    Sujeito matreiro, que atuou por muitos anos derrubando arvores e que depois da transformação se tornou protetor de Gaia.

    Naquele dia ele estava bastante esbaforido e tão logo nos cumprimentou foi logo dizendo o que lhe afligia:

    – Bom dia pessoal estive pelos lados do monte das duas quedas e avistei uns mal-acabados por lá. Um deles tinha equipamentos de topografia e um outro desbastou grande parte, fizeram uma clareira perto da margem esquerda da primeira queda e acamparam por lá.

    – Será que era algum povo da Funai, exército? – Comentei com ele.

    – Olha desse povo não sei não. Pelo menos não era ninguém conhecido ou que já tenha visto por essas bandas.

    – Procura o Isaias e fica um tempo lá observando o que eles fazem. Aquela região não é dos nossos domínios, mas tem aquela tribo dos Maku que pode ter problemas com eles.

    – Certo, chefe!

    Esse dia fluiu tranquilo e fiz apenas as atividades corriqueiras, como a manutenção de algumas cabanas e limpar as pestes que insistem em surgiu perto da horta principal. Gosto bastante desses trabalhos pois a parte física é trabalhada, de tal forma que um velho como eu pode tirar um pouco da poeira dos músculos. Sem falar dos meus experimentos com madeira e outros materiais.

    Tentamos ter uma rotina de exercícios, dia sim, outro não e todo sábado, por exemplo, promovemos uma espécie de esconde e esconde com captura de bandeira. A equipe vencedora fica de folga dos trabalhos pesados na semana seguinte.

    Mais para o final do dia alimentei os javalis e aproveitei para pescar numa dos lagos naturais que ficam à beira do rio. O pôr do sol estava bonito, apesar dos muitos Paracanã que inevitavelmente perambulavam pela região. Seres minúsculos que incomodam demais e me lembram os borrachudos lá do sul.

    Logo mais a noite estávamos todos a beira da fogueira. Aguardando a fritada que Vera fazia junto de outros Lican. Assim que iniciamos a janta os papos começaram, regados a muito cauim. Uma bebida fermentada de mandioca que aprendemos a fazer de uns anos pra cá.

    – Sabe Carlos, passamos o dia atrás daqueles malacabado e assim que capamo o gato eu fiquei matutando. Será que o povo não era de boa fé?

    – Por que acha isso Jonas?

    – Não sei chefe, meu instinto pode falhar as vezes, mas, chibata! Senti algo bom deles.

    – A gente pode ficar de bubuia, então?  – Comentei, feliz por ele ter percebido. Usado seus instintos.

    – Sim sim, chefe!

    – Toma aqui mais um gole então, amanhã tem treino cedo e é importante que vocês relaxem hoje a noite.

  • Problemas na matilha – Parte 2

    Problemas na matilha – Parte 2

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    Vera iniciou os preparativos ao lado do totem. Um monumento que nos foi dado de presente, entalhado em madeira de carvalho e localizado centralmente em nosso assentamento. Vestida apenas com uma túnica, alguns colares e adereços nos cabelos. Ela circulava ao redro do totem com incensos enquanto dizia algumas palavras ritualísticas.

    Aguardei numa cadeira em certo local que não a atrapalha-se e aproveitei para beber um pouco de café, meu fiel companheiro em noites como aquelas. Na verdade, de todos os momentos, ultimamente. Depois de uns minutos Isaias também se sentou perto de mim e aproveitou para por o papo em dia:

    –  A vera tá como quantos anos mesmo? Tá com corpão ainda ne?

    – Te falar que não consigo ver ela dessa forma? Acho que pela convivência ela virou meio que paisagem pra mim. – Respondi desinteressado, enquanto dava mais um gole naquele café sem açúcar e quente.

    – Ah para, olha aquelas coxas!

    – Na, nada demais, Isaias…

    – ôxe! Tá muito tempo sozinho meu velho. Sem falar que tu és o alfa, precisa tá mais ativo.

    – Meu irmão (Ferdinand) falou a mesma coisa esses dias, mas tô bem assim… são tantos problemas pra resolver que nem tenho mais tempo pra mulheres. Mas ow, se achar que sou menos alfa por causa disso a gente pode disputar, tá afim?

    – Tá mangando deu? Tô pra isso não, só comentei por comentar. Não tá mais aqui quem falou…

    Depois de alguns minutos Vera se sentou. Olhou em volta me procurando e foi minha deixa para ir ao seu encontro. Sentei-me ao seu lado… Palavras… Cânticos… Sons que não podem ser escritos… Nevoeiro.

    Mais uma vez adentrávamos por aqueles lugares cuja alma sente frio, no qual o movimento e visão são limitados e tudo passa mais devagar. Vagamos, vimos casas, carros… Uma cópia quase exata do mundo terrestre.

    Chegamos a uma casa mais isolada na periferia de um centrinho, em seu interior havia movimento, ou pelo menos a sensação de que havia alguma presença. Entramos por uma porta de madeira muito bem esculpida, com desenhos tribais. No cômodo de entrada alguns cristais sobe uma mesa, alguns filtros de sonhos pendurados sobre uma poltrona e uma lareira, ardia fogo azul.

    “Bem-vindos” – Nos disse uma voz, angelical e quase sussurrada vinda de todos os lados.

    “Fiquem tranquilos em minha casa” – Neste momento algo começou a se formar na poltrona e em questão de segundos surgiu uma mulher morena, de aparência formosa, mas seu roso estava borrado, evidenciados apenas duas luzes azuis fortes onde deveriam estar seus olhos.

    Vera deu um passo a frente e entregou uma de suas pulseiras para a entidade. Assim que pegou o artefato seus a luminosidade de seus olhos diminuiu por alguns segundos, deixando evidente seus traços indescritivelmente angelicais. Tão logo ela absorveu o artefato e seus olhos voltaram a iluminar fortemente o ambiente, ela se levantou e levitou até nós.

    Perto de mim ela passou uma das mãos em meu rosto. O frio tomou conta de mim e antes de se tornar insuportável ela fez o mesmo em Vera. Em seguida ela se afastou perto da lareira e de lá nos falou telepaticamente: “A lican que vocês procuram está bem”. (pausa) “Ela não quer mais ficar entre vocês, apenas isso!”.

    Vera consentiu e se dirigiu a porta. A segui, mas antes de sair a aparição se aproximou e segurou minha mão, levei um susto como se algo a queimasse. Em seguida ela desapareceu, tudo ao nosso redor escureceu. Abri os olhos. Estava em nosso acampamento. Em minha mão havia dois “W” desenhados lado a lado.

  • Oração ao Cadáver Desconhecido

    Oração ao Cadáver Desconhecido

    Certa vez estive com o Doutor e numa das paredes no local onde estávamos, constava um quadrinho emoldurado de forma simples e neste havia escrita em letras de forma a Oração ao Cadáver Desconhecido:

    Ao curvar-te com a lâmina rija de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas; cresceu embalado pela fé e esperança daquela que em seu seio o agasalhou, sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens; por certo amou e foi amado e sentiu saudades dos outros que partiram, acalentou um amanhã feliz e agora jaz na fria lousa, sem que por ele tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que tivesse uma só prece. Seu nome só Deus o sabe; mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir a humanidade que por ele passou indiferente.

    Karl Rokitansky

    Anos mais tarde tal oração se tornou muito famosa entre os alunos das áreas da saúde…

  • Problemas na matilha – Parte 1

    Problemas na matilha – Parte 1

    Acordei pouco antes do sol nascer. Esfreguei os olhos. Espreguicei-me. Demorei um pouco para se levantar, haja vista o cansaço da noite anterior em meio as andanças com meu irmão vampiro, Ferdinand.

    O cheiro de café fresco era evidente e forneceu o estímulo necessário para que o me arrumasse, lavasse o rosto e fosse até nossa cozinha coletiva. Lá chegando, apenas Vera estava de pé e montava nosso desjejum.

    – Você e tua pontualidade, dona Vera!

    – Acordar cedo faz bem pra pele…

    – Ahh para tu não precisas disso, nem parece que chegou no teu segundo centenário… opa desculpa, mulheres não gostam falar de idade.

    – Relaxa e se senta aí, me conta de ontem. Vi que chegou umas três e poucos, tudo bem com aquele outro lá?

    – Ferdinand? Sim, meu irmão vive aprontando, mas a vida segue.

    – Sei (pausa dramática)

    – Já falei com vocês sobre isso e nossa relação com ele(es)… Se fossemos mais próximos muitos problemas serão resolvidos.

    – Se toca, Carlos! A grande causa dos nossos problemas são aqueles noturnos e sua sociedade que controlar tudo e todos.

    – Porra Vera já de manhã cedo com esse papo, me deixa tomar esse café em paz, vai.

    Depois desse breve “Bom dia” tomei meu café e parti para os trabalhos em nossa aldeia. Recebi algumas reclamações de invasões de um pedaço de terra por alguns garimpeiros. Noutro ponto um grupo de índios estava acampado perto de um ritual para um ritual mensal e uma novata havia sumido fazia dois dias.

    E assim foi até o almoço onde novamente enfrentei o olhar furioso de Vera, além de alguns outros, que não estavam curtindo muito minha atuação como alfa. Tratei de levar o assunto da garota sumida a adiante e isso com certeza proporcionou um foco melhor para todas as ânsias acumuladas nos últimos meses.

    Montamos um grupo e depois de fazer digestão saímos em busca de pistas do paradeiro da garota. Uma nos disse que havia visto ela de mochila perto do rio, outro disse que ela andava estranha… Eu mesmo havia percebido que ela não estava muito integrada aos nossos ritos e deveres. Apesar disso, se ela topou ficar conosco, é nosso dever protegê-la.

    – Fala aí Carlos, como está lá com teu irmão, algum problema novo?

    – Tá de sacanagem, tu também Isaias? A Vera já me encheu o saco sobre isso logo cedo… Tudo certo, apesar dos pesares o Wampir que vocês esnobam é minha família, sangue do meu sangue e preciso tá junto dele também. Tivemos alguns tropeços, mas acho a vida segue. Agora vamos focar em rastrear a garota!

    Seguimos rio abaixo até chegarmos em uma clareira, lá geralmente há algumas canoas de uso coletivo e um deles estava faltando. Perto da margem algumas marcas de tênis, com tamanho próximo do que poderia ser o pé da garota.

    Se ela desceu o rio ou atravessou para outra margem, seria um problema, pois sairia do nosso território, adentrando uma reserva indígena, antes de chegar na cidade mais próxima.

    Decidimos voltar e planejar os próximos passos. Vera sugeriu uma busca pelo plano espiritual, quem sabe alguma alma tinha notícias dela. O que duvidei, pois a garota não era muito de ir para lá, apenas uma vez quando fizemos um rito coletivo.   

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  • A origem das linhagens

    A origem das linhagens

    A lenda da criação dos sobrenaturais segundo os Wairwulf.

    Naquela época todos os seres eram mais próximos dos Deuses, aqueles que haviam criado os céus, os planetas e as cinco forças conhecidas até então: ar: fogo, água, terra e energia.

    Dizem que a energia gerada pela vontade de se materializar dos Deuses impulsionou as demais forças e destes alinhamentos surgiram tudo o que conhecemos… Os seres deste plano evoluíram desde aquele princípio até o momento em que descobriram os erros e pecados.

    Todos os Deuses se comoveram com a destruição provocada por aqueles que eles chamavam de “pequenos seres”. Entre eles Dhan, a deusa responsável pela terra naquele momento, foi a que mais sentiu tais distúrbios, o que motivou uma das suas maiores criações: os primeiros guardiões deste planeta: os destemidos Wairwulf.

    Tais Guardiões protegeram as florestas, os mares e os animais inferiores ao longo de várias décadas, mas sua ascensão durou pouco. Quando um dos grupos descobriu o sabor da carne humana… Tal notícia se espalhou rapidamente por todos os cantos do globo… Dizem que Dhan chorou por 12 dias e que no início do décimo terceiro resolveu punir todos que viviam na terra.

    Esta punição se materializou para os viventes da terra na forma de mudanças climáticas e exterminou grande parte deles. Aqueles que sobreviveram, se misturaram geneticamente e isso originou as três linhagens que dominam a terra atualmente: Os Wairwulff, os Warlock e os Wampir

  • Xamanismo e os seres sobrenaturais

    Xamanismo e os seres sobrenaturais

    Eu fui um dos influenciadores que incentivaram o Ferdinand ir além do que é visto no cotidiano das cidades, florestas e mares. Esse papo é bem longo, mas digamos que tem início no princípio de abrir aquele famoso terceiro olho. Esse assunto sempre gera muitas perguntas ainda mais quando falo nos planos que circundam a terra.

    Alguns chamam isso de abertura do terceiro olho, outros de ascensão espiritual e tantos outros de viagem astral. Eu diria que é um pouco de tudo isso! Sim, pois a grande magia que existe no mundo foi despedaçada em diversos religiões e cultos. Cujo, conhecimento de cada uma destas migalhas, conseguimos a tão almejada coexistência com os mundos.

    Um dos cultos ou religião que mais trabalha esse envolvimento com os espíritos é o Xamanismo. Aliás, este é um assunto sempre muito relacionado aos licantropos. Por falar nisso, as crenças nos Wairwulff/lobisomens e nas bruxas são as mais antigas registradas no Brasil.

    Vampiros são coisa nova, agora se você perguntar pra qualquer velho principalmente de interior, pode crer que ele sabe uma história de fulano ou cicrano que fica doido e até uiva na lua cheia. Alguns inclusive falam que eles têm pacto com demônios, o que não é algo errôneo, na maioria das vezes.

    Voltando ao Xamanismo e pelo que pesquisei aqui, o Ferdinand já falou um pouco, mas acho que posso esclarecer um pouco mais, sendo eu um dos maiores praticantes em nossa família. É difícil resumir o xamanismo em poucas palavras, mas digamos que é um culto no qual acreditamos na união entre os mundos materiais e espirituais.

    Não convém aqui ir às entranhas de tais práticas, mesmo porque o Google fornece tal conhecimento hoje em dia, no entanto, é importante dizer que existem diversas ramificações e as mais populares são as disseminadas por tribos indígenas dos Estados Unidos ou da Sibéria.

    Eu, por exemplo, fui iniciado por um xamã dos Cherokee, o mesmo que também me iniciou em muitas práticas de licantropia e tudo mais que vocês possam imaginar relacionado a esses assuntos.

    Indicação de leitura sobre Xamanismo

    Outro ponto importante é que diferente do espiritismo, o xamanismo, nos ensina a conviver com os espíritos, invocá-los e muitas vezes utilizá-los a nosso favor. Caso queiram saber mais sobre o assunto recomendo livros de autores consagrados no assunto como Gladys Reichard, Christian Rätsch e Michael Harner.

    Mais histórias sobre mim

    Outro ponto que o Ferdinand sempre trás aqui são histórias práticas, algo que ele faz quando encontra “inimigos” ou seres que vão contra os seus caminhos. Nesse sentido e para não destoar muito dos posts dele. Vou tentar trazer um pouco das minha vivencias nos próximos artigos.

  • Lobisomens por aqui?

    Lobisomens por aqui?

    Oi me chamo Carlos, ao menos nos dias de hoje… Anos atrás usei o nome Alejandro, Diego e inclusive Juan me pareceu adequado em certos dias. Tudo isso, pois já vivi muitos anos, desde a época em que me chamavam de Adolf. Sou irmão do Ferdinand, mas diferente dele tive a oportunidade de ter meus dons Wairwulff ou Licantropos aflorados.

    Essa história teve início no século XIX, lá pelos meados da década de 1860, sim sou velho pacas meus caros. O vigor dos genes Wairwulff em meu sangue me mante firme e forte. Apesar de minha aparência já ser mais próxima dos caras e meia idade humanos.

    Os fios de cabelos brancos já despontam em várias áreas do meu corpo, incluso quando estou transformado em lobo ou naquela forma maior que chamamos de “besta”.

    Tal forma me é pouco utilizada ultimamente, apenas quando algo de ruim a faz necessária ou quando participo de rituais junto de minha alcateia. Sim, a história de termos um alfa, que nos lidera, moramos próximos numa “tribo” e tudo mais é muito próximo dos filmes e livros sobre lobisomens.

    Sobre a questão de ser um Wairwulff ela é hereditária e passa de pais ou mães para filhos e filhas. No meu caso veio pela família da minha mãe e pelo que soube, muitas gerações antes de min existiram sem que o gene se manifestasse. Apesar disso, todos sempre tiveram uma saúde acima da média e mesmo por aquelas épocas alguns antepassados nossos viveram como humanos e morreram perto dos 100 anos. Algo mega diferente para época!

    Sei que o Ferdinand, meu irmão, já contou um pouco sobre mim aqui, mas decidi aparecer um pouco mais, como neste artigo. Assim como ele, acho interessante o fato de termos um lugar para contar nossas histórias.

    Um breve tchau e até breve a todos que passarem por aqui. #UseMascara #VemVacina

  • Baile no Rio

    Baile no Rio

    Quando falo do Rio de Janeiro sempre vem a minha mente a primeira metrópole que conheci. Eu ainda era um vampiro novato quando cruzei tais terras pela primeira vez e aos olhos de alguém que na época possua apenas 26 anos, tudo me vislumbrou.

    Em muitos locais já havia energia elétrica, os bondes levavam as pessoas para todos os lados como fazem os metrôs atualmente e todo aquele movimento me deixou tonto. O movimento de pessoas a noite era muito maior que na minha doce Desterro e isso gerou muitas oportunidades, principalmente para saciar minha fome de sangue.

    Ficamos pouco em tais terras, apenas o tempo suficiente para que o navio que nos levaria para a Prússia aportasse por li. Apesar disso, voltei inúmeras vezes para a capital fluminense e como várias outras cidades pelo mundo a vi crescer e se modernizar.

    Noites atrás passei por ali e a cidade foi inclusive palco de mais uma história. Estava eu numa das comunidades da cidade, entre uns chegados que me chamavam de “Gringo”. Nos preparávamos para um baile, quando fui apresentado aquela que apelidei de “Bombom”. Haja vista que ao nos conhecermos ela trazia consigo duas caixas de bombons, doces que mataram a larica da geral.

    O papo sobre a pandemia foi o principal. Muitos estavam preocupados. Muitos debochavam que era apenas uma gripezinha e Bombom era do time dos afoitos, que apesar de estar entre muitos, usava máscara e tinha um tubinho de álcool em gel no sutiã. Eu, para me ambientar também estava de máscara e isso na verdade era ótimo, pois ajudava a esconder minhas presas, que diante as beldades que lá estavam, insistiam em se aflorar.

    Muitos corpos a mostra, muito suor, muita música, bebidas para os humanos e tentações para um vampiro pseudo europeu como eu. O baile no qual fomos durou a noite e meus parsas se empolgaram e tive uma noite de rei. Aliás. Franz ficou puto, quando soube que eu fui pra lá e não o chamei…

    Negócio é que a bebida faz os humanos saírem do normal e infelizmente na madrugada alguns brigaram, outros se xingaram… acho até que a briga foi por causa do uso de máscara, mas estava tão empolgado conversando com a Bombom, que relevei tudo de ruim que aconteceu até ali.

    Ao longo daquela madrugada fiquei com ela e entre uns amassos e outros os papos avançaram. Vocês sabem que adoro um probleminha. Tipo, não consigo saber de coisas como maus-tratos e ficar na minha. Soube que Bombom teve um filho quando tinha 16 anos e que o ex dela batia na criança quase sempre. Se não bastasse o cara era envolvido com jogo bicho e isso deixava Bombom sempre aflita e preocupada com a sua segurança e com a do filho.

    Acontece meus amigos, que eu estava no território deles. Um lugar com muitos olhos, smartphones e câmeras. Por mais que eu não quisesse fazer nada é sempre a confusão que vem até a mim (Matanza)… e lá pelas três da manhã apareceu o tal camarada junto de outros dois. Um chegou por trás e me deu uma paulada na cabeça, no chão eu fui chutado, pisoteado e pior não é isso. A Bombom também levou alguns sopapos do bando.

    Confesso que eu queria liberar as presas, a fúria bestial que já me ajudou em tantas outras vezes, mas resolvi apelar para as pistolas que sempre estão nos coldres nas minhas costas… Alguns tiros para o alto e foi aquela correria desatada ao som de vai malandra da Anitta (essa música ainda ta na minha cabeça)

    Minutos depois eu estava num beco, senti um pouco de sangue num dos braços e me afastei o máximo que pude do baile. Por onde eu andava, minha audição aguçada me mostrava os comentários de desaprovação feitos pelos locais e foi assim até que em meio a mata eu me transformei em morcego e voei de volta para o meu hotel.

    Fiquei com pena da Bombom, tentei contato com ela noites depois e nada, mas soube pelos continhos que ela estava bem, ao menos havia postado fotos de outro baile com umas amigas. O que fica disso tudo? Continuo achado o Rio uma cidade intrigante, da mesma forma que admiro os movimentos de São Paulo, Nova Iorque, Berlin… No fundo o vampiro aqui que é deslocado em todos esses lugares…

  • De quando quase virei pó

    De quando quase virei pó

    Naquele tempo o mundo começou a girar de uma forma diferente, a ascenção dos veículos distanciou os pobres dos ricos. As antigas luminárias a óleo deram lugar aos postes com lâmpadas elétricas e a confortável escuridão noturna fez surgir aquele clima Noir, onde já era possível identificar quase todo mundo que cruzava seu caminho sem precisar forçar a vista.

    Nem preciso dizer que isso afastou muitos vampiros das ruas e dificultou nossas empreitadas atrás de sangue humano. Então é necessário dizer que muitos de nós foram para as periferias e para o interior. Onde as tecnologias sempre demoram mais para chegar.

    Eu permaneci próximo dos meus negócios e isso me fez pagar um preço caríssimo. Ainda mais quando numa noite qualquer eu fui emboscado por um grupo de caçadores. Era uma noite onde eu saí de madruga de uma das fábricas, estava com os pensamentos concentrados nas rotinas diárias e caminhava em direção ao carro parado nos fundos.

    O frio daquela noite era incomum para época e os vidros estavam embaçados. Sem um sistema próprio para limpeza, eu passei meu próprio casaco e foi nesse instante que três brutamontes apareceram. Um deles jogou um líquido em mim, que de imediato me atordou, provavelmente uma água benta potente. Outro me colocou um saco escuro na cabeça e último me derrubou… Todos desceram o pau em mim até que apaguei.

    Acordei com o carro em movimento, ainda estava com o saco na cabeça e me sacudi. Imediatamente, percebi que estava bem amarrado e que estava entre dois caras de sangue quente. Resmunguei e logo veio uma coronhada na cabeça que me atordoou e fiquei quieto, fingido desmaio.

    Minutos mais tarde o carro parou, fui arrastado para dentro de um prédio e o pouco do chão de vi indicava um local afastado do centro. “Joga ele no porão” disse uma mulher. Na sequência fui levada para dentro de algum lugar e depois duas escadas fui largado no local que ela mandara.

    Já estava lúcido e percebi que não estava sozinho. Junto comigo havia pelo menos mais dois seres de sangue frio, provavelmente vampiros também e me manifestei:

    – Hey alguém sabe onde estamos?

    – Fica quieto, sempre que alguém aqui fala eles vêm dar um pau na gente. – Disse um deles.

    – Acho que estamos no porão de uma casa de campo. – Comentou o que perecia ser uma vampira.

    – Tudo bem vou tentar algo aqui no chão, se der certo volto pra resgatar vocês. – Sussurrei.

    Por sorte naquela época eram comuns os porões de terra batida, o que me permitiu o uso do meu poder de união com a terra. Concentrei-me e em pouco segundos estava naquele cantinho que por vezes me serviu de refúgio e abrigo. Movimentei-me e em seguida emergi há uma centena de metros de onde estava. O local parecia ser um campo aberto, próximo de uma pequena floresta, que foi onde me escondi e planejei os próximos passos.

    Meu carro estava estacionado aos fundos da casa, o que indicava que possivelmente lá também estava o porão onde fui deixado. A madrugada fria afastava os humanos da rua e uma luz em um dos cômodos indicava a possível localização daqueles que ainda estavam acordados.

    Sem armas, improvisei com alguns pedaços de madeira e andei rápido, porém sorrateiramente em direção ao meu carro. Chegando nele eu tinha a missão de girar algumas vezes a manivela na tentativa de que pegasse rápido ou atacar antes de ser atacado. Por mais que estive num local desconhecido e possivelmente diante de caçadores que possuíam água benta de verdade, eu fiz o mais adequado a meu ver e ataquei primeiro.

    Bem na verdade eu me escondi e fiz barulho para que vissem ao meu encontro. Dois saíram de imediato. Com o primeiro eu usei a madeira que tinha em mão e abri sua testa, o sangue jorrou e aquilo excitou meus caninos que afloraram na hora. Com o segundo eu nem pensei e me atraquei em sua garganta. Consegui beber alguns goles enquanto ele se debatia e fiz isso até que senti de raspão um tiro de arma de fogo. Joguei-me praticamente ao chão próximo do carro e era uma mulher com espingarda.

    Fiquei naquele cão e gato até que ela deu um próximo tiro que acertou um dos vidros do meu possante e precisou recarregar. Ela bem que tentou fechar a porta quando me aproximei e no enrosco caímos ao chão. Ela disse alguma coisa do tipo: “Sai de cima de mim em nome de…” acho que falou o nome de algum santo, mas foi oportunidade suficiente abocanhar sua pele fina e pôr em dia meu desjejum.

    Tudo se encaminhava, mas ainda havia um terceiro elemento que estava dormindo e acordou com nossa briga. Ele bem que tentou, mas um vampiro alimentado vale mais que 4 homens numa briga e foi fácil colocá-lo para dormir novamente.

    Com tudo resolvido desci no porão e libertei meus colegas da noite. Eram dois viajantes dos EUA, que haviam sido capturados em algum rolê turístico. Azar para mim e sorte para eles, como um deles disse. Mais azar ainda aqueles que nos atacaram e que viraram pó naquela noite

    Dei-lhe uma carona para o centro, onde trataram de programar seu retorno para a próxima noite. Eu voltei para a meu refúgio junto de Eleonor e Franz. Hoje essa história é vista como gozação por eles e para mim foi mais um dos momentos que me serviram de estímulo antes da hibernação. Se eu tivesse seguido naquele rumo certamente teria virado pó também.

  • Um pouco mais sobre a Helga

    Um pouco mais sobre a Helga

    Antes de falar sobre a Helga, eu só queria falar rapidinho do momento após nossa volta da festa em Berlin. Onde fiquei um tempo cuidando de Julie. A vampira passou dias e noites num pseudo coma, sendo alguns resmungos a única forma de interação que nos informava que ela ainda estava nesse plano. Apesar disso, cuidamos de seu corpo, inclusive resgatei alguns contatos da minha época de erudito da magia.

    Para minha tristeza eu não achei ou descobri nada de relevante que pudesse ser usado nela ou feito para ela. Então, ao longo de duas, quase três semanas minha rotina se restringiu ao quarto onde ela estava e aos locais onde guardamos as quinquilharias. Nem preciso dizer que cada um de nós, ao menos os mais velhos possuem lugares para tal fim?!

    Aproveitei o momento para acondicionar melhor alguns itens. Certo papeis estavam com indício de mofo. Em alguns tetos o mofo queria iniciar. Teve até um período entre um domingo e uma terça que fiquei direto acordado no subterrâneo. Nunca usei tanto aquela espátula pra arrancar massa corrida…

    O bom disso tudo é que encontrei uns materiais que vão dar sequencia ao livro Ilha da Magia. Também fiquei emocionado ao rever alguns itens que separei daqueles que já se foram, inclusive sobre alguém que falei pouco aqui: Helga

    Helga: minha primeira namorada

    Helga, foi minha primeira namorada, filha do prefeito de Desterro e se não fosse tudo o que ocorrera comigo, é provável que tivéssemos casado. Na real, não sei… Depois que nossos caminhos se separaram ela foi estudar medicina na Inglaterra, soube que foi apadrinhada por um doutor da época, que a queria mais como mulher do que aprendiz.

    É preciso dizer que naquela época as mulheres eram minoria extrema em cursos como medicina, direito e afins. Bem na verdade algumas poucas frequentavam tais meios em função do dinheiro de suas famílias ou, como no caso de Helga por apadrinhamentos repletos de segundas e terceiras intenções.

    Resumidamente, ela teve uma vida tranquila “para um humano”. Dedicou seu tempo cuidando dos outros e teve participação importante nos hospitais que cuidaram dos feridos da primeira guerra mundial. Soube que teve alguns namorados, mas nunca chegou a casar ou ter filhos.

    No final do Ilha da Magia a Helga retornará com mais detalhes, prometo!