Alguns minutos dentro de um táxi aéreo e lá estava eu novamente na maior metrópole brasileira. A descida em Congonhas foi tranquila, apesar dos fortes ventos que faziam na noite de quarta e sem mais detalhes peguei um taxi comum que me levou diretamente ao apartamento de Stephanie. Confesso que entre minhas idas e vindas pelas várias cidades que já viajei, São Paulo é um lugar no qual sempre fico com vontade de retornar e isso ajudou há amenizar um pouco meus problemas.
Eu havia visto Stephanie duas vezes e para não ter surpresas, resolvi fazer uma pequena varredura em sua vida antes de reencontrá-la em seu território. Ir atrás de alguém semi desconhecido em seu próprio “esconderijo” é sempre um problema, ainda mais tendo em vista a situação que se desenrolou depois que nos conhecemos e que ela descobriu meu segredo. Então eu tinha um perfil em minhas mãos: Pais separados e estudou em colégio particular a vida inteira inclusive na faculdade. Viúva, independente e felizmente nenhum problema grave que precisasse de minha atenção, se não uma filhinha de 3 anos.
Contudo surgiam ali as primeiras dúvidas: como ela descobriu que sou um vampiro? Hoje em dia poucos acreditam ou sabem que nós realmente existimos, será que ela teria o sangue dos puros ou estudava algum tipo de arte secreta? Será que nosso encontro não foi ao acaso como eu imaginava? Malditas dúvidas… Ela tinha mexido comigo, não seria fácil olhar naqueles lindos olhos amendoados e tirar sua vida, mas eu precisava proteger minha identidade e segredos.
Condomínio de luxo, num dos bairros nobres da cidade. O porteiro anunciou minha chegada, me pediu numero de identidade e, como sempre, tive de lhe dar um numero falso de algum documento que eu possuía naquele momento. Depois de alguns instantes, onde inclusive precisei tirar uma foto, ele finalmente me liberou para que eu subisse até o apartamento de Stephanie. Dentro do elevador existia uma maldita câmera e nos corredores eu tb estava sendo vigiado. Até havia pensado em me transformar em névoa e fazer uma entrada – digamos triunfal – no apartamento, mas em função dessa vigilância toda eu acabei entrando com a cara e na coragem.
Ao bater a porta ouço a voz de Stephanie que ao perceber minha chegada, diz um breve “Pode entrar amor!”. Sabe quando as pessoas te pegam de surpresa? Foi assim que me senti ao ouvir tais palavras tão simples, mas carregadíssimas de sentimento. Mal pude ocultar meu sorriso ao entrar em seu apartamento, mesmo dando de cara com ela segurando sua filhinha no colo. Dizem que às vezes o lado paterno bate forte nos homens. Bom, eu já havia tido este sentimento antes, mas naquele momento a situação foi um pouco diferente.
Ao me ver ela abriu um grande sorriso e veio em minha direção para dar um beijo. Seus lábios quentes tocaram os meus lábios gelados e inexplicavelmente eu havia esquecido momentaneamente o que havia me trazido até ali. Então ela fez sinal para eu me sentar no sofá e disse bem baixinho que ia colocar a filhinha para dormir. Naquele momento eu fiquei sentado no sofá e estava passando um desenho animado, aliás, fazia muito tempo que eu não via.
Toda aquela situação já havia fugido completamente a tudo que eu imaginara e então teria de improvisar. Fiquei aguardando até que a filhinha dela dormiu e depois que ela saiu do quarto veio toda cheia de sorrisos para cima de mim. Na verdade confesso que tentei iniciar um
diálogo, mas ao estar a um palmo daquela boquinha eu não resisti e me entreguei em um beijo, que levou a um abraço e que terminou conosco na cama em menos de 5 min. Depois de algum tempo a diferença de temperatura entre nossos corpos já não existia mais, aliás a cumplicidade e reciprocidade que nos envolvera durante aquelas poucas horas me dava a impressão de nossos corpos eram um só.
Já na madrugada, iniciamos o momento “D.R.” e dentre todas as coisas que ela me disse o que mais me chamou atenção: O fato de que ela já era minha leitora do blog antes de me conhecer. Na verdade ela insiste até hoje que o nosso encontro na virada foi algo do destino, porém por via das dúvidas ela ainda precisará passar por muitas aprovações para entrar por completo no meu mundo. Sim povo, depois que Stephanie soube de tudo tive de lhe dar 3 opções: Virar minha dependente; ser transformada em uma vampira; E a pior de todas que seria ter de tirar sua vida.
Na verdade não lhe dei escolhas e diante de tudo que havia acontecido a melhor opção sem sombra de dúvidas foi lhe dar meu sangue, transformando-a em minha dependente. Uma pessoa que apenas recebe o sangue de um vampiro sem que antes seja mordida ou que passe pelo ritual vira uma dependente. Nesse estado a pessoa adquire um vinculo muito forte com o vampiro que lhe doou o sangue e praticamente se torna incapaz de lhe fazer qualquer mal. Ela também pode adquirir alguns benefícios, como melhorias em sua vitalidade e às vezes até alguns “poderes”, dependendo do poder e força do sangue de seu doador.
Digamos que tentei amenizar ao máximo o trauma dela e fiz algo que detesto que é me cortar. A deixei no quarto e na cozinha passei rapidamente uma faca sobre meu pulso direito e derramei meu plasma em um copo. Quando enchi meio copo procurei algo para estancar parcialmente o sangue e com alguns guardanapos de papel fiz pressão até que boa parte fosse contida. Voltei então para o quarto, onde lhe entreguei meu sangue dizendo:
– Este é o verdadeiro sangue da nova e eterna aliança. Beba o quanto conseguires minha querida!
Mesmo depois de beber tudo sem pestanejar, eu ainda fiquei ressabiado com a facilidade que ela aceitava tudo o que eu lhe propunha. Afinal, quem não desconfiaria de tudo que aconteceu até aquele presente momento?
A sua reação, foram alguns enjoos, algumas ânsias e depois de uma profunda cólica ela se deitou ao meu lado onde literalmente apagou por alguns instantes. Na verdade todas as reações foram as mais normais e, pelo menos eu já tinha uma certeza, ela era humana.
Ela dormiu durante o restante daquela noite e inicio do outro dia. Quando instintivamente acordou com o choro de sua filhinha. Eu não havia dormido ainda e fiquei lhe observando durante todo o tempo. Na verdade não dormi durante todo aquele dia, onde lhe expliquei o que aconteceria com sua vida depois daquele momento e que agora ela precisaria tomar meu sangue pelo menos uma vez ao mês, caso contrário sofreria as consequências nefastas da abstinência.
Durante aquele dia a ajudei arrumar suas malas pegando o que fosse lhe ser mais útil e fiz o que julguei mais sensato: Viajamos para o refugio de meu clã que fica em algum lugar na América latina, onde minha irmã Eleonor nos aguardava.