Categoria: Histórias

Nesta seção você encontra historias, contos e relatos relacionados ao mundo real e sobrenatural. Verifique a indicação de faixa etária no início de cada texto.

  • Oração ao Cadáver Desconhecido

    Oração ao Cadáver Desconhecido

    Certa vez estive com o Doutor e numa das paredes no local onde estávamos, constava um quadrinho emoldurado de forma simples e neste havia escrita em letras de forma a Oração ao Cadáver Desconhecido:

    Ao curvar-te com a lâmina rija de teu bisturi sobre o cadáver desconhecido, lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas; cresceu embalado pela fé e esperança daquela que em seu seio o agasalhou, sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens; por certo amou e foi amado e sentiu saudades dos outros que partiram, acalentou um amanhã feliz e agora jaz na fria lousa, sem que por ele tivesse derramado uma lágrima sequer, sem que tivesse uma só prece. Seu nome só Deus o sabe; mas o destino inexorável deu-lhe o poder e a grandeza de servir a humanidade que por ele passou indiferente.

    Karl Rokitansky

    Anos mais tarde tal oração se tornou muito famosa entre os alunos das áreas da saúde…

  • Problemas na matilha – Parte 1

    Problemas na matilha – Parte 1

    Acordei pouco antes do sol nascer. Esfreguei os olhos. Espreguicei-me. Demorei um pouco para se levantar, haja vista o cansaço da noite anterior em meio as andanças com meu irmão vampiro, Ferdinand.

    O cheiro de café fresco era evidente e forneceu o estímulo necessário para que o me arrumasse, lavasse o rosto e fosse até nossa cozinha coletiva. Lá chegando, apenas Vera estava de pé e montava nosso desjejum.

    – Você e tua pontualidade, dona Vera!

    – Acordar cedo faz bem pra pele…

    – Ahh para tu não precisas disso, nem parece que chegou no teu segundo centenário… opa desculpa, mulheres não gostam falar de idade.

    – Relaxa e se senta aí, me conta de ontem. Vi que chegou umas três e poucos, tudo bem com aquele outro lá?

    – Ferdinand? Sim, meu irmão vive aprontando, mas a vida segue.

    – Sei (pausa dramática)

    – Já falei com vocês sobre isso e nossa relação com ele(es)… Se fossemos mais próximos muitos problemas serão resolvidos.

    – Se toca, Carlos! A grande causa dos nossos problemas são aqueles noturnos e sua sociedade que controlar tudo e todos.

    – Porra Vera já de manhã cedo com esse papo, me deixa tomar esse café em paz, vai.

    Depois desse breve “Bom dia” tomei meu café e parti para os trabalhos em nossa aldeia. Recebi algumas reclamações de invasões de um pedaço de terra por alguns garimpeiros. Noutro ponto um grupo de índios estava acampado perto de um ritual para um ritual mensal e uma novata havia sumido fazia dois dias.

    E assim foi até o almoço onde novamente enfrentei o olhar furioso de Vera, além de alguns outros, que não estavam curtindo muito minha atuação como alfa. Tratei de levar o assunto da garota sumida a adiante e isso com certeza proporcionou um foco melhor para todas as ânsias acumuladas nos últimos meses.

    Montamos um grupo e depois de fazer digestão saímos em busca de pistas do paradeiro da garota. Uma nos disse que havia visto ela de mochila perto do rio, outro disse que ela andava estranha… Eu mesmo havia percebido que ela não estava muito integrada aos nossos ritos e deveres. Apesar disso, se ela topou ficar conosco, é nosso dever protegê-la.

    – Fala aí Carlos, como está lá com teu irmão, algum problema novo?

    – Tá de sacanagem, tu também Isaias? A Vera já me encheu o saco sobre isso logo cedo… Tudo certo, apesar dos pesares o Wampir que vocês esnobam é minha família, sangue do meu sangue e preciso tá junto dele também. Tivemos alguns tropeços, mas acho a vida segue. Agora vamos focar em rastrear a garota!

    Seguimos rio abaixo até chegarmos em uma clareira, lá geralmente há algumas canoas de uso coletivo e um deles estava faltando. Perto da margem algumas marcas de tênis, com tamanho próximo do que poderia ser o pé da garota.

    Se ela desceu o rio ou atravessou para outra margem, seria um problema, pois sairia do nosso território, adentrando uma reserva indígena, antes de chegar na cidade mais próxima.

    Decidimos voltar e planejar os próximos passos. Vera sugeriu uma busca pelo plano espiritual, quem sabe alguma alma tinha notícias dela. O que duvidei, pois a garota não era muito de ir para lá, apenas uma vez quando fizemos um rito coletivo.   

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  • A origem das linhagens

    A origem das linhagens

    A lenda da criação dos sobrenaturais segundo os Wairwulf.

    Naquela época todos os seres eram mais próximos dos Deuses, aqueles que haviam criado os céus, os planetas e as cinco forças conhecidas até então: ar: fogo, água, terra e energia.

    Dizem que a energia gerada pela vontade de se materializar dos Deuses impulsionou as demais forças e destes alinhamentos surgiram tudo o que conhecemos… Os seres deste plano evoluíram desde aquele princípio até o momento em que descobriram os erros e pecados.

    Todos os Deuses se comoveram com a destruição provocada por aqueles que eles chamavam de “pequenos seres”. Entre eles Dhan, a deusa responsável pela terra naquele momento, foi a que mais sentiu tais distúrbios, o que motivou uma das suas maiores criações: os primeiros guardiões deste planeta: os destemidos Wairwulf.

    Tais Guardiões protegeram as florestas, os mares e os animais inferiores ao longo de várias décadas, mas sua ascensão durou pouco. Quando um dos grupos descobriu o sabor da carne humana… Tal notícia se espalhou rapidamente por todos os cantos do globo… Dizem que Dhan chorou por 12 dias e que no início do décimo terceiro resolveu punir todos que viviam na terra.

    Esta punição se materializou para os viventes da terra na forma de mudanças climáticas e exterminou grande parte deles. Aqueles que sobreviveram, se misturaram geneticamente e isso originou as três linhagens que dominam a terra atualmente: Os Wairwulff, os Warlock e os Wampir

  • Xamanismo e os seres sobrenaturais

    Xamanismo e os seres sobrenaturais

    Eu fui um dos influenciadores que incentivaram o Ferdinand ir além do que é visto no cotidiano das cidades, florestas e mares. Esse papo é bem longo, mas digamos que tem início no princípio de abrir aquele famoso terceiro olho. Esse assunto sempre gera muitas perguntas ainda mais quando falo nos planos que circundam a terra.

    Alguns chamam isso de abertura do terceiro olho, outros de ascensão espiritual e tantos outros de viagem astral. Eu diria que é um pouco de tudo isso! Sim, pois a grande magia que existe no mundo foi despedaçada em diversos religiões e cultos. Cujo, conhecimento de cada uma destas migalhas, conseguimos a tão almejada coexistência com os mundos.

    Um dos cultos ou religião que mais trabalha esse envolvimento com os espíritos é o Xamanismo. Aliás, este é um assunto sempre muito relacionado aos licantropos. Por falar nisso, as crenças nos Wairwulff/lobisomens e nas bruxas são as mais antigas registradas no Brasil.

    Vampiros são coisa nova, agora se você perguntar pra qualquer velho principalmente de interior, pode crer que ele sabe uma história de fulano ou cicrano que fica doido e até uiva na lua cheia. Alguns inclusive falam que eles têm pacto com demônios, o que não é algo errôneo, na maioria das vezes.

    Voltando ao Xamanismo e pelo que pesquisei aqui, o Ferdinand já falou um pouco, mas acho que posso esclarecer um pouco mais, sendo eu um dos maiores praticantes em nossa família. É difícil resumir o xamanismo em poucas palavras, mas digamos que é um culto no qual acreditamos na união entre os mundos materiais e espirituais.

    Não convém aqui ir às entranhas de tais práticas, mesmo porque o Google fornece tal conhecimento hoje em dia, no entanto, é importante dizer que existem diversas ramificações e as mais populares são as disseminadas por tribos indígenas dos Estados Unidos ou da Sibéria.

    Eu, por exemplo, fui iniciado por um xamã dos Cherokee, o mesmo que também me iniciou em muitas práticas de licantropia e tudo mais que vocês possam imaginar relacionado a esses assuntos.

    Indicação de leitura sobre Xamanismo

    Outro ponto importante é que diferente do espiritismo, o xamanismo, nos ensina a conviver com os espíritos, invocá-los e muitas vezes utilizá-los a nosso favor. Caso queiram saber mais sobre o assunto recomendo livros de autores consagrados no assunto como Gladys Reichard, Christian Rätsch e Michael Harner.

    Mais histórias sobre mim

    Outro ponto que o Ferdinand sempre trás aqui são histórias práticas, algo que ele faz quando encontra “inimigos” ou seres que vão contra os seus caminhos. Nesse sentido e para não destoar muito dos posts dele. Vou tentar trazer um pouco das minha vivencias nos próximos artigos.

  • Lobisomens por aqui?

    Lobisomens por aqui?

    Oi me chamo Carlos, ao menos nos dias de hoje… Anos atrás usei o nome Alejandro, Diego e inclusive Juan me pareceu adequado em certos dias. Tudo isso, pois já vivi muitos anos, desde a época em que me chamavam de Adolf. Sou irmão do Ferdinand, mas diferente dele tive a oportunidade de ter meus dons Wairwulff ou Licantropos aflorados.

    Essa história teve início no século XIX, lá pelos meados da década de 1860, sim sou velho pacas meus caros. O vigor dos genes Wairwulff em meu sangue me mante firme e forte. Apesar de minha aparência já ser mais próxima dos caras e meia idade humanos.

    Os fios de cabelos brancos já despontam em várias áreas do meu corpo, incluso quando estou transformado em lobo ou naquela forma maior que chamamos de “besta”.

    Tal forma me é pouco utilizada ultimamente, apenas quando algo de ruim a faz necessária ou quando participo de rituais junto de minha alcateia. Sim, a história de termos um alfa, que nos lidera, moramos próximos numa “tribo” e tudo mais é muito próximo dos filmes e livros sobre lobisomens.

    Sobre a questão de ser um Wairwulff ela é hereditária e passa de pais ou mães para filhos e filhas. No meu caso veio pela família da minha mãe e pelo que soube, muitas gerações antes de min existiram sem que o gene se manifestasse. Apesar disso, todos sempre tiveram uma saúde acima da média e mesmo por aquelas épocas alguns antepassados nossos viveram como humanos e morreram perto dos 100 anos. Algo mega diferente para época!

    Sei que o Ferdinand, meu irmão, já contou um pouco sobre mim aqui, mas decidi aparecer um pouco mais, como neste artigo. Assim como ele, acho interessante o fato de termos um lugar para contar nossas histórias.

    Um breve tchau e até breve a todos que passarem por aqui. #UseMascara #VemVacina

  • Baile no Rio

    Baile no Rio

    Quando falo do Rio de Janeiro sempre vem a minha mente a primeira metrópole que conheci. Eu ainda era um vampiro novato quando cruzei tais terras pela primeira vez e aos olhos de alguém que na época possua apenas 26 anos, tudo me vislumbrou.

    Em muitos locais já havia energia elétrica, os bondes levavam as pessoas para todos os lados como fazem os metrôs atualmente e todo aquele movimento me deixou tonto. O movimento de pessoas a noite era muito maior que na minha doce Desterro e isso gerou muitas oportunidades, principalmente para saciar minha fome de sangue.

    Ficamos pouco em tais terras, apenas o tempo suficiente para que o navio que nos levaria para a Prússia aportasse por li. Apesar disso, voltei inúmeras vezes para a capital fluminense e como várias outras cidades pelo mundo a vi crescer e se modernizar.

    Noites atrás passei por ali e a cidade foi inclusive palco de mais uma história. Estava eu numa das comunidades da cidade, entre uns chegados que me chamavam de “Gringo”. Nos preparávamos para um baile, quando fui apresentado aquela que apelidei de “Bombom”. Haja vista que ao nos conhecermos ela trazia consigo duas caixas de bombons, doces que mataram a larica da geral.

    O papo sobre a pandemia foi o principal. Muitos estavam preocupados. Muitos debochavam que era apenas uma gripezinha e Bombom era do time dos afoitos, que apesar de estar entre muitos, usava máscara e tinha um tubinho de álcool em gel no sutiã. Eu, para me ambientar também estava de máscara e isso na verdade era ótimo, pois ajudava a esconder minhas presas, que diante as beldades que lá estavam, insistiam em se aflorar.

    Muitos corpos a mostra, muito suor, muita música, bebidas para os humanos e tentações para um vampiro pseudo europeu como eu. O baile no qual fomos durou a noite e meus parsas se empolgaram e tive uma noite de rei. Aliás. Franz ficou puto, quando soube que eu fui pra lá e não o chamei…

    Negócio é que a bebida faz os humanos saírem do normal e infelizmente na madrugada alguns brigaram, outros se xingaram… acho até que a briga foi por causa do uso de máscara, mas estava tão empolgado conversando com a Bombom, que relevei tudo de ruim que aconteceu até ali.

    Ao longo daquela madrugada fiquei com ela e entre uns amassos e outros os papos avançaram. Vocês sabem que adoro um probleminha. Tipo, não consigo saber de coisas como maus-tratos e ficar na minha. Soube que Bombom teve um filho quando tinha 16 anos e que o ex dela batia na criança quase sempre. Se não bastasse o cara era envolvido com jogo bicho e isso deixava Bombom sempre aflita e preocupada com a sua segurança e com a do filho.

    Acontece meus amigos, que eu estava no território deles. Um lugar com muitos olhos, smartphones e câmeras. Por mais que eu não quisesse fazer nada é sempre a confusão que vem até a mim (Matanza)… e lá pelas três da manhã apareceu o tal camarada junto de outros dois. Um chegou por trás e me deu uma paulada na cabeça, no chão eu fui chutado, pisoteado e pior não é isso. A Bombom também levou alguns sopapos do bando.

    Confesso que eu queria liberar as presas, a fúria bestial que já me ajudou em tantas outras vezes, mas resolvi apelar para as pistolas que sempre estão nos coldres nas minhas costas… Alguns tiros para o alto e foi aquela correria desatada ao som de vai malandra da Anitta (essa música ainda ta na minha cabeça)

    Minutos depois eu estava num beco, senti um pouco de sangue num dos braços e me afastei o máximo que pude do baile. Por onde eu andava, minha audição aguçada me mostrava os comentários de desaprovação feitos pelos locais e foi assim até que em meio a mata eu me transformei em morcego e voei de volta para o meu hotel.

    Fiquei com pena da Bombom, tentei contato com ela noites depois e nada, mas soube pelos continhos que ela estava bem, ao menos havia postado fotos de outro baile com umas amigas. O que fica disso tudo? Continuo achado o Rio uma cidade intrigante, da mesma forma que admiro os movimentos de São Paulo, Nova Iorque, Berlin… No fundo o vampiro aqui que é deslocado em todos esses lugares…

  • De quando quase virei pó

    De quando quase virei pó

    Naquele tempo o mundo começou a girar de uma forma diferente, a ascenção dos veículos distanciou os pobres dos ricos. As antigas luminárias a óleo deram lugar aos postes com lâmpadas elétricas e a confortável escuridão noturna fez surgir aquele clima Noir, onde já era possível identificar quase todo mundo que cruzava seu caminho sem precisar forçar a vista.

    Nem preciso dizer que isso afastou muitos vampiros das ruas e dificultou nossas empreitadas atrás de sangue humano. Então é necessário dizer que muitos de nós foram para as periferias e para o interior. Onde as tecnologias sempre demoram mais para chegar.

    Eu permaneci próximo dos meus negócios e isso me fez pagar um preço caríssimo. Ainda mais quando numa noite qualquer eu fui emboscado por um grupo de caçadores. Era uma noite onde eu saí de madruga de uma das fábricas, estava com os pensamentos concentrados nas rotinas diárias e caminhava em direção ao carro parado nos fundos.

    O frio daquela noite era incomum para época e os vidros estavam embaçados. Sem um sistema próprio para limpeza, eu passei meu próprio casaco e foi nesse instante que três brutamontes apareceram. Um deles jogou um líquido em mim, que de imediato me atordou, provavelmente uma água benta potente. Outro me colocou um saco escuro na cabeça e último me derrubou… Todos desceram o pau em mim até que apaguei.

    Acordei com o carro em movimento, ainda estava com o saco na cabeça e me sacudi. Imediatamente, percebi que estava bem amarrado e que estava entre dois caras de sangue quente. Resmunguei e logo veio uma coronhada na cabeça que me atordoou e fiquei quieto, fingido desmaio.

    Minutos mais tarde o carro parou, fui arrastado para dentro de um prédio e o pouco do chão de vi indicava um local afastado do centro. “Joga ele no porão” disse uma mulher. Na sequência fui levada para dentro de algum lugar e depois duas escadas fui largado no local que ela mandara.

    Já estava lúcido e percebi que não estava sozinho. Junto comigo havia pelo menos mais dois seres de sangue frio, provavelmente vampiros também e me manifestei:

    – Hey alguém sabe onde estamos?

    – Fica quieto, sempre que alguém aqui fala eles vêm dar um pau na gente. – Disse um deles.

    – Acho que estamos no porão de uma casa de campo. – Comentou o que perecia ser uma vampira.

    – Tudo bem vou tentar algo aqui no chão, se der certo volto pra resgatar vocês. – Sussurrei.

    Por sorte naquela época eram comuns os porões de terra batida, o que me permitiu o uso do meu poder de união com a terra. Concentrei-me e em pouco segundos estava naquele cantinho que por vezes me serviu de refúgio e abrigo. Movimentei-me e em seguida emergi há uma centena de metros de onde estava. O local parecia ser um campo aberto, próximo de uma pequena floresta, que foi onde me escondi e planejei os próximos passos.

    Meu carro estava estacionado aos fundos da casa, o que indicava que possivelmente lá também estava o porão onde fui deixado. A madrugada fria afastava os humanos da rua e uma luz em um dos cômodos indicava a possível localização daqueles que ainda estavam acordados.

    Sem armas, improvisei com alguns pedaços de madeira e andei rápido, porém sorrateiramente em direção ao meu carro. Chegando nele eu tinha a missão de girar algumas vezes a manivela na tentativa de que pegasse rápido ou atacar antes de ser atacado. Por mais que estive num local desconhecido e possivelmente diante de caçadores que possuíam água benta de verdade, eu fiz o mais adequado a meu ver e ataquei primeiro.

    Bem na verdade eu me escondi e fiz barulho para que vissem ao meu encontro. Dois saíram de imediato. Com o primeiro eu usei a madeira que tinha em mão e abri sua testa, o sangue jorrou e aquilo excitou meus caninos que afloraram na hora. Com o segundo eu nem pensei e me atraquei em sua garganta. Consegui beber alguns goles enquanto ele se debatia e fiz isso até que senti de raspão um tiro de arma de fogo. Joguei-me praticamente ao chão próximo do carro e era uma mulher com espingarda.

    Fiquei naquele cão e gato até que ela deu um próximo tiro que acertou um dos vidros do meu possante e precisou recarregar. Ela bem que tentou fechar a porta quando me aproximei e no enrosco caímos ao chão. Ela disse alguma coisa do tipo: “Sai de cima de mim em nome de…” acho que falou o nome de algum santo, mas foi oportunidade suficiente abocanhar sua pele fina e pôr em dia meu desjejum.

    Tudo se encaminhava, mas ainda havia um terceiro elemento que estava dormindo e acordou com nossa briga. Ele bem que tentou, mas um vampiro alimentado vale mais que 4 homens numa briga e foi fácil colocá-lo para dormir novamente.

    Com tudo resolvido desci no porão e libertei meus colegas da noite. Eram dois viajantes dos EUA, que haviam sido capturados em algum rolê turístico. Azar para mim e sorte para eles, como um deles disse. Mais azar ainda aqueles que nos atacaram e que viraram pó naquela noite

    Dei-lhe uma carona para o centro, onde trataram de programar seu retorno para a próxima noite. Eu voltei para a meu refúgio junto de Eleonor e Franz. Hoje essa história é vista como gozação por eles e para mim foi mais um dos momentos que me serviram de estímulo antes da hibernação. Se eu tivesse seguido naquele rumo certamente teria virado pó também.

  • Um pouco mais sobre a Helga

    Um pouco mais sobre a Helga

    Antes de falar sobre a Helga, eu só queria falar rapidinho do momento após nossa volta da festa em Berlin. Onde fiquei um tempo cuidando de Julie. A vampira passou dias e noites num pseudo coma, sendo alguns resmungos a única forma de interação que nos informava que ela ainda estava nesse plano. Apesar disso, cuidamos de seu corpo, inclusive resgatei alguns contatos da minha época de erudito da magia.

    Para minha tristeza eu não achei ou descobri nada de relevante que pudesse ser usado nela ou feito para ela. Então, ao longo de duas, quase três semanas minha rotina se restringiu ao quarto onde ela estava e aos locais onde guardamos as quinquilharias. Nem preciso dizer que cada um de nós, ao menos os mais velhos possuem lugares para tal fim?!

    Aproveitei o momento para acondicionar melhor alguns itens. Certo papeis estavam com indício de mofo. Em alguns tetos o mofo queria iniciar. Teve até um período entre um domingo e uma terça que fiquei direto acordado no subterrâneo. Nunca usei tanto aquela espátula pra arrancar massa corrida…

    O bom disso tudo é que encontrei uns materiais que vão dar sequencia ao livro Ilha da Magia. Também fiquei emocionado ao rever alguns itens que separei daqueles que já se foram, inclusive sobre alguém que falei pouco aqui: Helga

    Helga: minha primeira namorada

    Helga, foi minha primeira namorada, filha do prefeito de Desterro e se não fosse tudo o que ocorrera comigo, é provável que tivéssemos casado. Na real, não sei… Depois que nossos caminhos se separaram ela foi estudar medicina na Inglaterra, soube que foi apadrinhada por um doutor da época, que a queria mais como mulher do que aprendiz.

    É preciso dizer que naquela época as mulheres eram minoria extrema em cursos como medicina, direito e afins. Bem na verdade algumas poucas frequentavam tais meios em função do dinheiro de suas famílias ou, como no caso de Helga por apadrinhamentos repletos de segundas e terceiras intenções.

    Resumidamente, ela teve uma vida tranquila “para um humano”. Dedicou seu tempo cuidando dos outros e teve participação importante nos hospitais que cuidaram dos feridos da primeira guerra mundial. Soube que teve alguns namorados, mas nunca chegou a casar ou ter filhos.

    No final do Ilha da Magia a Helga retornará com mais detalhes, prometo!

  • Um encontro excêntrico e sádico

    Um encontro excêntrico e sádico

    Estava aflito, bem na verdade o que me incomodava era a o fato de estar atrasado para aquele encontro. Detesto depender do transporte público, ainda mais naquela época onde as estradas e os veículos eram muito precário.

    Apesar de tudo, cheguei 3 ou 4 minutos antes das 20 e por sorte restavam alguns poucos degrau até a o seu studio. Um lugar afastado do centro, ainda repleto de vizinhos, mas em virtude das paredes grossas e das fábricas ao redor havia certa privacidade.

    Nesta época nosso relacionamento era muito próximo e ainda havia aquela paixão pelos novos aprendizados entre aluno e professor. O Doutor, era frio, mas a forma como ele me falava, me encantava. Eu me sentia hipnotizado por seu jeito meticuloso e aquilo de certa forma confortava minha mente perturbada.

    Naquela época como falei aqui, eu passava por um momento difícil, onde inclusive assumi outra personalidade e nome. Acho que explosão, seria uma palavra adequada para aquele momento…

    Chá da tarde noite

    – Estás atrasado para nosso encontro!

    – Faltam uns minutos ainda, não?

    – Sabes que preso pela pontualidade! Sem mais…

    Diante aquela recepção eu apenas me sentei, baixei a cabeça e aguardei pelo roteiro daquela noite. Diante de nós havia uma mesa redonda, arrumada com uma tolha decorada com flores pintadas a mão. Sobre ela havia apenas uma sineta, que o doutor tocou exatamente as 20 horas.

    Depois de alguns segundos veio até nós um garoto seminu, de estatura baixa, com uma mordaça em sua boca tipo aqueles freios de cavalo. Ele usava uma cueca aparentemente nova de couro marrom e trazia em suas mãos duas seringas de metal.

    Seu corpo estava limpo, sem manchas ou sinais de machucados. Tão logo parou ao nosso lado, percebi que suas pupila estavam dilatadas o que indicava o uso de algum entorpecente ou até mesmo dos poderes do Doutor.

    – Nesta noite vamos estudar um pouco mais sobre o famoso tecido liquido, vulgarmente chamado de sangue, que sustenta nossas sobrevidas. Meu Assistente foi devidamente preparado…

    Diante disso, ele pediu para que o assistente ficasse de joelhos ao nosso lado e pusesse as seringas sobre a mesa. O Dr. pegou uma delas, injetou diretamente na aorta e sacou dali alguns mililitros. Ao remover a seringa o sangue espirrou e aquilo excitou meus caninos.

    Um encontro hematológico?

    Cuidadosamente ele pegou dois copinhos de shot de um dos bolsos e “serviu” igualmente ambos dizendo: “Deguste!”. Segui sua orientação a medida em que ele fazia o mesmo e falava:

    – Hummm, sinto pouca presença de elementos artificiais, deveras, sua alimentação é precária de cálcio, percebes isso meu pupilo?

    Pensativo, eu fiquei por um tempo. Até que ele terminou sua degustação e injetou a segunda seringa noutra parte do pescoço do mancebo. Novamente ao retirar a seringa o sangue se esvaiu, mas a quantidade geral não comprometia nenhuma função do rapaz, que continua seu torpor.

    Novamente experimentei e aguardei suas considerações…

    – Percebes desta vez alguma diferença? Na tua idade eu já sabia diferenciar todos os tipos sanguíneos. Alguns componentes e inclusive sua origem. Contudo, não te preocupes, sei que esta noite trará novos gostos ao teu paladar… Venha vamos para o porão, estou ansioso para rever meus instrumentos.

  • Uma festa com velhos conhecidos – 2 de 2

    Uma festa com velhos conhecidos – 2 de 2

    Depois de chegarmos a Berlin e de reencontrar velhos conhecidos como o “prefeito” vampiros da cidade, a noite ia-se. Julie chegou num momento propício e devido aos ocorridos que antecederam nosso encontro, resolvi lhe dar toda a minha atenção.

    • Falei com o pessoal e foi fácil achar vocês dois aqui, bem trivial eu diria…
    • Precisavas ter visto a chegada de Franz lá na torre do prefeito, parecia um new blood!
    • Deixa ele seu velho! Ele tá em casa…
    • Eu sei, eu sei, vem cá!

    Abracei e dei um longo beijo naquela conhecida boca de lábios quentes, que por tantas vezes me serviu de abrigo. Sim, quentes em função dos seu poderes infernais. Ferdinand, você já falou aqui sobre os infernalistas e sobre como teu clã é contra… Cara, essa história com ela é longa e tem um pouco mais de detalhes aqui.

    Ficamos mais um pouco juntos de Franz e suas tietes, mas depois de uma meia hora resolvemos nos atualizar em um outro canto.

    Acordei na cama que havia arrumado antes do encontro do prefeito e Julie não estava mais ali. Olhei para o relógio e estava na hora de me arrumar para a festa, mandei mensagem para todos e apenas Franz não retornou.

    Nos encontramos na recepção no horário combinado e partimos em uma limosine. Julie avisou que chegaria atrasada e Franz ainda não havia dado as caras, mesmo assim continuamos até a entrada do local do evento.

    Nem preciso dizer que estava puto novamente com o sumiço de Franz, pois se há algo que preso, são os compromissos sociais de nossa sociedade.

    Fomos recepcionados por uma bela vampira morena, com pele morena e jeito de new blood, que nos levou para um local indicado como VIPs. Lá estava o prefeito e um grupo de crias e puxa-sacos. Foi preciso muita paciência para aturar a piadinhas sobre os sul americanos, mas sempre que alguém ouvia falar o nome de nosso clã a coisa mudava de figura, alguns indo para o lado emocional e tantos outros querendo puxar um pouco de saco também.

    Tudo ocorreu conforme o planejado, fomos homenageados, fiz um discurso breve, ressaltando as parecerias comerciais, os laços de sangue e falei muito sobre meu amigo prefeito, afinal o evento era para comemorar sua longa jornada. Tantos outros fizeram o mesmo e depois de umas 4 ou 4h30 de evento recebi uma mensagem de Franz, que mentalmente disse: “Corre pro hotel, deu merda com a Julie!”

    Tudo estava tranquilo até…

    Chamei um Uber que depois de 40 minutos me deixou na portaria do hotelzinho. Pepe estava comigo, preferi deixar os letrados Sebastian e H2 no evento nos representando.

    Já no quarto Franz estava sentado numa cadeira olhado para a varanda e na cama inerte e coberta de sangue sujo, estava Julie.

    • Porra, o que vocês fizeram, cara?
    • Eu estava indo pra festa, mas ela me chamou no caminho, disse que não queria te incomodar e que precisava de ajuda. Marquei um lugar, era num desses guetos imundos e quando cheguei ela já estava assim no chão.
    • Já tentou dar sangue ou algo do tipo pra ela?
    • Não maninho, te chamei no caminho pra cá, chegamos faz pouco também…

    Pepe estava com cara de preocupada e eu provavelmente com a mais bosta de todas, ponderei por alguns instantes e procurei perfurações no corpo de Julie e não havia nada. O sangue sobre suas roupas não eram humanos, também não eram de animais conhecido, então o mínimo das artes forenses que tenho indicavam que ela estava envolvida em seu rolos infernais.

    Pedia para que Pepe cuidasse da limpeza e mesmo com 2 horas para o amanhecer fi para o lugar que ela havia sido encontrada junto de Franz. Nada, nenhum resquício de brigam arma ou de outro feridos. Ao que indicava ela havia sido deixada ali e o que aconteceu com ela ocorrera noutro local.

    Voltamos para o hotel. Pepe disse que Julie havia vomitado algo preto, quando a colocou no chuveiro, porém logo em seguida ela desmaiou de novo. Foi um dia tenso, entre períodos de uma febre mágica e momentos de delírio…

  • Uma festa com velhos conhecidos – 1 de 2

    Uma festa com velhos conhecidos – 1 de 2

    “Já preparei as escalas dos nossos voos e dando tudo certo estaremos em Berlin daqui duas noites. Alguma dúvida para tudo o que falei até agora?”

    Assim começou uma breve reunião de planejamento sobre nossa viajem a Alemanha. Todos do clã estavam animados, pois fazia tempo desde a última vez que havíamos ido juntos a um evento da sociedade vampiresca.

    – Vamos ficar nas terras do Barão? – Perguntou o afoito H2.

    – O antigo castelo ainda nos poderia servir de abrigo se não tivesse virado “Patrimônio da humanidade”, sem falar que aquele lugar atualmente só me trás lembranças ruins.

    – É apenas um castelo…

    – É um lugar amaldiçoado, uma hora eu te conto a história. – Interrompeu Franz.

    – Relaxa Franz, já superei quase tudo o que aconteceu por lá…

    Sebastian arrumava uma pequena mala com alguns livros para ler e desta vez iria sozinho, parece-me que o relacionamento com sua esposa havia acabado. Isso é papo para outro post

    Pepe também arrumava suas coisas e estava de fone de ouvidos. O que sempre me deixa puto quando preciso falar com ela

    Franz só foi com a roupa do corpo e ainda pediu para que eu colocasse seu smartphone em minha mochila.

    Obviamente chamei Lilian, Becky e Julie. Duvido que apareçam, mas como fazem parte do clã o convite se estendia a elas também.

    Bate-papo em dia e partimos… Como previsto chegamos lá umas 20h da noite e o ar frio do final de inverno nos esperava. Fomos com dois carros alugados para um hotel que mantenho por lá e que nos garante fácil acesso a de uma de nossas fábricas.

    No caminho muitos imigrantes e já é comum ver bairros inteiros de mulçumanos e suas vestimentas típicas, o que diferencia muito a cidade dos anos que moramos por lá.

    Falar de Berlin, me leva inevitavelmente a minha ex, me leva inevitavelmente a guerra Franco-Prussiana e nunca é fácil revisitar aqueles momentos. Muito sofrimento, que em algum em algum momento vou dar mais detalhes no livro Ilha da Magia.

    O hotel pequeno foi fechado para nós, assim cada um poderia desfrutar das liberdades que a noite da famosa cidade poderia nos permitir. Como a festa seria apenas na noite seguinte, deixei cada um sua. Depois disso, tratei de ir falar com o prefeito Wampir da cidade e fazer aquela velha “social”.

    Passei pelos sistemas de segurança e reconhecimentos digitais que lá havia, encontrei alguns conhecidos de vista e lá estava no terraço de uma bela cobertura num arranha céu, meu amigo Isidor. Um vampiro boa pinta, que aparenta uns 40 anos e tem ar de empresário.

    “Hier ist einer der Besitzer dieser Stadt, gute Nacht, mein Bruder” Ou em português o equivalente a “Eis aqui um dos donos desta cidade, boa noite meu irmão”

    Nos abraçamos, depois sentei-me ao seu lado e enquanto contemplamos a vista me serviram sangue fresco, ainda quente. Além do mais, possuía um forte aroma de canela, cheiro preferido e marca registrada de Isidor.

    – É sempre um privilégio vir aqui e contemplar estava vista contigo.

    – Eu é que me sinto privilegiado, por estar diante de um dos fundadores da nossa sociedade germânica.

    – Tu sempre vens com esse papo do século passado…

    – Sabes que teu clã e tu mais ainda é responsável por eu ter o que tenho hoje, então toda modéstia é pouca.

    Estávamos relembrando algumas histórias dos 80 anos de sua gestão, boa parte desse tempo eu estava hibernando, então sempre que possível é bom ouvir suas experiências. No entanto, fomos surpreendidos pelo fanfarrão do Franz que surgiu na cobertura da forma mais primitiva possível em forma e morcego. Ele desfez sua transformação e nú foi ao nosso encontro.

    – Was geht ab? Ou o equivalente em português para “E ai caras?”

    Depois disso ele se aproximou da jarra que estava numa mesinha e tomou o resto do sangue que lá havia…

    Isidor sorriu, estava um pouco surpreso, mas tratou de chamar um de seus mordomos e pediu roupas para meu irmão.

    – E ai onde vamos hoje, aquele inferninho da zona norte ainda tá de pé? Tô com saudades das minhas namoradinhas…

    – Não tenho ido muito pra lá não, mas se quiserem algo mais “quente” eu montei um club bar ali na região do Rio Havel.

    – Não é lá onde estou pensando? – Comentei afoito

    – Não sei exatamente ao que te referes, mas aquela região teve um desenvolvimento bacana nos últimos anos, por isso meu investimento.

    Próximo daquela região era onde ficava a casa de Suellen na época em que a conheci, mas tanto faz, hoje deve estar completamente diferente. Ao menos era o que eu imaginava.

    – Vão pra lá e aproveitem o resto da noite, vou ligar agora e vocês vão ser tratados como rei. Eu preciso ver se está tudo certo para a festa de amanhã. Aliás teremos homenagens ao clã Wulffdert…

    – Hey, apreciaremos muito né, Franz! – Dei uma cutucada no braço dele, pois estava distraído vendo, mas ele concordou com um amistoso e empolgado “Yeah!”

    Minutos depois nos deixaram na entrada do Bar, que estava mais para “mega balada”, com seus 3 andares de luzes, música de gente de todos os tipos, principalmente jovens. Tão logo nos apresentamos fomos levados para um camarote, onde havia baldes de bebidas, algo que nenhum de nós pode consumir, mas que faria a diversão das humanas que já estavam junto de Franz.

    Eu também me engracei com uma típica nativa loira que lá havia, mas que acabei deixando de lado, pois em meu pensamentos a nostalgia da região chegava a dar calafrios. Por sorte, perto das 2h fui agraciado com o aparecimento repentino de minha querida e quente Julie.

  • Joseph e os vampiros negros

    Joseph e os vampiros negros

    Os recentes acontecimentos nos Estados Unidos onde o segurança George Floyd, foi morto por asfixia pelo policial Derek Chauvin, me lembraram muito as idas e vindas junto de meu falecido amigo Joseph. “Zé”, como carinhosamente o chamávamos era um vampiro bacana, estrategista nato e como todo francês e do signo de Leão, tinha um ar debochado, que as vezes transmitia um ar de nariz empinado, mas somente a aqueles que não o eram próximos.

    O fato de Joseph ser negro e um tanto acima do peso, o distanciava dos estereótipos tradicionais e isso as vezes até era visto como jocoso por nós e muitas vezes por eles mesmo que entrava nas brincadeiras para nos alegrar.

    Lembro-me como se fosse hoje de uma noite qualquer em que ele usando seus poderes, resolveu sair com a aparência de um famoso local. Esse era um dos seus dons, quando por algumas horas ele podia alterar sua forma, ou até mesmo ficar invisível se fosse necessário. Isso nos permitia muitas facilidades, que nem preciso mencionar aqui…

    O problema daquela noite, no qual ele se “fantasiou” de famoso é que em algum momento em nossa festinha ele estava tão empolado, que esqueceu de manter sua aparência. Voltou aos poucos a sua aparência normal, o que em certo momento, ao perceber sua real aparência causou repulsa por alguns que lá estavam. Convenhamos, sua aparência não é um mar de rosas, entretanto, como o ambiente era recheado de “frutinhas” da elite daquela cidade, eu acredito que tenha “rolado” um preconceito generalizado.

    Foi difícil ver meu amigo/irmão sendo praticamente jogado para fora da balada, provavelmente a pedido de algum bostinha que tá estava. Escorraçado acho é a palavra que define aquele momento. Afinal, um dos seguranças lhe disse em claro e bom tom: “Vaza daqui! Aqui não é lugar pra você!”

    Eu acompanhei a situação de meia distância, estava noutro ponto da festa, mas quando vi a cena foi ao seu encontro. Minha vontade era de fazer o maldito segurança e os “snobs” do lugar sangrarem até a morte, ali mesmo em público, mas fui contido por meu amigo. Ele ajeitou sua roupa que não era das piores, passou a mão no rosto e colou a mão em meu ombro dizendo:

    – Relaxa, mon amie, Laisse tomber! já estava ficando cansado do lugar…

    Como ele só misturava francês e português quando estava puto, eu não quis causar mais. Tratei de fazer uma piada qualquer e seguimos para uma praça que havia próxima aquele lugar. Aliás naquela época era comum irmos as praças, era um dos nossos principais locais de passeio, mesmo à noite.

    Hora vai e vem, acredito que já estava no fim da madrugada e entre um papo e outro surgiram dois policiais. Estávamos tão distraídos que nem percebemos, mas o jeito que eles chegaram, mesmo naquela época, querendo nos enxotar do lugar como se fossemos dois plebeus vagabundos, me emputeceu.

    Era nítido no olhar deles o desprezo misturado com raiva e até ódio por ter um negro ali, conversando com um branco. Era evidente que os incomodava nós dois sentados, lado a lado e ainda mais felizes. Era evidente que para eles meu irmão negro devia estar numa senzala acorrentado, como os ancestrais dele provavelmente praticavam. Era evidente para mim que eles precisavam ser punidos!

    Cada um de nós pulou no pescoço de um dos policiais e nos deliciamos com aquele desjejum do fim da madrugada.

    Sim, esta é aquela história clichê com vampiros se alimentado e que ocorreu há décadas. Sobretudo, não deveria ser clichê o comportamento que alguns da sociedade ainda tem em 2020 com relação a pessoas de cores, classes e comportamentos diferentes. Eu posso me defender, posso ajudar meus amigos e posso batalhar todas as noites contra isso, mas o que você tem feito nos teus dias?

    Quantos casos iguais ao do Floyd a mídia precisa apresentar para que a sociedade humana entenda que todos são feitos de ideias, ossos, pele, carne e muito sangue vermelho! Vermelho da mesma cor e independentemente da cor da pele que exista por cima!