Autor: Jean Felski

  • Agonia sobrenatural

    Agonia sobrenatural

    As mãos ressecadas com dedos tortos, que pareciam galhos de árvores disformes, tocaram seu pescoço e um forte arrepio tomou conta do corpo daquela garota. O medo e a inocência se misturavam e apertavam sua garganta, era difícil respirar e impossível emitir qualquer som.

    O aperto das cordas castigava o seu pulso e suas pupilas dilatadas indicavam o pânico por estar presa naquele local úmido, fétido e pouco iluminado. Os tremores vinham a cada toque de seu raptor, que insistia em tocá-la como um animal sedento que fareja o temor e se anima com o temor de sua vítima.

    O corpo castigado, pernas, braços e costas. Mãos, pés e pescoço… Pescoço lembrou o raptor, é ali que circula uma veia grande e nela ele pode se alimentar. Será que ela viverá depois de mais uma mordida? Pensou ele por alguns instantes, enquanto admirava o corpo já emagrecido daquela humana.

    Sua pele branca e os olhos profundos já indicava um certo stress nos músculos e no fígado. Quem sabe eu deva lhe dar água ao menos?

    Mas a dúvida durou pouco e em seguida ele continuou seu ritual profano de alimentação e sugou mais uma parte da vitalidade daquele corpo, agora desfalecido e seriamente comprometido.

    Novamente o raptor ia embora e uma pitada de alívio surgia naquela alma. Tremores e calafrios não eram nada perto da insônia e do desafio que ela tinha para tentar descansar. A noite ia-se, mais dores e a convulsão vieram ao seu encontro.

    Naquele ponto ela ouviu sirenes, que se aproximavam e iam embora de onde ela estava ao mesmo tempo que situações passadas leh vinham a mente. Inclusive um blog que ela lera sobre seres sobrenaturais.

    O que eu fiz para merecer isso? Será que é alguma punição pela curiosidade? Será que alguém vai me ajudar?

    A cabeça estava pesada, os barulhos externos, os pensamentos, as dores… Nada mais lhe afetava e sua cabeça desligou algumas funções. Apenas os pensamentos ainda lhe possibilitavam uma viagem que parecia não ter fim.

    Veio o desespero final, uma última descarga de adrenalina surgiu em seu corpo e o ar parecia encher novamente os seus pulmões. Seu corpo parecia ser movimentado por forças externas e o balanço indicava algum tipo de movimento.

    Luzes e vozes se misturavam aos odores do ambiente. Claro e escuro agora podiam ser sentidos… Como era bom poder sentir os dedos, como era bom sentir algo macio e quente. Como foi bom ter sua alma tocando novamente seu corpo, mesmo que o lugar ainda fosse o mesmo.

    Trilha sonora: Kiggler– Fugue State

  • Status quo vampiro: de volta aos trilhos Pt3

    Status quo vampiro: de volta aos trilhos Pt3

    Dei uma grande volta até que me deparei com alguns gorilas. Muitos estavam dormindo, mas um mais velho que aparentemente estava com insônia forneceu a quantidade necessária de sangue que Julian precisava para se reerguer. Caímos a diversos quilômetros do nosso destino e sobreviver naquela primeira noite em meio a floresta africana, seria o primeiro desafio.

    Por ser uma região próxima de uma zona de conflito, havia algumas tendas ou até cabanas abandonadas e numa delas montei acampamento. Tentei rever todos os possíveis buracos por onde a luz do sol pudesse penetrar e quando eles vieram, percebi que tinha sido um trabalho bem ruim… muitos raios nos atingiram ao longo daquele dia, por sorte foram apenas eles que nos atormentaram.

    – Bloody hell!!! Ainda sinto o gosto daquela merda de sangue, fazia anos que não bebia nada animal… fuck… fuck… fuck…

    – Era isso ou ficar todo torto igual a uma cobra no meio do nada, já tá conseguindo se mexer normalmente?

    – Acho que sim, as costas doem um pouco, algum osso deve ter regenerado fora do lugar e meu pé esquerdo tá torto.

    – Só isso? Do jeito que estavas não era nem pra se mexer, sorte sua que eu tive paciência em te reposicionar da melhor forma que deu…

    – Sei… mas o que me emputece mais é que algum corno mexeu no nosso avião. Cara, será que foram atrás da Megs?

    – Não sei, agora só quero saber como chegamos lá na cidade… Tem ideia de onde estamos?

    – Um pouco, sei que ela fica à direita, subindo um rio, viu algum aqui perto?

    – Acho que o teu fornecedor de sangue morava perto de um. Será que é o mesmo rio?

    – Vamos ter que tentar, ou dar sorte de achar alguma estrada e algum carro…

    – É só me avisar que pode andar e vamos nessa!

    – Let’s go!

    Procuramos um rumo

    Saímos em direção ao rio e Julian, achou que era muito pequeno comparado com o que havia visto no mapa. Decidimos então procurar alguma estrada… Rodamos por algum tempo, até que nos deparamos com um novo acampamento e ali Julian usou seus poderes mentais pra enganar um dos locais e conseguimos um carro.

    Alguns minutos ou horas depois encontramos o rio e este nos indicou o caminho até a tal cidadezinha. Lugar bastante simples, com pouco brancos e pouca iluminação. Já era tarde da noite quando chegamos e havia apenas um hotel aberto. Acordamos o recepcionista que nos recebeu com sono, mas foi super educado. Indicando inclusive locais que ainda estavam abertos para um “lanchinho”.

    Encontramos três bêbados e depois de uma rodada onde paguei mais algumas bebidas os novos “amigos” fora o banquete necessário para que ambos voltássemos a nossa melhora forma vampiresca. Já de volta ao hotel Julian conseguiu ligar para Megs, que insistiu que voltássemos o quanto antes para Inglaterra e confirmou mais de uma vez que estava bem.

    – Cara, e ai, seguimos com a missão? – Julian, perguntou pensativo.

    – Eu to bem, se você topar e a gente conseguir algumas armas eu me jogo!

    – Ahh quer saber o que é um peido pra quem tá cagado. Vamos encher aquele fudido de bala e tacar no sol.

    Pensamos por um tempo e o melhor lugar para se conseguir algumas armas seria com alguma milicia. Então fomos a um banco e depois de dois dias nos ligaram, para falar que a grana já estava disponível para retirada.

    O bom daquela parte da África é que o acesso as armas foi muito fácil, praticamente todo mundo que falamos tinha uma ou duas e elas são necessárias pra se proteger das milícias pró ISIS. Depois disso, com o plano de volta nos trilhos rumamos para o local onde. Possivelmente estava o vampiro que procurávamos.

  • O retorno – pt1

    O retorno – pt1

    Pisar nestes mesmos locais depois de tanto tempo ainda me parece estranho. Me afastar dos clãs me fez perceber o quanto eu me afastei de uma parte de mim mesma. Na vida de todo mundo, acredito que devemos as vezes nos afastar até daquilo que consideramos importante para poder assim respirar, ter um tempo para nossa limpeza interior e começar a caminhar tudo de novo com mais clareza.  

    Afinal cabeça turva nunca foi uma boa conselheira para ninguém. 

    Depois da conversa com Ferdinand no qual eu rasguei meu coração e agora tento catar os pedaços, sinto que ele está cada vez mais preocupado comigo… Entre as mensagens e conversas por telefone (evitando as vídeo chamadas que entregam o que eu penso sem ele me perguntar e que agora ele vai descobrir) o vampiro não tenta esconder sua preocupação, ainda mais agora que sabe para onde eu estava indo.  

    • Lili, cara, tens certeza? Sei que tens teus deveres lá, mas sinto que ainda precisa dar uma segurada, se recuperar… 
    • Fê, apesar de tudo eu ainda tenho autoridade lá dentro, o clã respeita minhas decisões e na real, o que são estes poucos anos fora, perto da idade dos vampiros de lá? Não passam de meros dias para eles. 
    • Ok, apesar de não concordar… Enfim, vê se não faz nenhuma loucura… 
    • Cara quanta preocupação, eu disse que eu “te amo” e não que “fiquei retardada” … 
    • Sei, já tô sentindo que vais me dar dor de cabeça e olha que eu sou um vampiro. 
    • Da pra você relaxar? Eu vou ficar bem. 
    • Tá, mas se estiver numa situação ruim me chama e vê se não entras na toca de novo! 
    • Pode deixar. Beijos Fê. 
    • Te cuida Lili. 

    Ao relembrar minha conversa com ele, me recordo de que o Fê não era o único vampiro que me decifrava no olhar, ao longe com um grande sorriso branco e seus proeminentes caninos de vampiro, vejo Trevor, um dos meus maiores portos seguros caminhando em minha direção enquanto eu entrava pelos grandes portões do nosso clã, o vampiro conhecido por sua óbvia altura, até mais alto que o Fê, seu bigode por fazer e o senso de humor mais sarcástico que o meu, me era nesse instante o abraço de que tanto precisava, o conforto de que tanto almejei por estes dias até chegar aqui novamente. 

    • Então a nossa querida general está de volta! 
    • Não precisa me lembrar da minha patente neste local… Quanto tempo meu querido T! 
    • Lili, saiu da toca finalmente! Eu senti muito a tua falta. 

    Vocês identificam cheiros com as pessoas que você gosta? Eu faço isso desde quando era humana e depois quando me tornei vampira este pequeno fato me acompanhou na minha vida imortal. Charuto cubano, sangue e o tom amadeirado do perfume do meu querido Trevor tomavam conta dos meus sentidos. Apesar de ser alta, ele assim como o Fê, me faziam sentir abraçada e protegida por completo. 

    • E como foram as coisas lá como galegão galanteador? 
    • Podemos deixar essa conversa para depois? Ainda estou tentando catar todos os cacos. 
    • Entendi, não foi uma conversa animadora… 
    • Gostaria de dizer que sim, porém, melhor deixar esse assunto para depois, bem depois. 
    • Lili, acredito que a conversa aqui também não seja das melhores desde que você deu um fora no vampirão daqui e saiu para se isolar de tudo… 

    Eu sai para me isolar de tudo e sinceramente estar aqui entre as paredes da Ordem me fez recordar muitas coisas, inclusive o fato de que eu jamais veria meu grande amigo Steve de novo… A história da morte dele foi um baque e enquanto estou na sala do conselho da Ordem ao observar a parede de homenagem para os que se foram, lá está Steve olhando para mim como quem diz “Não fraqueja cara, você é melhor que tudo isso!”. Sim ele estava lá e pareceu que eu retrocedi alguns anos atrás revivendo o dia da sua morte. O corte que recebi em minhas costas naquela noite fatídica, deixaram uma cicatriz no meio das minhas tatuagens. Meu amigo lobo deve estar correndo por entre as estrelas, uivando noite a dentro. Ainda tenho o vídeo dele guardado no meu drive, sorrindo e confuso em como mexer na porcaria do celular. 

    Steve foi homenageado pela Ordem por ter me protegido… Por alguns minutos fiquei de pé observado a imagem dele até sentir um poder bem conhecido por mim, sim a presença dele era gigantesca e quando me dei por conta ao virar, lá estava ele de braços dados com uma vampira ruiva muito bonita que logo foi deixada um pouco de lado enquanto o vampiro dos cabelos platinados caminhava até mim e Trevor. 

    • Vejo que continua a mesma, apesar dos longos cabelos negros, que lhe caem muito bem aliás; e seu olhar mudou, não parece a mesma teimosa vampira que fugiu daqui como uma criança arisca. 
    • Jonathan, vejo que não conseguiu me esquecer. Corrigindo, eu não fugi, apenas fui embora. 
    • Podia ter ficado, mas entendo que precisava desse seu tempo sabático.  
    • É bom te ver novamente também se esse é teu jeito de se expressar. 

    Jonathan sorriu, continuava lindíssimo de chegar a doer os olhos. Como sempre ele tocava meu cabelo delicadamente e analisava cada centímetro meu enquanto eu observava o olhar fulminante de sua acompanhante.  

    •  Creio que tenha sentido falta das suas velhas amigas. 

    De forma elegante o vampiro foi até a mesa no meio daquela grandiosa sala e com maestria retirou da bainha as minhas duas katanas que me acompanham desde o começo de tudo. Ao segurar minhas antigas e majestosas espadas que estavam mais afiadas do que nunca, senti um pouco daquela guerreira adormecida por estes anos de distanciamento, reaparecer. 

    • Minhas espadas, posso saber o motivo? 
    • Afinal voltou para sua primeira morada imortal, deves carregar seu armamento e retornar ao teu posto minha cara. Aliás, seria ótimo para você, te ajudaria a esquecer o vampiro que roubou teu coração. Não vejo utilidade na tua vida ao se lamuriar por conta disso. 

    Pelo visto ele sabia o que tinha acontecido e seu olhar mostrou nitidamente que não gostava nada da novidade. Ao retornar para sua acompanhante, agora sem dar as mãos para a vampira que parecia frustrada, Jonathan ainda de costas para mim deu um último recado. 

    • Teus aposentos estão prontos, nos vemos em uma hora nesta mesma sala pois, assuntos importantes nos aguardam. Não se atrase Lilian. 

    Senti que eu não fui até lá apenas para matar as saudades. 

  • Status quo vampiro: Problemas – pt2

    Status quo vampiro: Problemas – pt2

    Algum tempo depois do papo com o Regrado. Encontrei-me com Julian num bairro de subúrbio. Tal lugar povoado em sua maioria por operários e suas famílias muito próximos dos galpões das fábricas, também servia de quartel general para as operações do seu clã.

    – Aqui não é nosso “lar”, mas temos dois ou três velhos dormindo. Preferimos manter os coroas separados, sabe? Não temos tanto espaço como vocês na América…

    – Sei, mas é uma estrutura antiga, pelo que vejo.

    – Aye, esses prédios aqui e os prédios que tinha antes, têm algo perto de 1000 anos de construção. Da uma olhada ali na quela parede, tem uns desenhos, acho que foi algum Danish que fez.

    – Viking?

    -Aye, algum puto dinamarquês ou norueguês!

    – Esse sentimento é próximo quando os brasileiros falam dos portugueses… mas e ai, acha que tudo certo pra gente viajar amanhã?

    – Daqui a pouco a Megs tá aqui e vai ajudar a gente nessa. Ela é meu braço direito e esquerdo, acho até que ela manda em mim e eu deixo, cara!

    – Tua cria?

    – Nada tolo, foi transformada pelo meu coroa pouco tempo depois de mim, a gente aprendeu tudo junto. Sabe, os velhos querem dormir ai vão transformando geral, até achar alguém que cuide deles e dos negócios. Você sabe bem, eu acho?

    – Sim, tô nessa depois daquela guerra maldita. Por que não conheço a Megs?

    – Merda, não me lembra, foi por pouco que a gente se safou, mas foi bacana encher o cú daqueles putos de bala ou rasgar suas carnes podres! A Megs passou um tempo na América depois acho que veio pra cá e você deu uma de velho e foi dormir uns anos…

    – Desencontros, meu amigo…

    Uma vampira singular

    Fomos interrompidos por uma passada firme de calçados femininos, de alguém que vinha até nós.

    – E ai papinho tá bom heimm! Bora mexer essas bundas brancas, seus desgraçados!

    Surgia por uma das portas Megs. Outra com sotaque daquela região. Loira de olhos azuis, pele branca com sardas e baixa estatura. Ela deve ter pouco mais de um metro e meio, mas tem uma energia que supera sua altura. Ah ela fala pelos cotovelos, mas quem sou eu para criticar isso rsss

    – Meggie, que todos chamam de Megs, esse aqui é meu amigo Ferdinand…

    Julian iria continuar, mas ela se antecedeu e me estendeu a mão. Apertamos com firmeza, enquanto eu me levantava da cadeira.

    – Bloody hell! Não se levanta não, prazer em te conhecer. O moço ai sempre se gaba das histórias da guerra e de quantos endiabrados vocês mataram. Acho que ele só teve essa aventura depois. Que virou sanguessuga hahaha.

    – Não enche o saco Megs! E ai, o avião tá pronto?

    – Aye, but! Acho que já estão sabendo das investigações.

    – Como assim? – Perguntei preocupado.

    – Parece que teve gente estranha perguntando sobre o avião com destino a África. Pode ser algum curioso, mas é bom ficar com os dois olhos abertos.

    Problemas num lugar inóspito

    – Mayday… mayday… mayday… Perdemos a turbina… Iniciando procedimento de emergência!

    Caímos!

    Antes que o avião tocasse o solo consegui fazer minha transformação em névoa, mas Julian, o piloto e o copiloto não tiveram a mesma sorte. Alguns destroços se espalharam num rastro misturados a galhos, vegetais e alguns pedaços de corpos e vísceras.

    Chamei por Julian e a sensação de proximidade com outro sobrenatural era muito fraca, quase imperceptível. Mesmo assim persisti e com a ajuda de alguns pontos de incêndio cheguei ao local onde a parte maior da aeronave estava. Junto a ela mais pedaços da fuselagem, misturados a restos animais e em próximo do que parecia ser uma poltrona estava o corpo de Julian bastante contorcido e quebrado. Ao menos inteiro.

    – Hey, consegue me ouvir? –  Tentei por uma, duas, três vezes e não tive retorno. Fiz o que me era possível, improvisei uma maca, posicionei seu corpo de tal forma que me parecia o jeito mais correto e fui atrás de sangue.

  • Status quo vampiro: intro – pt1

    Status quo vampiro: intro – pt1

    Nos últimos anos eu tenho passado muito tempo na fazenda. Certamente, foi o local onde a Pepe e eu nos sentimos mais confortáveis em passar um tempo, em especial ao longo da pandemia. Nela, guardamos nossos bens mais preciosos, os anciões hibernam no subterrâneo e há espaço suficiente para a prática de nossos poderes.

    Inclusive, muitos dos aprendizados da Pepe tem ocorrido em meio as videiras, a conhecidíssima planta que gera a uva, no qual utilizamos uma parte para fazer vinho. Cabe aqui uma curiosidade! Tais garrafas por vezes nos servem como disfarce para meia dúzia de garras de sangue que sempre temos por perto para consumo próprio.

    Certamente, o vinho é um hobbie, tal qual o reflorestamento. Este que formou a floresta que cobre boa parte do restante das terras e serve de abrigo para animas dos mais variados como pumas, lobos, macacos… Biologia, era um interesse muito íntimo do barão, no qual ele colocou em prática em tais terras. Talvez por isso nossa intimidade com esse local.

    Outros espaços

    Além da fazenda, nós possuímos outros espaços ao redor do globo. Já falei aqui das fábricas, já falei de um pub ou outro e até de alguns apartamentos. Apesar deles, acho que nunca comentei de um lugar especial que fica na Europa e este, tal qual a fazenda merece um detalhamento, pois foi palco de uma aventura pouco antes da pandemia.

    Tal lugar é uma quadra em um centro urbano. Na parte acima da terra há prédios e comércios alugados e na parte do subsolo mantemos algumas garagens e salas fechadas para nosso uso. O lugar está longe de ser uma Bat Caverna, mas por lá existem algumas tecnologias, quartos confortáveis, no qual eu já utilizei no projeto “Escolhidos”. Lá também há alguns carros, motos e temos um certo acervo de armas e demais itens disponíveis conforme a necessidade.

    Como este local é estratégico, eu não vou nem mencionar o país, mas digamos que fica no hemisfério norte. Onde obviamente leva-se um tempo para se chegar vindo do Brasil. Outro detalhe superimportante é que ali em tal centro urbano há uma sociedade de vampiros mais organizada, então é um ponto bastante estratégico para o clã.

    Pois bem, aqui começa a introdução desta aventura. Algo que envolve bruxaria, magia e um vampiro amigo da época em que vivi em Berlin, chamado Julian. Este já foi o vampiro líder de Londres e depois de um tempo em tal função ele também tem se dedicado ao seu clã.

    Movimentando o status quo

    Semelhanças de gestão a parte, sempre nos identificamos e devido a proximidade de interesses e minha passagem pelo lugar, surgiu a oportunidade de trabalharmos juntos em algo que iria além de nossos clãs, algo focado na comunidade vampiresca. Tudo começou num papo em meus domínios com um membro dos regados, chamado Rudolf e aliado de Julian.

    – Sei que ambos os clãs namoram ideais anárquicos, mas apesar disso sempre estão conosco em temas coerentes, como a proteção aos anciões e a convivência harmônica com os outros seres. E é por isso que peço ajuda a vocês com relação há um grupo de radicais que buscam a supremacia vampírica e querem movimentar o status quo.

    Olhei para o Julian e soltei:

    – Meu grupo é pequeno, o de Julian não é tão diferente… não seria o caso de vocês pedirem apoio dos mais influente?

    – Esse é o problema meu jovem, esse grupo tem raízes na Europa, África e na américa do sul, estamos buscando alternativas para mitigar a influência deles nessas sociedades, haja vista, que percebemos membros dentro dos grandes clãs.

    – Sei, senhor… E o quanto aos recursos do Regrados vai estar em nossas mãos?

    – Aye, o que está em oferta pra gente se meter nisso, cara! – Apoiou-me Julian com seu sotaque típico de Yorkshire.

    – Fiquem tranquilos que a linha será aberta as necessidades dos senhores, naturalmente haverá benefícios em termos de visibilidade e território.

    Olhei para Julian e acenei em favor de tal empreitada. Pegamos mais detalhes e depois da saída de Rudolf, tratamos de montar uma estratégia.

  • Atualizações sobre o clã

    Atualizações sobre o clã

    Algum tempo atrás eu falei sobre o fato de estar em contato com o pessoal do clã. Todos praticamente juraram fidelidade novamente, salvo algumas exceções e mudanças de rota. Digo, mudança de rota, pois lealdade é diferente de fidelidade. Difícil explicar essas duas palavras separadamente, tanto no português como na ideologia, mas vamos aos fatos e quem sabe vocês entendam.

    Primeiro, gostaria de falar de quem vive e respira o clã junto de mim todas as noites: Franz, Pepe e H2. Nós quatro atualmente nos empenhamos em manter as estruturas, seguimos quase tudo aquilo que Georg nos solicitou e estamos 100% conectados. Salvo aqueles dias em que as necessidades individuais demandam atenção, mas o clã vem em primeiro lugar.

    Segundo, entro no papo dos leais, tal qual introduzi antes e não podem ter tanta fidelidade na hora que precisar. São eles Sebastian, Julie, Lilian e Rebecca. Todos eles estão numa fase de descobertas, vivem seus momentos e certamente estão mais empenhados em resolver seu destino. Apesar disso, como eu disse eles são leais e caso precisemos de algo podemos contar com eles esporadicamente.

    Terceiro, há aqueles que se tornaram “contatinhos” que é o caso do Hadrian e do Doutor. Não há muito o que falar sobre eles, apenas o fato de que possuem uma relação conosco. Talvez Hadrian no seu jeito mais curioso sobre o mundo e o Doutor… Como vou explicar o Dr.? Atualmente, ele é apenas alguém que espero não precisar ir atrás…

    Além do clã eu gostaria de lembrar…

    Esse é apenas um “update”, pois alguns de vocês me pediram: quem ainda faz parte do clã ou cadê o resto do pessoal que não aparece mais no site? Olha mancebo, o site é meu e as vezes a Pepe aparece por aqui, até mesmo a Lilian nos trouxe uma “história” esses dias… Então se contentem comigo aqui rss

    Sempre que possível eu mesmo escrevo ou peço para o pessoal mandar algo que tem feito. Na prática, resgatando o objetivo deste espaço: aqui vocês encontram histórias, contos e relatos sobre vampiros, bruxas e lobisomens. Geralmente, o que vos trago ocorreu comigo ou com esses que falei nos parágrafos anteriores.

    Por fim, muito do que acontece nas entrelinhas aqui do site é minha visão sobre o mundo sobrenatural, portanto. Portanto, pode ser que fatos, indivíduos ou locais sejam alterados para “melhorar” ou esconder dados reais. Nesse sentido se gosta do universo sobrenatural, temos bastante material, são mais de 700 artigos publicados, entre textos, VampiroCast e alguns FanArt.

  • Em resposta a Lilian

    Em resposta a Lilian

    Eis que os dias e noites passaram… Nesse meio tempo desde que fui possuído pelo espírito do Ari e com o tempo que passei junto da Pepe e seus treinamentos, eu comentei que teríamos uma reunião de clã. Bom, tal reunião serviria para ver quem ainda faz parte do clã e quem sabe renovar nossos laços de sangue.

    Apesar disso, tivemos de adiar. Lilian apareceu e trouxe novidades do seu sumiço. Sei que para ela e para quem leu, há uma pulga atrás da orelha quanto a sequência de nosso relacionamento. E nesse sentido resolvi trazer um pouco mais de detalhes. Inclusive, isso me fez tirar a poeira do equipamento e produzir um novo VampiroCast. Este aliás no qual vocês pode ouvir aqui em seguida ou continuar lendo, caso não seja possível nesse momento:

    Direito de resposta é o que chama? Talvez… mas tendo em vista que a Lilian abriu seu coração, como os humanos dizem. Resolvi fazer o mesmo…

    Vocês ainda não sabem tudo o que passei com Suellen, minha primeira esposa, pois obviamente isso está guardado a sete chaves e faz parte do final do Ilha da Magia, livro no qual devo terminar em breve. Sim, em breve!

    Mas o que isso tem a ver com a Lili e os dias atuais? Pois bem… Desde a época quando fui transformado, passando pelo meu casamento. Depois, teve a Julie, a Eleonor, a Beth, a Claire e até aquela jornalista meio doidinha que foi para o lado negro da força, se é possa chamar assim… Os meus relacionamentos têm sido tensos. Inclusive com a Lilian, que é o objetivo deste papo.

    Veja bem, alguém que está numa posição tal qual a minha, onde sou um vampiro. Onde enfrento todas as noites as consequências de ter sido transformado nisso, digamos que não posso me dar ao luxo ou pelo menos não me sinto confortável em ter um relacionamento, assim tão fixo.

    O mundo mudou sabe, mesmo nós não temos mais a pressão que existia antigamente para se casar e viver junto para sempre. No que diz respeito aos vampiros esse para sempre é muito longo, sabe?

    Enfim, numa noite dessas eu falei com a Lili, expliquei isso e acho que ela entendeu. Mais do que isso estou num momento de revisão de parcerias, nosso clã passa por uma fase de renovação de aliados. Alguns negócios e fabricas passaram por transformações em função da pandemia e isso toma muito tempo de mim.

    Acho que a pressão e o stress do momento tiram esse lance da minha cabeça… E seria mais uma pressão minha de não querer nada sério com ninguém agora em termos de relacionamento.

    Quem sabe, mais para o futuro quando toda a poeira desse movimento passar? Temos a vida eterna babe e se tiver que ser, será! Como diz o ditado…

    Fora isso, tô aqui na luta indo atrás de cada um do clã, na expectativa de que eles me deem boas notícias nas próximas noites.

  • Mente sã. Final – Perdendo o controle.

    Mente sã. Final – Perdendo o controle.

    Naquele exato momento eu vi um Ferdinand ir de surpreso ou tenso para sem palavras e nesse instante vi a chance de finalmente falar o que faltava. O vampiro na minha frente ficou sem reação e parecia esperar eu me explicar, mesmo que ele estivesse recebendo um golpe na garganta, Ferdinand pacientemente esperou cada palavra sair da minha boca como um golpe em seu ser.

    – Por anos eu achei que eu amava alguém e me apeguei nisso, enquanto tentava reconstruir minha vida na imortalidade. Todo esse tempo entre idas e vindas, batalhas, encontros e aprendizados eu vi que eu estava apenas me apegando em algo que na verdade não condizia com o que eu sentia até você aparecer… Eu tinha tanta certeza de tudo Fê… Eu achava que tinha tudo sobre controle e então eu te encontrei, ou melhor, fui encontrada por você e naquele instante eu tive que aprender a guardar algo que nem eu mesma entendia e hoje, depois de tanto tempo eu entendi, não era apenas admiração por você, eu comecei a sentir algo a mais com cada gesto seu, com cada ensinamento e com cada demonstração de carinho tua.

    – Lili eu…

    – Deixa-me terminar por favor, talvez eu nunca mais consiga falar tudo, então me deixa só terminar…

    Parecia que eu estava sendo rasgada de dentro pra fora, por um instante me senti humana de novo e vi aquela Lilian ainda menina, inocente e convicta que um dia iria casar, ter filhos e um marido carinhoso, ressurgir com um pingo de esperança brotando no meu íntimo.

    – Eu percebi naquele tempo que eu estava começando a sentir ciúmes de você com suas parceiras e não entendia o porquê. Pensava o que faltava em mim, o que na verdade nunca faltou nada além da coragem de aceitar o que eu estava sentindo por você. Como eu tentei afastar isso de mim, eu juro que eu tentei, você sabe muito bem como sou teimosa quando eu quero. A merda é que com você eu não consigo e me afastar por todo esse tempo foi pra ver se eu conseguia esquecer você e o sentimento que estava surgindo. Te garanto que não foi fácil, não está sendo fácil na verdade.

    Aqueles olhos azuis estavam em um tornado de emoções, eu conseguia ver, acho que em tantos séculos na vida desse vampiro, ninguém nunca falou algo tão direto, tão profundo que o deixasse sem palavras.

    – Fê, eu não estou te pedindo pra me amar e nem aceitar o que eu sinto, mas sim para saber o que meus sentimentos reais por você. Eu mesma desconhecia isso tudo até pouco tempo atrás quando foi insuportável não falar mais com você. Claro que eu sentia falta de alguns membros do teu clã, não todos, mas alguns, porém nenhum deles superava a falta que eu sentia de você.

    Se eu fosse humana ainda, provavelmente eu iria estar com o peito apertado querendo sumir dali correndo, só que a realidade era outra, sou uma vampira que já enfrentou batalhas, se machucou, se decepcionou e finalmente em meio à confusão da imortalidade achou alguém que fez tudo ser mais leve, mesmo não sendo meu, ele tinha esse dom. Como você tem esse dom e nem se dá conta às vezes.

    Não contamos tim tim por tim tim por aqui, porque são tantas coisas e detalhes que devem ser guardados, que o trivial basta. Escrever tudo isso e relembrar aquela noite em que finalmente me declarei para o Ferdinand me fez perceber que nem todo tempo do mundo afastada dele, valeria a pena ou mudaria algo dentro de mim.

    Seria em vão.

    Ele permitiu que essa história fosse publicada e eu permiti expor um sentimento que para alguns é algo inalcançável e que pra mim agora é uma realidade talvez solitária. Aquela noite eu me lembro como se fosse ontem; vi um vampiro experiente perder as palavras e ficar sem reação, porque afinal se nem eu mesma havia entendido antes de me afastar, quem dirá ele. Ficamos sentados ali naquele cantinho escuro com uma vela iluminando o que parecia uma eternidade de dúvidas em nosso breve silêncio.

    Eu senti um peso saindo das costas e outro entrando, porque no fundo eu sabia que talvez nunca fosse correspondida.

    – Eu não sei o que falar Lili…(pensativo) você realmente me pegou de surpresa como ninguém jamais o fez em anos…

    – Eu sei Fê… Eu mesma não entendia até pouco tempo.

    – Olha eu preciso processar tudo isso, é algo de mais pra mim agora…

     – Relaxa, eu entendo Fê, não estou te pedindo nada, apenas estou colocando as cartas na mesa.

     – Sem essa! Eu não quero que tu sumas de novo por conta disso! São muitos sentimentos juntos, sabe? É u preciso processar… Não me olha assim…

    Ele precisava entender, assim como eu precisei e naquele instante eu apenas fiz o que me foi o mais correto, me levantei, fui até ele e dei um beijo em sua testa e ele me olhou como quem se desculpasse, segurando minha mão não me deixando ir.

    – Quando você souber Fê, sabes bem como me encontrar. Por hora saiba que tens alguém que vai estar sempre aqui por você.

    Me doeu ir embora, assim como por uma última vez olhar para o rosto de quem me fazia sentir uma mistura de sentimentos e que eu sabia que me faria sentir mais uma vez a tal saudade brotar no meu peito. Ligar meu carro nunca foi tão difícil como naquela noite que fui embora deixando ele sentado e pensativo, digerindo tudo o que eu havia exposto. Em toda a minha existência eu nunca, como humana e imortal, jamais havia derramado meu coração assim para alguém como eu o fiz para o Ferdinand.

    Não importa quantos venham, quantas vão ou quanto tempo leve, se for para aparecer o amor dessa forma na nossa vida, ele vai vir e vai ser de uma vez só. Se algum dia as coisas mudarem e você, Ferdinand, sentir algo assim por mim, eu vou estar naquela velha mesa de bar sob a luz fraca ou de velas, te esperando.

    Tudo pode mudar noite a noite.

    Ass: Lilian.

  • Mente sã. Parte II – Olhos azuis.

    Mente sã. Parte II – Olhos azuis.

    A tal noite chegou e eu quando dirigia até o encontro, ficava repassando na minha cabeça o que eu iria dizer para o Fê e sinceramente eu não sei como, eu sentia um frio na barriga sem saber o que esperar da reação dele. Por mais irônico que fosse, combinamos de nos encontrar no mesmo bar que nos conhecemos pela primeira vez e aquilo por si só já me fez recordar noites não tão distantes e a ansiedade bateu me fazendo perder um pouco da coragem por um breve momento.

    Meu bom e velho Dodge estacionado e eu segui para a calçada do bar com minhas botas de cowboy, calça de couro, top e as várias tatuagens cobrindo parte do meu corpo como tradicionalmente me conhecem, me aproximando daquele local, obviamente sentindo a presença do vampiro que me fazia falta no “dia-a-dia”.

    Lá estava ele, sentado em um banquinho de frente para o bar e uma loira dando em cima dele, para variar. Eu me aproximei e vi que o Fê estava tentando educadamente afastar a moça que insistentemente queria ficar ali, porém logo desistiu pois percebeu que não iria dar nenhum fruto as cantadas dela. Força guerreira! Você vai achar alguém que caia nas suas cantadas de merda.

    Aquela camisa xadrez vermelha e preta, jeans rasgado, coturno, as tatuagens e sim, aquele sorriso que surgiu quando me viu aproximar. Por um instante eu não sabia mais como agir e ele na sua sabedoria de séculos e com um gesto carinhoso me deu um abraço que eu não sabia que sentia tanta falta. O cheiro dele continuava o mesmo, madeira e wiskey, um pouquinho de sangue talvez?

    – Cabelo preto Lili? Voltou aos velhos hábitos?

    Minha reação foi sorrir e confirmar que é sempre bom tentar voltar ao original. Ele como sempre fez uma piada e sentamos em uma parte mais afastada do bar, um local quase exclusivo para aquele momento. Eu como sempre acendi um cigarro para começar a conversa.

    – Vejo que continua destruindo corações Fê.

    – Pode até ser Lili, mas hoje minha intenção não é destruir corações… Queria te ver e saber o porquê saísse por aí e entrou no modo OFF por tanto tempo.

    Pra ser sincera naquele momento eu não sabia se eu conseguiria falar tudo mas achei que deveria começar pelo começo e ele como sempre, estava prestando atenção e com os pensamentos a mil, eu conseguia ver isso nos olhos azuis cortantes dele.

    – Sabe quando você precisa desligar um pouco a mente? Colocar os pensamentos em dia e talvez se reconectar consigo mesmo?

    Como se ele lesse a minha mente o vampiro levantou uma das sobrancelhas indicando que sabia que não era apenas isso. No fundo o Fê sempre suspeitou de algo que nem eu ou ele entendia ou não havia percebido, mas mesmo assim me deixou dizer o começo para de alguma forma eu criar coragem para falar além do óbvio.

    – Sei sim, mas acredito que não foi só isso, não é mesmo senhorita?

    – Não Fê, não foi apenas isso…

     – Lili, você pode confiar em mim e me contar o que realmente estava ou tá pegando. Eu não vou te julgar e muito menos te menosprezar. Sabes que eu jamais faria isso, ainda mais com você…

    Eu não conseguia desviar meu olhar dele, era impossível, o Ferdinand tem o dom de prender a atenção e ele sabe disso. Como sabe…

    Me ajeitei na cadeira tentando de alguma forma me sentir confortável pois, na verdade eu não estava. Sei que conheço ele faz algum tempo, só que nesse exato momento e depois de sumir por tanto tempo eu estava com receio, me faltavam palavras.

    – Eu precisava me afastar Fê… Eu me sentia sufocada, me sentia sendo julgada por coisas que eu não tinha culpa e comecei a entender alguns sentimentos que por estes anos eu sinceramente tentei fugir e bloquear em mim…

    – E você conseguiu ter sucesso em algum dos teus desafios?

    Por vezes naquele instante eu pensei em mentir. Será que valia a pena adiar mais um pouco? Ferdinand tinha os olhos fixos em mim, parecia ler minha mente e sua face antes mais rígida e em dúvida sobre o que eu estava falando, agora ficava leve me fazendo criar um pingo de coragem para finalmente desabafar tudo de uma vez e tirando do peito os anos de tanta solidão proposital.

    – Em alguns sim… Eu consegui me afastar das redes sociais, ajeitar tudo na Ordem, arrumar minha casa, ter um bom tempo pra mim mesma, ler alguns livros que estavam parados na estante e “respirar” um pouco mais aliviada…

    – Só isso Lili? Não tem mais nada? Eu estou aqui, confie em mim…

    Tem Ferdinand e eu fui me dar conta tarde demais ou talvez não. A verdade que eu não sabia é que o que era improvável, vir a ser real me derrubando com tudo no dia que vi o quanto você ama a Eleonor… Sim, por estes anos eu percebi que eu queria estar no lugar dela, me destruindo por dentro quando na minha solidão pelas noites a cavalo eu me pegava entre os “talvez” daquela realidade.

    – Não Fê, não era só isso… Teve um detalhe que eu não consegui vencer, por mais que eu tentasse por todo esse tempo.

     – E qual foi?

    – Esquecer você.

  • Mente sã. Parte I – O tempo acabou.

    Mente sã. Parte I – O tempo acabou.

    Faz um bom tempo que não pensava em escrever e aqui estou. Alguns anos se passaram e eu me afastei, porque afinal e apesar de ser imortal, eu preciso de sanidade mental, detalhe que durante minha curta estadia no Wampir por vezes foi testada. Mas é a “vida”, não é?

    Além de me afastar dessa vida virtual eu infelizmente me afastei também do dono desse universo, o Ferdinand e não foi porque eu simplesmente cansei dele, nada disso, eu precisava de um tempo longe dessa realidade e sinceramente, senti falta desse cara, porém, me mantive no meu canto longe da civilização curtindo a vida no campo sem lembrar que existia uma vida lá fora. Meus companheiros foram as noites a beira da lareira fumando um cigarro, tomando uma taça de “vinho”, wiskey, lendo algum bom livro, caminhando por entre os campos na companhia do Ghost, meu adorado cavalo, sendo antissocial e reorganizando a minha imortalidade. A minha sanidade e coração.

    Por estes dias enquanto eu olhava para meu velho celular decidindo se iria ou não retornar, me peguei sentindo saudades dele, sim desse vampiro que todas suspiram… Não somente dele, de alguns do clã do Ferdinand também, porém ele é quem mais me fazia falta. Nunca falamos muito sobre a nossa relação na época em que eu escrevia e era ativa nas redes sociais porque era algo novo para ambos e eu sinceramente não sabia o que sentia por ele. Depois desse tempo todo eu senti falta dele, das longas conversas, dos conselhos, das risadas, do fato que só ele e somente ele em pouco tempo comigo, sabia exatamente o que eu estava sentindo, era olhar para mim que o Ferdinand já sabia como conduzir a conversa.

    Foi então que esse meu estalo de saudade me fez ligar aquele bendito aparelho e ver se tinha algo relacionado ao clã do Fê, ou até mesmo dele… Sabe como é, a esperança é a última que morre. Quando liguei aquele mesmo velho aparelho com o mesmo número de anos atrás eu vi as mensagens dele e uma mistura de sentimentos me transbordaram e a confusão de tanto tempo me fez realizar, a merda que era sentir falta daquele sorriso, dos conselhos, dos abraços que só ele sabia me dar me apertando em seu peito, me fazendo esquecer o que estava me engasgando, ele sabia lidar comigo até melhor que o Trevor. Tempos atrás eu percebi o óbvio. Como eu gosto desse cara… Que raiva. Mistura de sentimentos e medo, saca? Temos medo também e não é da morte não, nem de longe, o medo que sufoca é aquele chamado sentimentos não correspondidos. É uma bosta bem grande.

    Tinham tantas mensagens, algumas querendo saber onde eu estava, como eu estava, mas uma me chamou atenção e foi aí que pensei “Preciso encontrar ele”.

    “Lili, eu não sei o que anda acontecendo, mas não fica nesse casulo pra sempre, cara. Quando quiser me encontrar chama ai e vamos colocar nosso papo em dia. Entendo seu sumiço, mas não entendo o real motivo. Kusses, Ferdinand.”

    Me afastei da Ordem, me afastei de tudo e tive um tempo comigo mesma, coisa que nunca fiz desde que me tornei vampira, talvez não tenha feito isso nem quando era humana e agora aqui por estes dias me dei o presente da paz de “espírito”. O Trevor e eu não estávamos mais juntos e sinceramente eu o amo mais como o meu parceiro do que qualquer coisa romântica, era algo de gratidão que sentia e por vezes confundi com o amor. São experiências que passamos e aprendemos com o tempo, por mais que demore. Os outros casos que tive tornaram-se boas lembranças.

    Enfim, depois de ler todas mensagens e essa em especial, criei vergonha na cara, troquei o aparelho velho por um novo e segui com o mesmo número, retomando contato com alguns membros do clã do Fê, como minha querida Becky, como eu gosto dela cara, sempre me aceitou de braços abertos, ficando extremamente chateada com minha ausência, mas no fim, entendendo os meus motivos e me dando total apoio para o que eu iria fazer.

    “Não importa o que aconteça Lili, eu vou estar aqui para te apoiar.”

    Depois de um dia com o retorno do aparelho celular nas mãos e me atualizando de algumas coisas eu criei coragem e finalmente mandei mensagem para o cara do sorriso que me destruía.

    F.O.D.A.

    “Oi Fê, tudo bem? Que tal nos encontrarmos e eu te conto o motivo?”

    “Finalmente! Saiu da toca Lili? Me fala onde e a hora, que vou pra lá. 😊”

  • De volta aos treinamentos da Pepe

    De volta aos treinamentos da Pepe

    Passados os perrengues que enfrentei tentando me libertar de um espírito. Veio um tempo de tranquilidade. Carlos, Vera e Jaciara voltaram para suas rotinas. Eles me proporcionaram momentos inesquecíveis e Carlos aproveitou para levar algumas caixas com coisas que eu havia guardado do sítio dos nossos pais. Fora isso, não tive mais sonhos nem contato com Ari e pude retomar os treinamentos da Pepe.

    Algumas noites e dias se passaram, até que Pepe me veio com um pedido inusitado de aprendizado:

    – Hey Fe, já vi contigo o lance da névoa, a parada da terra e aí, quando que eu vou poder falar com os bichos ou me transformar em algo tipo os lobos, ou gatinhos fofos que você e resto do pessoal consegue?

    – Humm (pensativo) Os últimos dias te impactaram ne? Acho que é um bom momento viu… Preciso praticar um pouco também e todo esse lance de matilha que vivi com meu irmão nos últimos meses, me motivou a retomar as rédeas do nosso clã…

    – Perfect, quando começamos?

    – Deixa eu pegar uma bermuda e uma camiseta… Me encontra lá perto dos cavalos as 21 horas.

    Fui cuidar dos negócios

    Troquei-me, fiz alguns contatos que precisavam da minha atenção e fui para o estábulo. Chegando lá fui criando um clima para minha cria.

    – E ai algum deles chamou tua atenção?

    – Nem sei, sentei aqui e fiquei lendo as noticias no celular.

    – Pow mas tens que prestar a atenção ao sinais “filha”… Olha o Appaloosa ali, ele tá entediado e louco pra fugir a noite.

    – Apa, o que? Ah o Dalmata, digo o Pintado, ne?

    – Isso isso (risos). Olha o Príncipe, esse preto ali, ele tá excitado, por exemplo.

    – Como você sabe disso?

    – Cara, olha embaixo do cavalo!

    – Pqp, que desnecessário…

    –  Enfim, vamos lá…

    Aproximei-me do “pintado” e perguntei mentalmente como foi o dia. Ele respondeu que foi entediante e continua sendo. Que tem cavalgado pouco e queria sair mais. Então, falei que resolveríamos isso e o preparei para um passeio noturno.

    A primeira tentativa da Pepe

    – Falei que ele tá entediado, ne? Bom vamos lá fora com ele. Quer cavalgar um pouco?

    – Pode ser!

    – Mas antes, vem cá… quer cortar teu braço ou morder? Preciso que dê um pouco do teu sangue pra ele lamber, pode ser apenas algumas gotas.

    Pepe, por ser uma vampira nova, ainda possui a pele mais grossa e anda com um canivete afiadíssimo no bolso. Ela o pegou e fez um corte pequeno no pulso, perto de uma cicatriz.

    – Aff isso sempre me incomoda!

    – Relaxa, com o tempo você se acostuma.

    Em seguida, ela deu um pouco do seu sangue para o cavalo, que de imediato deu umas tossidas, balançou a cabeça e me disse mentalmente: “Hoje a noite vai ser boa!”.

    – Hey ouviu algo?

    – Hum não, mas sinto alguma proximidade com ele, como se fosse um carinho maior, manja?

    – Sei dona Pepe, normal… Vai lá da uma cavalgada com ele. Ah e o mais importante, quando estiverem por aí, imagina essa ligação com ele. Pensa em como ele se sente. No que ele deve estar pensando… tenta de alguma forma se conectar e falar com ele mentalmente, telepaticamente. Sem pressa, ao teu tempo!

    E lá foi ela por algumas trilhas, ficou algo em torno de 2h horas vagando. Perto da meia noite ela veio até o escritório e soltou:

    – Então, foi divertido, cara! Em alguns momentos eu me senti, tipo, com uma ligação maior com o Pintado. Sei lá, algumas vezes apareciam pensamentos diferentes na minha cabeça e eu estava feliz por estar ali correndo… sabe?

    – Ótimo minha querida, já começou acontecer e provavelmente a felicidade de correr livre e tal era o Pintado te falando. Pratica por mais algumas noites, cria esse vínculo com ele, que em breve a telepatia vai rolar.

    – Tá e o lance de virar lobo, felino e tal?

    – Calma, uma coisa de cada vez. O primeiro passo é entender os animais, “falar” com eles, depois treinamos a animalidade e vemos se você consegue controlar a sua…

  • Espírito: descarrego – final

    Espírito: descarrego – final

    Salvo algumas impressões iniciais e a intenção de que seria necessário fazer um descarrego em mim. Jaciara se mostrou uma pessoa/lobisomem bastante seca e concentrada. Sabe daquelas que não riem com qualquer piadinha e que não entram em discussões se não for para bater o martelo?

    Teimosias e jeito ríspido a parte, deixei ela com Carlos e Vera. Eles aproveitaram para pôr o papo em dia e eu resolvi me concentrar nos negócios. Apesar do espírito, estando ele agarrado em mim ou não, o mundo continua a girar.

    Liguei para Franz, que estava pelos EUA, não comentei nada sobre o descarrego ou possessões espirituais. Apesar disso, ele deve ter sentido meu tom de voz diferente e perguntou se estava tudo bem. Fugi do assunto e foquei no que precisava falar:

    – Sabe que daqui umas noites vamos ter aquele encontro do nosso clã?

    – Sei… (pausa dramática) tu ainda queres acordar a Audny, por causa do pedido do Georg, ou já superamos isso?

    – Eu fico com o pé atrás de não seguir o que ele tinha deixado proposto pra gente, mas só rola não fazer isso se for uma decisão conjunta do clã.

    – Nós dois tu queres dizer? Nenhum dos outros, nem o Sebastian está mais focado no clã.

    – Olha é um papo que podemos ter, quem ainda faz parte do clã? Você, eu… H2 e a Pepe. Sebastian e os outros tão fazendo o que de importante que as vezes nem respondem mensagens de “oi”?

    – Tá entendi maninho, é um papo pra colocar o pau na mesa e falar quem manda nessa porra?

    – Caralho, não Franz… é pra ver se a gente se une em prol de algo de novo. Senão eu sinto que só cuido dos velhos, das fábricas e do dinheiro. E todo o resto? Eu passei os últimos tempos com o Carlos, sabe o meu irmão? A matilha deles é super unida… (fui interrompido por ele)

    – Puta que pariu, vai vir de novo com esse lance de matilha, as merdas que os peludos fazem e tudo mais, brother?

    – Não cara, eu tô puto de fazer tudo sozinho, você tá me ajudando mais com as reuniões, a Pepe e o H2 também, mas e os outros?

    – Tá entendi. Nos falamos em breve então… não precisa de mais nada mesmo?

    – Não! Nos falamos em breve!

    Foi uma despedida bastante seca da minha parte. Refutei a ajuda dele na questão do espírito e segui fazendo meus afazeres. Estava puto pela conversa, mas era algo que sondava minha cabeça e precisava por pra fora. Pensei em pegar uma motinho de trilha que tenho na fazendo e dar uma extravasada, mas ao sair do escritório fui surpreendido pela Jaciara.

    Que venha o descarrego

    A lobisomem estava com outra roupa, um vestidinho florido que realçava ainda mais seu corpo magro e atlético. Rolou uma troca de olhares, mas antes que eu pudesse me manifestar ela segurou meu braço esquerdo com a maior força que tinha e praticamente me arrastou pra fora de casa.

    No lado de fora Vera e Carlos nos aguardavam. Ao me ver Carlos foi logo. Me tranquilizando:

    – Pedi pra Jaciara te chamar, acho que ela entendeu “puxar”.

    Ela completou:

    – Achei que o vampiro ia se enrolar e quero terminar logo com isso.

    – Caralho moça, era só ter pedido que eu vinha – Desabafei meio puto.

    Vera preferiu ser objetiva também:

    – Pelo o que conversamos vai ser rápido. Trabalhoso, mas rápido. Por favor sente-se ali Ferdinand. Ali dentro daquele circulo – Apontou.

    – Segura essa caixa e essa tampa ai. Teu único trabalho vai ser fechar ela quando for o momento certo. Você vai saber quando – Falou Jaciara.

    Sem mais delongas eles começaram uma dança. Carlos começou a entoar um cântico ritual, algo do tipo “Hey hey hoaa… hey hey hoaa…” e foi seguido quase que de imediato pelas duas. Em determinado momento da dança eles tiram as roupas. Depois percebi que eles começaram a se transformar e em alguns instantes eu estava ali, rodeado por um Lican meio canino e duas com feições felinas.

    O sentimento de nervosismo ou de fúria surgiu em mim. Porém, não tive vontade de se transformar tal qual eles, era mais como se algo me incomodasse… como se houvesse algum órgão doendo… como se eu estivesse com cólicas… como se o espirito estivesse se revirando…

    Tal sensação se ampliou a ponto de eu querer me transformar… Sim, os meus genes Lican ferveram! Veio a vontade de pôr algo pra fora. Veio a vontade de virar uma besta feroz igual a todos ao meu redor! Transformei-me e uivei! Talvez tenha apavorado os Ghouls da fazenda.

    Dizem que um vampiro que possui genes Lican tal qual eu, se transforma em algo próximo das bestas Licans, talvez uma versão menor e mais dentuça. Talvez com asas de morcego ou feições próximas. Dizem! Sei que me senti próximo deles, dos seus rosnados e da suas danças.

    E o tempo passou devagar naquele transe, como se algo me controlasse e mais do que isso, como se o descarrego estivesse ocorrendo em mim. Instantes depois eu sabia que estava liberto. Entendi que eles me observavam e que ali seria o momento de fechar a caixa. Sem jeito, como se fosse um gigante manipulando uma miniatura eu o fiz. Prendi Ari, como os caça fantasmas fazem nos filmes e fiquei tranquilo. Calmo e pacato a ponto de relaxar e voltar a ter aparência humana.

    O calor dos nossos corpos fazia o sereno evaporar da gente. Nus, nos entreolhamos. Dei uma leve risada, lembrei do vídeo/meme da Jéssica e comentei.

    – Já acabou Jaciara?